LIVRO PUBLICADO
LIVRO: CONHECIMENTOS E PESQUISAS MULTIDISCIPLINARES
OPEN ACCESS PEER-REVIEWED BOOK
CONHECIMENTOS E PESQUISAS MULTIDISCIPLINARES
MULTIDISCIPLINARY KNOWLEDGE AND RESEARCH
ⓒ 2025 Editora Science / Brazil Science Publisher
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 Pág. 1
PERCEPÇÕES DOS ESTUDANTES DE MEDICINA DO PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS SOBRE A FORMAÇÃO ACADÊMICA
PERCEPTIONS OF MEDICAL STUDENTS OF "UNIVERSIDADE PARA TODOS", BRAZILIAN PROGRAM ABOUT THEIR ACADEMIC TRAINING
DOI: https://doi.org/10.56001/25.9786501400518.01
Luiz Fernando Gomes Lourenço
Luciano Luz Gonzaga
CAPÍTULO 2 Pág.10
A REPRESENTAÇÃO DO CORPO INFANTIL FEMININO: UM ESTUDO ACERCA DA INFÂNCIA CONTEMPORÂNEA.
THE REPRESENTATION OF THE FEMALE CHILD BODY: A STUDY ABOUT CONTEMPORARY CHILDHOOD.
DOI: https://doi.org/10.56001/25.9786501400518.02
Delcimaria Dantas de Araujo
Kilza Fernanda Moreira de Viveiros
CAPÍTULO 3 Pág.26
PUBLIQUE COM A SCIENCE EM FLUXO CONTÍNUO
PUBLISH WITH SCIENCE IN CONTINUOUS FLOW
DOI: https://doi.org/10.56001/25.9786501400518.03
AUTORES
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CAPÍTULO 4 Pág.28
PUBLIQUE COM A SCIENCE EM FLUXO CONTÍNUO
PUBLISH WITH SCIENCE IN CONTINUOUS FLOW
DOI: https://doi.org/10.56001/25.9786501400518.04
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CAPÍTULO 5 Pág.30
PUBLIQUE COM A SCIENCE EM FLUXO CONTÍNUO
PUBLISH WITH SCIENCE IN CONTINUOUS FLOW
DOI: https://doi.org/10.56001/25.9786501400518.05
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CAPÍTULO 6 Pág.32
PUBLIQUE COM A SCIENCE EM FLUXO CONTÍNUO
PUBLISH WITH SCIENCE IN CONTINUOUS FLOW
DOI: https://doi.org/10.56001/25.9786501400518.06
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CAPÍTULO 7 Pág.34
PUBLIQUE COM A SCIENCE EM FLUXO CONTÍNUO
PUBLISH WITH SCIENCE IN CONTINUOUS FLOW
DOI: https://doi.org/10.56001/25.9786501400518.07
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SOBRE OS ORGANIZADORES DO LIVRO DADOS CNPQ: Pág.36
O conhecimento científico tem se expandido de maneira acelerada, exigindo abordagens cada vez mais integradas e interdisciplinares para enfrentar os desafios contemporâneos. A complexidade dos fenômenos estudados pela ciência moderna demanda a colaboração entre diferentes áreas do saber, promovendo um intercâmbio de ideias e metodologias que enriquecem tanto a teoria quanto a prática da pesquisa acadêmica.
Este livro, Conhecimentos e Pesquisas Multidisciplinares, reúne estudos e investigações de diversas áreas do conhecimento, destacando a importância da interdisciplinaridade na produção científica. A obra aborda temas que vão das ciências da saúde às engenharias, das humanidades às ciências exatas, explorando como diferentes campos do saber podem dialogar para gerar soluções inovadoras e eficazes para os desafios da sociedade.
Em tempos de informação abundante e circulação rápida de dados, é essencial que pesquisadores, estudantes e profissionais tenham acesso a conteúdos embasados cientificamente. A educação e a pesquisa são os pilares para o desenvolvimento de soluções sustentáveis, avanços tecnológicos e melhorias na qualidade de vida.
Cada capítulo desta obra foi elaborado por estudiosos em suas respectivas áreas, trazendo perspectivas diversas e reflexões aprofundadas sobre questões multidisciplinares. A diversidade de temas e abordagens presentes neste livro fazem dele um recurso valioso para acadêmicos, pesquisadores e todos aqueles interessados na interseção entre diferentes campos do conhecimento.
Esperamos que esta leitura inspire novas pesquisas e contribua para um olhar mais amplo e integrador sobre a ciência. Que esta obra seja um incentivo ao diálogo entre diferentes disciplinas e ao desenvolvimento de soluções inovadoras para os desafios da atualidade, reforçando o compromisso com a construção de um futuro mais colaborativo e cientificamente fundamentado.
Boa Leitura
Os Organizadores
HOW CITE THIS BOOK:
NLM Citation
Santos ILVL, Santos MVP; Silva CRC; Silva Júnior MG, editor. Conhecimentos e Pesquisas Multidisciplinares. 1st ed. Campina Grande (PB): Editora Science; 2025.
APA Citation
Santos, I. L. V. L.; Santos, M. V. P.; Silva, C. R. C. & Silva Júnior, M. G. (Eds.). (2025). Conhecimentos e Pesquisas Multidisciplinares. (1st ed.). Editora Science.
ABNT Brazilian Citation NBR 6023:2018
SANTOS, I. L. V. L.; SANTOS, M. V. P.; SILVA, C. R. C.; SILVA JÚNIOR, M. G. Conhecimentos e Pesquisas Multidisciplinares. 1. ed. Campina Grande: Editora Science, 2025.
WHERE ACCESS THIS BOOK:
SOBRE OS ORGANIZADORES DO LIVRO DADOS CNPQ:
Prof. Dr. Igor Luiz Vieira de Lima Santos
SOBRE OS ORGANIZADORES DO LIVRO |
Possui Graduação em Bacharelado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (2003) e Mestrado em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2006). Doutor em Biotecnologia pela RENORBIO (Rede Nordeste de Biotecnologia (2013), Área de Concentração Biotecnologia em Saúde atuando principalmente com pesquisa relacionada a genética do câncer de mama. Participou como Bolsista de Desenvolvimento Tecnológico Industrial Nível 3 de relevantes projetos tais como: Projeto Genoma Anopheles darlingi (de 02/2008 a 02/2009); e Isolamento de genes de interesse biotecnológico para a agricultura (de 08/2009 a 12/2009). Atualmente é Professor Adjunto III da Universidade Federal de Campina Grande-UFCG, do Centro de Educação e Saúde onde é Líder do Grupo de Pesquisa BASE (Biotecnologia Aplicada à Saúde e Educação) e colaborador em ensino e pesquisa da UFRPE, UFRN e EMBRAPA-CNPA. Tem experiência nas diversas áreas da Genética, Fisiologia Molecular, Microbiologia e Bioquímica com ênfase em Genética Molecular e de Microrganismos, Plantas e Animais, Biologia Molecular e Biotecnologia Industrial. Atua em projetos versando principalmente sobre os seguintes temas: Metagenômica, Carcinogênese, Monitoramento Ambiental e Genética Molecular, Marcadores Moleculares Genéticos, Polimorfismos Genéticos, Bioinformática, Biodegradação, Biotecnologia Industrial e Aplicada, Sequenciamento de DNA, Nutrigenômica, Farmacogenômica, Genética na Enfermagem e Educação.
Prof. Dr. Marcus Vinicius Peralva Santos
Profissional do setor de educação com mais de 10 anos de experiência, tendo atuado em empresas de P/M/G porte nos segmentos de ensino básico, técnico, tecnológico e superior, nas áreas pedagógica e administrativa. Os principais cargos exercidos incluem o de professor, tutor, analista técnico educacional, auxiliar de coordenação e gestor acadêmico, tendo atuado mais diretamente, nos últimos anos em atividades administrativas relacionadas a coordenação de cursos, projetos pedagógicos e de iniciação científica, tendo experiência, tanto em cursos nas modalidades presencial, a distância (Ead) e remota, além de atuar como avaliador ad-hoc do Ministério da Educação (MEC). Sólidos conhecimentos em planejamento educacional, coordenação pedagógica, didática, currículo, projetos e atividades educacionais, gestão de carreiras, gestão da educação, processo de ensino aprendizagem, marketing educacional, tecnologias educacionais, educação a distância, mediação de conflitos, finanças em educação e administração patrimonial.
Pós-Dra. Carliane Rebeca Coelho da Silva
Possui Graduação em Bacharelado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal Rural de Pernambuco apresentando monografia na área de genética com enfoque em transgenia. Mestrado em Melhoramento Genético de Plantas pela Universidade Federal do Rural de Pernambuco com dissertação na área de melhoramento genético com enfoque em técnicas de imunodetecção. Doutora em Biotecnologia pela RENORBIO (Rede Nordeste de Biotecnologia, Área de Concentração Biotecnologia em Agropecuária) atuando principalmente com tema relacionado a transgenia de plantas. Pós-doutorado em Biotecnologia com concentração na área de Biotecnologia em Agropecuária. Atua com linhas de pesquisa focalizadas nas áreas de defesa de plantas contra estresses bióticos e abióticos, com suporte de ferramentas biotecnológicas e do melhoramento genético. Tem experiência na área de Engenharia Genética, com ênfase em isolamento de genes, expressão em plantas, melhoramento genético de plantas via transgenia, marcadores moleculares e com práticas de transformação de plantas via "ovary drip". Tem experiência na área de genética molecular, com ênfase nos estudos de transcritos, expressão diferencial e expressão gênica Integra uma equipe com pesquisadores de diferentes instituições como Embrapa Algodão, UFRPE, UEPB e UFPB, participando de diversos projetos com enfoque no melhoramento de plantas.
Prof. Dr. Milton Gonçalves da Silva Júnior
É Bacharel e Licenciado em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Mestrado em Biologia Ambiental pela Universidade Federal de Pará. Doutor em Ecologia pela Universidade Federal de Pará. Atualmente, é professor do Centro Universitário Araguaia nos cursos de Engenharia Ambiental e Sanitária EaD, Engenharia Agronômica e Engenharia Civil, é Vice Editor Chefe da Revista Uniaraguaia. Foi Coordenador Geral do Núcleo de Extensão, Pesquisa e Pós -graduação (NEPPG), foi coordenador do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas (EaD). É coordenador co curso de pós-graduação Lato Sensu em Auditoria e Licenciamento Ambiental. Foi professor na UniEvangélica, na Faculdade Evangélica de Jaraguá, nos cursos de Administração e Engenharia Civil, onde fazia parte do NDE, coordenando o subcomitê de avaliação interna (SIA). Foi líder do grupo Estudos interdisciplinares da Faculdade Evangélica de Jaraguá. Elaborador de itens na área de engenharia ambiental ENAD. Avaliador do Banco de Avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior - Base. Tem experiência em ecologia de peixes estuarinos, dinâmica da pesca, gerenciamento de recursos hídricos, biologia ambiental, educação ambiental e gestão.
CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO
INTERNATIONAL STANDARD BOOK NUMBER (ISBN):
978-65-01-40051-8
CROSSREF DIGITAL OBJECT IDENTIFIER (DOI):
CAPÍTULOS PUBLICADOS
CAPÍTULO 1
PERCEPÇÕES DOS ESTUDANTES DE MEDICINA DO PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS SOBRE A FORMAÇÃO ACADÊMICA
PERCEPTIONS OF MEDICAL STUDENTS OF “UNIVERSIDADE PARA TODOS”, BRAZILIAN PROGRAM ABOUT THEIR ACADEMIC TRAINING
DOI: https://doi.org/10.56001/25.9786501400518.01
Submetido em: 19/03/2025
Revisado em: 28/03/2025
Publicado em: 29/03/2025
Luiz Fernando Gomes Lourenço
Universidade do Grande Rio, Faculdade de Medicina, Rio de Janeiro- RJ.
http://lattes.cnpq.br/0210456819165846
Luciano Luz Gonzaga
Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Educação, Rio de Janeiro-RJ.
https://orcid.org/0000-0002-4001-3813
Resumo
A expansão acelerada de faculdades de Medicina no setor privado, beneficiadas pelo Programa Universidade para Todos, tem sido motivo de preocupação, especialmente devido aos impactos na qualidade do ensino e na formação médica. Assim, a presente pesquisa visa identificar quais as expectativas dos estudantes, beneficiados pelo Programa, em relação ao curso de Medicina e, com isso, tentar compreender se essas expectativas ajudam a dimensionar o impacto do benefício na transformação da realidade socioeconômica desses jovens e de suas famílias. A técnica de Análise Livre de Interpretação foi a metodologia escolhida para examinar os discursos dos estudantes. Como resultados, identificamos cinco categorias discursivas: i) ‘Estabilidade Financeira’, ii) ‘Realização Pessoal e Vocacional’, iii) ‘Reconhecimento e Prestígio’, iv) ‘Desenvolvimento Profissional’ e, por fim, v) ‘Impacto Social e Contribuição para a Sociedade’. Sendo as categorias ‘Estabilidade Financeira’ e’ Impacto Social’ as mais representativas para o grupo, revelando que a escolha da profissão não se baseia apenas no desejo de alcançar segurança econômica, mas também no compromisso de contribuir para a sociedade.
Palavras-Chave: Políticas públicas, ProUni, Medicina.
Abstract
The accelerated expansion of private medical schools, supported by the University for All Program, has raised concerns—particularly due to its impact on the quality of education and medical training. Thus, the present study aims to identify the expectations of students who are beneficiaries of the Program regarding the field of Medicine and to understand whether these expectations help gauge the impact of the benefit on transforming the socioeconomic reality of these young individuals and their families. The Free Interpretation Analysis technique was chosen as the methodology to examine the students’ discourses. As a result, we identified five discursive categories: (i) “Financial Stability”, (ii) “Personal and Vocational Fulfillment”, (iii) “Recognition and Prestige”, (iv) “Professional Development”, and (v) “Social Impact and Contribution to Society”. The categories “Financial Stability” and “Social Impact” were the most representative for the group, revealing that the choice of profession is based not only on the desire to achieve economic security but also on a commitment to contribute to society.
Keywords: Public policies, ProUni, Medicine.
Introdução
O Programa Universidade para Todos (ProUni) tem sido um importante mecanismo de inclusão educacional no Brasil, permitindo que estudantes de baixa renda ingressem no ensino superior por meio de bolsas integrais ou parciais em instituições privadas (Brasil, 2005).
No entanto, quando se trata dos cursos de Medicina, a quantidade das universidades parceiras do programa é frequentemente debatida, pois “levanta preocupações sobre a qualidade da formação médica e a real solução para os problemas de saúde pública” (Weber; Silva, 2024, p.1), comprometendo assim a “prestação de serviços médicos à população no futuro” (Nassar; Couto; Pereira, 2021, p.12).
Embora existam universidades privadas de Medicina bem avaliadas e reconhecidas, muitas instituições parceiras do ProUni enfrentam críticas devido à falta de infraestrutura adequada (Oliveira, 2019), qualificação insuficiente do corpo docente e currículos que não atendem plenamente às exigências da formação médica (Silva, 2019).
A expansão acelerada de faculdades de Medicina no setor privado tem sido motivo de preocupação, especialmente devido aos impactos na qualidade do ensino e na formação médica. Essa questão foi amplamente debatida no Fórum de Medicina da Faculdade de Ribeirão Preto, intitulado “A Precarização da Medicina” (USP, 2022), onde foram discutidos temas como a privatização do ensino e da saúde pública no Brasil, a mercantilização da Medicina e a crescente desumanização da prática médica.
Além disso, há uma preocupação crescente com a substituição de professores altamente qualificados por docentes menos experientes, frequentemente contratados sob regimes trabalhistas mais flexíveis e com remuneração inferior, o que pode comprometer a qualidade do ensino (Dalla Rosa; Vieira, 2023; Carvalho; Lima, 2024).
Essa prática perversa do pagar menos e fazer mais têm sido muito comuns nas instituições de ensino superior da rede privada brasileira que “são organizadas pela mesma lógica que orienta a gestão das empresas capitalistas”, comprometendo a transmissão do conhecimento e a experiência clínica necessária para uma formação sólida (Dalla Rosa; Vieira, 2023, p. 214).
Assim, diante de tantos contrapontos, a presente pesquisa visa identificar quais as expectativas dos estudantes, beneficiados pelo ProUni, em relação ao curso de Medicina e, com isso, tentar compreender se essas expectativas ajudam a dimensionar o impacto do programa na transformação da realidade socioeconômica desses jovens e de suas famílias.
Metodologia
Dos 31 estudantes bolsistas do ciclo básico do curso de Medicina (1º e 2º semestres de 2023), 20 (64,5%) participaram da pesquisa. Os participantes responderam a um questionário semiestruturado que coletava informações socioeconômicas, além de uma pergunta aberta sobre suas expectativas em relação ao curso de Medicina. O questionário foi adaptado com base no modelo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com o objetivo de assegurar a padronização, a comparabilidade e a consistência dos dados coletados, conferindo maior robustez à análise.
Os discursos foram organizados em uma planilha do Excel e categorizados conforme cinco grandes eixos temáticos, como: i) ‘Estabilidade Financeira’, ii) ‘Realização Pessoal e Vocacional’, iii) ‘Reconhecimento e Prestígio’, iv) ‘Desenvolvimento Profissional’ e, por fim, v) ‘Impacto Social e Contribuição para a Sociedade’. Essa organização visou facilitar a análise e interpretação dos dados, mediante a proposta de Livre Interpretação (Anjos; Rôças; Pereira, 2019).
Após a categorização, buscamos identificar quais os eixos temáticos foram mais predominantes e, em seguida, com a utilização da ferramenta C-maptools, do Institute for Human & Machine Cognition – IHMC, realizamos a figura de correlação dos eixos temáticos por participantes, com objetivo de verificar se há uma associação entre duas ou mais categorias, ajudando a compreender a influência de um discurso sobre outro.
Resultados e Discussão
Dos 20 bolsistas participantes, 11 são do sexo masculino, com uma média de idade de 23,16 anos (Desv. Padrão = 1,92), revelando ser um grupo bastante homogêneo.
Em relação à autodeclaração de cor ou raça, 7 (sete) se identificaram como brancos, 9 (nove) como pardos e 4 (quatro) como pretos. Assim, dos 20 ingressantes, 13 (65%) são negros.
Quanto à religião ou credo, 7 (sete) participantes se declararam evangélicos, 4 (quatro) católicos, 5 (cinco) afirmaram não seguir nenhuma religião,1 (um) se identificou como praticante do candomblé, 1 (um) como budista, 1 (um) como umbandista e 1 (um) como agnóstico.
No que diz respeito à formação acadêmica dos genitores, a começar pela figura paterna, apenas 6 (seis) concluíram a educação básica, enquanto apenas 1 (um) possui ensino superior completo. Em relação à figura materna, 7 (sete) concluíram a educação básica, e nenhuma alcançou o nível superior.
Esses dados sobre a formação dos genitores nos levam a refletir sobre a importância que essas famílias atribuem ao fato de seus filhos (as) poderem ingressar em uma carreira de prestígio, como uma forma de superar as limitações educacionais enfrentadas pelas gerações anteriores e de conquistar melhores oportunidades socioeconômicas.
No que tange às respostas dos (as) estudantes de Medicina em relação às expectativas sobre o curso, identificamos que ‘Estabilidade Financeira’ (n=10), seguido de ‘Impacto Social e Contribuição para a Sociedade’ (n=7) e ‘Realização Pessoal e Profissional’ (n= 6) foram as temáticas mais citadas (Tabela 1).
Tabela 1: Distribuição das expectativas dos bolsistas do ProUni em relação ao curso de Medicina de uma IESP.
Temática | Frequência absoluta | Frequência relativa* |
Estabilidade financeira | 10 | 50% |
Impacto social e Contribuição para a Sociedade | 7 | 35% |
Realização Pessoal e Profissional | 6 | 30% |
Desenvolvimento profissional | 4 | 20% |
Reconhecimento e Prestígio | 2 | 10% |
Na Tabela, o total da frequência relativa ultrapassa 100%, pois em um mesmo discurso pode abarcar várias temáticas.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Estabilidade Financeira
Os estudantes ao declararem sobre a estabilidade financeira parecem fomentar aspirações relacionadas a uma remuneração que proporcione mudanças pessoais e mudanças no núcleo familiar, como podemos observar em alguns exemplos:
Minha independência financeira e uma carreira estável que faça sentido para minha vida (Estudante 2).
Oportunidade para mudar a realidade financeira minha e da minha família (Estudante 4)
Ter uma vida financeiramente confortável (Estudante 8)
Poder vivenciar uma realidade diferente e mais confortável futuramente (Estudante 13).
Esse dado parece corroborar a pesquisa intitulada “Escolha da Medicina como Profissão e Perspectiva Laboral dos Estudantes”, desenvolvida na Universidade do Oeste de Santa Catarina. O estudo revelou que 59,42% dos 308 estudantes entrevistados apontaram exatamente a estabilidade financeira como uma das principais expectativas em relação à carreira médica (Kamijo et al., 2021).
Impacto Social e Contribuição para a Sociedade
Para os estudantes, a categoria causar ‘impacto social e contribuir para a sociedade’ representa o reconhecimento do seu papel na transformação e no bem-estar social que, como podemos observar nos discursos a seguir, pode se manifestar desde a promoção de saúde e qualidade de vida como bens coletivos à transformação do próprio meio.
Ser um bom médico e ajudar pessoas (Estudante 5)
Espero estudar e levar a educação e cuidados às zonas periféricas, honrando minhas origens e cuidando daqueles que tanto amo (Estudante 7)
Uma grade curricular com aulas e matérias voltadas para o desenvolvimento da humanização dos alunos, como empatia e respeito que devem ser trabalhadas diariamente (Estudante 3)
Mudar o ambiente em que me encontro (Estudante 9)
Reduzir o sofrimento humano (Estudante 20)
Os discursos ressaltam a importância de uma prática médica mais humanizada, que transcenda a realização individual e promova benefícios coletivos. Essa perspectiva contrasta com o modelo biologicista, que tende a ignorar a realidade socioeconômica, o contexto ambiental e as condições de vida das famílias nas comunidades (Martins; Demarzo, 2021; Oliveira et al, 2024)
Realização Pessoal e Profissional
Ao expressarem suas percepções sobre realização pessoal e profissional, os estudantes parecem demonstrar a expectativa de alcançar satisfação na carreira, alinhada ao desejo cultivado desde a infância. Seus relatos sugerem, possivelmente, uma vocação precoce, um forte envolvimento emocional com a profissão e a concretização de um ideal construído ao longo da vida, como evidenciado nos discursos a seguir:
Realizar um sonho de criança (Estudante 1)
Oportunidade de aprender aquilo que sempre sonhei em fazer (Estudante 10)
Felicidade no serviço (Estudante 12)
Desde o início, medicina foi meu sonho (Estudante 16).
Um sonho que cultivo desde criança (Estudante 14).
Para Ramiro Dourado-Maranhão e Mariana Cunha (2024), a realização pessoal se destaca especialmente na aprovação em “um curso caracterizado por um intenso e estressante processo seletivo, como a graduação em Medicina, esse fato é ainda mais marcado por expectativas e sentimentos de sucesso e realização pessoal” (p.3). Nesse contexto, o curso de Medicina representa a concretização de um sonho de infância, simbolizando a promessa de um futuro promissor.
Na análise de correlação das temáticas (Figura1), é possível observar a visualização da organização das categorias discursivas a partir da força com que as temáticas se ligam umas às outras.
Figura 1: Análise de correlação entre as categorias discursivas dos estudantes pertencentes ao Programa Universidade Para Todos em relação às expectativas ao curso de Medicina.
Na Figura: A espessura das arestas reflete a grandeza da porcentagem de estudantes que citaram duas ou mais categorias ao mesmo tempo.
Fonte: Elaborado pelos autores.
A forte relação entre ‘Estabilidade Financeira’ com ‘Impacto Social’ parece indicar que, para muitos, a escolha da profissão não se baseia apenas no desejo de alcançar segurança econômica, mas também no compromisso de contribuir para a sociedade. Essa conexão sugere que os estudantes veem a Medicina como um meio de obter uma carreira financeiramente estável, ao mesmo tempo em que podem causar mudanças significativas na vida das pessoas, promovendo saúde e bem-estar. Dessa forma, a busca por estabilidade e a vocação não são aspectos isolados, mas sim complementares, refletindo uma visão profissional que equilibra interesses pessoais e coletivos.
Por outro lado, a relação entre ‘Estabilidade Financeira’ e ‘Realização Pessoal’ aparenta a ideia de que quando uma pessoa tem estabilidade financeira, ela pode se dedicar mais plenamente às suas aspirações e investir em seu crescimento pessoal e profissional. No contexto de carreiras como a Medicina, essa relação se torna ainda mais evidente, pois a estabilidade financeira conquistada pode permitir ao profissional escolher caminhos que o satisfaçam não apenas materialmente, mas também em termos de propósito e impacto social.
Considerações Finais
Embora se trate de um estudo de caso, a pesquisa evidencia a importância do Programa Universidade para Todos na concretização de um sonho que ultrapassa gerações. Para pais e mães que não tiveram acesso à educação formal, ver seus filhos ingressarem no ensino superior representa não apenas uma conquista individual, mas a realização de um legado familiar. Esse feito simboliza superação, ascensão social e a quebra de ciclos de dificuldades, reafirmando o impacto transformador da educação na trajetória das famílias.
Para os estudantes desta pesquisa, ingressar em um curso de elite simboliza mais do que a realização de um sonho de criança, representa a possibilidade de transpor obstáculos profundamente enraizados nas instituições, políticas, práticas e normas sociais que dificultam ou impedem o acesso equitativo a oportunidades e recursos para determinados grupos.
Nesse contexto, a Medicina não se resume a uma escolha profissional, mas torna-se um instrumento de transformação pessoal, familiar e social. Além disso, os discursos dos estudantes parecem indicar que a conquista em uma vaga no curso de Medicina vai além da estabilidade financeira e das melhores oportunidades para o futuro. Para os estudantes, a formação médica também carrega um forte significado de impacto social, permitindo retribuir à sociedade por meio da promoção da saúde pública e do atendimento a comunidades carentes.
Agradecimentos
À Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).
Referências
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BRASIL. Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005. Institui o Programa Universidade para Todos – PROUNI, regula a atuação de entidades beneficentes de assistência social no ensino superior; altera a Lei nº 10.891, de 9 de julho de 2004, e dá outras providências. Diário Oficial da União – Seção 1 – 14/1/2005, Página 7.
CARVALHO, Cristina Helena Almeida de; LIMA, Raimundo da Silva. Estratégias e movimentos dos grandes grupos privados de ensino superior de capital aberto entre 2007 e 2021. Revista Brasileira de Educação, v. 29, p. e290091, 2024.
DALLA ROSA, Vânia; VIEIRA, Marilandi Maria Mascarello. Mercantilização e precarização do trabalho docente no ensino superior privado. Revista Thema, v. 22, n. 1, p. 212-230, 2023.
DOURADO-MARANHÃO, Ramiro; CUNHA, Mariana. Percepção de alunos ingressantes de Medicina sobre o aprendizado durante a pandemia da Covid-19. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 48, n. 02, p. e040, 2024.
KAMIJO, Eduardo Delatorre et al. Escolha da medicina como profissão e perspectiva laboral dos estudantes. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 45, p. e216, 2021.
MARTINS, Diego Bonaparte; DEMARZO, Marcelo Marcos Piva. O papel da medicina de família nos cuidados paliativos. InterAmerican Journal of Medicine and Health, v. 4, 2021.
NASSAR, Leonardo Maso; COUTO, MARIA HELENA DA COSTA; PEREIRA, GERSON ALVES. Financiamento público (fies e prouni) para o ensino de medicina no Brasil: Uma revisão da literatura e as distorções criadas. Educação em Revista, v. 37, p. e25246, 2021.
OLIVEIRA, Rhanna Carolina de et al.O processo de formação ética e humanizada sob a perspectiva de discentes de Medicina. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, [S. l.], v. 10, n. 12, p. 4195–4210, 2024. DOI: 10.51891/rease.v10i12.17731.
OLIVEIRA, Everton J. et al. Proposta de um Simulador de Clínica Médica para Treinamento de Estudantes de Medicina em casos Clínicos. Anais do Computer on the Beach, v. 10, p. 793-795, 2019.
SILVA, Lúcio Flavio Gonzaga. Qualificação dos professores das escolas médicas: relatório do IX Fórum Nacional de Ensino Médico do Conselho Federal de Medicina: Brasília, 16 e 17 de agosto. In: Qualificação dos professores das escolas médicas: relatório do IX Fórum Nacional de Ensino Médico do Conselho Federal de Medicina: Brasília, 16 e 17 de agosto. 2019. p. 90-90.
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WEBER, César Augusto Trinta; SILVA, Antônio Geraldo da. Novas faculdades de medicina, solução ou problema?. Debates em Psiquiatria, v. 14, p. 1-6, 2024.
CAPÍTULO 2
A REPRESENTAÇÃO DO CORPO INFANTIL FEMININO: UM ESTUDO ACERCA DA INFÂNCIA CONTEMPORÂNEA.
THE REPRESENTATION OF THE FEMALE CHILD BODY: A STUDY ABOUT CONTEMPORARY CHILDHOOD.
DOI: https://doi.org/10.56001/25.9786501400518.02
Submetido em: 11/03/2025
Revisado em: 28/03/2025
Publicado em: 29/03/2025
Delcimaria Dantas de Araujo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN
http://lattes.cnpq.br/4539855340031697
Kilza Fernanda Moreira de Viveiros
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN
http://lattes.cnpq.br/0588907119958839
Resumo
Esta pesquisa aborda a infância contemporânea, corpo infantil e suas transformações socioculturais, especialmente no contexto brasileiro, a partir de uma perspectiva sócio-histórica e cultural. Mediante uma abordagem de cunho investigativo a abordagem sócio-histórica, discorreremos acerca da representação da infância na nossa sociedade recorrendo às fontes bibliográficas e acervo documental de atendimento do Centro Especializado em Reabilitação. Com enfoque nas meninas atendidas no Centro Especializado em Reabilitação de Parnamirim/RN. A pesquisa investiga como o corpo infantil feminino revela histórias e cultura. Esta pesquisa é de cunho qualitativo, investigativo, documental na abordagem sócio-histórica da educação. Como aporte teórico-metodológico, recorremos aos estudos da representação sócio-histórica da infância em CHARTIER (2002); compreendemos acerca da docilização dos corpos em FOUCAULT (2014), embasando-nos em ARIÉS (1986), em sua singular obra sobre a história social da infância e por fim a criança em KULHMANN (2004). Ao longo do estudo, abordamos questões centrais, como o controle sobre os corpos infantis, a invisibilidade da infância em certos contextos culturais e o impacto das mídias no comportamento das crianças. Refletimos sobre a importância de proteger a infância de forma integral, garantindo seu pleno desenvolvimento; levando em consideração os aspectos cognitivos e emocionais. Em suma, realizamos uma análise crítica de como a infância é representada na atualidade, promovendo uma discussão sobre o papel histórico e social da criança na construção de sua identidade e vivências.
Palavras-chaves: Infância, Corpo infantil, História do corpo e infância.
Abstract
This research looks at contemporary childhood, the child’s body and its socio-cultural transformations, especially in the Brazilian context, from a socio-historical and cultural perspective. Using an investigative approach and a socio-historical approach, we will discuss the representation of childhood in our society, using bibliographical sources, medical records and documents from the Specialized Rehabilitation Centre. Focusing on girls treated at the Specialized Rehabilitation Centre in Parnamirim/RN, the research investigates how the female child’s body reveals stories and culture. This research is qualitative, investigative and documental, using a socio-historical approach to education. As a theoretical-methodological contribution, we turned to studies of the socio-historical representation of childhood in CHARTIER (2002); we understood about the docilization of bodies in FOUCAULT (2014), we based ourselves on ARIÉS (1986) , in his unique work on the social history of childhood and finally the child in KULHMANN (2004). Throughout the study, we address central issues such as control over children’s bodies, the invisibility of childhood in certain cultural contexts and the impact of the media on children’s behavior. We reflect on the importance of protecting childhood in an integral way, guaranteeing its full development; taking into account cognitive and emotional aspects. In short, we carried out a critical analysis of how childhood is represented today, promoting a discussion on the historical and social role of children in the construction of their identity and experiences.
Keywords: Childhood, Children’s bodies, History of the body and childhood.
Introdução
A infância da criança necessita de constantes estudos, tendo em vista o seu célere desenvolvimento. Suas identidades estão sendo construídas no cotidiano de múltiplos estímulos. Com o crescente avanço tecnológico as crianças estão modificando seus hábitos e processos cognitivos; estão mais hiperativas e reativas, temos presenciado um processo de adultização precoce na infância. Na idade média a criança era tida como adulto em miniatura, não havia pudor ao se falar próximo, o sentimento de valorização era desconhecido naquela era. Hoje, em tempos contemporâneos, observamos em distintos espaços socioculturais as inúmeras infâncias, vividas em seus contextos históricos. A criança é o indivíduo protagonista da História da Educação, dos processos educacionais, pois é mediante o olhar para este, que pensamos de forma holística.
Esta pesquisa foi realizada no Centro Especializado em Reabilitação na cidade Parnamirim/RN, com meninas entre 10 e 12 anos de idade, que foram atendidas no período de 2021 a 2022. O objetivo principal desta pesquisa, parte do questionamento a seguir “Como a infância se revela na contemporaneidade através dos corpos infantis das meninas que são atendidas no Centro Especializado em Reabilitação de Parnamirim/RN? Estes corpos revelam histórias, representações e culturas. O desenvolvimento deste artigo, é um compilado do trabalho dissertativo de Mestrado e configurou-se em três objetivos específicos a saber: conhecer sobre a realidade sociocultural e histórica da infância das meninas atendidas no CER; Identificar como a representação do corpo infantil da menina reflete um tipo cultural da infância. E por fim analisar o papel influenciador da sociedade sobre a infância e seu reflexo direto sobre a representação do corpo infantil no comportamento da criança.
Metodologia
Infância Contemporânea
A infância contemporânea perpassou por transformações profundas, reverberando mudanças socioculturais, histórica e tecnológica, que alteraram a forma como as crianças se desenvolvem. Conforme Áries (1986) na Idade Média o sentimento de infância era desconhecido; sendo construído concomitante ao sentimento de infância entre os séculos XVI e XVII. A história da família e criança é abordada por Philippe Ariès em sua obra “História Social da Criança e da Família”, contribuindo para o campo sócio-histórico de modo singular. Com o avanço tecnológico neste tempo moderno, a geração Alfa tem presenciado as benesses e ônus da celeridade dos processos tecnológicos.
Mediante uma abordagem de cunho investigativo à abordagem sócio-histórica, discorremos neste trabalho acerca da representação da infância na nossa sociedade recorrendo às fontes bibliográficas e acervo documental do Centro Especializado em Reabilitação. Este trabalho justificou-se pelo anseio em investigar a infância e sua evolução sociocultural, mediante a observação da celeridade do desenvolvimento das meninas, mais especificamente, aos processos de adultização revelados em seus comportamentos culturais.
Os hábitos sociais, de estudo, alimentares entre outros, são modificados, também, em decorrência das influências midiáticas. A alta exposição que o corpo é submetido em nossa sociedade contribui de forma expressiva para o modo que a criança o vê e projeta-o. A precocidade infantil é revelada através da representação do seu corpo em sociedade. As crianças são estimuladas na mais tenra idade a costumes vaidosos, apego a aparência física; com a inserção dos celulares e mídias sociais, o inconformismo com o corpo se tornou maior, reconfigurando suas mentes para padrões inatingíveis por muitos. Os processos de adultização e erotização infantil são disseminados na sociedade de modo sutil, camuflado em propagandas, danças, filmes, na internet em geral.
A internet é o lugar onde não somente os adultos, mas as nossas crianças estão, já consomem o que é ofertado, realizam compras online, participam de bate-papos virtuais. Essa tendência é alimentada pelo marketing, pela mídia e pela cultura de consumo, que muitas vezes encoraja as crianças a amadurecerem mais rapidamente, em detrimento de um desenvolvimento infantil mais equilibrado. A infância, corpo e tecnologia tem se tornado um tema central nas discussões sobre o desenvolvimento infantil na história contemporânea. As crianças, ao terem acesso irrestrito à internet e às redes sociais, estão expostas a informações, que muitas vezes, não são apropriadas para sua faixa etária. Isso pode acelerar o processo de “adultização”, em que as crianças passam a adotar comportamentos e padrões de consumo voltados ao público adulto, impactando sua percepção sobre si mesmas, seu corpo e suas relações.
Infância e família são construções socioculturais que consolidaram-se concomitantemente, de acordo com Ariès (1986, p.11) “O sentimento da família, que emerge assim nos séculos XVI-XVII, é inseparável do sentimento da infância. O interesse pela infância […] não é senão uma forma, uma expressão particular desse sentimento mais geral, o sentimento da família”.
Os processos de adultização da infância desconfiguram a infância genuína, tornando-a mais insegura, competitiva, com fragilidades emocionais, necessitando sempre da aprovação e aceitação do outro. Assim, ao colocar a criança em foco, uma nova retórica persuasiva e sedutora tem sido elaborada nas últimas décadas, sob o argumento de qualidade e excelência, reforçando a ideologia neoliberal. O processo de adultização de crianças no mundo contemporâneo tem como principal objetivo criar uma infância com desejos semelhantes aos dos adultos. Embora pareçam mais independentes, na realidade, essas crianças são direcionadas ao consumo, influenciadas a comprar e a fazer escolhas utilitárias ditadas pelo mercado, tornando-se ajustadas às suas demandas e controladas por ele.
Roger Chartier (2002), aborda acerca das representações culturais e sua correlação com os processos de identidade, faz a relação das práticas culturais e como estas exercem poder sobre o indivíduo e seus grupos sociais. Isto é perceptível no cotidiano de nossas meninas, quando elas fazem o espelhamento da figura materna, da blogueira e tomam como referência, observamos parâmetros de identidades sendo construídos.
Na verdade, é preciso pensar e como todas as relações, incluindo as que designamos por relações económicas ou sociais, se organizam de acordo com lógicas que põem em jogo, em acto, os esquemas de percepção e de apreciação dos diferentes sujeitos sociais, logo as representações constitutivas daquilo que poderá ser denominado uma cultura, seja esta comum ao conjunto de uma sociedade ou própria de um determinado grupo. […] o conceito de cultura ao qual adiro, denota um padrão transmitido historicamente, de significados corporizados em símbolos, um siste4ma de concepções herdadas, expressas em formas simbólicas, por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem o seu conhecimento e as atitudes perante a vida. (Chartier, 2002, p. 66-67)
A cultura da infância está sendo estabelecida nos mais distintos contextos socioculturais, através da história de cada uma, das suas vivências. Nas escolas, nas ruas, nas casas, enxergamos crianças, porém é particular o modo que presenciam suas infâncias. Quando em grupos, socializando, partilham suas vidas, interagem e ressignificam imperceptivelmente seus laços afetivos. Na socialização, as culturas se encontram e as infâncias também. Chartier (2002) em sua obra “A história cultural – entre práticas e representações” também discute acerca dos signos de poder na sociedade; signos que são observados na cultura.
História, Educação e Saúde: A Importância do Cuidado Multidisciplinar na Infância.
O lócus deste trabalho é um Centro Especializado em Reabilitação – CER, na cidade de Parnamirim/RN, as meninas entrevistas são assistidas por este serviço desde meados de 2021. No Brasil, os CERs integram a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Funcionam com o objetivo de garantir assistência integral às pessoas com deficiência, seguindo princípios de acesso e inclusão, corroborando com os processos de reintegração de pessoas com deficiência à sociedade, ao mercado de trabalho e à vida cotidiana. Eles trabalham para eliminar barreiras físicas e socioculturais que possam dificultar essa inclusão.
É necessário ressaltarmos a importância da pedagogia e psicopedagogia em espaços públicos de Saúde, categorias que compõem a equipe multidisciplinar, contribuindo de forma significativa para o avanço terapêutico de cada criança. Como ser sócio-histórico que é; a criança é partícipe de seu processo de construção do saber e ressignificação em meio aos diagnósticos. É de real importância a presença de profissionais com formação nos campos de educação nos mais diversos lugares onde atende-se pessoas, especialmente, crianças. Sabemos que a história de infâncias atípicas ainda é muito escassa, a literatura quando as representam, fazem de forma ampla, tratando de diagnósticos, mas estudos de casos e histórias em particular ainda possuem insatisfatórios registros publicados.
As meninas do Centro Especializado em Reabilitação, Parnamirim/RN, dão voz as suas histórias e são integrantes da história da infância atípica. Quando chegam ao centro, as famílias procuram por auxílio, almejam compreender o que acontece com suas filhas, por quais motivos são diferentes, por que não conseguem aprender como as outras crianças da mesma idade; neste ponto entra a equipe multiprofissional, formada por pedagogo, psicopedagogo, psicólogos, fisioterapeutas e outros, que realizam o trabalho investigativo e interventivo.
Percurso Histórico
Em meados dos séculos XVI e XVII se reconheceu a existência da infância. Momento único que passou por diversas ressignificações, ora exaltada ora depreciada; a depender da época e classe social que a vivenciava. Conforme a Lei 8.069/90, Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 2º, “Considera-se criança, para efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescentes aquela entre doze e dezoito anos de idade.”
O século XIX ratifica a descoberta humanista da especificidade da infância e da adolescência como idades da vida. Os termos criança, adolescente e menino, já aparecem em dicionários da década de 1830. Tal significado provém da associação da criança ao ato de criação, onde criar significa amamentar [..] (MAUAD, 2010. p.140)
Investigar mais a fundo acerca dos indícios do desaparecimento da infância é a partida para mantermos bem e salutar nossas crianças; creio que a infância não desaparecerá pois temos respaldo legal para a preservarmos, mas presenciá-la necessita de cuidados propícios. Del Priore (2010, p.17) enfatiza em sua obra História das Crianças no Brasil que, “querer conhecer mais sobre a trajetória histórica dos comportamentos, das formas de ser e de pensar das nossas crianças, é também uma forma de as amar todas, indistintamente melhor”.
Como sociedade, precisamos repensar acerca do processo de adultização que muitas crianças têm vivenciado cotidianamente. Com o período pandêmico elas ausentaram-se das escolas físicas e aglutinaram-se em suas casas, precisando fazer quase tudo de forma remota, vivenciando um contato maior com o mundo virtual e suas tecnologias. Esse ser, outrora, já sabia navegar na internet, foram eles que ensinaram aos pais, aos avós, como manusear e serem mais “conectados”. Pessoas de todos os lugares e linguagem, de forma online, ensinam, ditam e regem o fazer dessas crianças; neste momento não mais me refiro às disciplinas escolares, mas ao tempo extra que eles têm dedicado ao entretenimento na internet. Sendo na maioria das vezes mentorados por adultos, elas ficam imersas no modo de viver do outro, usufruindo excessivamente de tecnologias e mídias sociais.
Sendo assim é inquietante descobrir como essa nova perspectiva de vida tem impactado a aprendizagem dessas crianças. Sabe-se que devido ao período pandêmico os rendimentos escolares destas crianças foram prejudicados, estes pequenos que reinventaram o brincar, não sentindo mais interesse por livros físicos, não se interessam por brinquedos ou até já perderam o desejo por eles. Crianças que estão maior parte do seu tempo nas telas, seja celular, tv e até bate-papos virtuais. Mensurar esse saber revelará prejuízos na aprendizagem e intervirmos minimizará seus impactos.
“Acrescentar qualidade de vida aos anos da infância, adolescência e vida adulta constitui contingente de sabedoria dos pais, dos responsáveis, dos professores no sentido de evitar a decadência silenciosa da educação e do aprendizado catastroficamente comprometido. A criança aguarda com prazer o referido aprendizado, acelerando espontaneamente por meio da motivação que amadurece […] (DIAMENT, 2016, p.433)
É certo que essa fase é breve, mas o que foi semeado logo frutificará. Que possamos ser agentes transformadores, pois uma nova geração está a formar-se, sendo assim, que o lúdico, o dinâmico, o real sejam vivenciado. Que em cada lar onde se tem uma criança, em cada abrigo ou instituição, seja vivida a melhor idade, onde a inocência seja preservada, as brincadeiras sejam vivenciadas, a integridade física e psíquica seja mantida. Que haja em nosso solo potiguar e em todo o território nacional, guardiões da infância. O acolhimento precoce às dificuldades de aprendizagem advindas desse novo contexto de infância, podem ser trabalhadas e sanadas a tempo, se reconhecidas e integradas ao fazer pedagógico e familiar.
A Precocidade da Infância da Menina
A infância já é um período curto por natureza, sua brevidade dá-se quando a comparamos aos anos de vida adulta. Ser criança é temporário, é parte do desenvolvimento humano e nessa etapa da vida são consolidados aspectos cognitivos, biológicos, físicos, emocionais, que se refletirão por todo percurso de vida. É comum observarmos as crianças nas ruas, nas escolas, nas pracinhas; as meninas brincam, se divertem; todavia diferente dos meninos, é observado que as meninas perdem precocemente o interesse pela boneca, brincadeira de rua entre outras.
Com o passar dos anos a menina apresenta em seu físico traços de mulher e com isso há um apelo cultural, muitas vezes familiar mesmo, que cobra desta criança uma postura social mais “madura”, frases como “se comporte como moça”, “deixe de ser moleca”, “parece uma meninona” são comuns em torno das meninas que já apresentam traços de uma mulher. É de conhecimento comum que devido genética, muitas meninas precocemente apresentam características da puberdade, seios maiores, corpo modelado e com isso desejos vaidosos, de autocuidado. O interesse pelo batom, pela maquiagem, pela beleza parece ser intrínseco, na maioria, das meninas entrevistadas, na pesquisa que levou a este artigo. O espelhamento pela figura materna juntamente com o apelo midiático possibilitou como nunca antes, um interesse precoce pela vida adulta.
Em nossa pesquisa pudemos observar que as meninas demostram profundo apreço por conteúdos digitais, aplicativos de vídeos rápidos; conteúdos com infinidades de “referências” de moda, comida, sexualidade, hábitos sociais. Este fenômeno midiático que alcança a todos corrobora com infâncias adultizadas. A alta exposição da figura feminina, inúmeros apelos comerciais para este público, enaltecem padrões e expectativas irreais para nossas meninas.
As mídias digitais contribuem significativamente com a formação da identidade infantil e sua performance social, especialmente com a presença de influenciadores mirins e artistas que promovem padrões de beleza e comportamento infantil. Observamos que os conteúdos voltados para o público infantil feminino são produzidos com o intuito de estimular infâncias adultizadas, quando não, erotizadas; acelerando a perda de características pueril.
A construção sociocultural da feminilidade traz paralelamente uma infinidade de exigências e expectativas sobre o comportamento da menina, como a hipervalorização da beleza, estética, da obediência e do cuidado corporal. Guacira Louro (1997), ao aprofundar-se os estudos sobre gênero e educação, explora como as meninas são educadas e socializadas para se conformarem às expectativas de gênero, o que pode acelerar a percepção de si como “mulheres em miniatura”. Esse processo de feminilização precoce envolve também a sexualização, onde as meninas são vistas, mesmo que inconscientemente, como objetos de desejo, bem como processos mais nocivos como a erotização infantil.
Corpo Infantil
Infância e corpo são temas que carecem de maiores discussões para além do espaço acadêmico. Quando socialmente criamos limites para falar de determinados assuntos, damos espaço para formas distorcidas de ensino corporal serem ministradas. Sabem que o crescente número de casos de abuso infantil é um fato alarmante em nossa sociedade contemporânea. É importante que famílias e educadores desempenhem com cuidado a responsabilidade a orientação da privacidade do corpo infantil.
Nossas meninas precisam sim, ser orientadas que o corpo é um espaço íntimo, que o outro não tem permissão do toque indesejado e caso isso ocorra não é vergonhoso ela comunicar aos responsáveis. A família precisa criar laços afetivos em que a criança sinta liberdade para falar o que lhe acontece, sem o medo de ser punida. Sabemos que a maioria dos casos de abuso infantil acontecem no ambiente familiar com pessoas próximas; então como educadores e sociedade em geral, precisamos ser guardiões dessas infâncias, dá lugar de fala pra nossas crianças, proporcionado espaços de diálogo e orientações.
A maneira como o corpo é representado culturalmente expõe como a sociedade controla, enxerga e dociliza este corpo infantil. Como este corpo é visto e moldado socialmente traz implicações significativas para o desenvolvimento das identidades, subjetividades e relações de poder e gênero. Segundo Foucault (2014),
“[…] o controle disciplinar não consiste simplesmente em ensinar ou impor uma série de gestos definidos; impõe a melhor relação entre um gesto e a atitude global do corpo, que é sua condição de eficácia e de rapidez. No bom emprego do corpo, que permite um bom emprego do tempo, nada deve ficar ocioso ou inútil: tudo deve ser chamado a formar o suporte do ato requerido. Um corpo bem-disciplinada forma o contexto de realização do mínimo gesto. Uma boa caligrafia, por exemplo, supõe uma ginástica – uma rotina cujo rigoroso código abrange o corpo inteiro, da ponta do pé à extremidade do indicador”. (Foucault, 2014, p.149)
Assim, podemos refletir acerca das agendas cheias de tarefas, de compromissos, com pouco tempo para brincar e ser criança. Quanto maior as condições financeiras, mais possibilidades de inserção em atividades extraescolares, como judô, balé, aula de idiomas, natação, entre outros; a uma infinidade de atividades que podem ser usufruídas por crianças com renda familiar mais favorável. As meninas atendidas no centro que se deu a pesquisa, além da rotina escolar, possui compromissos extras com terapia, consultas médicas, ensino multifuncional ofertado pela escola pública. Com pouca ociosidade, a rotina é preenchida, restando poucos momentos para diversão e interação social. Os momentos livres são usufruídos com as telas, inclusive tem se tornado comum o uso excessivo de celulares.
A postura corporal, a mentalidade e toda plenitude do corpo é modificado com o passar do tempo e de como o tempo é utilizado. A construção sociocultural desse corpo está para além do biológico, a infância sofre inúmeras influências externas, com o crescente uso de mídias sociais houve uma amplificação de parâmetros corporais, contribuindo com as subjetividades e individualidades dos sujeitos.
A educação familiar, escolar e demais ensinos desempenham para o corpo infantil um papel de controle e disciplina. Michel Foucault (2014) aborda acerca da docilização dos corpos, como são disciplinados precocemente para alinhar-se às expectativas e normas de uma sociedade; fato de acordo com o autor, evidenciado no ambiente escolar, onde as crianças são ensinadas a controlar seus corpos, ficando sentadas, em silêncio, obedecendo regras constantemente, como parte de um processo social. Esta normatização também pode ser observada nas expectativas de gênero, principalmente referente a menina; é comum esperar que a menina exale feminilidade, incentivadas aos cuidadores corporais e habilidades ditas “maternas”, como cozinhar, cuidar da casa e filhos, ser comportada nos espaços sociais, entre outros.
Guacira Louro (1997), escritora de temas sobre gênero e educação, disse o corpo da criança, especialmente o corpo da menina, é controlado e socializado desde a cedo para adequar-se as expectativas de gênero, forjado a adesão de padrões de beleza e comportamento, com supervalorização da feminilidade.
Representação do Corpo Infantil
A pesquisa de mestrado encontra-se em andamento, revela infâncias na sociedade contemporânea e traz a representação do corpo infantil da menina assistida pelo serviço do Centro Especializado em Reabilitação de Parnamirim/RN. De acordo com Silva (2012, p.234) “A história das crianças e da infância revela as marcas, as ideias, as práticas sociais, as políticas que cada sociedade produz no sentido de “cuidar” e “educar” suas crianças. Foi observado que esta criança pertencente a geração Alfa é diferenciada por diversos aspectos, esta menina possui maior interesse pelo mundo tecnológico, sofre influência midiática por passar horas afinco nas telas. O corpo infantil tem mental e fisicamente as consequências desses novos estilos socioculturais.
A menina é instruída precocemente aos desejos da feminilidade, incentivadas por pessoas de sua convivência e dos influenciadores digitais, possuem preferências cada vez mais semelhantes as de pessoas adultas. Não somente o vestuário, mas também a alimentação é afetada, o interesse por alimentos industrializados está em crescimento, consequentemente mais prejuízos a saúde.
É de comum conhecimento que há também em nossa sociedade um crescente nos números de crianças que necessitam fazer uso de medicamento para ansiedade, compulsões, comportamento e humor. Há visivelmente uma alteração comportamental em muitas de nossas crianças; mais hiperativas, intolerantes a frustração, com instabilidade emocionais. No Centro Especializado em Reabilitação onde a pesquisa fora realizada, diariamente presenciamos esta realidade, famílias solicitam auxílio por não saberem lidar com essa realidade.
O corpo e o movimento são de natureza social, cultural e biológica, e histórica, pois é por intermédio desta simbiose dialética que se constrói o desenvolvimento das crianças pequenas, que se dá, portanto, na dimensão espaçotemporal e histórico social. O desenvolvimento ocorre num processo contínuo e descontínuo, provocando e detonando a complexa maturação do sistema nervoso da criança, tendo em vista o seu acabamento e formação individual, tendo como função um misto das relações e correlações entre ação e a sua representação. (Silva, 2012, p.222-223)
O excessivo apreço ao consumo impacta o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional. A alta demanda capitalista, potencializa as estratégias de marketing, voltadas para a infância. Com o poder de compra e acesso rápido aos produtos comercializados, cresce o desinteresse pelo que foi adquirido. A boneca que foi comprada hoje, amanhã poderá não mais satisfazer a criança; isso ocorre devido o excesso de informações e possibilidades que estes pequenos tem acesso.
É verdade que nossas crianças se comunicam com seus corpos. Suas histórias, roteiros, diálogos, experiências são desenvolvidos na jornada da vida. Tudo é permeado pelo corpo infantil, as emoções, dores, sentimentos, são encarnadas nesta matéria. O corpo fala, sim, ele fala a curto prazo, médio e longo. Ao olharmos para uma criança, mesmo que ela não fale nada, já podemos ter inúmeras impressões de como ela é tratada. Podemos neste momento como é difícil ser criança, hoje nós temos os desafios modernos, outrora a ausência de leis, exploração infantil; é social e cultural como vê-se a infância. Almejamos que em cada lugar onde existe uma criança haja para ela um protetor, este que nem sempre será seu pai ou sua mãe, mas que cuide e preserve estas infâncias.
Acreditamos que os espaços escolares são lugares de transformações, que a criança receba o ensino devido e que mude seu futuro por muitos já predestinados. Nenhuma criança merece estar predestinada a sofrer, a viver como os pais viveram, as lutas que seus familiares tiveram. Cada infância pode ser um reset na história de dor e a partir dela transformações positivas.
Considerações Finais
Este artigo busca explanar de forma breve o que vem sendo pesquisado na História da Educação sobre a infância, criança e corpo. Obtivemos resultados na pesquisa que revela uma infância moderna adultizada, corpos erotizados precocemente, restando-nos um alerta de aprofundamento as questões socioculturais que permeiam nossas crianças. Os hábitos cotidianos acompanham esta evolução; a alimentação, o vestuário, a forma de brincar e o desejo pelo estudo foi consideravelmente impactado.
O corpo absorve toda sobrecarga de mudanças repentinas, a mente recebe um turbilhão de informações através dos conteúdos exibidos através das telas; consequentemente há um excesso de estímulos mentais, ocasionando muitas vezes, ansiedade, irritabilidade, humor depressivo. Quanto ao físico, o corpo alerta mediante dores musculares, sobrepeso, fadiga; essa realidade é a de crianças que fazem uso excessivo de mídias, pois substituíram a atividade física do brincar, o contato com pessoas e ambientes da natureza pelo conforto de seus quartos. É crescente o número de famílias que procuram ajuda no centro especializado com essas queixas, crianças que necessitam de intervenção e pais que não conseguem intermediar o processo, carecendo de auxílio profissional.
Podemos inferir com os estudos sobre infância que é emergente a ampliação de estratégias de cuidado e proteção para com as crianças. Reconhecemos que necessitamos de mais políticas públicas para este público infantil. É importante que as escolas e todo processo educacional seja valorizado e receba maiores investimentos, assim como também o professor, que exerce com excelência o lecionar, que identifica precocemente sinais de alerta e aciona a rede de cuidados.
O ambiente educacional é o segundo lar das crianças, pois passam um tempo considerável do dia imerso em tarefas de ensino e aprendizagem, ampliando o conhecimento de mundo. Ao sair da escola cabe aos familiares a continuação da educação e proteção. Exaltamos a importância do professor na vida de cada criança, seu trabalho é necessário e relevante. No Centro Especializado em Reabilitação, o pedagogo e o psicopedagogo compõem a equipe de forma única, estimulando o aprendizado, multiplicando conhecimentos e intervindo precocemente nas dificuldades de aprendizagem.
A pesquisa sobre infância, corpo e criança, traz muitas contribuições para o campo da História da Educação, pois registra as novas configurações socioculturais e os impactos de mudanças para o desenvolvimento infantil. É de fundamental importância que seja intensificado mais estudos e pesquisas nessa temática, pois a criança é um ser único e necessita de intervenção precoce. Almejamos com esta obra que em todos os espaços onde existir uma criança, haja também humanos que protejam a infância e contribuam com memórias afetivas que perdurarão por gerações.
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