LIVRO PUBLICADO

LIVRO: ENVELHECIMENTO POPULACIONAL EM PERSPECTIVA

OPEN ACCESS PEER-REVIEWED BOOK 

ENVELHECIMENTO POPULACIONAL EM PERSPECTIVA

POPULATIONAL AGING IN PERSPECTIVE 

 2023 Editora Science / Brazil Science Publisher

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 Pág.1
PESSOA IDOSA E O DIRETO A SAÚDE: REFLEXÕES ACERCA DA SAÚDE MENTAL E A CONTRIBUIÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR.
ELDERLY PEOPLE AND THE RIGHT TO HEALTH: REFLECTIONS ABOUT MENTAL HEALTH AND THE CONTRIBUTION OF THE SOCIAL WORKER IN THE MULTIDISCIPLINARY TEAM.
DOI: https://doi.org/10.56001/23.978650082608.01
Flávia Tamyres Freitas Carneiro

CAPÍTULO 2 Pág.8
A IMPORTÂNCIA DA REABILITAÇÃO METABÓLICA PARA REDUÇÃO DAS COMORBIDADES DIABÉTICAS
THE IMPORTANCE OF METABOLIC REHABILITATION FOR REDUCING DIABETIC COMORBIDITIES
DOI: https://doi.org/10.56001/23.978650082608.02
Aline da Paz Santos dos Anjos
Kelly Kassia de Souza Lima
Samilly Santos Silva
Tatiane Barros de Souza Santos

CAPÍTULO 3 Pág.18
ENVELHECIMENTO BIOLÓGICO E SAÚDE MENTAL: UMA ANÁLISE DE CONTEXTO
BIOLOGICAL AGING AND MENTAL HEALTH: A CONTEXT ANALYSIS
DOI: https://doi.org/10.56001/23.978650082608.03
Débora Luísa Filipetto Pulcinelli
Raquel Souza de Praia
Euler Esteves Ribeiro
Fernanda Trombini
Isabella Amaral
Ivana Beatrice Mânica da Cruz
Fernanda Barbisan

CAPÍTULO 4 Pág.37
DESAFIOS DO ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E PALIATIVIDADE NO CONTEXTO DAS UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
CHALLENGES OF AGING POPULATION AND PALIACTIVITY IN THE CONTEXT OF INTENSIVE CARE UNITS
DOI: https://doi.org/10.56001/23.978650082608.04
Maria Luiza Remonti Lodi
Debora Bauels Adames
Eduarda Lorenzi
Nicolas Zin Lopes
Rafaella Carlexo

CAPÍTULO 5 Pág.47
PUBLIQUE COM A SCIENCE EM FLUXO CONTÍNUO
PUBLISH WITH SCIENCE IN CONTINUOUS FLOW
DOI: https://doi.org/10.56001/23.978650082608.05
AUTORES
AUTORES
AUTORES

CAPÍTULO 6 Pág.49
PUBLIQUE COM A SCIENCE EM FLUXO CONTÍNUO
PUBLISH WITH SCIENCE IN CONTINUOUS FLOW
DOI: https://doi.org/10.56001/23.978650082608.06
AUTORES
AUTORES
AUTORES

SOBRE OS ORGANIZADORES DO LIVRO DADOS CNPQ: Pág.51

 

PREFÁCIO À 1ª EDIÇÃO

 

O envelhecimento populacional é um fenômeno global que está redefinindo as bases da sociedade moderna. À medida que a expectativa de vida cresce e as taxas de natalidade diminuem, somos confrontados com desafios e oportunidades sem precedentes. Neste cenário de transformações profundas, apresentamos com orgulho a primeira edição de "Envelhecimento Populacional em Perspectiva".

Este livro representa um esforço colaborativo e interdisciplinar para compreender o envelhecimento em toda a sua complexidade. Serão reunidas contribuições de acadêmicos, professores, e estudantes universitários para explorar, analisar e discutir as diversas dimensões desse fenômeno que afeta a todos nós, independentemente de idade, gênero ou profissão.

Nas páginas a seguir, você encontrará uma ampla gama de tópicos relacionados ao envelhecimento, desde questões médicas, como doenças crônicas e cuidados de saúde, até aspectos psicológicos, sociais e econômicos, como qualidade de vida, políticas de envelhecimento e aposentadoria.

Este livro é destinado a acadêmicos, estudantes e profissionais que buscam insights valiosos, evidências sólidas e perspectivas inovadoras sobre o envelhecimento. Através da colaboração e da pesquisa interdisciplinar, nossa intenção é não apenas entender os desafios, mas também encontrar soluções e oportunidades que o envelhecimento populacional oferece à sociedade.

À medida que avançamos no século XXI, é essencial estarmos preparados para abraçar as mudanças demográficas que estão moldando o nosso mundo. Esperamos que este livro inspire e informe, estimulando discussões profundas e promovendo um futuro mais inclusivo e sustentável para todas as idades.

Nossa gratidão vai para todos os autores que contribuíram com seus valiosos conhecimentos e perspectivas para tornar esta obra possível. Este é apenas o começo de uma jornada que continuará a evoluir à medida que o envelhecimento populacional se desdobra diante de nós.

 

 

 

Boa Leitura

Os Organizadores



HOW CITE THIS BOOK:

NLM Citation

Santos ILVL, Silva CRC, editor. Envelhecimento Populacional em Perspectiva. 1st ed. Campina Grande (PB): Editora Science; 2023.

APA Citation

Santos, I. L. V. L. & Silva, C. R. C. (Eds.). (2023). Envelhecimento Populacional em Perspectiva. (1st ed.). Editora Science.

ABNT Brazilian Citation NBR 6023:2018

SANTOS, I. L. V. L.; SILVA, C. R. C. Envelhecimento Populacional em Perspectiva. 1. ed. Campina Grande: Editora Science, 2023.

SOBRE OS ORGANIZADORES DO LIVRO DADOS CNPQ:

Prof. Dr. Igor Luiz Vieira de Lima Santos

Pós-Dra. Carliane Rebeca Coelho da Silva

Câmara Brasileira do Livro

ISBN: 978-65-00-82608-1

DOI CROSSREF

https://doi.org/10.56001/23.9786500826081

CAPÍTULOS PUBLICADOS

CAPÍTULO 1

PESSOA IDOSA E O DIRETO A SAÚDE: REFLEXÕES ACERCA DA SAÚDE MENTAL E A CONTRIBUIÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR.

ELDERLY PEOPLE AND THE RIGHT TO HEALTH: REFLECTIONS ABOUT MENTAL HEALTH AND THE CONTRIBUTION OF THE SOCIAL WORKER IN THE MULTIDISCIPLINARY TEAM.

 

DOI: https://doi.org/10.56001/23.978650082608.01

Submetido em: 15/09/2023

Revisado em: 26/09/2023

Publicado em: 11/10/2023

 

Flávia Tamyres Freitas Carneiro

Universidade Federal do Pará | Castanhal, Pará, Brasil

https://orcid.org/0009-0007-4900-8272

 

 

 

Resumo

O Presente estudo visa refletir acerca do direito à saúde da pessoa idosa e sobre a contribuição e intervenção do assistente social através das políticas de saúde destinadas a elas, bem como, a atuação deste profissional frente a saúde mental desta população. A fim de cumprir este objetivo, foi realizada pesquisa bibliográfica através da técnica de levantamento de dados nas plataformas BVS, MEDLINE e Scielo, aplicando como descritores “Políticas Públicas”, “Políticas para pessoa idosa” e “Saúde Mental”. Frente a insto, tornou-se possível refletir a cerca de fatores determinantes que refletem na saúde mental do idoso e compreender as demandas que surgem deste cenário, além também de conhecer alguns programas e projetos voltados à esta parcela da população.

Palavras-Chave: Políticas Públicas. Saúde Mental. Pessoa Idosa.

Abstract

This study aims to reflect on the right to health of elderly people and the contribution and intervention of social workers through health policies aimed at them, as well as the role of this professional in relation to the mental health of this population. In order to fulfill this objective, bibliographical research was carried out using the data collection technique on the VHL, MEDLINE and Scielo platforms, using the descriptors “Public Policies”, “Policies for the elderly” and “Mental Health”. Faced with this, it became possible to reflect on the determining factors that reflect on the mental health of the elderly and understand the demands that arise from this scenario, in addition to knowing some programs and projects aimed at this portion of the population.

Keywords: Public policy. Mental health. Elderly.

Introdução

Discorrer sobre a temática saúde mental do idoso é importante, pois são cada vez mais altas as taxas relacionadas à perspectiva de vida da população e, consequentemente, a taxa de envelhecimento; segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que em 2025 o Brasil será o 6º colocado em número de idosos – em 2050 haverá aproximadamente dois bilhões de pessoas no mundo na faixa etária de 65 anos.

Frente a esta realidade, torna-se imprescindível o olhar para esta parcela da população, principalmente no que tange o desenvolvimento de serviços voltados ao atendimento das demandas que surgem neste cenário, relacionadas a direitos básicos e sociais; em especial, aspectos relacionados a sua saúde física e mental.

De acordo com a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006) e o texto base da I Conferência Nacional dos Direitos do Idoso (2006), o debate e atenção à saúde mental da pessoa idosa é de extrema importância, uma vez que, além da alta prevalência dos transtornos mentais em idosos, constata-se cada vez mais uma grande escassez de serviços especializados ofertados e acessíveis para esta população.

Diante do exposto, o presente estudo visa refletir acerca do direito à saúde da pessoa idosa e sobre a contribuição e intervenção do assistente social através das políticas de saúde destinadas a elas, bem como, a atuação deste profissional frente a saúde mental desta população.

Metodologia

A fim de cumprir o objetivo proposto, foi realizada pesquisa bibliográfica exploratória. Para isso, foi utilizada a técnica de levantamento de dados a partir de plataformas como BVS, MEDLINE e Scielo, aplicando como descritores “Políticas Públicas”, “Políticas para pessoa idosa”, “Saúde Mental”, dentre outras, com o objetivo de encontrar artigos científicos para embasar a pesquisa. Quanto critérios para inclusão, foram considerados textos completos, em português e voltados à área da saúde e serviço social; para critérios de exclusão, apenas resumos, textos incompletos e textos em outros idiomas que não o português.  Além disso, foi realizado também um levantamento da literatura disponível sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre legislações que servem como aparato para políticas públicas no Brasil.

A partir disso, em um primeiro tópico é exposta uma breve discussão a respeito de aspectos relacionados a saúde mental da pessoa idosa, trazendo fatores condicionantes e outras questões que perpassam esta temática. Posteriormente, é feito um apanhado acerca das políticas públicas existentes voltadas a pessoa idosa, dando ênfase a projetos que visam aspectos de saúde e qualidade de vida, esboçando seus objetivos e quais as principais demandas respondidas por meio destas. Em seguida, pontua-se a intervenção do Assistente Social nestas políticas; e de que forma se pauta o papel deste profissional dentro do campo de saúde mental da pessoa idosa.

Resultados e Discussão
  • Saúde Mental da Pessoa Idosa.

Quando se fala em saúde mental da Pessoa Idosa, se faz necessário considerar as questões psicossociais associadas às condições de vida dessa parte da população. Tavares (2009) pontua em seu estudo que existem uma série de dificuldades quando se fala em acesso a bens e serviços, além também das recorrentes situações de discriminação ou mesmo humilhação sociais enfrentadas pelos idosos, resultados do preconceito sofrido à velhice.

Associados a estas problemáticas, Tavares aponta ainda alguns limites físicos e mentais observados no processo de envelhecimento, sejam por fatores fisiológicos ou doenças que se manifestam com o passar da idade. Quanto a estes fatores observados, no que diz respeito as habilidades funcionais, estudos de Batista, Almeida e Lancaman (2011) apontam que as dificuldades aparecem primeiro em atividades instrumentais mais complexas como organização de finanças, fazer compras ou manutenção de tarefas diárias, principalmente em idosos com idade mais avançada; além dessas, pontuam-se também o comprometimento no desempenho de ações na vida diária, como alimentar-se ou ir ao banheiro, porém em uma parcela menor de idosos.

Mediante a este cenário de limitações, existem uma série de fatores que se materializam na vida desta população: exclusão, dependência, violências físicas e psicológicas, etc., gerando assim um acúmulo de problemáticas que perpassam a velhice e resultam em uma alta prevalência de transtornos e doenças mentais desenvolvidas por esta população (TAVARES, 2009).

  • Estratégias de Saúde Mental voltadas à Pessoa Idosa.

Um importante documento a ser reconhecido no que tange a temática da Pessoa Idosa é  O “Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento” elaborado pela ONU, em 2003, através de organismos internacionais, no qual apresentam as prioridades básicas associadas ao envelhecimento, visando garantir que os indivíduos envelheçam com segurança, dignidade e oportunidades de participação social, e recomendando que todos os países adotem medidas em três direções prioritárias: promoção da saúde e bem-estar na velhice, participação ativa do idoso no desenvolvimento de sua sociedade e criação de um ambiente propício.

Através de estratégias e o convívio com população idosa, foram criados projetos e programas que atendam esse público, tendo como objetivo a melhorar a qualidade de vida e o convívio com o meio social. Destacando iniciativas governamentais, pontua-se incialmente o “Projeto Idoso Bem Cuidado” (2016) – iniciativa esta desenvolvida pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); a ideia do projeto surgiu da necessidade de melhorar o atendimento aos idosos que possuem planos de saúde privados no Brasil, o modelo foi elaborado com cinco níveis hierárquicos de cuidados: acolhimento, núcleo integrado de cuidado, ambulatório geriátrico, cuidados complexos de curta duração e cuidados longa duração.

Além desta iniciativa, observa-se também o Programa “Viver – O Envelhecimento Ativo e Saudável”, foi instituído pelo Decreto nº 10.133, de 26 de novembro de 2019 e tem como seu público-alvo a pessoa idosa, tendo como finalidade proporcionar a inclusão digital e social da pessoa idosa, contribuído com a promoção do direito ao envelhecimento ativo e saudável. Seus objetos estão norteados em quatro áreas de ação, envolvendo a tecnologia, saúde, mobilidade física e educação.

Já o programa Academia da Saúde (PAS) lançada em 2011, destinado ao desenvolvimento da qualidade de vida da população, particularmente a pessoa idosa, funciona com a implantação em espaços públicos, através de práticas de atividades físicas, sendo estas ofertadas em espaços destinadas as ações do projeto, contando com diversos equipamentos e profissionais qualificados. 

Por meio destas iniciativas, programas e projetos, se torna possível o acesso a todos os direitos e cuidados que devem ser garantidos a pessoa idosa, viabilizando a manutenção e melhoria de suas capacidades e habilidade, junto as redes de apoio. Além destas políticas coordenadas pelo estado, é necessário destacar a importância da família e da comunidade no desenvolvimento social da população idosa, porém enfatizando que os serviços prestados por estes são complementares e não devem substituir um sistema público de saúde eficaz e acessível (BATISTA, 2011).

  • Serviço Social e a Atuação Profissional na Saúde Mental

A atuação do serviço social na saúde mental no Brasil se coloca como necessidade a partir do sistema de seguridade social conjugado pela previdência, pela saúde e pela assistência social, sendo demandada desde a constituição do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) de 1967, pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de 1988 e pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) de 1990.

Segundo Bisneto (2007) na época, a atuação da profissão estava relacionada a encontrar respostas paliativas as contradições sociais existentes dentro do sistema. Antes da ditadura militar, havia poucos manicômios estatais e clínicas psiquiatras privadas, que não empregavam assistentes sociais – no início a atuação do serviço social na saúde mental era limitada, restrita apenas a hospitais universitários.

Além disso, a inclusão da categoria profissional se deu em hospitais psiquiátricos a partir da existência do (INPS), que através da portaria INPS/Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) 1973, estabeleceu o manual de serviço social para a assistência psiquiátrica, onde foi exigida a presença de assistentes sociais no quadro da equipe multiprofissionais (BISNETO, 2007).

A reinserção de pacientes que passam por longas internações psiquiátricas durante o ciclo de vida e nem sempre ocorre no núcleo familiar; muitas famílias não são localizadas, outras já não estão disponíveis para recebê-los em seu domicílio. A partir destas diversas situações, o serviço social intervém com foco na atenção à saúde e a rede ampliada.

 Estima-se que haja vários idosos egressos de hospitais psiquiátricos que necessitam de residências terapêuticas e de serviços, como o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS); compostos por equipes multiprofissionais e interprofissionais, tendo este valor estratégico para a restruturação da assistência em saúde mental. Destaca-se a importância de que a equipe multidisciplinar tenha conhecimento pautado no campo da gerontologia, a fim de prover os cuidados necessários durante o atendimento no caps.

A intervenção profissional se pauta em realizar o acompanhamento do idoso/paciente, sendo elaborado um projeto terapêutico individual que consiste em um conjunto de atendimentos multidisciplinares que garantam o respeito à singularidade de cada usuário, valorizando o atendimento personalizado dentro e fora da unidade, com a proposição de atividades a serem desenvolvidas durante a permanência no serviço (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004b.).

A articulação dos/as profissionais que atuam na saúde mental e a atenção básica se torna ainda mais necessária quando o idoso reside sozinho e não possui nenhum familiar que possa auxiliá-lo em suas necessidades; diante deste cenário, é realizada a intervenção por meio de 3 objetivos: 1- Verificação das demandas trazidas pelas articulações psiquiátricas, 2- Acompanhamento das necessidades sociais de cada usuário/a, 3- Medidas para solucionar problemas como a exclusão desses usuários/as por meio a integração da família e sociedade.

Dessa forma, o exercício profissional está relacionado com a compreensão da realidade das demandas, levando em consideração às relações sociais, o meio físico, social e cultural. A intervenção ocorre visando à totalidade do usuário, possibilitando o acesso aos serviços de saúde das instituições e realizando articulações com as redes socioassistenciais, a fim de viabilizar acessos à essa população. (BRAVO, MATOS, 2004).

Considerações Finais

            O preconceito, a discriminação e a violência (em todas as suas formas) são realidades que atingem a pessoa idosa de diversas formas, inclusive na saúde mental desta população. A prevenção e o combate a este fenômeno só se tornam possíveis através de um olhar sensível e especializado, que compreenda a importância de considerar fatores que vão além do concreto, mas que perpassam o cotidiano, a saúde, as relações e a vida destas pessoas.

Portanto, atualmente, torna-se fundamental refletir sobre qual atenção tem sido oferecida a população idosa; quais estratégias têm sido utilizadas para garantir os direitos desta população, tanto no que tange seus acessos e quanto à qualidade de vida destas pessoas, direcionando um olhar especial aos que possuem demandas mais especificas e sofrem de transtornos físicos e mentais.

Referências

BATISTA, M. P. P.; ALMEIDA, M. H. M.; LANCMAN, S. Políticas públicas para a população idosa: uma revisão com ênfase nas ações de saúde. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 22, n. 3, p. 200-207, set./dez. 2011.

BISNETO, J. A. Serviço Social e saúde mental: uma análise institucional da prática. São Paulo: Cortez, 2007.

BRAVO, Maria Inês Souza; MATOS, Maurílio Castro de. Reforma Sanitária e Projeto Ético Político do Serviço Social: Elementos para o Debate. In: Saúde e Serviço Social BRAVO, M. I. S et alli (Orgs). São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2004.

MINISTÉRIO, D.; SAÚDE. CADERNOS DE ATENÇÃO BÁSICA ENVELHECIMENTO E SAÚDE DA PESSOA IDOSA. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/evelhecimento_saude_pessoa_idosa.pdf>.

OMS – Organização Mundial da Saúde. Envelhecimento Ativo: uma Política de saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005.

Projeto Idoso Bem Cuidado. Disponível em: <https://www.gov.br/ans/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-da-sociedade/camaras-e-grupos-tecnicos/camaras-e-grupos-tecnicos-anteriores-1/grupo-tecnico-do-idoso-bem-cuidado-1/projeto-idoso-bem-cuidado>. Acesso em: 13 dez. 2022.

Programa Viver – Envelhecimento Ativo e Saudável. Disponível em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/pessoa-idosa/acoes-e-programas/programa-viver-2013-envelhecimento-ativo-e-saudavel>.

MINISTÉRIO, D.; SAÚDE. CADERNOS DE ATENÇÃO BÁSICA ENVELHECIMENTO E SAÚDE DA PESSOA IDOSA. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/evelhecimento_saude_pessoa_idosa.pdf>.

TAVARES, S. M. G. A Saúde Mental do idoso brasileiro e a sua autonomia. BIS. Boletim do Instituto de Saúde, São Paulo, n. 47, p. 87–89, 2009.    

CAPÍTULO 2

A IMPORTÂNCIA DA REABILITAÇÃO METABÓLICA PARA REDUÇÃO DAS COMORBIDADES DIABÉTICAS

THE IMPORTANCE OF METABOLIC REHABILITATION FOR REDUCING DIABETIC COMORBIDITIES

 

 

DOI: https://doi.org/10.56001/23.978650082608.02

Submetido em: 20/11/2023

Revisado em: 25/11/2023

Publicado em: 27/11/2023

 

Aline da Paz Santos dos Anjos

Sulamerica Faculdade, Luís Eduardo Magalhães-BA

http://lattes.cnpq.br/0703460096725933

Kelly Kassia de Souza Lima

Sulamerica Faculdade, Luis Eduardo Magalhães-BA

http://lattes.cnpq.br/7917419762846694

Samilly Santos Silva

Sulamerica Faculdade, Luís Eduardo Magalhães-BA

http://lattes.cnpq.br/0607782756631840

Tatiane Barros de Souza Santos

Sulamerica Faculdade, Luís Eduardo Magalhães-BA

http://lattes.cnpq.br/5627034530122709

 

Resumo

O diabetes, também chamado diabetes mellitus, é uma condição de longa duração que influencia a forma como o organismo processa a glicose (açúcar) para obter energia. Esse fenômeno ocorre devido a dificuldades na produção ou na eficácia da insulina, um hormônio gerado pelo pâncreas. A insulina exerce um papel vital ao regular os níveis de glicose no sangue, possibilitando que as células corporais absorvam a glicose para utilizá-la como fonte de energia imediata ou armazená-la para uso posterior. No Brasil, o diabetes mellitus foi responsável por 43.787 mortes em 1990.Embora seja um problema crônico, o diabete pode e deve ser controlado. O exercício físico é um ótimo aliado para contribuir no controle do diabetes, pois reduz a necessidade de medicamentos para conter os níveis de glicose no sangue e, consequentemente, a quantidade de insulina necessária. O objetivo desse estudo é evidenciar a importância da reabilitação metabólica para a redução das comorbidades diabéticas. A reabilitação metabólica é caracterizada pela integração de intervenções, denominadas ações não farmacológicas, assegurando melhores condições física, psicológicas e sociais atribuindo qualidade de vida aos pacientes com doenças metabólicas. O ato de praticar exercícios físicos desempenha um papel formidável no que diz respeito a prevenção e controle do Diabetes Mellitus (DM). Sua prática garante benefícios significativos em relação aos níveis de gordura no sangue, pressão arterial, ocorrência de problemas cardiovasculares, regulação do peso corporal, taxa de mortalidade e qualidade de vida.

Palavras-chave: Diabetes mellitus. Reabilitação metabólica. Comorbidades. Exercício físico.

Abstract

Diabetes, also called diabetes mellitus, is a long-term condition that influences the way the body processes glucose (sugar) for energy. This phenomenon occurs due to difficulties in the production or effectiveness of insulin, a hormone generated by the pancreas. Insulin plays a vital role in regulating blood glucose levels, enabling the body’s cells to absorb glucose to use it as an immediate source of energy or store it for later use. In Brazil, diabetes mellitus was responsible for 43,787 deaths in 1990. Although it is a chronic problem, diabetes can and should be controlled. Physical exercise is a great ally to help control diabetes, as it reduces the need for medication to control blood glucose levels and, consequently, the amount of insulin needed. The objective of this study is to highlight the importance of metabolic rehabilitation for reducing diabetic comorbidities. Metabolic rehabilitation is characterized by the integration of interventions, called non-pharmacological actions, ensuring better physical, psychological and social conditions, attributing quality of life to patients with metabolic diseases. The act of practicing physical exercise plays a formidable role in the prevention and control of Diabetes Mellitus (DM). Its practice guarantees significant benefits in relation to blood fat levels, blood pressure, the occurrence of cardiovascular problems, body weight regulation, mortality rate and quality of life.

Keywords: Diabetes mellitus. Metabolic rehabilitation. Comorbidities. Physical exercise.

 

 

Introdução

O diabetes Mellitus (DM) é um problema de saúde que cada vez mais tem apresentado taxas de aumento. Suas complicações têm causado mortalidade precoce em diversos países. (Ministério da Saúde,2013).

A diabetes mellitus (DM) é uma condição persistente marcada pelo mau funcionamento do pâncreas, levando à produção insuficiente ou ausente de insulina. Especificamente, a diabetes tipo 1 resulta na produção limitada de insulina, enquanto a diabetes tipo 2 resulta da ausência total de produção de insulina (AUGUSTA, 2015).

Os fatores de risco específicos para a diabetes compreendem: doença cardiovascular, pré-diabetes, hipertensão arterial, síndrome de ovários policísticos, mulheres com diagnóstico prévio de diabetes gestacional, uso crônico de medicações e tabagismo (ADA, 2019; SBD, 2019; SBC, 2017).

Os fatores para desenvolver a diabetes mellitus (DM) foram bem estabelecidos em estudos clínicos. Entre esses, destacam-se a obesidade, o sedentarismo e o envelhecimento (FERNANDES et al., 2018).

O tratamento do Diabetes Mellitus é feito de forma intensa e apresenta resultados satisfatórios, quando feito de maneira correta. Para obter-se êxito no tratamento existe a necessidade de corrigir a glicemia dos pacientes, que passarão por uma mudança significativa em seu estilo de vida. (Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes. 2019 – 2020).

Durante o estudo desse trabalho acadêmico será possível verificar que a reabilitação metabólica é extremamente importante para a redução das comorbidades diabéticas. Atividades física aumenta a sensibilidade à insulina na célula do corpo e quando uma pessoa se exercita é preciso menos insulina para manter os níveis de açúcar sob controle no sangue (AUDRIE et al., 2012).

Exercícios físico executados de forma regular está associado a benefícios significativos na saúde desses pacientes. Essa prática diminui colesterol sérico e aumenta saúde vascular, juntamente com melhorias na composição corporal, diminui a necessidade de insulina, aumenta a capacidade cardiorrespiratória e melhora a função endotelial (NARENDRAN et al., 2012).

A prática frequente de atividade física está atrelada tanto na redução das comorbidades diabéticas, como também na prevenção dessa doença. (NARENDRAN et al., 2012). Este trabalho tem como objetivo evidenciar a importância do exercício físico para contribuir com a redução das comorbidades diabéticas.

Metodologia

           O presente trabalho acadêmico, trata-se de uma pesquisa bibliográfica descritiva a sua elaboração seguiu as seguintes etapas:

Construção da pergunta de pesquisa, busca e seleção de materiais, estabelecimento de critério de inclusão e exclusão, extração de dados, conceitos sobre o tema tratado e desenvolvimento de resultado.

O estudo foi realizado entre o mês agosto de 2023 e setembro desse mesmo ano. Na elaboração do trabalho foram utilizadas 18 pesquisas publicadas entre 2012 e 2023. Entre essas pesquisas, 05 são artigos. Toda a busca foi realizada nos bancos de dados do google, google acadêmico e SCIELO, todas estão registradas na seção referências na parte final dessa obra.

Abaixo encontra-se um quadro com apenas os artigos que foram utilizados na produção desse trabalho.

Para obtenção dos resultados foi realizada uma busca utilizando as seguintes palavras-chave: Diabetes mellitus; Reabilitação metabólica; Comorbidades; Exercício físico.

No que diz respeito aos critérios de inclusão, essa obra inclui pesquisas datadas entre o ano de 2013 e 2023 e que estão de acordo com o tema abordado.

  Já nos critérios de exclusão, encontra-se pesquisas que não abordam o tema principal, incompletas e com data anterior ao ano de 2013.

Tabela 1: Artigos utilizados para a construção deste trabalho.

LOPES, Márcio Messias

Diabetes Mellitus: Adesão ao tratamento e prevenção de complicações dos usuários do Jardim Planalto em Passo – Minas Gerais.

2019

PIMENTEL, Bianca Nunes et al.

 

Epidemiologia e cuidado à Diabetes Mellitus praticado na Atenção Primária à Saúde: uma revisão narrativa.

2015

SANTOS, Natália Ramos dos et al.

A atividade física e sua importância para pessoas com Diabetes tipo II.

 

2022

SILVA, Carlos da et al.  

 

Efeito Benéfico do Exercício Físico no Controle Metabólico do Diabetes Mellitus Tipo 2 à Curto Prazo.

2020

XAVIER, Daniela et al.

Estratégias de reabilitação fisioterapêutica em pacientes com neuropatia diabética: Uma revisão sistemática.

2021

Fonte: Autoria própria.

Resultados e Discussão
  • Resultados

Inicialmente na elaboração desse trabalho foi exposto uma pesquisa explicativa conceituando o tema diabetes.

O Diabetes Mellitus, comumente conhecido como diabetes, é uma doença crônica que afeta a forma como o corpo regula o nível de açúcar no sangue (glicose).

A glicose é a principal fonte de energia para as células do corpo e sua concentração no sangue precisa ser cuidadosamente controlada. A insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas, desempenha um papel fundamental nesse controle.

Os dois tipos principais de diabetes são:

  1. Diabetes Tipo 1: Neste tipo de diabetes, o sistema imunológico do corpo ataca e destrói as células produtoras de insulina no pâncreas. Como resultado, as pessoas com diabetes tipo 1 não produzem insulina ou produzem quantidades muito pequenas. Isso requer a administração diária de insulina para manter os níveis de glicose no sangue sob controle. O diabetes tipo 1 geralmente se desenvolve em uma idade jovem.
  2. Diabetes Tipo 2: Este é o tipo mais comum de diabetes e geralmente ocorre em adultos, embora também possa afetar crianças e adolescentes. No diabetes tipo 2, o corpo não consegue usar eficazmente a insulina que produz, levando a um aumento nos níveis de glicose no sangue. Fatores de risco incluem a obesidade, estilo de vida sedentário e predisposição genética. O tratamento geralmente envolve mudanças na dieta, exercícios, medicamentos orais e, em alguns casos, injeções de insulina.

Além disso, há outros tipos menos comuns de diabetes, como o diabetes gestacional (que ocorre durante a gravidez) e formas monogênicas de diabetes (causadas por mutações genéticas específicas).

As complicações do diabetes não controlado incluem problemas cardíacos, doenças renais, problemas de visão, feridas que não cicatrizam, neuropatia e muito mais. Portanto, é importante monitorar e controlar os níveis de glicose no sangue, seguir as orientações médicas e adotar um estilo de vida saudável para gerenciar o diabetes com eficácia.

Em seguida esse estudo buscou entender o que são comorbidades.

Comorbidades são condições médicas adicionais ou outras doenças que coexistem em uma pessoa juntamente com uma condição principal. Em outras palavras, uma comorbidade é uma condição de saúde que ocorre ao mesmo tempo que outra condição médica ou doença crônica.

As comorbidades podem ser de natureza física ou mental e podem complicar o diagnóstico, o tratamento e o prognóstico de uma doença principal.

As comorbidades podem tornar o tratamento mais desafiador, uma vez que o médico precisa considerar todas as condições de saúde do paciente ao planejar a abordagem terapêutica. Além disso, as comorbidades podem aumentar o risco de complicações e afetar a qualidade de vida do paciente.

Na última parte dessa obra buscou-se descrever sobre a importância que o exercício físico desempenha na questão da redução de comorbidades diabéticas.

A reabilitação metabólica é uma abordagem multidisciplinar que tem como objetivo melhorar a saúde metabólica de pessoas com diabetes, especialmente diabetes tipo 2. Essa forma de reabilitação é focada em promover mudanças no estilo de vida, incluindo dieta, exercícios e controle do peso, com o objetivo de reduzir as comorbidades diabéticas e melhorar o controle do diabetes.

A reabilitação metabólica pode ser uma parte vital do tratamento do diabetes e é mais eficaz quando incorpora uma abordagem multidisciplinar, adaptada às necessidades individuais de cada paciente.

É importante que as pessoas com diabetes conversem com seus médicos sobre a possibilidade de participar de um programa de reabilitação metabólica e sigam as orientações e recomendações da equipe de saúde para alcançar melhores resultados na redução das comorbidades diabéticas.

Mediante a execução dessa pesquisa fico bastante claro que a prática de exercícios físico de forma regular pode desempenhar um papel bastante significativo na redução das comorbidades associadas ao diabetes.

Um estudo feito pelo Depto Atividade Física ADIABC em 2007, mostrou que independente de ter diabetes ou não, caminhar por 40 minutos ajuda a diminuir os níveis glicêmicos no sangue.


Se em uma pessoa que não tem diabetes já ajuda, imagina em quem tem?

Estudo do Depto Atividade Física ADIABC.

Fonte: Disponível em: https://blog.winsocial.com.br/beneficios-do-exercicio-fisico-diabetes/Acesso: 29/10/2023

 

Neste estudo, foram comparadas as variações médias nos níveis de glicose no sangue de participantes com Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) e Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) antes e depois de realizarem exercícios. Os resultados mostraram que, nos indivíduos com DM2 que não utilizavam insulina, a média inicial de glicose era de 127mg/dl, que diminuiu para uma média de 88mg/dl após o exercício. Já nos participantes com DM1 que usavam insulina, a média inicial de glicose era mais alta, 171mg/dl, e caiu para uma média de 82mg/dl após o exercício.

Essas variações nos níveis de glicose ocorreram devido a uma redução na resistência à insulina. Isso significa que o corpo se tornou mais sensível à ação da insulina durante o exercício, permitindo que a glicose seja utilizada de maneira mais eficiente. Em relação ao tratamento, esse fenômeno implica que os ajustes nas doses de insulina ou medicamentos orais podem ser mais precisos e refinados. Consequentemente, isso pode contribuir para que os pacientes alcancem um melhor controle da diabetes, mantendo seus níveis de glicose dentro das faixas alvo desejadas.

  • Discussão

Entre os estudos realizados é possível verificar na parte final desse trabalho que o debate de opiniões entre os autores acima evidencia um comum acordo de opiniões. Assim, constata-se que realmente a prática de atividade física é importante para o processo da reabilitação metabólica na redução das comorbidades diabéticas.

O caderno de Atenção Básica 2016, em sua página 23, afirma a respeito dos benefícios encontrados na prática regular de atividade física para diabéticos.

 A Associação Americana de Diabetes (ADA), acredita que caminhadas oferecem vantagens para que os ossos e músculos de jovens diabéticos se desenvolvam. Enquanto a American Heart Association classifica a prática do exercício físico como fundamental para exercer um papel de melhorar a sensibilidade à insulina, a glicemia em jejum e a diminuição dos níveis de hemoglobina glicada.

Ciolac e Guimarães, 2004 – afirmam crerem na eficiência do exercício físico para controle da glicemia. Na mesma linha de pensamento, ALMEIDA e GIOVANETTI, 2011, salientam que a prática de atividades física causa o aumento da fibra muscular mais sensíveis a ação da insulina.

Além do exposto acima, a UNICAMP, realizou uma pesquisa que mostra a prática do exercício de força (musculação), sendo capaz de reduzir a gordura acumulada no fígado.

Silva e Gardenghi (2019), concordam que o fisioterapeuta está apto para atuar no processo de tratamento realizado através do exercício físico.

A Associação Americana de Diabetes (American Diabetes Association – ADA), respalda através de pesquisas de origem científica o resultado positivo entre a prática da atividade física e a redução das comorbidades diabéticas.

Por fim, um estudo conhecido como: – Estudo LOOK AHED (Ação pela Saúde no Diabetes) realizado nos Estados Unidos, ressaltou a importância do controle glicêmico e melhoria dos fatores de risco cardiovascular na gestão de diabetes tipo 2.

     Esse fora um estudo de grande importância que destacou o efeito da reabilitação metabólica na redução dos fatores de risco cardiovascular em pessoas portadoras de diabetes tipo 2.

Assim, verifica-se que os atores e instituições acima que contribuíram com a realização dessa obra, dividem a mesma opinião:

– Atividade física é benéfica para diabéticos e também cooperam para a redução do surgimento de comorbidades diabéticas.

Considerações Finais

           De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (2016), a diabete mellitus (DM) é considerada um problema de saúde pública, atualmente, estima-se que a população mundial com diabetes seja da ordem de 387 milhões e que chegue a 471 milhões em 2035.

Os fatores de risco para o diabetes e a hipertensão são múltiplos, alguns comuns entre si e outros específicos de cada doença.

Entre os fatores de risco comuns para diabetes e hipertensão arterial estão: idade, excesso de peso (sobrepeso e obesidade), sedentarismo raça/etnia de alto risco (negros e hispânicos para DM; negros para HAS), história familiar (parente de primeiro grau com diabetes e/ou hipertensão) e condição socioeconômica desfavorável (ADA, 2019; SBD, 2019; SBC, 2017).

Conclui-se através desse estudo que a reabilitação metabólica é bastante eficaz na redução das comorbidades diabéticas.

Segundo Asano et al., (2015) um dos tratamentos não medicamentosos para prevenção e controle da DM mais eficientes e com custo reduzido é o exercício físico.

 Seus efeitos positivos completam os três principais objetivos de programa de saúde para diabéticos: valores ótimos de pressão arterial, glicemia e lipidemia.

A atividade física se mostrou como sendo indispensável na vida de todas as pessoas, inclusive para diabéticos, por apresentar diversos benéficos tais como: – Contribuição para o bem-estar físico, saúde mental, om funcionamento do coração, melhora da circulação sanguínea, controla a glicemia, diminui o uso de medicamentos orais, previne perda de massa óssea e etc.

A prática regular de atividade física é uma das maneiras mais eficazes de reduzir o risco de desenvolver diabetes tipo II e diversas outras doenças crônicas, como as doenças cardíacas. O seu papel no controle da diabetes está diretamente relacionado à forma como o corpo processa o açúcar no sangue, à redução da gordura corporal e à melhora na capacidade do organismo de responder à insulina. Isso acontece porque o exercício estimula os músculos do esqueleto a utilizar a insulina de maneira mais eficiente para produzir energia

Assim, o exercício físico atua como uma ferramenta imprescindível tanto para prevenir, como também para o tratamento de pessoas com diabetes.

Referências

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Caderno de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doenças crônicas – Diabetes Mellitus. Brasília – DF. 2016. Ministério da Saúde.

COELHO, Rafael. Blog Folha de Pernambuco. Afinal, o que é Comorbidades? Disponível em: https://www.folhe.com.br/colunistas/saude-e-bem-estar/afinal-o-que-e-comorbidade. Acesso em: 03/09/2023.

Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes. 2019 – 2020.Editora Científica Clannad. 491 páginas.

LAURENTI, Cristina Rasen. Reabilitação com terapias combinadas: Uma Nova Visão de otimização terapêutica. Recife Publicações 2023.

LIRA, Ruy e et al. Diabetes Mellitus: Uma abordagem Cardiovascular / Editora Científica Clannad.2019, São Paulo – SP. 408 páginas.

LOPES, Márcio Messias. Diabetes Mellitus: Adesão ao tratamento e prevenção de complicações dos usuários do Jardim Planalto em Passo – Minas Gerais. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/30694. Acesso em 26/09/2023.

NAHAS, Markus Vinicius. Atividade física, saúde e qualidade de vida: Conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo – 7ª. Ed. – Florianópolis. 2017. 362 p.

Organização Pan-Americana da Saúde. Linhas de cuidado: hipertensão arterial e diabetes. 2010. 232 p.: il.

PIMENTEL, Bianca Nunes et al.  Epidemiologia e cuidado à Diabetes Mellitus praticado na Atenção Primária à Saúde: uma revisão narrativa.2015. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/revistasaude/article/view/14905/pdf.Acesso:30/08/2023.

PREVENÇÃO CLÍNICA DE DOENÇA CARDIOVASCULAR, CEREBROVASCULAR E RENAL CRÔNICA. Cadernos de Atenção Básica – n.º 14 Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília DF.

Resultados de quatro anos do estudo Look AHEAD. Sociedade Brasileira de Medicina da Família. Disponível em: https://www.sbmfc.org.br/intervencao-no-estilo-de-vida-para-individuos-com-dm-tipo-2/Acesso em: 01/10/2023.

SANTOS, Natália Ramos dos. et al. A atividade física e sua importância para pessoas com Diabetes tipo II. Rio de Janeiro 2022. Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/28224/1/A ATIVIDADE F%C3%8DSICA E A SUA IMPORT%C3%82NCIA PARA PESSOAS COM DIABETES TIPO II.pdf. Acesso 30/09/2033

SILVA, Carlos da. et al.  Efeito Benéfico do Exercício Físico no Controle Metabólico do Diabetes Mellitus Tipo 2 à Curto Prazo. Campinas – SP.2020.Disponível em: https://www.scielo.br/j/abem/a/zbjp8JKsTL6GwyYJDwMgJsy/Acesso em 29/09/2023

TOMINAGA, Aparecida Teruko et al. Manual de orientação Clínica: Hipertensão Arterial Sistêmica. São Paulo – SP.2012.68 p.

VALE MAIS SAÚDE. Principais tipos de diabetes. Disponível em: https://diabetes.org.br/tipos-de-diabetes/#diabetes. Acesso:28/08/2023.

XAVIER, Daniela et. al. Estratégias de reabilitação fisioterapêutica em pacientes com neuropatia diabética: Uma revisão sistemática. Rio de Janeiro, 2021.Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/sustinere/article/view/45639Acesso em: 27/08/2023.

CAPÍTULO 3

ENVELHECIMENTO BIOLÓGICO E SAÚDE MENTAL: UMA ANÁLISE DE CONTEXTO

BIOLOGICAL AGING AND MENTAL HEALTH: A CONTEXT ANALYSIS

 

 

DOI: https://doi.org/10.56001/23.978650082608.03

Submetido em: 27/11/2023

Revisado em: 03/12/2023

Publicado em: 05/12/2023

 

Débora Luísa Filipetto Pulcinelli

Graduanda de Farmácia pela Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Morfologia, Santa Maria – RS

http://lattes.cnpq.br/7672415642403469

Raquel Souza de Praia

Doutora em Saúde Pública pela Universidad de Ciências Empresariais e Sociais, Buenos Aires-AR

http://lattes.cnpq.br/1060546852353608

Euler Esteves Ribeiro

Reitor da Fundação Universidade da Terceira Idade, Doutor em Gerontologia Biomédica pela Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Manaus-AM

http://lattes.cnpq.br/6760036358198639

Fernanda Trombini

Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Enfermagem, Santa Maria-RS

http://lattes.cnpq.br/9145097192524730  

Isabella Amaral

Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Enfermagem, Santa Maria-RS

http://lattes.cnpq.br/1282264904376572

Ivana Beatrice Mânica da Cruz

Doutora em genética pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Gerente de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitário de Santa Maria, Santa Maria-RS

http://lattes.cnpq.br/3426369324110716

Fernanda Barbisan

Doutora em Farmacologia pela Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Morfologia, Santa Maria-RS

http://lattes.cnpq.br/1428674947616182

 

 

 

Resumo

O envelhecimento é um processo biológico natural e irreversível, e é parte do desenvolvimento humano. Contudo, as mudanças fisiológicas decorrentes deste evento podem trazer consigo uma série de problemas, como as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), incluindo os transtornos psiquiátricos, que são cada vez mais incidentes e prevalentes na população idosa. Mesmo que muitas vezes sejam subdiagnosticados tanto pela dificuldade de se identificar os sintomas, quanto pela estigmatização associada à saúde mental em populações mais velhas. Dessa forma nosso objetivo é realizar uma revisão de literatura sobre a prevalência dos transtornos mentais na população idosa visando compreender os fatores fisiológicos e epidemiológicos envolvidos nesse processo. Para tal, foi realizada uma revisão da literatura abordando a temática da prevalência dos transtornos mentais em idosos, avaliando as bases do neuroenvelhecimento, os transtornos psicológicos e sua epidemiologia bem como a organização do sistema de saúde pública no Brasil. Sugerimos aqui a necessidade de construir programas específicos de prevenção e tratamento para idosos, uma vez que esta população apresenta importantes especificidades biológicas, funcionais, sociais e de saúde que são diferentes em relação a outros grupos etários.

Palavras-Chave: população idosa, transtornos mentais, neuroenvelhecimento

Abstract

Aging is a natural and irreversible biological process that is part of human development. However, the physiological changes resulting from this event can bring about a series of problems, such as non-communicable chronic diseases (NCDs), including psychiatric disorders, which are increasingly incident and prevalent in the elderly population. Often, they are underdiagnosed due to both the difficulty of identifying symptoms and the stigma associated with mental health in older populations. Therefore, our objective is to conduct a literature review on the prevalence of mental disorders in the elderly population, aiming to understand the physiological and epidemiological factors involved in this process. To achieve this, a literature review was conducted addressing the prevalence of mental disorders in the elderly, evaluating the bases of neuroaging, psychological disorders, and their epidemiology, as well as the organization of the public health system in Brazil. We suggest the need to build specific prevention and treatment programs for the elderly, as this population presents important biological, functional, social, and health specificities that differ from other age groups.

Keywords: elderly population, mental disorders, neuroaging

Introdução

O desenvolvimento humano inicia com a formação do zigoto, período embrionário, atravessando a maturação durante a infância e adolescência, até alcançar a fase adulta, caracterizada por uma maior capacidade funcional tanto orgânica quanto psicológica nos indivíduos. Em seguida, logo após a fase adulta/reprodutiva, o organismo entra em um declínio gradual, assinalando assim o processo de envelhecimento biológico, que está correlacionado com o aumento de disfunções e da suscetibilidade a doenças, fragilidade e dependência, culminando inevitavelmente na morte (CRUZ; SCHWANKE, 2000).

Segundo o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (2019), a população idosa (nos países em desenvolvimento com idade maior ou igual a 60 anos, e nos desenvolvidos 65 anos ou mais) está prevista para quase duplicar na Europa, passando de 18,0% em 2019 para 26,1% em 2050. Isso significa que, mesmo em países que já são considerados “demograficamente envelhecidos” (por terem mais de 15% de sua população composta por pessoas idosas), a quantidade de indivíduos mais velhos continuará a crescer. Esse aumento na proporção de pessoas idosas traz consigo um significativo impacto, pois coincide com a maior prevalência de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) (TKATCH et al., 2016).

Dados do Conselho Nacional de Envelhecimento dos Estados Unidos apontam que em 2014, 92% das pessoas idosas apresentavam pelo menos uma DCNT, sendo as mais prevalentes hipertensões, doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral, diabetes mellitus 2 e câncer.

As DCNTs são a principal causa de mortalidade global, responsáveis por 74% dos óbitos (WHO, 2022). A definição de saúde é influenciada por três domínios amplos de bem-estar: o físico, o psicológico e o social. Nesse contexto, é relevante ressaltar que o bem-estar é um conceito subjetivo que abrange a satisfação geral com a vida, relatos individuais e as emoções positivas e negativas associadas ao estado de saúde (NG; DIENER, 2014).

Dentro dessa perspectiva, para além da gestão da prevenção das DCNTs mais comuns, é essencial também incorporar a compreensão dos elementos psicológicos que podem influenciar o bem-estar ou até mesmo contribuir para o aparecimento de doenças crônicas. Em outras palavras, é imprescindível considerar a saúde mental no contexto do envelhecimento e também nas DCNTs, as quais podem afetar consideravelmente a morbidade e mortalidade em pessoas idosas, além de aumentar os encargos tanto nos sistemas de saúde quanto nos serviços sociais. Diante desta perspectiva realizamos uma análise de contexto através de revisão bibliográfica com o objetivo de buscar correlacionar o envelhecimento biológico e a saúde mental.

Resultados e Discussão
  • Bases Conceituais do Neuroenvelhecimento

O processo de envelhecimento biológico exerce uma influência profunda sobre as funções neurológicas e cognitivas de um indivíduo, formando a base para o desenvolvimento e a progressão de diversos transtornos neuropsiquiátricos. No âmbito neurofuncional, a capacidade dos neurônios no cérebro de se adaptarem e reorganizarem de forma contínua para responder às mudanças do ambiente interno e externo é conhecida como plasticidade neuronal. Esse fenômeno é condicionado pela despolarização da membrana do neurônio, a atividade sináptica provocada por estímulos e as subsequentes alterações na morfologia dendrítica, que são características fundamentais relacionadas à aprendizagem e à memória (PHILLIPS et al., 2017).

Uma série de estudos aponta para a influência direta que os fatores ambientais exercem sobre a plasticidade cerebral, o que pode resultar em disfunções neurocognitivas e neuropsicológicas a longo prazo, ou alternativamente, no aprimoramento da funcionalidade cerebral. Nesse contexto, a compreensão da relação dinâmica entre a plasticidade cerebral e os elementos do estilo de vida se torna crucial, delineando uma necessidade urgente de compreender mais profundamente e promover o envelhecimento saudável, bem como de prevenir o surgimento de doenças, especialmente as condições neurocognitivas como Alzheimer, depressão e outros distúrbios mentais que impactam as pessoas idosas (PHILLIPS et al., 2017).

Evidências científicas sugerem que é intrínseco ao processo de envelhecimento as reduções nas principais regiões cerebrais, resultando em declínios em diversos domínios cognitivos, como memória, atenção, velocidade de processamento e função executiva (PHILLIPS et al., 2017).

As alterações estruturais e fisiológicas dos neurônios e das células de suporte, como as células da glia, têm um impacto significativo nas funções neurais associadas ao processo de envelhecimento. Sendo parte do sistema límbico e localizado nos lobos temporais do cérebro humano, o hipocampo desempenha um papel fundamental na memória (COCHAR-SOARES; DELINOCENTE; DATI, 2021).

A função do hipocampo é fundamental na conversão da memória de curto prazo em memória de longo prazo, operando em conjunto com a amígdala cerebral, que por sua vez, é uma estrutura em forma de amêndoa localizada na região ântero-inferior do lobo temporal. Ela se conecta não apenas ao hipocampo, mas também aos núcleos septais, à área pré-frontal e ao núcleo dorso-medial do tálamo (COUILLARD-DESPRES et al., 2011).

Essas conexões desempenham um papel crucial na mediação e no controle das emoções, incluindo sentimentos de amizade, amor, afeição, assim como estados emocionais como medo e raiva. A amígdala cerebral desempenha uma função essencial na preservação do indivíduo, identificando potenciais perigos e desencadeando respostas de ansiedade e alerta que preparam o indivíduo para enfrentar ou fugir de situações ameaçadoras. Dessa forma, o armazenamento de memórias pelo hipocampo pode influenciar a amígdala, indicando ao indivíduo se ele está em perigo ou não, e também evocando emoções positivas relacionadas a amigos, familiares ou experiências agradáveis previamente vivenciadas (COUILLARD-DESPRES et al., 2011).

É notável que, apesar da neurogênese no hipocampo ser sustentada durante toda a vida, seus níveis diminuem de maneira gradual e constante em paralelo ao processo de envelhecimento.  Lesões no hipocampo resultam na incapacidade de formar novas memórias, fazendo com que a pessoa sinta como se estivesse vivendo em um lugar desconhecido, onde todas as experiências simplesmente desaparecem, apesar das memórias mais antigas anteriores à lesão permanecerem intactas. A investigação do hipocampo em indivíduos idade avançada (com mais de 80 anos) demonstrou uma redução de aproximadamente 20% na rede neural dessa estrutura. Essa diminuição pode ser ainda mais pronunciada em casos de demência e outras doenças neurodegenerativas (LEE et al., 2017).

Do ponto de vista morfofisiológico, a substância branca do sistema nervoso central é majoritariamente composta por axônios mielinizados e células da glia responsáveis pela produção de mielina. Esses axônios mielinizados na substância branca são considerados essenciais para sustentar uma transmissão eficiente de sinais entre áreas corticais e subcorticais. Assim como as regiões de substância cinzenta, a substância branca também passa por várias transformações durante o processo de envelhecimento. Com isso, o mau funcionamento da massa branca pode induzir comprometimentos neurocomportamentais e cognitivos graves, contribuindo para o declínio neurofuncional observado nos idosos (LEE et al., 2017; LIU et al., 2017).

Além disso, em sua revisão, Liu et al. (2017) apontam que o envelhecimento da substância branca aumenta a vulnerabilidade do idoso a distúrbios neurológicos associados à neurodegeneração, como AVC, lesão cerebral traumática, doença de Alzheimer e doença de Parkinson. Ainda que a fisiologia da substância branca seja menos compreendida em comparação com a substância cinzenta, essa região do cérebro pode representar um alvo terapêutico significativo para diversos distúrbios neurológicos e psiquiátricos.

Outra faceta fundamental no processo de envelhecimento do sistema nervoso central é a função imunológica. Pesquisas na área de biogerontologia têm apontado que o envelhecimento biológico resulta em um declínio significativo na função imunológica, evidenciando que o envelhecimento está correlacionado com o aumento de estados inflamatórios no interior do sistema nervoso central (CORONA et al., 2012). A neuroinflamação é atualmente considerada como uma força motriz na progressão e provável etiologia de inúmeras doenças neurológicas, incluindo as neurodegenerativas (Moyse et al., 2022).

O envelhecimento neurológico traz consigo várias mudanças metabólicas, incluindo o acúmulo de toxinas, a redução na produção de energia e o aumento na geração de espécies reativas de oxigênio (EROs), frequentemente devido à diminuição dos níveis e atividade de enzimas antioxidantes. Além disso, há o acúmulo de proteínas modificadas, como a lipofuscina. Esses fatores contribuem para a predisposição à inflamação crônica e estão associados ao desenvolvimento de doenças neurodegenerativas e neuropsiquiátricas em idosos (Figura 1) (CORONA et al., 2012).

 

 

 

Figura 1: Esquema demonstrando as causas metabólicas do neuroenvelhecimento e associação a doenças neurodegenerativas e neuropsiquiátricas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Elaborada pelos autores.

É importante observar que o sistema imunológico inato e adaptativo, tanto na periferia corporal quanto no sistema nervoso central, interage por meio da liberação de citocinas. Essas moléculas desempenham um papel crucial na transmissão de sinais entre as células durante a ativação das respostas imunes. As citocinas incluem tanto aquelas que promovem inflamação (citocinas pró-inflamatórias) quanto aquelas que atuam para controlar ou reduzir a inflamação (citocinas anti-inflamatórias), contribuindo assim para um equilíbrio complexo na regulação da resposta imune (BEKTAS et al., 2017).

Com o avançar da idade, há uma tendência de aumento na produção de citocinas pró-inflamatórias, o que resulta em um estado de inflamação crônica que está presente em várias DCNT, incluindo as neurodegenerativas, como já comentado anteriormente (GAZIT et al., 2008; BEKTAS et al., 2017).

No cérebro, a resposta inflamatória é modulada pelas células da micróglia, que também produzem quantidades elevadas de citocinas pró-inflamatórias, como interleucina 1 beta (IL-1β), interleucina 6 (IL-6) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α). A neuroinflamação impacta o sistema nervoso de diversas maneiras, prejudicando a plasticidade neural, a neurogênese e, consequentemente, as funções neurocognitivas (CORONA et al., 2012). Nesse contexto, a micróglia envelhecida tem sido associada a mudanças funcionais na resposta imunológica que podem predispor a condições patológicas, incluindo transtornos psiquiátricos, doença de Alzheimer e doença de Parkinson (como mencionado por SPITTAU et al. (2017)). Portanto, o contexto do envelhecimento neurobiológico contribui para o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas e neuropsiquiátricas.

  • Transtornos Psiquiátricos nos Idosos

É importante recordar que foram discutidos anteriormente os vínculos entre o envelhecimento da população e as DCNT prevalentes entre os idosos. Antes de mergulhar mais profundamente na temática epidemiológica relacionada à saúde mental na terceira idade, é pertinente relembrar a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) (2016) que conceitua a “saúde” como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.

Portanto, a saúde mental é um componente intrínseco da saúde global, sendo influenciada significativamente por diversos fatores socioeconômicos, biológicos (incluindo influências genéticas) e ambientais. Em suma, a saúde mental não se limita a uma ausência de transtornos mentais patológicos (PEROBELLI et al., 2018)

Nesse contexto, tanto a saúde mental quanto o bem-estar são considerados elementos essenciais para que possamos exercer nossas capacidades cognitivas, emocionais e interativas como seres humanos. Isso nos permite pensar, sentir emoções, interagir com os outros, ser produtivos e desfrutar da vida. Sabendo disso, a OMS ressalta a importância de promover, proteger e restaurar a saúde mental como uma prioridade para indivíduos, comunidades e sociedades em todo o mundo. Além disso, é fundamental que os esforços nacionais se concentrem em desenvolver e implementar políticas de saúde mental, não apenas para salvaguardar e melhorar o bem-estar mental dos cidadãos, mas também para atender às necessidades das pessoas que enfrentam transtornos mentais diagnosticados (OMS, 2016).

É notável que tanto a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa quanto o texto da I Conferência Nacional dos Direitos do Idoso enfatizam a importância significativa da saúde mental, reconhecendo sua alta prevalência na população idosa. No entanto, é importante reconhecer que o subdiagnóstico desses transtornos entre a pessoas idosas cria obstáculos para o encaminhamento e cuidado adequados. Isso significa que muitos idosos que poderiam se beneficiar de intervenções e tratamentos para problemas de saúde mental não recebem a assistência necessária (Maragno et al., 2006).

De acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10), os transtornos mentais são categorizados e classificados como condições caracterizadas por manifestações psicológicas que estão associadas a um comprometimento funcional. Essas manifestações podem resultar de diversas disfunções, incluindo aquelas de natureza biológica, social, psicológica, genética, física ou química.

Os transtornos mentais são condições clínicas que envolvem alterações no modo de pensar, no humor e comportamento de um indivíduo, frequentemente associadas a angústia pessoal e prejuízos funcionais em diversas áreas da vida, como no âmbito pessoal, profissional e social (WHO, 2022). Os sintomas psiquiátricos não psicóticos, como irritabilidade, fadiga, insônia, dificuldade de concentração, esquecimento, ansiedade e queixas somáticas, podem estar presentes nos transtornos mentais comuns. Esses transtornos muitas vezes estão relacionados a eventos estressantes da vida e podem variar em gravidade (Souto et al., 2018).

O reconhecimento dos transtornos mentais como um problema significativo de saúde pública é um desenvolvimento relativamente recente, com estudos da Universidade de Harvard nos Estados Unidos na década de 90 contribuindo para essa compreensão (SANTOS; SIQUEIRA, 2010).

Na abordagem dos transtornos mentais, é crucial considerar a epidemiologia dessas condições na população em geral, entender os desafios no cuidado dos pacientes psiquiátricos e discutir tópicos como hospitalização e institucionalização desses indivíduos. O cuidado adequado a esses pacientes é essencial para promover o bem-estar mental e a qualidade de vida, e é um componente importante das políticas de saúde mental em nível nacional e global.

  • Epidemiologia dos Transtornos Neuropsiquiátricos em Idosos

Os transtornos neuropsiquiátricos afetam cerca de 1 bilhão de pessoas em todo mundo (OMS, 2019). Em 2019, cerca de 13% de adultos com 70 anos ou mais viviam com algum transtorno mental (WHO, 2022). São responsáveis por 30% de todas as doenças não transmissíveis e 14% do total de doenças. Os transtornos neuropsiquiátricos são a causa de aproximadamente 25% da incapacidade relacionada ao trabalho e ao convívio social. Segundo a OMS (2016), mais de 20% das pessoas com 60 anos ou mais sofrem de algum tipo de doença mental ou neurológica e cerca  de 6,6% dessa faixa etária possui incapacidade devido a distúrbios mentais.

Embora os transtornos neuropsiquiátricos apresentem uma alta carga de prevalência, alocar recursos adequados para o tratamento dessas condições tem sido um desafio. De acordo com estimativas da OMS, apenas 2% dos recursos destinados à área da saúde são direcionados para o tratamento dos transtornos mentais. Entre os principais transtornos mentais, a OMS aponta a depressão, ansiedade, o uso de álcool, uso de drogas, demência e epilepsia. Entre os adultos e idosos, a depressão é o transtorno mais prevalente (WHO, 2022).

Na literatura, a ocorrência de transtornos mentais em idosos varia entre 20% e 31%, conforme relatórios de estudos realizados por Copeland et al. (1987), Denardi et al. (2022), De Souza et al. (2023).

No contexto brasileiro, uma revisão sistemática conduzida por Santos e Siqueira (2010) para o período de 1997 a 2009 estimou uma prevalência de transtornos mentais na população adulta em torno de 20%, podendo chegar a 56% em casos específicos. Contudo, é importante ressaltar que estudos abordando a prevalência geral de transtornos mentais em idosos ainda são escassos, como observaram os próprios autores.

Um estudo realizado por Borin e colaboradores (2013) examinou a prevalência de transtorno mental comum entre idosos na cidade de Campinas, São Paulo. O transtorno mental comum é caracterizado por sintomas psiquiátricos não psicóticos, tais como irritabilidade, fadiga, insônia, dificuldade de concentração, esquecimento, ansiedade e queixas somáticas. Os pesquisadores levaram em consideração variáveis demográficas, socioeconômicas, comportamentais relacionadas à saúde e presença de morbidades prévias. Os resultados indicaram uma prevalência de 29,7% de transtorno mental comum, sendo essa prevalência significativamente maior entre mulheres e idosos longevos. A prevalência de transtornos mentais comuns entre os idosos longevos foi 2,86 vezes maior em comparação com os idosos na faixa etária de 60-69 anos. Outro estudo realizado com 562 idosos no município de Feira de Santana, Bahia, encontrou uma prevalência de 32,1% de transtornos mentais comuns. Além disso, menor renda, presença de múltiplas condições de saúde, falta de atividade física e autoavaliação de saúde como ruim ou muito ruim também foram associadas a uma maior prevalência de transtornos mentais comuns (VASCONCELOS-ROCHA et al., 2012).

Um tema pouco explorado é a prevalência do perfil dos idosos que procuram atendimento em emergências psiquiátricas no Brasil. Um estudo realizado por Baldaçara e colaboradores (2012) investigou 13.118 pacientes atendidos na Unidade de Emergência Psiquiátrica do Centro de Atenção Integrada em Saúde Mental de São Paulo. Dentre esses pacientes, 10,6% eram pessoas idosas, uma prevalência que se encontra dentro das faixas descritas em outros países, variando de 5,3% a 11,8% (COLENDA et al., 1997; THIENHAUS et al., 2004; BAILLARGEON et al., 2008).

Dos idosos que procuraram atendimento na emergência psiquiátrica, o diagnóstico mais comum foi depressão maior (33,7%), seguido por transtornos psicóticos (19,6%), transtorno bipolar (12,7%), estado de confusão aguda ou delirium (10,5%), ansiedade (7,1%), demência (4,9%) e abuso de substâncias (4,2%). Os pesquisadores observaram que, embora 62,4% dos idosos tenham requerido apenas tratamento ambulatorial, 25,3% necessitavam de observação mais intensa e 12,2% precisaram de internação hospitalar (Baldaçara et al., 2018)

  • Serviços de Saúde e os Transtornos Psiquiátricos

Em termos históricos, em 1990, o Brasil aderiu à Declaração de Caracas, um importante marco que impulsionou a reformulação da assistência psiquiátrica no país. Essa iniciativa foi crucial para a promulgação da Lei Federal nº 10.216 em 2001, que tratou da proteção e dos direitos das pessoas com transtornos psiquiátricos.

A partir da Lei 10.216, foi estabelecida a base para a construção da Política de Saúde Mental no Brasil. O principal objetivo dessa política é assegurar o cuidado adequado para indivíduos com transtornos mentais, através de serviços substitutivos aos antigos hospitais psiquiátricos de longa permanência, onde os pacientes costumavam ser confinados. Essa abordagem significou uma transição para a redução gradual dos leitos em hospitais psiquiátricos de longa permanência, com um foco no incentivo às internações de curta duração, quando necessário, dentro do contexto de hospitais gerais.

Em essência, a Política de Saúde Mental no Brasil passou a promover um cuidado mais humanizado e integrado para pessoas com transtornos mentais, buscando diminuir o estigma associado à internação psiquiátrica prolongada. Essa abordagem reflete um compromisso com a dignidade, a autonomia e os direitos das pessoas com transtornos mentais, promovendo a sua inclusão na sociedade de maneira mais eficaz e respeitosa.

Segundo um relatório do Ministério da Saúde de 2017, a saúde mental no Brasil passou a ser uma área de foco na atenção básica de saúde, sendo incluída no Pacto pela Vida a partir de 2008. Nesse contexto, a atenção básica é considerada a primeira porta de entrada para pacientes que apresentam queixas psicológicas e transtornos mentais, como ansiedade e depressão. Através da atenção primária, têm sido desenvolvidas estratégias para ações voltadas ao cuidado da saúde mental, abordando seus aspectos psicossocioculturais, e também promovendo a integração e reabilitação de indivíduos com transtornos mentais.

Muitos profissionais da área percebem que o que aparenta ser um aspecto positivo, na verdade resulta em um cuidado reduzido ao paciente psiquiátrico. Conforme a Lei 10.216/01, a diminuição dos leitos psiquiátricos deveria ser compensada pela implementação de novas alternativas, com foco em abordagens ambulatoriais.

No entanto, a implementação desses serviços é insuficiente em relação à demanda. Por exemplo, entre 2002 e 2015, foram estabelecidos 378 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) especializados no apoio a pessoas com problemas relacionados ao uso de álcool e drogas (BRASIL, 2022). Dentro do sistema atual, esses centros são os únicos com capacidade de oferecer internações e lidar com casos mais complexos. Contudo, cada CAPS pode acomodar no máximo 12 leitos, o que é inadequado dado que ao longo dos mais de 15 anos desde a promulgação da lei, a população do país teve um aumento significativo (BRASIL, 2022).

Além disso, o governo brasileiro instituiu as Unidades de Acolhimento de Caráter Transitório, com o propósito de fornecer suporte aos CAPS e receber indivíduos com problemas relacionados ao uso de drogas. Contudo, até 2015, havia apenas 34 dessas unidades em todo o país, com a capacidade máxima de abrigar 15 pacientes cada (PESSOA et al., 2016). Atualmente, o panorama mostra uma melhora considerável no número de CAPS no país, totalizando em 2.785 centros no território brasileiro (BRASIL, 2022).

No contexto da reformulação das políticas de saúde mental, houve aumento no número de pacientes psiquiátricos que passaram a viver com suas famílias, o que por sua vez resultou em uma significativa sobrecarga psicológica destes familiares. Nesse cenário também estão incluídas pessoas com transtornos mentais, seja relacionado à idade ou não. Conforme destacado por Liberman e Liberman (2003), a maioria das famílias não está preparada para lidar com situações de sobrecarga associadas a condições psiquiátricas, incluindo aquelas relacionadas à saúde mental de idosos. Isso frequentemente gera sentimentos contínuos de angústia e culpa. Cuidar de familiares idosos que também enfrentam problemas de saúde já é uma tarefa difícil e exigente. Essas responsabilidades são desgastantes tanto fisicamente quanto emocionalmente, e muitas vezes levam os cuidadores a experienciar processos de ansiedade e depressão (MONTEIRO, 1998).

Quando membros de uma família se deparam com questões psicogeriátricas, essa situação pode desencadear a desestruturação da dinâmica familiar. Por esse motivo, pesquisadores como Monteiro et al. (2010) argumentam que há diversas razões que sustentam a importância da criação de serviços de saúde mental específicos para pessoas idosas. Isso ocorre porque, além dos transtornos mentais, a grande maioria dos idosos também apresenta múltiplas condições médicas, disfunções e uma perda gradual de autonomia, demandando uma abordagem integrada. Diante desse contexto, pesquisadores da área como Vieira (2015), tem defendido a necessidade de estabelecer unidades gerontopsiquiátricas que ofereçam serviços de apoio comunitário e social.

  • Transtornos Psiquiátricos nos Idosos

De acordo com conceitos estabelecidos, a depressão é classificada como um transtorno psiquiátrico comumente observado em pessoas idosas, tornando-se um desafio de saúde pública devido à sua ligação com várias condições crônicas, declínio cognitivo e perda de funcionalidade (WOOD et al., 2017). Essa condição causa angústia tanto para o paciente quanto para seus familiares, manifestando-se através de sentimentos de tristeza intensa, falta de motivação para atividades do dia a dia e uma ausência de interesse ou prazer em realizar tarefas simples e rotineiras (CUIJPERS et al., 2015).

Na realidade, a depressão compreende diversos tipos, o que a engloba dentro da categoria de “transtornos afetivos” no CID-10. Os transtornos afetivos são caracterizados por uma alteração do humor ou afeto, que pode se manifestar como depressão (com ou sem ansiedade associada) ou euforia. Essa mudança no humor normalmente acompanha uma modificação no nível geral de atividade.

Como já foi enfatizado anteriormente, as DCNTs são as principais responsáveis por mortes prematuras em todo o mundo. Devido a essa realidade, a OMS estabeleceu metas para reduzir as mortes precoces causadas por essas doenças, com foco especial nas doenças cardiovasculares e câncer. No entanto, como observado por Warnke, et al (2016), é alarmante que os transtornos psiquiátricos tenham recebido tão pouca atenção nesse cenário. A importância desse contexto epidemiológico reside no fato de que a depressão aumenta significativamente o risco de outras DCNTs, tornando-se um fator desencadeante para muitas outras doenças (MOUSSAVI et al., 2007). A depressão em pessoas idosas está fortemente associada ao declínio cognitivo e a estados demenciais. Além disso, estudos epidemiológicos também indicam que a depressão está relacionada à redução da expectativa de vida em indivíduos afetados (KATON et al., 2007).

No estudo conduzido por Warnke e colaboradores (2016), uma análise foi realizada utilizando dados de 327.018 pacientes alemães que receberam atendimento ambulatorial e que tinham 18 anos de idade ou mais, sendo diagnosticados com depressão. O estudo abrangeu o período de 2007 a 2010 e teve como objetivo avaliar o impacto da depressão no risco de mortalidade. Os resultados indicaram que o risco de mortalidade foi mais elevado para homens mais velhos, o que reforça a ideia de que a depressão é uma condição patológica de extrema relevância, especialmente para a população idosa.

Kivelitz e colaboradores (2015), é importante ressaltar que, apesar de ser uma doença psiquiátrica bastante prevalente em idades avançadas, a depressão muitas vezes não é devidamente diagnosticada ou tratada nessa população. Portanto, um aspecto crucial é a identificação inicial da depressão em pessoas idosas, para o qual são necessários o uso de instrumentos diagnósticos sensíveis e apropriados para essa faixa etária.

No contexto brasileiro, um estudo realizado por Barros e colaboradores (2017) avaliou a prevalência de comportamentos relacionados à saúde, levando em consideração a presença e o tipo de depressão em adultos brasileiros. É importante observar que o estudo abarcou somente uma amostra de indivíduos com idades entre 18 e 59 anos, e dentro desse grupo etário a prevalência de depressão foi estimada em 3,9%. Os pesquisadores também identificaram que os indivíduos que apresentavam depressão tinham maior propensão a serem fumantes e sedentários. Portanto, os autores sugeriram que a avaliação da presença de depressão deveria ser considerada ao implementar estratégias de promoção de comportamentos saudáveis, uma vez que, caso contrário, esse grupo específico da população poderia demonstrar menor aderência a essas ações. Diante disso, torna-se necessário a realização de um estudo semelhante, porém voltado para a população idosa.

­­Considerações Finais

Os transtornos psiquiátricos em pessoas idosas podem ser desafiadores de diagnosticar e tratar devido a presença de comorbidades como as DCNTs, o uso de múltiplos medicamentos e a estigmatização associada à saúde mental em populações mais velhas. É considerável lembrar que a saúde mental é importante em todas as fases da vida, e os idosos merecem cuidados e respeito tanto quanto qualquer outra faixa etária. Para combater o ageismo e melhorar o apoio aos idosos com transtornos mentais, é fundamental promover a conscientização, educar as pessoas sobre os desafios enfrentados pelas pessoas idosas e disponibilizar serviços de saúde mental acessíveis e culturalmente sensíveis para essa população.

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CAPÍTULO 4

DESAFIOS DO ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E PALIATIVIDADE NO CONTEXTO DAS UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

CHALLENGES OF AGING POPULATION AND PALIACTIVITY IN THE CONTEXT OF INTENSIVE CARE UNITS

 

DOI: https://doi.org/10.56001/23.978650082608.04

Submetido em: 15/03/2024

Revisado em: 05/04/2024

Publicado em: 14/04/2024

 

Maria Luiza Remonti Lodi

Universidade Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI-ERECHIM

https://lattes.cnpq.br/7367784249085462

Debora Bauels Adames

Universidade Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI-ERECHIM

https://lattes.cnpq.br/5244146157998139

Eduarda Lorenzi

Universidade Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI-ERECHIM

https://lattes.cnpq.br/6036030344382682

Nicolas Zin Lopes

Universidade Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI-ERECHIM

https://lattes.cnpq.br/7094007619461312

Rafaella Carlexo

Universidade Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI-ERECHIM

https://lattes.cnpq.br/4549519348794998

 

 

 

Resumo

O envelhecimento populacional crescente, devido ao aumento da expectativa de vida, já é um fato muito bem elucidado e que vem sendo cada vez mais pertinente para saúde pública no Brasil, principalmente, as unidades de terapia intensivas (UTIs). Além dos cuidados em afecções agudas, a paliatividade, no contexto das UTIs, é uma área de assistência, que visa conforto e qualidade de vida para pacientes sem possibilidade de cura. Isso configura desafio para equipe profissional dos centros intensivos, já que esses pacientes exigem grande demanda de cuidado, decisão multiprofissional e apoio biopsicossocial. O presente estudo configura-se como uma revisão bibliográfica sistemática da literatura, de caráter qualitativo e descritivo, tendo como pergunta norteadora: “Quais são os desafios enfrentados pelos profissionais das UTIs, tendo em vista a maior demanda do envelhecimento populacional e decisões na paliatividade?”. Atualmente, a inversão demográfica coloca em evidência a transição para uma sociedade mais envelhecida (IBGE, 2022), um fenômeno que tem implicações diretas na busca por serviços de saúde, especialmente em contextos críticos. Os multiprofissionais da saúde, então, devem levar em consideração as comorbidades e doenças crônicas apresentadas pela sociedade em envelhecimento, que são classificados como pacientes complexos e com maior chance de agravos. Ademais, as UTIs têm como um dos objetivos fornecer conforto aos pacientes em cuidados paliativos, sendo cada vez mais procuradas para a realização desse tipo de cuidado. Assim, uma sociedade cada vez mais envelhecida gera uma demanda entre os profissionais de saúde, que requerem conhecimento e um olhar holístico frente ao paciente idoso, devendo sempre considerar a síndrome geriátrica composta por comorbidades, doenças crônicas associadas à idade avançada e polifarmácia, para então, definir cuidados específicos necessários para cada público.

Palavras-chave: Saúde do idoso; Cuidados Paliativos; Medicina Intensiva. 

Abstract

An increasing population aging due to increased life expectancy is already a well-known fact that has become increasingly relevant to public health in Brazil, especially intensive care units (ICUs). In addition to care for acute conditions, palliative care, in the context of ICUs, is an area of ​​assistance, which aims at comfort and quality of life for patients without the possibility of cure. This poses a challenge for the professional team in intensive centers, as these patients require a high demand for care, multidisciplinary decision-making and biopsychosocial support. The present study is a systematic bibliographical review of the literature, of a qualitative and descriptive nature, with the guiding question: “What are the challenges faced by ICU professionals, given the greater demands of the aging population and palliative decisions?”. Currently, demographic inversion highlights the transition to an older society (IBGE, 2022), a phenomenon that has direct implications for the search for health services, especially in critical contexts. Health multiprofessionals, therefore, must take into account the comorbidities and chronic diseases presented by an aging society, which are classified as complex patients with a greater chance of worsening. Furthermore, one of the objectives of ICUs is to provide comfort to patients undergoing palliative care, and are increasingly sought after for carrying out this type of care. Thus, an increasingly aging society generates a demand among health professionals, who require knowledge and a holistic view towards elderly patients, and must always consider the geriatric syndrome composed of comorbidities, chronic diseases associated with age advanced and polypharmacy, to then define specific care needed for each audience.

Keywords: Elderly health; Palliative care; Intensive Medicine.

 

 

Introdução

O envelhecimento populacional consequente à queda da fecundidade e aumento da expectativa de vida já é um fato muito bem elucidado e que vem sendo cada vez mais pertinente para saúde pública no Brasil, estima-se que houve uma queda significativa de população abaixo dos 30 anos e um aumento acima dessa idade, com predominância de pessoas com mais de 60 anos no país (IBGE, 2022). Dessa forma, a alteração de políticas públicas e de redes de saúde faz-se necessária para promover acesso e cuidado específico para essa população.

Nesse contexto, um dos serviços que foram fortemente impactados pelo envelhecimento populacional, são as unidades de terapia intensivas (UTIs). Muitas vezes, os pacientes em estados mais graves são encaminhados para os cuidados intensivos, cabendo aos médicos do serviço a decisão sobre a paliatividade, juntamente com a família e, apesar de, atualmente, existir ampla literatura sobre o tema, os intensivistas e demais médicos do serviço devem reconhecer as condições necessárias para morte e o limite das intervenções (Moritz, 2008; Lima, 2019).

O ambiente de UTI é designado, principalmente, para casos reversíveis com iminente risco de morte. Porém, atualmente, mesmo com o alto arsenal terapêutico e tecnológico desse serviço, existe grande encaminhamento de pacientes com doenças crônicas, que necessitam de uma assistência não curativista como o habitual, o que acaba causando investimentos diagnósticos e terapêuticos fúteis e iatrogênicos (Governo do Distrito Federal, 2018).

Nesse ínterim, a paliatividade é uma área de assistência à saúde considerada extremamente necessária, que visa conforto e qualidade de vida para pacientes sem possibilidade de cura. Os cuidados paliativos têm um enfoque integral e multiprofissional que inclui não só o indivíduo, mas também, sua família e necessita de profissionais capacitados para atuação (Gomes, 2016). Isso se configura como um desafio para equipe profissional dos centros intensivos, já que esses pacientes exigem grande demanda de cuidado, decisão multiprofissional e apoio biopsicossocial.

Metodologia

O presente estudo configura-se como uma revisão bibliográfica sistemática da literatura, de caráter qualitativo e descritivo, tendo como pergunta norteadora: “Quais são os desafios enfrentados pelos profissionais das UTIs, tendo em vista a maior demanda do envelhecimento populacional e decisões na paliatividade?”. As variáveis de elucidação metodológica para compor o referencial teórico foram os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS/MeSH) “Paliatividade”, “Unidade de terapia intensiva”, “Envelhecimento populacional”, “Cuidados paliativos”, “Palliative care”, “Intensive care”, entrecruzados com os operadores booleanos “AND” e “OR”, para a busca nas bases de dados PubMed, Scielo, UpToDate e IBGE nos idiomas inglês e português, datados entre 2008 e 2024. Como critérios de inclusão foram definidos: estudos observacionais, versando sobre as dificuldades nos cuidados de terapia intensiva; estudos epidemiológicos versando a inversão demográfica e revisões bibliográficas em terapia intensiva. Como critérios de exclusão foram definidos: leitura do título, resumo e leitura completa, feita por no mínimo dois autores, retirando duplicatas e outros artigos que não abordassem o tema em questão. Foram selecionados para a presente revisão, seguindo os critérios de exclusão, 3 artigos na PubMed, 3 no Scielo, 5 no UpToDate e 1 IBGE. Também foram utilizados 2 livros com os mesmos métodos de inclusão e exclusão.

Resultados e Discussão
  • Envelhecimento populacional brasileiro

O Brasil enfrenta um desafio demográfico significativo, evidenciado pelo aumento expressivo da população idosa em comparação com o número de crianças de 0 a 14 anos. Atualmente, a proporção de 80 idosos para cada 100 crianças destaca a inversão demográfica que coloca em evidência a transição para uma sociedade mais envelhecida (IBGE, 2022). Além disso, esse envelhecimento populacional está implicado no aumento de doenças crônicas não transmissíveis e um nível de fragilidade que requer cuidados mais específicos, visto que, em 2019, um contingente de 25,8 milhões de pessoas idosas relataram possuir pelo menos uma comorbidade (Noronha; Castro; Gadelha, 2023). Esse fenômeno tem implicações diretas na busca por serviços de saúde, especialmente em contextos críticos, como a crescente demanda por leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e profissionais da saúde que entendam a complexidade que essa subpopulação exige, já que “estão associados a alterações na função dos órgãos, aumento da fragilidade, redução das atividades da vida diária, redução da mobilidade e redução da cognição” (Vicent; Creteur, 2022, p.1).

  • Cuidados com pacientes idosos nas UTIs

Para uma abordagem inicial dos pacientes idosos na UTI, os multiprofissionais da saúde devem levar em consideração as comorbidades e doenças crônicas apresentadas pela sociedade em envelhecimento, que são classificados como pacientes complexos e com maior chance de agravos. Para a maioria desses, comorbidades como diabetes mellitus tipo II (DM), hipertensão arterial sistêmica e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) os tornam pacientes com uma polifarmácia, além da maior necessidade de internações e cuidados mais específicos, o que gera uma sobrecarga no sistema único de saúde (SUS) em relação aos cuidados oferecidos pelas UTIs. Contudo, as instituições e sistemas em saúde, atualmente, estão mais concentrados em cuidados de afecções agudas, o que torna os ambientes de cuidados mais prolongados suscetíveis a erros e despreparação a atender pacientes mais idosos (Noronha; Castro; Gadelha, 2023).

        Inicialmente, o idoso vive em um estado em que os sistemas orgânicos, embora operem com algum comprometimento, conseguem sustentar a vida em relativa harmonia e manter a homeostase. O termo “homeostenose” refere-se à diminuição das reservas conforme o envelhecimento, tornando o indivíduo menos capaz de responder eficientemente a estressores, resultando em dificuldade de manter a homeostase. Um estímulo agudo ou estressor pode levar um ou mais sistemas orgânicos ao seu limite, resultando em falência de órgãos. Quando um sistema orgânico falha, outros, frequentemente, seguem o mesmo caminho. Assim, quando um idoso com várias condições médicas crônicas enfrenta uma doença aguda, os sistemas orgânicos, aparentemente não relacionados à queixa inicial, podem não ter reservas suficientes para lidar com o estresse decorrente da doença aguda. Com isso, a insuficiência subsequente do coração, pulmões, rins e/ou cérebro (delirium) pode se manifestar independentemente da queixa original que levou o paciente à hospitalização (Mattison et al., 2024).

            Além disso, outra particularidade dessa subpopulação é a chamada “Síndrome Geriatrica”, a qual se caracteriza como um conjunto de sinais, sintomas e afecções que surgem com o envelhecimento do paciente, sendo algumas delas as úlcera de pressão, delirium e incontinência. Tal quadro, juntamente com as comorbidades prevalentes como câncer, DM e DPOC, caracterizam o paciente idoso como frágil e implica a necessidade de maiores cuidados em ambientes como as UTIs. Estas especificidades demonstram um aumento de fatores de risco para um resultado a curto e a longo prazo mais negativo, sendo que os multifatores levam ao aumento da mortalidade entre todos os pacientes idosos admitidos em UTIs, independente da afecção que levou a internação (Brunker et al., 2023).

            Assim, um olhar holístico, sob essa subpopulação, deve ser implicado na avaliação de admissão, no que se refere a avaliação das condições pré-mórbidas e a definição da síndrome geriatrica, assim como, a polifarmácia e questões sociais.  Esses elementos geram uma esfera multifatorial que implica e afeta as decisões terapêuticas e prognósticas, tornando-os um desafio para os multiprofissionais da saúde (Guidet et al., 2020). Para complementar essa avaliação, a investigação da situação domiciliar e do suporte social é imprescindível, pois diversos aspectos da situação cotidiana podem exercer impacto na saúde do idoso. Percebe-se, então, que a residência compartilhada; o tempo de assistência disponível; a modalidade de moradia; a presença de escadas e o nível de isolamento social afetam diretamente no status de performance desses pacientes (Mattison et al., 2024).

  • Cuidados paliativos no contexto das UTIs

As UTIs têm como um dos objetivos fornecer conforto aos pacientes em cuidados paliativos, sendo cada vez mais procuradas para a realização desse tipo de cuidado, principalmente devido ao envelhecimento da população. No Brasil, ocorrem por ano cerca de 650 mil mortes por doenças crônicas, sendo que 455 mil desses óbitos se dão em hospitais e a grande maioria destes nas UTIs (Gomes, 2016). Esse número expressivo comprova a importância de adequar essas unidades para comportarem pacientes em situação de paliatividade, e a necessidade de abrigá-los de forma adequada. No entanto, a disponibilidade desse tipo de leito nos hospitais brasileiros ainda é baixa; os leitos públicos possuem uma média de 1,0 leitos a cada 10 mil habitantes; quando unido ao sistema privado, essa média sobe para 2,6 leitos (Amib, 2021). Demonstra-se, então, um fator que dificulta uma abordagem de forma confortável aos pacientes necessitados de cuidados mais intensivos, principalmente, os que demandam de unidades públicas.

Dessa forma, cabe destacar que segundo dados da Worldwide Palliative Care Alliance (WPCA), menos de 8% dos pacientes no mundo que necessitam de cuidados paliativos possuem acesso a eles, mesmo com mais de 100 milhões de pessoas, dentre pacientes e familiares, beneficiadas com cuidados de fim de vida, no mundo, anualmente (The quality of death, 2010). Nesse contexto, o Brasil se encontra na classificação 3a segundo o ranking da WPCA, que avalia em uma escala de 1 a 4b, sendo a escala 4 os melhores serviços de cuidados paliativos no mundo. Essa classificação do Brasil configura o país como uma prestação de serviços isolada e que são, muitas vezes, de natureza domiciliar (Lynch et al., 2013).

  • Desafios para o processo da paliatividade

            As Unidades de Terapia Intensiva estão cada vez mais se integrando a situações de cuidados paliativos, seja pela maior procura devido ao envelhecimento da população, seja pela necessidade dos pacientes de um maior conforto no fim da vida. Com isso, surgem certos desafios para adequar esse processo e realizá-lo de forma digna, como a exigência de uma boa comunicação, capacidade de decisão, controle dos sintomas, apoio psicossocial e espiritual para o paciente e familiares, dentre diversos outros desafios para garantir um maior conforto nesse processo (Isaac et al., 2023).

       A experiência de doença e sofrimento de uma pessoa é influenciada pela dor ou desconforto físico, sua percepção da imagem corporal, o significado atribuído à doença, seus desejos, relacionamentos e valores ou crenças espirituais. No entanto, não há uma taxonomia clínica precisa do sofrimento disponível, pois a experiência de dor total é construída de maneira altamente individualizada. Não existe uma abordagem única e universalmente eficaz para lidar com uma doença grave; da mesma forma, não há uma definição única do que constitui uma morte “boa” (Okon et al., 2024).

     Os desafios na paliatividade são inúmeros, ainda mais sob aqueles pacientes hospitalizados nas UTIs. Esses pacientes podem enfrentar desafios na comunicação, por exemplo, aqueles que estão intubados, que foram retirados do tubo ou apresentam comprometimento cognitivo, e aqueles cujo estado de saúde os impede de expressar queixas. Conforme os pacientes se aproximam do final da vida, a avaliação dos sintomas torna-se mais complexa, pois muitos deles perdem a capacidade de se comunicar, e outros sintomas, como inquietação e confusão, podem interferir na comunicação efetiva. A investigação de mudanças comportamentais, como expressões faciais de desconforto, é uma área em desenvolvimento e serve como base para instrumentos de avaliação conduzidos por observadores (Chang et al., 2022).

      A relação entre espiritualidade e saúde tem recebido destaque, internacionalmente. A espiritualidade, que engloba aspectos religiosos e existenciais nos cuidados, é reconhecida como um dos oito domínios específicos de qualidade nos cuidados paliativos, conforme endossado pelo Projeto de Consenso Nacional (NCP) para Cuidados Paliativos de Qualidade, além de contar com apoio de diversas organizações nacionais. A doença é concebida como uma lesão que afeta integralmente o ser humano, influenciando as dimensões biológicas, psicológicas, interpessoais e espirituais inter-relacionadas da experiência humana. A cura é percebida como a restauração dessas perturbações tanto no funcionamento individual quanto nas relações interpessoais. Além disso, destaca-se que qualquer abordagem de tratamento deve visar à totalidade do paciente, incorporando o bem-estar espiritual (Puchalski et al., 2022).

Considerações Finais

O envelhecimento populacional é uma realidade no Brasil e constitui um assunto de grande importância para o setor de saúde pública. Essa tendência é evidenciada pelo aumento de admissões e atendimentos nas instituições de cuidados em saúde, como as  UTIs, em que os idosos são, frequentemente, admitidos para tratamento de afecções agudas, que são agravadas por condições crônicas de longa data. Essa subpopulação requer cuidados mais específicos, assim como tratamentos paliativos e gerenciamento de doenças crônicas.

Dessa forma, uma sociedade cada vez mais envelhecida gera uma demanda entre os profissionais de saúde, que requerem conhecimento e um olhar holístico frente ao paciente idoso, devendo sempre considerar a síndrome geriátrica composta por comorbidades, doenças crônicas associadas à idade avançada e polifarmácia, para então, definir cuidados específicos necessários para cada público. No entanto, as UTIs geralmente se concentram em doenças agudas, o que pode tornar o atendimento à população senil mais propenso a erros. Adicionalmente, há um alto número de idosos em situação de paliatividade no Brasil, e há uma grande carência de qualidade em UTIs para abrigá-los de forma adequada. A vivência de uma doença crônica em cuidados paliativos e as dificuldades as quais ela proporciona ao paciente necessitam de uma maior atenção da equipe médica e de profissionais capacitados para suprir as necessidades físicas e espirituais da pessoa doente. Porém, os leitos de UTI destinados a pacientes em estado paliativo e profissionais especializados nessa área são escassos, e a maioria desses pacientes são idosos.

A mudança demográfica, cada vez mais evidente no Brasil, revela uma falta de preparo físico, financeiro e profissional das Unidades de Terapia Intensiva para lidar com o aumento da população idosa e as doenças crônicas associadas ao envelhecimento. Isso ressalta a urgência de UTIs especializadas nesse grupo populacional em expansão, com foco em cuidados paliativos e equipes multidisciplinares para garantir um tratamento adequado e eficaz dos idosos.

Referências

ASSOCIAÇÃO DE MEDICINA INTENSIVA BRASILEIRA (AMIB). COVID-19, Evolução de leitos de UTI no Brasil, 2021. Disponível em: https://amib.org.br/wp-content/uploads/2022/02/amib_Atualizacao_Graficos_Jan_2021.pdf . Acesso em: 09 mar. 2024.

BRUNKER, L.B, et al.  Elderly Patients and Management in Intensive Care Units (ICU): Clinical Challenges. PubMed, 2023. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36714685/. Acesso em: 10 mar. 2024.

CHRISTINA, M. P. et al . Visão geral da espiritualidade em cuidados paliativos. UpToDate, 2022. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/overview-of-spirituality-in-palliative-care. Acesso em: 11 mar. 2024.

GUIDET, B. et al. The contribution of frailty, cognition, activity of daily life and comorbidities on outcome in acutely admitted patients over 80 years in European ICUs: the VIP2 study. PubMed, 2020. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31784798/. Acesso em: 13 mar. 2024.

GOMES,  A. L. Z., OTHERO, M.B. Cuidados paliativos. Estudos avançados, v. 30, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/gvDg7kRRbzdfXfr8CsvBbXL/. Acesso em: 05 mar. 2024.

GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. Diretriz para Cuidados Paliativos em pacientes críticos adultos admitidos em UTI. Protocolo de atenção à saúde, 2018. Disponível em: https://www.saude.df.gov.br/documents. Acesso em: 06 mar. 2024.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. População Censo 2022. Disponível em:  https://www.ibge.gov.br/. . Acesso em: Acesso em: 05 mar. 2024.

ISAAC, M. L. et al. Palliative care: Issues in the intensive care unit in adults. UpToDate, 2023.  Disponível em  :https://www.uptodate.com/contents/palliative-care-issues-in-the-intensive-care-unit-in-adults. Acesso em: 09 mar. 2024.

MORITZ, R.D., et al. Terminalidade e cuidados paliativos na unidade de terapia intensiva. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v. 20, 2008. Disponível em https://www.scielo.br/j/rbti/a/zpk7tD4K5H885XHHJ84hs8v. Acesso em: 06 mar. 2024.

LIEN FOUDATION. Executive summary. In: The Quality of Death: Ranking end of life care across the world. The Economist Intelligence Unit, 2010. p. 5-8. Disponível em: https://www.lienfoundation.org/sites/default/files/qod_index_2.pdf . Acesso em: 09 mar. 2024.

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NORONHA, J.C.; CASTRO, L; GADELHA, P. Doenças crônicas e longevidade: desafios para o futuro. 1.ed. Rio de Janeiro. Edições Livres, 2023. 332 p.

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OKON, T.R; CHRISTENSEN, A. Visão geral da avaliação abrangente do paciente em cuidados paliativos.  UpToDate, 2024. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/overview-of-comprehensive-patient-assessment-in-palliative-care Acesso em: 11 mar. 2024.

VICENT, J.L; CRETEUR J. Appropriate care for the elderly in the ICU. PubMed, 2022. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34487587/. Acesso em: 09 mar. 2024.

VICTOR T CHANG, MD. Abordagem para avaliação de sintomas em cuidados paliativos. UpToDate, 2022.  Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/approach-to-symptom-assessment-in-palliative-care Acesso em: 11 mar. 2024.

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