LIVRO PUBLICADO
LIVRO: ENFERMAGEM NA PRÁTICA E NA CIÊNCIA
OPEN ACCESS PEER-REVIEWED BOOK
ENFERMAGEM NA PRÁTICA E NA CIÊNCIA
NURSING IN PRACTICE AND SCIENCE
ⓒ 2022 Editora Science / Brazil Science Publisher
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 Pág.1
A ENFERMAGEM OBSTÉTRICA NO CUIDADO INTEGRAL E HOLÍSTICO DURANTE O PRÉ-NATAL
OBSTETRIC NURSING IN INTEGRAL AND HOLISTIC CARE DURING PRENATAL
DOI: https://doi.org/10.56001.22.9786500444650.01
Rafaele Reis da Rocha Coelho
Werika Tavares do Nascimento
Valdevane Rocha Araújo
CAPÍTULO 2 Pág.14
A IMPORTÂNCIA DO ENFERMEIRO NO PROCESSO DE GERENCIAMENTO NA CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO HOSPITALAR
THE IMPORTANCE OF NURSES IN THE MANAGEMENT PROCESS AT THE HOSPITAL MATERIAL AND STERILIZATION CENTER
DOI: https://doi.org/10.56001.22.9786500444650.02
Victor Manoel Pereira da Silva
Jessika Ellen Cavalcanti Oliveira
Taciana Gomes do Nascimento
Isamara Tayanne dos Santos Galvincio de Oliveira
Williany Kettly de Souza
Vitória Wanderley da Silva
Juliana do Carmo Ribeiro de Oliveira
Karla Maria Linhares Pires da Silva
Henry Johnson Passos de Oliveira
CAPÍTULO 3 Pág.26
ANÁLISE DOS FATORES QUE INTERFEREM NA BAIXA COBERTURA DO RASTREAMENTO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO NA ATENÇÃO BÁSICA
ANALYSIS OF FACTORS THAT INTERFERE WITH LOW COVERAGE OF CERVICAL CANCER SCREENING IN PRIMARY CARE
DOI: https://doi.org/10.56001.22.9786500444650.03
Anny Karoliny Barros de Araújo Pitanga
Auristenia Kesia Ferreira Leitão
Milena Tenório Pires
Juliana Ferreira de Souza
Gleide Mariana Veloso de Oliveira
Januzilla Amaral
CAPÍTULO 4 Pág.38
APLICAÇÃO DO MODELO OUTCOME PRESENT STATE TEST EM PACIENTE COM FRATURA DE MEMBRO INFERIOR DIREITO
APPLICATION OF THE OUTCOME PRESENT STATE TEST MODEL IN PATIENT WITH RIGHT LOWER LIMB FRACTURE
DOI: https://doi.org/10.56001.22.9786500444650.04
João Rafael da Silva Fonseca
Raiara Pedrosa Vieira
Milena Leite Veloso
Lara Karine Lima Sousa
Rayla Lucia de Almeida Hipólito
Francisca Rosana Gonçalves Mota
Leonilia Sousa Alencar Borges
Sara Gonçalves de Sousa
Francisco Gilberto Fernandes Pereira
CAPÍTULO 5 Pág.52
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA UTI NEONATAL
NURSING CARE IN THE NEONATAL ICU
DOI: https://doi.org/10.56001.22.9786500444650.05
Allyne Maria França Silva Costa
Vanessa Eduarda Morais Sales
Carla Vivianne da Silva Gomes
Débora Alves Nunes
Victor Manoel Pereira da Silva
Hirla Vanessa Soares de Araújo
Rilda Carla Alves de Souza
CAPÍTULO 6 Pág.65
CARACTERIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA-UTI
CHARACTERIZATION OF THE MAIN NURSING DIAGNOSES IN THE INTENSIVE CARE UNIT-ICU
DOI: https://doi.org/10.56001.22.9786500444650.06
Victor Manoel Pereira da Silva
Jessika Ellen Cavalcanti Oliveira
Taciana Gomes do Nascimento
Isamara Tayanne dos Santos Galvincio de Oliveira
Williany Kettly de Souza
Vitória Wanderley da Silva
Juliana do Carmo Ribeiro de Oliveira
Karla Maria Linhares Pires da Silva
Henry Johnson Passos de Oliveira
CAPÍTULO 7 Pág.75
CONHECIMENTO DE ESTUDANTES DE ENFERMAGEM A RESPEITO DOS SINAIS VITAIS: UM RELATO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA
NURSING STUDENT KNOWLEDGE REGARDING VITAL SIGNS: A CONTINUING EDUCATION REPORT
DOI: https://doi.org/10.56001.22.9786500444650.07
Leticia Gomes de Oliveira
Taynara da Costa Silva
Leandra Nogueira Barbosa
Fernando Conceição de Lima
Aline Furtado Borges
Leiane de Oliveira Ribeiro
Maria Carolina Santos Vilhena
Tatiane do Carmo Maia
Joyce Souza da Silva
CAPÍTULO 8 Pág.86
EMPODERAMENTO DA MULHER DURANTE O CICLO GRAVÍDICO-PUERPERAL
WOMEN EMPOWERMENT DURING THE PREGNANCY-PUERPERAL CYCLE
DOI: https://doi.org/10.56001.22.9786500444650.08
Francisca Andrea Martins Freires
Valdevane Rocha Araújo
CAPÍTULO 9 Pág.98
OUTCOME PRESENT STATE TEST: APLICABILIDADE NA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A UM PACIENTE COM PANCREATITE NECRO-HEMORRÁGICA
OUTCOME PRESENT STATE TEST: APPLICABILITY IN THE SYSTEMATIZATION OF NURSING CARE FOR A PATIENT WITH NECROHEMORRHAGIC PANCREATITIS.
DOI: https://doi.org/10.56001.22.9786500444650.09
Milena Leite Veloso
Lara Karine Lima Sousa
Rayla Lucia de Almeida Hipólito
João Rafael da Silva Fonseca
Raiara Pedrosa Vieira
Francisca Rosana Gonçalves Mota
Leonilia Sousa Alencar Borges
Sara Gonçalves de Sousa
Francisco Gilberto Fernandes Pereira
CAPÍTULO 10 Pág.112
SALA DE ESPERA COMO ESTRÁTEGIA EDUCATIVA NA ATENÇÃO BÁSICA PARA PREVENÇÃO DO CÂNCER DO COLO DE ÚTERO
WAITING ROOM AS AN EDUCATIONAL STRATEGY IN PRIMARY CARE FOR THE PREVENTION OF CERVICAL CANCER
DOI: https://doi.org/10.56001.22.9786500444650.10
Larissa Rayane Alves Simão
Anna Gabriella Silva Noronha
Elisvandra Vasconcelos Sousa Siqueira
Fernanda Barros Alves da Silva
Maria Evanise Monteiro de Souza
José Ivo Ferreira da Silva
CAPÍTULO 11 Pág.123
ANÁLISES DE GENES ENVOLVIDOS NA HERANÇA GENÉTICA DA DOENÇA DE ALZHEIMER E SEU DESENVOLVIMENTO
ANALYSIS OF GENES INVOLVED IN THE GENETIC INHERITANCE OF ALZHEIMER'S DISEASE AND ITS DEVELOPMENT
DOI: https://doi.org/10.56001.22.9786500444650.11
Tainá Oliveira de Araújo
Amanda Geovana Pereira de Araújo
Silvânia Narielly Araújo Lima
Anne Wirginne de Lima Rodrigues
Igor Luiz Vieira de Lima Santos
CAPÍTULO 12 Pág.143
“UMA DAS TAREFAS MAIS ÁRDUAS E IMPORTANTES NO SETOR DE SAÚDE”. A COMUNICAÇÃO DE NOTÍCIAS DIFÍCEIS NO COTIDIANO DE ENFERMEIROS E MÉDICOS QUE ATUAM EM UMA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR DO VALE DO JEQUITINHONHA – MINAS GERAIS, BRASIL.
“ONE OF THE HARDEST AND MOST IMPORTANT SKILLS FOR HEALTHCARE PROFESSIONALS” A QUALITATIVE STUDY OF DOCTORS AND NURSES’ PERSPECTIVES ON BREAKING BAD NEWS AT A JEQUITINHONHA´S VALLEY´S UNIVERSITY TEACHING HOSPITAL
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.12
Aline Neves Pereira.
Ana Lanza
Brunna Gabrielle Cunha Pereira
Paulo Henrique da Cruz Ferreira
Daisy de Rezende Figueiredo Fernandes
Alexandre Ernesto Silva
Heloísa Helena Barroso.
Liliane da Consolação de Campos Ribeiro
CAPÍTULO 13 Pág.158
A EQUIPE DE ENFERMAGEM DIANTE DA ADOÇÃO DE PRÁTICAS ASSISTENCIAIS SEGURAS
NURSING STAFF IN FACE OF THE ADOPTION OF PRACTICAL ASSISTANCE SAFE
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.13
Tatiana Almeida de Magalhães
Leda Maria Furtado Leão
Luciana Durães Pires
Jairo Evangelista Nascimento
Érika Fernanda Sales Martuscelli
Hérica Francine Pinto Meneses
Ivana Jacob Ibrahim
Agna Soares da Silva Menezes
CAPÍTULO 14 Pág.172
ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM EM CUIDADOS PALIATIVOS NA ONCOLOGIA: ESTADO DA ARTE NO BRASIL
NURSING PRACTICE IN PALLIATIVE CARE IN ONCOLOGY: STATE OF THE ART IN BRAZIL
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.14
Flávio Borges do Nascimento
Henrique Cesar Santos Cerri
Monique Alencar Rezina Perez
Neli Araujo Santana
CAPÍTULO 15 Pág.187
O PAPEL DA ENFERMAGEM NA ONCOLOGIA: UMA ANÁLISE DO ESTADO DA ARTE
THE ROLE OF NURSING IN ONCOLOGY: A STATE OF THE ART ANALYSIS
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.15
Aline Bastos Ribeiro
Flavio Borges do Nascimento
Maria Aline Duque Santos
Neli Araújo Santana
CAPÍTULO 16 Pág.199
A INCUMBÊNCIA DO ENFERMEIRO NA ASSISTÊNCIA À MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
THE ROLE OF NURSES IN ASSISTING WOMEN VICTIMS OF DOMESTIC VIOLENCE
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.16
Flávio Borges do Nascimento
Neli Araújo Santana
Mayara Nunes Anselmo
CAPÍTULO 17 Pág.211
SAÚDE MENTAL E A UTILIZAÇÃO DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS COMPLEMENTARES
MENTAL HEALTH AND THE USE OF COMPLEMENTARY INTEGRATIVE PRACTICES
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.17
Nagma Nascimento Prado
Vanessa Dias Gomes do Prado
Luana Gonçalves de Oliveira
Gisele Pereira Correia
Farlene Vieira Silva
Elma Rodrigues dos Santos Martins
Giselda Lourismar Pereira Correia
Maria Pena Alves Melo
Janaína Alves Pereira
Thays Peres Brandão
CAPÍTULO 18 Pág.222
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DE CÂNCER CERVICAL
NURSING CARE IN CERVICAL CANCER PREVENTION
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.18
Gilson Aquino Cavalcante
Fernando Liberalino Fernandes
CAPÍTULO 19 Pág.230
OS PARÂMETROS DOS CASOS DE SÍFILIS ADQUIRIDA NA POPULAÇÃO IDOSA BRASILEIRA
THE PARAMETERS OF ACQUIRED SYPHILIS CASES IN BRAZIL'S ELDERLY POPULATION
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.19
Ana Carolina Lisboa Caldas
Cristiane Costa da Cruz
Elber de Souza Billy
Larissa Ribeiro da Silva
Jean Cairo da Silva Costa
Julliana Carneiro Begot
Maressa dos Santos Castro
Rejane Costa do Rêgo
Tayná Corrêa da Costa
CAPÍTULO 20 Pág.238
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS
NURSING CARE FOR PATIENTS WITH MENTAL DISORDERS
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.20
Jocilene da Silva Paiva
Maria Adriana Martins e Silva
Marcelo da Silva Firmino
Francisca Silvana Holanda Castro
Francisco Fabio Dias Da Silva
José Roberto Pereira
Ana Clécia Silva Monteiro
Samara dos Reis Nepomuceno
Ana Cristina Santos Rocha Oliveira
Amanda Oliveira Gurgel
CAPÍTULO 21 Pág.248
O PAPEL DO ENFERMEIRO PERIOPERATÓRIO NOS CUIDADOS DE TRANSIÇÃO NO PERÍODO PÓS-ANESTÉSICO
THE ROLE OF THE PERIOPERATIVE NURSE IN TRANSITION CARE DURING THE POST-ANESTHESIA PERIOD
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.21
Lara Daniela Matos Cunha
Hugo André Moura Loureiro
Joana Vanessa Ribeiro Bernardo
Ricardo Filipe Moura Loureiro
CAPÍTULO 22 Pág.264
"O LADO OCULTO DAS BATIDAS: A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE EMOCIONAL E AS DOENÇAS CARDIOVASCULARES."
"THE DARK SIDE OF BEATS: THE RELATIONSHIP BETWEEN EMOTIONAL HEALTH AND CARDIOVASCULAR DISEASE."
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.22
Eva Natalina Ferreira Costa
Ivo da Silva Soares
Márcia Jaqueline Nunes de Souza
Mônica Alves de Oliveira.
César Ricardo do Espírito Santo Ferreira
Marcio Lopes de Araújo
CAPÍTULO 23 Pág.276
ARCAS “ARTE DE RECORDAR E CELEBRAR ACONTECIMENTOS SIGNIFICATIVOS”: INTERVENÇÃO BASEADA NA TERAPIA DE REMINISCÊNCIA
ARCAS “ART OF REMEMBERING AND CELEBRATING SIGNIFICANT EVENTS”: INTERVENTION BASED ON REMINISCENCE THERAPY
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.23
Nancy Baptista Lopes
Carlos António Laranjeira
CAPÍTULO 24 Pág.289
PROMOÇÃO DA COMPETÊNCIA EMOCIONAL NOS ENFERMEIROS QUE CUIDAM DE PESSOAS EM FIM DE VIDA: INTERVENÇÃO ESPECIALIZADA EM ENFERMAGEM DE SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA
PROMOTING THE EMOTIONAL COMPETENCE IN NURSES WHO CARE FOR PEOPLE AT THE END OF LIFE: SPECIALIZED INTERVENTION IN MENTAL HEALTH AND PSYCHIATRIC NURSING
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.24
Adriana Argüelles
Carlos António Laranjeira
CAPÍTULO 25 Pág.301
COMPETÊNCIA EMOCIONAL DOS ENFERMEIROS E A CULTURA DE SEGURANÇA DOS CUIDADOS - PRÁTICA ESPECIALIZADA EM ENFERMAGEM DE SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA
EMOTIONAL COMPETENCE OF NURSES AND THE PATIENT SAFETY CARE - SPECIALIZED PRACTICE IN MENTAL HEALTH AND PSYCHIATRIC NURSING
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.25
Solange da Silva Carreira
Carlos Laranjeira
ÍNDICE REMISSIVO Pág.313
SOBRE OS ORGANIZADORES DO LIVRO DADOS CNPQ: Pág.315
PREFÁCIO À 1ª EDIÇÃO
Este Livro é direcionado aos estudantes e profissionais da área de enfermagem, com o objetivo de integrar conhecimento a sua formação, abordando temáticas importantes dentro da enfermagem, agregando assim excelência ao atendimento oferecido por esses profissionais.
O Enfermeiro é o profissional comprometido com a qualidade de vida e a saúde dos seus pacientes, exigindo que ele componha uma equipe multidisciplinar e para isso precisam estar bem-informados em todas as áreas de atuação.
Os temas abordados nesta obra, trazem visões importantes de temáticas de âmbito geral da enfermagem, Enfermagem obstétrica, Enfermagem no Centro de Esterilização de Materiais (CME), Enfermagem na unidade de terapia intensiva-UTI, entre outras, deixando explicito também, o vasto campo de atuação desses profissionais.
É muito importante que a atuação do enfermeiro no momento do atendimento seja a mais assertiva possível, pois de seus cuidados, dependem a recuperação e a vida do paciente, logo quanto maior for o seu nível de informação, melhor será seu desempenho e resolubilidade diante de situações rotineiras.
Desta forma é possível aumentar e/ou garantir a expectativa de vida dos seus clientes, proporcionando bem-estar e a integridade os pacientes.
Boa leitura.
Os Organizadores
HOW CITE THIS BOOK:
NLM Citation
Silva CRC, Costa LAM, Santos ILVL, editor. Enfermagem na Prática e na Ciência. 1st ed. Campina Grande (PB): Editora Science; 2022. 146p.
APA Citation
Silva, C. R. C.; Costa, L. A. M. & Santos, I. L. V. L. (Eds.). (2022). Enfermagem na Prática e na Ciência (1st ed.). Editora Science.
ABNT Brazilian Citation NBR 6023:2018
SILVA, C. R. C.; COSTA, L. A. M.; SANTOS, I. L. V. L. Enfermagem na Prática e na Ciência. 1. ed. Campina Grande: Editora Science, 2022.
Pós-Dra. Carliane Rebeca Coelho da Silva
Profa. Dra. Luciana Amaral de Mascena Costa
Prof. Dr. Igor Luiz Vieira de Lima Santos
CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO
ISBN: 978-65-00-44465-0
D.O.I. CROSSREF INTERNATIONAL
CAPÍTULOS PUBLICADOS
CAPÍTULO 1
A ENFERMAGEM OBSTÉTRICA NO CUIDADO INTEGRAL E HOLÍSTICO DURANTE O PRÉ-NATAL
OBSTETRIC NURSING IN INTEGRAL AND HOLISTIC CARE DURING PRENATAL
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.01
Submetido em: 18/03/2022
Revisado em: 15/04/2022
Publicado em: 25/05/2022
Rafaele Reis da Rocha Coelho
Enfermeira, Especialista em Enfermagem Obstétrica, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza-CE
http://lattes.cnpq.br/6343133089249665
Werika Tavares do Nascimento
Enfermeira, Especialista em Enfermagem Obstétrica, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza-CE
http://lattes.cnpq.br/9813228497756036
Valdevane Rocha Araújo
Bióloga, Especialista em Fisiologia Humana, Mestre, Doutora e Pós-doutora em Morfofisiologia da Reprodução, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza-CE
http://lattes.cnpq.br/8652126082521493
Resumo
O papel da equipe de enfermagem é essencial no acompanhamento da gestante durante as consultas de pré-natal, visando diminuir os riscos de complicações, tais como o diabetes mellitus gestacional (DMG). Desta forma, o presente estudo buscou verificar o conhecimento das gestantes acerca de temas relacionados à saúde, bem como conhecer as características socioeconômicas e obstétricas dessas gestantes assistidas em consulta de enfermagem ambulatorial de pré-natal. Para este fim, foi realizada uma pesquisa descritiva e quantitativa, com 09 gestantes atendidas em uma unidade básica de saúde (UBS) no município de Pindoretama/CE. Os dados foram coletados no mês de outubro de 2018 através de observação e aplicação de dois questionários, um antes e outro após a palestra proferida. Na primeira etapa foi aplicado um questionário com questões de múltipla escolha, através do qual foram levantados os dados sociodemográficos, seguido de uma palestra sobre o tema; a pesquisadora também fez uma coleta de dados através da observação contínua durante toda a palestra e ao término da apresentação aplicou outro questionário com questões abertas e fechadas, sobre a importância da palestra para amenizar os riscos de complicações gestacionais. Verificou-se que as mulheres atendidas eram saudáveis e sem diagnóstico de DMG, alfabetizadas e com companheiro fixo. Além disso, a maioria das gestantes eram multíparas (67,7%) e foram assíduas às consultas de pré-natal (66,7%). Entretanto, apresentavam sobrepeso (44,4%) ou obesidade (33,3%) e ausência de prática de atividade física, mesmo demonstrando algum conhecimento acerca da existência e/ou dos fatores de risco para DMG (77,8%). Por outro lado, destaca-se que 100% das participantes afirmaram que a palestra contribuiu para construção de hábitos alimentares mais saudáveis. Desta forma, concluiu-se através deste estudo, que a participação do Enfermeiro obstetra é fundamental para o fortalecimento da assistência durante a consulta de pré-natal, bem como para a promoção dos saberes em saúde da gestante e do feto.
Palavras-Chave: gestantes, diabetes mellitus gestacional, indicadores de saúde, cuidado de enfermagem
Abstract
The role of the nursing team is essential in monitoring the pregnant woman during prenatal appointment, aiming to reduce the risk of complications, such as gestational diabetes mellitus (GDM). Thus, the present study verified the knowledge of pregnant women about topics related to health, as well as to know the socioeconomic and obstetric characteristics of these pregnant women assisted in outpatient prenatal nursing appointment. For this, a descriptive and quantitative research was carried out with 09 pregnant women attended at a basic health unit (UBS) in the Pindoretama/CE city. Data were collected in October 2018 through observation and application of two questionnaires, one before and another after the speech. In the first stage, a questionnaire with multiple choice questions was applied, through which sociodemographic data were collected, followed by a speech on the subject; the researcher also collected data through continuous observation and at the end of the presentation applied another questionnaire with open and closed questions about the importance of the speech to mitigate the risks of gestational complications. It was found that the women attended were healthy and without GDM, literate, and with a steady partner. In addition, most pregnant women were multiparous (67.7%) and attended prenatal appointments (66.7%). However, they were overweight (44.4%) or obese (33.3%), and did not practice physical activity, despite demonstrating some knowledge about the existence and/or risk factors for GDM (77.8%). On the other hand, it is noteworthy that 100% of the participants stated that the speech contributed to develop healthy eating habits. Thus, it was concluded that the involvement of the obstetric nurse is fundamental to strengthen assistance during the prenatal appointment, as well as to promote health knowledge of the pregnant woman and the fetus.
Keywords: pregnant, gestational diabetes mellitus, health indicators, nursing care
Introdução
Entre os papéis da estratégia saúde da família (ESF) encontram-se àqueles voltados à saúde materna e infantil, principalmente, durante o período gestacional. Serviços como o pré-natal, por exemplo, têm como objetivo garantir o conforto do binômio mãe-filho por meio dos acompanhamentos realizados nas diferentes fases da gestação (BRASIL, 2006; CARVALHO et al., 2010). O pré-natal é o serviço que tem o papel de acolher a mulher desde o começo da gravidez, buscando prevenir possíveis complicações (SCHNEIDER; RAMIRES, 2007).
Na atenção primária, o pré-natal é um serviço prestado pela equipe obstétrica, da qual o profissional de enfermagem é parte integrante, sendo imprescindível para orientar as gestantes. Essas orientações podem ser realizadas individualmente, durante as consultas de pré-natal, e/ou coletivamente, durante as rodas de conversa e palestras realizadas nas salas de espera. Além disso, todo o registro da consulta de enfermagem é realizado no prontuário e na carteira da gestante, com o objetivo de garantir que as informações sobre a evolução da gestação sejam acessíveis a todos os profissionais que darão continuidade ao atendimento, além da própria paciente.
Durante o pré-natal, a gestante deve ser orientada sobre a importância de hábitos saudáveis, com ênfase em uma alimentação balanceada, bem como na realização de atividade física periódica. Isso, porque, fisiologicamente, a gestação proporciona maior atuação de hormônios, como o lactogênio placentário humano (LPH), cortisol, glucagon, etc. Estes, são considerados hormônios contra insulínicos, os quais estimulam maior liberação de glicose na corrente sanguínea e diminuem a utilização da glicose materna com a finalidade de torná-la biodisponível para a nutrição do concepto (ACCIOLY et al., 2009). Embora sejam considerados normais, tais ajustes podem proporcionar aumento dos níveis glicêmicos, resultando em intolerância à glicose, resistência insulínica ou diabetes mellitus gestacional (DMG) (PAIVA, 2007).
O DMG é o problema mais comum durante qualquer período da gestação, com prevalência de 7,6% em mulheres maiores de 20 anos atendidas no Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2012). Além disso, segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a obesidade feminina é um fator de risco que provoca incidência ainda maior de DMG (SBD, 2018). Para a mãe, por exemplo, existe um grande risco de desenvolver diabetes mellitus tipo 2 posteriormente ao parto. Já para o feto, as complicações são mais acentuadas, pois existe um maior risco de mortalidade, além de complicações, como malformações fetais (MONTENEGRO et al., 2008), macrossomia fetal, hipoglicemia neonatal, hiperbilirrubinemia e hipocalcemia (MERLOB et al., 2003).
Aliado a isso, alguns estudos têm demonstrado que a qualidade do pré-natal também pode estar relacionada aos fatores sociodemográficos (COUTINHO et al., 2003). Assim, ressalta-se que estes elementos não devem ser esquecidos no momento do atendimento e que, traçando as características socioeconômicas das gestantes, pode-se desenvolver um serviço adequado com foco nas suas reais necessidades. Através dessas orientações busca-se favorecer uma gestação, parto e pós-parto mais tranquilos e sem intercorrências.
Considerando todos esses aspectos, o presente estudo teve por objetivos analisar o conhecimento das gestantes acerca de temas relacionados à saúde, bem como conhecer as características socioeconômicas e obstétricas dessas gestantes assistidas em consulta de enfermagem ambulatorial de pré-natal.
Metodologia
Os princípios éticos foram seguidos em todas as fases do estudo, em consonância com o que preconiza a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Ceará (UECE), sob CAAE n. 97976818.9.0000.5534, respeitando as normas que regulamentam a pesquisa com seres humanos do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. Todas as participantes receberam e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Trata-se de um estudo descritivo de abordagem quantitativa, que verifica, descreve, e registra diversos aspectos utilizando-se de valores numéricos e posteriormente, a interpretação dos mesmos. A coleta foi realizada através de instrumentos que se unem para compilar informações numéricas a fim de processar dados estatísticos (POLIT; BECK, 2011).
A pesquisa foi realizada em um programa de saúde da família (PSF), localizado no município de Pindoretama/CE, onde a equipe de Enfermagem realiza consultas de pré-natal semanalmente. Este PSF presta atendimentos nas áreas de Saúde da Mulher, da Criança, do Adulto e do Idoso, além de procedimentos simples como: curativos, retiradas de pontos, administração de medicações, entrega de medicamentos e vacinas. Vale ressaltar que a pesquisa ocorreu no mês de outubro de 2018 e é parte integrante do trabalho de conclusão de curso (TCC) em enfermagem obstétrica do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UECE, defendido em 2019 e intitulado “Atuação do enfermeiro na prevenção do diabetes gestacional: indicadores de saúde na gestação”.
A população do estudo foi composta por 09 mulheres gestantes, maiores de 18 anos, com idade gestacional inferior ou igual a 36 semanas e que realizavam as consultas de pré-natal na unidade básica de saúde (UBS). Como critérios de exclusão, não participaram da pesquisa, mulheres menores de idade, com idade gestacional superior a 36 semanas, bem como àquelas que não aceitaram participar da pesquisa ou que não realizavam o pré-natal na unidade de saúde.
A coleta de dados foi realizada em três momentos: Primeiramente, através de respostas a um questionário semiestruturado, contendo perguntas abertas e fechadas, através do qual foram levantados os dados sociodemográficos. Em um segundo momento foi realizada uma palestra sobre o tema, além da verificação de medidas antropométricas (peso, IMC gestacional). Após a palestra foi disponibilizado um lanche saudável baseado em salada de frutas e sucos naturais para despertar uma alimentação saudável no cotidiano das gestantes, beneficiando mãe e bebê. Em seguida foi aplicado um outro questionário para avaliar a importância da palestra para as mães.
Os dados foram digitalizados utilizando o programa Excel (Microsoft Windows versão 2016) para criação de um banco de dados, sendo realizada estatística descritiva simples. Esse tipo de análise estatística objetiva-se a sintetizar valores de mesma natureza, permitindo uma visão global da variação desses valores. Para organizar e descrever esses dados podem ser utilizados tabelas, gráficos e medidas descritivas (GUEDES et al., 2018).
Resultados e Discussão
Na Tabela 1 apresentam-se os dados sociodemográficos das gestantes atendidas no programa de saúde da família (PSF), localizado no município de Pindoretama/CE. A população da pesquisa foi constituída por mulheres (n=9) sem diagnóstico de diabetes mellitus gestacional (DMG) e na faixa etária, predominantemente, entre 18 e 34 anos (88,9%) com ensino médio concluído (77,8%). A maioria das gestantes afirmou ter um companheiro fixo (88,8%), estando casadas (44,4%) ou em união estável (44,4%). Quando questionadas sobre suas ocupações, 44,4% relataram serem donas de casa, 11,1% eram autônomas e outras 44,4% informaram possuir outras profissões.
Tabela 1: Caracterização sociodemográfica das gestantes atendidas no programa saúde da família (PSF) em Pratius 1, Pindoretama/CE, Brasil, 2018.
VARIÁVEL | nº | % |
Idade |
|
|
18 a 34 anos | 08 | 88,9 |
A partir de 35 anos | 01 | 11,1 |
Escolaridade |
|
|
Ensino Fundamental Completo | – | – |
Ensino Fundamental incompleto | – | – |
Ensino Médio Completo | 07 | 77,8 |
Ensino Médio incompleto | 02 | 22,2 |
Analfabeta | – | – |
Estado civil |
|
|
Casada | 04 | 44,4 |
Divorciada | – | – |
Solteira | 01 | 11,1 |
União estável | 04 | 44,4 |
Profissão |
|
|
Dona de casa | 04 | 44,4 |
Estudante | – | – |
Autônoma | 01 | 11,1 |
Outras profissões | 04 | 44,4 |
Fonte: Elaborada pelas autoras, 2019.
No presente estudo, o fato de haver mais mulheres casadas e/ou em união estável se mostrou um ponto positivo, uma vez que o compartilhamento de experiências e o apoio de seus cônjuges, garante melhor participação no tratamento (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2007) e alcance de melhores resultados. Além disso, o apoio familiar e a harmonia nos relacionamentos são condições imprescindíveis para uma gestação saudável e equilíbrio psicológico. Por outro lado, àquelas gestantes que não conviviam com o cônjuge e residiam apenas com filhos ou outras pessoas, possuem uma adesão menor ao regime terapêutico (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2007), incluindo ao pré-natal.
O apoio familiar adequado e efetivo produz efeitos positivos através de um processo recíproco de cuidado entre os membros da família e, ainda, uma relação que gera efeitos tanto para quem recebe, como para quem oferece o apoio (INOUYE et al., 2010). Neste sentido, atuar com foco na família pressupõe, entre outras coisas, considerar as interações e/ou tensões familiares, muitas vezes não mencionadas inicialmente, e que estão intrinsecamente ligadas aos processos de adoecimento. O processo saúde-doença, por sua vez, envolve toda a família, e a saúde de cada um de seus membros, tanto pode influenciar como pode ser influenciada pela dinâmica familiar e suas problemáticas (BRASIL, 2010).
Segundo Arcos Griffiths et al. (1994), adolescentes grávidas procuram primeiramente apoio junto ao parceiro, em seguida a mãe e, só então, aos amigos. Esse comportamento, geralmente nesta sequência, ratifica o quão importante é a participação da família no processo gestacional. Aliado a isso, a ausência do analfabetismo no grupo de gestantes desse estudo constituiu-se um elemento importante para a equipe de saúde. Isso porque a escolaridade está diretamente relacionada a compreensão das gestantes sobre os pontos abordados, como os cuidados com a alimentação, por exemplo, garantindo melhor aderência às orientações e aos cuidados propostos e, consequentemente, uma gestação mais segura.
A Tabela 2 demonstra as características das consultas de pré-natal durante o atendimento do PSF em Pindoretama/CE. A maioria das gestantes eram multíparas (67,7%) e foram assíduas às consultas de pré-natal (66,7%); enquanto apenas 33,3% das gestantes entrevistadas eram primíparas, ou seja, estavam na sua primeira gestação. Em relação ao peso, todas as mulheres aumentaram, pelo menos, 3 kg durante a gestação. Entretanto, apenas 22,2% estavam com peso adequado segundo o acompanhamento do IMC gestacional; enquanto a grande maioria (77,8%) apresentavam-se com sobrepeso 04 (44,4%) ou obesas (33,3%).
Tabela 2: Acompanhamento durante o pré-natal das gestantes atendidas no programa saúde da família (PSF) em Pratius 1, Pindoretama/CE, Brasil, 2018.
VARIÁVEL | nº | % |
Número de Gestações anteriores |
|
|
Primíparas (primeira gestação) | 03 | 33,3 |
Multíparas (uma gestação) | 03 | 33,3 |
Multíparas (duas gestações) | 01 | 11,1 |
Multíparas (três gestações ou mais) | 02 | 22,2 |
Idade gestacional |
|
|
De 8 a 16 semanas | 03 | 33,3 |
De 17 a 27 semanas | 04 | 44,4 |
De 28 a 36 semanas | 02 | 22,2 |
Peso antes da gravidez |
|
|
55 a 70 kg | 04 | 44,4 |
Acima de 70 kg | 05 | 55,6 |
Aumento de peso |
|
|
3 a 5 kg | 04 | 44,4 |
Acima de 5 kg | 05 | 55,6 |
IMC gestacional |
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Baixo peso | 00 | 0,0 |
Peso adequado | 02 | 22,2 |
Sobrepeso | 04 | 44,4 |
Obesidade | 03 | 33,3 |
Assiduidade às consultas de pré-natal |
|
|
Inadequada (de 1 a 6 consultas) | 03 | 33,3 |
Adequada (acima de 6 consultas) | 06 | 66,7 |
Fonte: Elaborada pelas autoras, 2019.
A gravidez é marcada por diversas mudanças no organismo materno, envolvendo modificações morfofisiológicas em um curto intervalo de tempo. Por esse motivo, a execução da educação em saúde pela equipe de enfermagem deve se fazer de forma contínua. Embora essas alterações sejam consideradas normais, podem gerar desconforto, ansiedade e medo em muitas gestantes, principalmente, àquelas que estão gerando o primeiro filho. Assim, o acompanhamento pré-natal se faz extremamente necessário, tendo em vista que é durante este momento que condições patológicas podem ser identificadas e controladas, garantindo a saúde materna e o desenvolvimento fetal de qualidade.
Segundo o Ministério da Saúde, o pré-natal compreende o período de acompanhamento da gestante desde a concepção do feto até o início do trabalho de parto, o qual é caracterizado por um conjunto de procedimentos clínicos e educativos para promoção da saúde da gestante e do concepto (BRASIL, 2006). Por esta razão, é importante captar as gestantes de forma precoce, bem como garantir que a primeira consulta seja realizada nos primeiros 120 dias de gestação. Ressalta-se que essa busca deve acontecer em parceria com os agentes comunitários de saúde de maneira que as gestantes compareçam à, pelo menos, seis consultas de pré-natal (uma no primeiro trimestre, duas no segundo trimestre, e três no terceiro trimestre de gestação) (BRASIL, 2006).
A maioria das mulheres, alvo deste estudo, compareceram assiduamente às consultas agendadas; porém, 66,7% ainda é um número insatisfatório. Somado a isso, a grande maioria das gestantes pesquisadas apresentavam-se com IMC acima do desejado. Esse IMC elevado caracteriza um dos fatores de risco para o DMG elencados pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD, 2018). Tendo em vista que a avaliação nutricional da gestante deve começar logo na primeira consulta de pré-natal, esta subsidia a previsão de ganho de peso da mulher até o fim da gestação.
Para ser considerada uma gestante com IMC adequado, até o fim da gestação, a mulher deve ganhar entre 11,5 e 16,0 kg (BRASIL, 2013). Além disso, a condição nutricional pré-gestacional, influencia diretamente na saúde do embrião (VITOLO, 2008), sendo a alimentação adequada, fundamental para a promoção da saúde e desenvolvimento normais do feto. Desta forma, o profissional de enfermagem que atua na assistência ao pré-natal assume um papel fundamental, pois deve desenvolver medidas educativas como dimensão do processo do cuidar de maneira integral e holística, prevenindo a doença e promovendo a saúde da gestante.
Embora 66,7% das gestantes tenham demonstrado algum conhecimento acerca da existência e/ou dos fatores de risco (Fig. 1A) ou conhecem, pelo menos, 1 complicação (Fig. 1B) da DMG (77,8%), a grande maioria (88,9%) delas não pratica atividade física regular (Fig. 1C). Por outro lado, destaca-se que 100% das participantes afirmaram que a palestra contribuiu para construção de hábitos alimentares mais saudáveis (dados não mostrados).
Figura 1: Conhecimento acerca da diabetes mellitus gestacional (DMG), seus fatores de risco (A) e suas complicações (B), bem como prática de atividades físicas (C) das gestantes assistidas pelo programa saúde da família (PSF) em Pratius 1, Pindoretama/CE, Brasil, 2018. Fonte: Elaborada pelas autoras, 2019.
Conforme evidenciado no estudo, a atividade física não é praticada pela maioria das participantes, talvez por insegurança e/ou dúvidas acerca dos riscos para o bebê. Neste caso, o fator psicológico ligado aos cuidados e atenção, leva a gestante a um comportamento interpretado como acomodação. Esta condição, embora seja passível de entendimento, pode e dever ser discutida e modificada (MATIJASEVICH; DOMINGUES, 2010). Além disso, os benefícios da atividade física durante a gestação tornam essa mulher autoconfiante e satisfeita com sua aparência.
Outro ponto que merece destaque é a relação positiva entre a prática de exercícios físicos e a diminuição dos riscos de pré-eclâmpsia e de DMG em grávidas (COUTINHO et al., 2010). Assim, desde que não haja nenhuma contraindicação obstétrica, e que a gestante esteja acompanhada por profissional treinado, a atividade física durante a gestação não só tem sido recomendada, como também tem proporcionado diversos benefícios à saúde, tais como melhora da circulação sanguínea, aumento da disposição e sensação de bem-estar (BALDO et al., 2020).
No que se refere ao conhecimento das gestantes sobre o DMG e seus riscos para mãe e filho, evidenciou-se as participantes têm conhecimento acerca da temática. Este foi considerado um fator positivo, pois a ausência de informações expõe o indivíduo à riscos previsíveis e que podem ser evitados ou, pelo menos, amenizados. Por outro lado, o desconhecimento relatado pela minoria das gestantes, não significa que não tenham recebido orientações por parte dos profissionais de saúde durante a consulta de pré-natal. Denota, na verdade, a necessidade de se buscar estratégias educativas específicas voltadas para as subjetividades inerentes a cada sujeito (COSTA et al., 2011).
Mesmo não sendo o perfil da maioria das entrevistadas, 33,3% delas relataram ter parentes diabéticos. Juntos, a possibilidade de herança genética para o diabetes e a condição de sobrepeso ou obesidade entre as gestantes, exigem uma mudança nos hábitos alimentares, bem como a prática regular de exercícios físicos. Por esta razão, mais uma vez destaca-se a necessidade de um acompanhamento pré-natal de qualidade e capaz de evitar complicações gestacionais que resultem em morbimortalidade materna e/ou fetal.
Considerações Finais
Concluiu-se, através deste estudo, que a participação do(a) enfermeiro(a) obstetra é fundamental para o fortalecimento da assistência durante a consulta de pré-natal, bem como para a promoção dos saberes em saúde da gestante e do feto. É neste momento que o profissional utiliza seus conhecimentos técnicos-científicos e humanos para elaborar um plano de assistência individualizada que atenda às demandas de cada gestante. Além disso, a identificação precoce de possíveis complicações obstétricas é priorizada e pode sofrer intervenção para garantia de uma gestação segura e de qualidade, estimulando o autocuidado e a prevenção de condições patológicas, como o diabetes mellitus gestacional (DMG). E, caso haja alguma intercorrência, além do desenvolvimento de medidas educativas como dimensão do processo do cuidar de maneira integral e holística, o profissional de enfermagem pode realizar orientações e encaminhamentos a outros serviços e/ou profissionais, promovendo a interdisciplinaridade das ações.
Referências
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CAPÍTULO 2
A IMPORTÂNCIA DO ENFERMEIRO NO PROCESSO DE GERENCIAMENTO NA CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO HOSPITALAR
THE IMPORTANCE OF NURSES IN THE MANAGEMENT PROCESS AT THE HOSPITAL MATERIAL AND STERILIZATION CENTER
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.02
Submetido em: 16/11/2021
Revisado em: 16/12/2021
Publicado em: 15/01/2022
Victor Manoel Pereira da Silva
Discente em Enfermagem pelo Centro Universitário dos Guararapes, Jaboatão dos Guararapes-PE
http://lattes.cnpq.br/5725320594997874
Jessika Ellen Cavalcanti Oliveira
Enfermeira pelo Centro Universitário dos Guararapes, Residente em cuidados paliativos pelo Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, Recife-PE
http://lattes.cnpq.br/7325133127878841
Taciana Gomes do Nascimento
Enfermeira pelo Centro Universitário dos Guararapes, Especialista em Nefrologia pela Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças, Recife-PE
https://orcid.org/0000-0002-6965-9634
Isamara Tayanne dos Santos Galvincio de Oliveira
Enfermeira pelo Centro Universitário Facex, Residente em Oncologia pelo Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, Recife-PE
http://lattes.cnpq.br/7325133127878841
Williany Kettly de Souza
Discente em Enfermagem pelo Centro Universitário dos Guararapes, Jaboatão dos Guararapes-PE
http://lattes.cnpq.br/2567407497083853
Vitória Wanderley da Silva
Enfermeira pela Universidade Católica de Pernambuco, Pós-graduanda em Unidade de Terapia Intensiva e Urgência e Emergência, Recife-PE
http://lattes.cnpq.br/0936475354218887
Juliana do Carmo Ribeiro de Oliveira
Enfermeira pelo Centro Universitário Estácio, Recife-PE
http://lattes.cnpq.br/6374103630601495
Karla Maria Linhares Pires da Silva
Enfermeira pelo Centro Universitário Maurício de Nassau, Residente em Hematologia e Hemoterapia pela Universidade de Pernambuco, Recife-PE
http://lattes.cnpq.br/2475538146729126
Henry Johnson Passos de Oliveira
Enfermeiro pelo Centro Universitário Maurício de Nassau, Residente em Saúde Coletiva pelo Instituto Aggeu Magalhães, Recife-PE
http://lattes.cnpq.br/2851265453049949
Resumo
A Central de Material e Esterilização (CME), é uma unidade de apoio técnico, que visa assegurar o controle, preparo e esterilização de artigos médicos hospitalares, assim como a distribuição de material estéril para todo o hospital, garantindo sua qualidade e contribuindo principalmente para a prevenção e controle da infecção hospitalar. Nesse contexto, muitas vezes a importância do enfermeiro no CME, é desconhecida aos olhos dos profissionais que atuam em diferentes setores das instituições. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo descrever a importância do enfermeiro no processo de gerenciamento na central de material e esterilização hospitalar. Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura. A busca de dados foi realizada nas bases de dados SCLIELO, LILACS e PUBMED. Foram analisados no final 10 artigos no montante. Com relação ao tipo de estudo o estudo do tipo descritivo foi o com maior porcentagem no estudo, representando 50%. A respeito do ano de publicação os anos com maiores números de estudos foram os de 2016 e 2019 apresentando um quantitativo de 30% de artigos publicados em cada ano. Sobre a principal função exercida pelo enfermeiro dentro do setor 60% dos artigos indicaram que sua principal função está direcionada a esterilização e desinfecção dos artigos hospitalares afim de prevenir as infecções ligadas a assistência de saúde. Dessa forma, observa-se que o enfermeiro tem um papel fundamental dentro do gerenciamento de enfermagem na central de material e esterilização hospitalar.
Palavras-Chave: Enfermagem Médico-Cirúrgica; Enfermagem de Centro Cirúrgico e Assistência de Enfermagem.
Abstract
The Material and Sterilization Center (CME) is a technical support unit, which aims to ensure the control, preparation and sterilization of hospital medical items, as well as the distribution of sterile material throughout the hospital, ensuring its quality and contributing mainly to the prevention and control of hospital infection. In this context, the importance of nurses in the MSC is often unknown to professionals working in different sectors of institutions. Therefore, this study aims to define the importance of nurses in the management process in the hospital material and sterilization center. This is an integrative literature review study. Data search was performed in SCLIELO, LILACS and PUBMED databases. In the end, 10 articles were propagated in the amount. Regarding the type of study, the descriptive study was the one with the highest percentage in the study, representing 50%. Regarding the year of publication, the years with the highest number of studies were 2016 and 2019, a quantitative number of 30% of published articles each year. About the main function performed by nurses within the sector, 60% of the articles indicated that their main function is directed towards the sterilization and disinfection of hospital articles in order to prevent those related to health care. Thus, it is observed that the nurse has a fundamental role within the nursing management in the hospital material and sterilization center.
Keywords: Medical-Surgical Nursing; Operating Room Nursing and Nursing Care
Introdução
A Central de Material e Esterilização (CME), é uma unidade de apoio técnico, que visa assegurar o controle, preparo e esterilização de artigos médicos hospitalares, assim como a distribuição de material estéril para todo o hospital, garantindo sua qualidade e contribuindo principalmente para a prevenção e controle da infecção hospitalar (RODRIGUES et al., 2019).
O meio hospitalar é um ambiente onde há a maior agregação de elementos nocivos à saúde humana. Estudos indicam que as infecções hospitalares acometem pessoas mais que a AIDS, tuberculose e gripes num somatório total, lembrando que não há outro ambiente o qual agrupem múltiplos microrganismo prejudiciais à saúde humana como nos hospitais, local este onde as pessoas encontram-se mais vulneráveis (PEREIRA et al, 2019).
Dessa forma, o CME é um setor de extrema importância para o bom funcionamento do hospital, sendo este, responsável pela maioria dos processos nos quais é realizado novas atividades de segurança, como Desinfecção química de materiais e relavagem de todos os artigos submetidos à limpeza que se encontram sujos, após verificação, sendo importante não somente para os profissionais da área de saúde, como para todos os pacientes (PEREIRA; OSUGUI, 2017).
No passado a Central de Material e Esterilização era descentralizada, as unidades que prestavam atendimento à saúde eram encarregadas pela esterilização dos seus privativos utensílio e insumos, sem dispor de mão de obra humana qualificada. Porém, com o avanço dos procedimentos médicos cirúrgicos, equipamentos modernos e sofisticados e a centralização do processamento e esterilização desses artigos, passou-se a ser regulamentada normas e rotinas, sendo o profissional enfermeiro qualificado para coordenar e preparar sua equipe de profissionais atuantes no CME (SOUZA; CARVALHO, 2010).
O trabalho do enfermeiro na CME deve ser valorizado como um trabalho essencial para a aplicação de técnicas que possam subsidiar o cuidado efetivo para o cotidiano da assistência de enfermagem, além disso, enfermeiro enfrenta situações complexas exigindo conhecimento científico e sua atuação neste ambiente juntamente com a da sua equipe, são de suma importância para o bom funcionamento do setor (GIL, 2012).
A Resolução do COFEN 424/2012, regulariza as funções e obrigatoriedade dos profissionais de enfermagem no centro de material e esterilização e em entidades processadoras de mercadorias saúde (COFEN, 2012). Das responsabilidade do profissional da enfermagem definida pela RDC n°15, engloba: coordenar e avaliar todas as tarefas referente ao seguimento dos artigos, participar do processo de capacitação e conhecimentos continuado e apreciação da performance dos capacitados que trabalham no CME, apresentar aos informativos de controle de qualidade dos artigos executado sob sua responsabilidade, contribuir para as condutas preventivas e controle de acontecimentos contrário em serviços de saúde, incluindo controle de infecção, dimensionamento dos recursos humanos, aconselhar as unidades que utilizam os artigos processados no CME quanto ao transporte, armazenamento, etc. (SOBECC, 2013).
Nesse contexto, o enfermeiro tem um papel fundamental dentro da Central de Materiais e Esterilização, uma vez que, coordena a equipe e as atividades desenvolvidas, avalia e participa das etapas do processo de limpeza, dimensionamento os profissionais, contribuição com ações de prevenção e controle de eventos adversos, orienta as unidades usuárias do serviço, implementar boas práticas para o processamento de PPS, assim como padroniza o uso de produtos, materiais e equipamentos. Também atua em conjunto com o controle de infecção, com o intuito de planejar e validar as fases do processamento dos artigos, primando pela redução das taxas de infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS) (SOBECC, 2017).
Porém, é notório que existe uma lacuna sobre a importância do processo de trabalho nessa unidade, que muitas vezes está associado à cultura de liderança institucional, à formação dos próprios profissionais e à falta de educação continuada sobre o trabalho desenvolvido. Contudo, deve-se identificar que a equipe de enfermagem adquire habilidades e conhecimentos expressivos nas funções assistenciais que desempenha, a partir da competência desenvolvida na central de material e esterilização (ANJOS; OLIVEIRA, 2016).
Dessa forma, muitas vezes a importância do enfermeiro no CME, é desconhecida aos olhos dos profissionais que atuam em diferentes setores das instituições. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo descrever a Importância do enfermeiro no processo de gerenciamento na central de material e esterilização hospitalar.
Metodologia
Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura. Esse tipo de estudo proporciona a síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática. Além disso, combina dados da literatura teórica e empírica, além de incorporar um vasto leque de propósitos: definição de conceitos, revisão de teorias e evidências, e análise de problemas metodológicos de um tópico particular gerando um panorama consistente e compreensível de conceitos complexos, teorias ou problemas de saúde relevantes para a enfermagem (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
A busca de dados foi realizada nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCLIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e (PUBMED).
Após consulta na plataforma dos Descritores em Ciências da Saúde (DecS/MeSH), utilizou-se as palavras Enfermagem Médico-Cirúrgica; Enfermagem de Centro Cirúrgico e Assistência de Enfermagem para filtro dos artigos.
Foram selecionados artigos que se engajassem na pergunta condutora do estudo: Qual a importância do enfermeiro no processo de enfermagem de gerenciamento na central de materiais e esterilização? Além disso, os artigos deveriam estar disponíveis na integra, nos idiomas português e inglês, que tivessem como ano de publicação o período temporal correspondente aos anos de 2015 a 2019.
Foram excluídos artigos duplicados, tese de mestrado e doutorado devido a extensão dos arquivos, artigos pagos, obras incompletas e cujo método era de revisão.
Realizou-se o cruzamento dos descritores nas bases de dados, encontrando os seguintes resultados como mostra o quadro abaixo:
Quadro 1: Quantidade de descritores e quantitativo de artigos encontrados nas bases de dados (SCIELO, LILACS e PUBMED) em relação a cada descritor no site.
Descritores | SCIELO | LILACS | PUBMED |
Enfermagem Médico-Cirúrgica | 10 artigos | 18 artigos | 6 artigos |
Enfermagem de Centro Cirúrgico | 25 artigos | 20 artigos | 4 artigos |
Assistência de Enfermagem | 25 artigos | 17 artigos | 5 artigos |
Fonte: Oliveira et al., 2021
Para análise e posterior síntese dos dados, foi utilizado um instrumento de coleta elaborado pelas autoras especialmente construído para elencar os principais tópicos dos artigos descrevendo-os em título, autores, ano de publicação, tipo de método, principais resultados e síntese da conclusão.
Os dados foram apresentados em tabelas de forma descritiva, possibilitando ao leitor a avaliação da aplicabilidade da revisão integrativa.
Por se tratar de um estudo de revisão integrativa da literatura, com utilização de bases de domínio público, que não possui nenhuma implicância ética envolvida, dispensa-se a necessidade de apreciação pelo comitê de ética e pesquisas envolvendo seres humanos.
Após a realização das buscas foram encontrados 125 artigos relevantes ao tema de acordo com o uso dos descritores nas bases de dados, conforme mostra a Figura 1. Após a leitura exploratória, analítica e interpretativa dos artigos junto com a utilização dos critérios de inclusão e exclusão 10 artigos foram selecionados para a composição da pesquisa, sendo 3 artigos da LILACS, 2 artigos da PUBMED, 5 artigos do SCIELO.
Figura 1: Processo de busca e seleção de artigos.
Fonte: Oliveira et al., 2021
Resultados
Após a seleção dos artigos frente os critérios de elegibilidade, selecionou-se 10 estudos para compor a amostra do trabalho final. Com relação ao tipo de estudo o estudo do tipo descritivo foi o maior, representando 50% da amostra. A respeito do ano de publicação os anos com maiores números de estudos foram os de 2016 e 2019 apresentando um quantitativo de 30% de artigos publicados em cada ano. A Tabela 1 abaixo mostra a síntese dos estudos segundo título, autor/ano de publicação e principais resultados.
Tabela 1: Distribuição dos artigos, segundo título, autor/ano de publicação e principais resultados
Título | Autores / Ano | Resultados |
Processo de enfermagem no centro de material e esterilização | GONÇALVES; SANTANA, 2016 | A importância do enfermeiro baseia-se no conhecimento; ele atua principalmente na coordenação supervisão) de outros enfermeiros e da equipe multiprofissional; atua na implantação da SAE. |
As percepções dos profissionais de enfermagem da central de material e esterilização: reflexão sobre a cultura organizacional | ANJOS; OLIVEIRA, 2016 | Alguns desafios comuns no setor é o desenvolvimento de conflitos na gestão do CME devido a identificação inadequada pelos profissionais; sendo característico a baixa satisfação dos enfermeiros frente ao CME. |
Central de materiais e esterilização na formação do enfermeiro: propostas de um manual de práticas. | HOYASHI et al.,2015 | Prevenção e controle de infecção relacionada ao material utilizado; Desafio: primariamente desconhecer o papel dele quando formado e atuante no setor. |
A importância do enfermeiro na central de material e esterilização | RODRIGUES et al., 2019 | Pouca valorização do enfermeiro no setor; Situações complexas exigindo conhecimentos científicos; atua na prevenção da infecção hospitalar. |
O processo da enfermagem na central de material de esterilização hospitalar visando a segurança do paciente. | SOUZA et al., 2018 | Prestação de uma assistência direta e indireta; Limpeza, desinfecção e esterilização dos artigos. |
Conhecimento do enfermeiro sobre o processo de trabalho na central de material e esterilização.
| SANTOS et al., 2019 | Desafio: enfermeiro não ser valorizado; É importante o desenvolvimento de educação permanente para capacitação da equipe; O enfermeiro atua no processamento de materiais direcionados a prevenção das iras. |
Centro de material e esterilização-foco na enfermagem.
| MARTINS et al., 2016 | O enfermeiro atua na coordenação do setor. elaboração de materiais estatísticos em relação a produtividade, planejar e fazer anualmente o orçamento do CME com antecedência de 04 a 06 meses. |
Perfil da equipe de enfermagem e percepções do trabalho realizado em uma central de materiais.
| BUGS et al., 2016 | Principal desafio enfrentado é o contato inicial com as funções onde muitos não tem conhecimentos depois de graduados. |
A atuação do enfermeiro frente às normas e rotinas relacionadas ao processamento de artigos na central de material e esterilização. | PEREIRA et al., 2019 | O enfermeiro trabalha desenvolvendo ações como: receber e preparar o material, lavagem dos artigos, inspeção e avaliação da integridade dos materiais. |
Estratégias que contribuem para a visibilidade do trabalho do enfermeiro na central de material e esterilização. | SANCHEZ et al., 2018 | Estratégias de educação permanente são importantes para o conhecimento do papel do enfermeiro no setor. |
Fonte: Oliveira et al., 2021
Discussão
Dentro da síntese de artigos foi encontrado diversos achados a respeito da assistência de enfermagem dentro do processo de gerenciamento na Central de Material e esterilização hospitalar. Sobre a principal função exercida pelo enfermeiro dentro do setor 60% dos artigos indicaram que sua principal função está direcionada a esterilização e desinfecção dos artigos hospitalares afim de prevenir as Infecções Ligadas a Assistência de Saúde (IRAS).
Esse achado, confirma a afirmação de um estudo feito por SOUZA et al., 2019, que afirma que a Central de Material de Esterilização possui uma trajetória que vem acompanhada aos processos cirúrgicos, a fim de proporcionar melhores condições das cirurgias e precauções pós-cirúrgicas. Esse setor visa principalmente a prevenção de infecções mesmo que indiretamente, através de normas e com bases cientificas, assegurando a segurança e qualidade na assistência junto com toda a equipe de enfermagem que possui um papel diversificado dentro da central de material e esterilização hospitalar (SOUZA et al., 2019).
Além disso, 20% dos artigos demonstraram que o enfermeiro tem um papel fundamental dentro da coordenação no CME, principalmente dentro da supervisão da esquipe multiprofissional que tem um papel fundamental dentro da rotina de ações desenvolvidas dentro do setor.
GONÇALVES e SANTANA, 2016 afirmam que o enfermeiro exerce atividades de enfermagem, onde lhe são reservadas funções privativas como, a direção do órgão de enfermagem; a chefia do serviço e da unidade de enfermagem; o planejamento, a organização, a coordenação, a execução e a avaliação dos serviços de assistência de enfermagem. No CME, desenvolve atividades voltadas para coordenação da unidade, administração do pessoal e atividades de caráter técnico-administrativa (GONÇALVES; SANTANA, 2016)
Ao todo, 40% dos artigos evidenciaram que o principal desafio do enfermeiro dentro do CME é a não valorização profissional direcionada a assistência seguida da sobrecarga de trabalho que o profissional muitas vezes é introduzido. Sanchez et al, 2018 afirma que os encargos exercidos pelo enfermeiro na CME por vezes são imperceptíveis. Mesmo sendo visto como significativo por outros profissionais, grande parte ignora a ampla gama de atividades desempenhadas pelo setor e a necessidade de conhecimento singular para atuação na área. Sendo importante o processo da educação permanente voltada às temáticas de processamento de materiais. À educação permanente desenvolve a capacidade do trabalhador para o aprender a aprender, para a tomada de consciência acerca de suas necessidades e aperfeiçoa as habilidades técnicas necessárias ao trabalho na CME (SANCHEZ et al., 2018)
Na síntese da conclusão dos artigos o enfoque maior dos artigos (60%) foi o direcionado a ressalva de que na literatura existem poucos estudos acerca da temática, sendo indispensável a produção de mais artigos científicos sobre a questão. Outrossim explicitado na conclusão foi a importância de uma abordagem maior da assistência de enfermagem dentro do CME na graduação afim de que o aluno tenha um conhecimento mais amplo sobre o setor, sendo fundamental também o processo de educação permanente afim de transmitir informações sobre o local de trabalho auxiliando na valorização do profissional que atua na área.
O conteúdo específico de CME, em algumas grades de Enfermagem, é abordado na disciplina de Centro Cirúrgico, entretanto esse ensino é insuficiente, sendo demasiadamente vago e curto, o que se transforma em empecilho, já que esse assunto deveria ser abordado de forma mais abrangente durante toda a graduação (LUCON SMR, et al., 2017).
Considerações Finais
Dessa forma, observa-se que o enfermeiro tem um papel fundamental dentro do gerenciamento de enfermagem na central de material e esterilização hospitalar, sendo este, responsável pela coordenação/ supervisão do mesmo. Porém, visto os desafios anteriormente citados é de extrema importância que exista uma abordagem maior da temática dentro de sala de aula a fim de fazer com que o assunto seja explanado de forma mais abrangente a funcionalidade que o enfermeiro pode desempenhar dentro do setor. Além disso, é de suma importância que exista o desenvolvimento de mais referencial teórico sobre a temática em específico, visto que muitos autores se detêm a falar muito sobre as generalidades do funcionamento do setor. Nesse contexto, através também do processo de educação permanente a respeito da temática a assistência de enfermagem dentro do processo de gerenciamento no CME terá uma abrangência maior.
Referências
ANJOS, M. A. M. dos; OLIVEIRA, J. C. de. As percepções dos profissionais de enfermagem da central de material e esterilização: uma reflexão sobre a cultura organizacional. Revista Acreditação, [s.l.], v. 6, n. 11, p. 1-9, 2016. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5602109. Acesso em: 2 maio 2022.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMEIROS DE CENTRO CIRÚRGICO, RECUPERAÇÃO ANESTÉSICA E CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO – SOBECC. São Paulo: Manole, 2013.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMEIROS DE CENTRO CIRÚRGICO, RECUPERAÇÃO ANESTÉSICA E CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO – SOBECC. Diretrizes de práticas em enfermagem cirúrgica e processamento de produtos para a saúde. 7. ed. Barueri: Manole; São Paulo: SOBECC, 2017.
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GIL, R. B. O processo de notificação da queixa técnica de material de consumo de uso hospitalar no contexto do gerenciamento de recursos materiais em um hospital universitário público. 2011. 149f. Dissertação. (Pós-Graduação em Enfermagem Fundamental) – Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto – SP, 2011. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22132/tde-29082011-150211/publico/RoseliBroggiGil.pdf. Acesso em: 2 maio 2022.
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LUCON, S. M. R.; BRACCIALLI, L. A. D.; PIROLO, S. M.; MUNHOZ, C. C. Formação do enfermeiro para atuar na central de esterilização. Revista SOBECC, [s. l.], v. 22, n. 2, p. 90-97, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.5327/Z1414-4425201700020006. Acesso em: 2 maio 2022.
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SOUZA, M. T. de; SILVA M. D. da; CARVALHO, R. de. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein, São Paulo, v. 8, n. 1 pt 1, p. 102-106, 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/eins/a/ZQTBkVJZqcWrTT34cXLjtBx/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 2 maio 2022.
SOUZA, V. M. S. de. et al. O processo de enfermagem na central de material de esterilização visando a segurança do paciente. Revista Saúde-UNG-Ser, [s.l.], v. 12, n. 1 (esp.), p. 31, 2018. Disponível em: http://revistas.ung.br/index.php/saude/article/view/3579. Acesso em: 2 maio 2022.
CAPÍTULO 3
ANÁLISE DOS FATORES QUE INTERFEREM NA BAIXA COBERTURA DO RASTREAMENTO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO NA ATENÇÃO BÁSICA
ANALYSIS OF FACTORS THAT INTERFERE WITH LOW COVERAGE OF CERVICAL CANCER SCREENING IN PRIMARY CARE
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.03
Submetido em: 22/04/2022
Revisado em: 21/05/2022
Publicado em: 15/05/2022
Anny Karoliny Barros de Araújo Pitanga
Universidade Paulista, Garanhuns-PE
http://lattes.cnpq.br/1530370534626421
Auristenia Kesia Ferreira Leitão
Universidade Paulista, Garanhuns-PE
http://lattes.cnpq.br/2627071706887078
Milena Tenório Pires
Universidade Paulista, Garanhuns-PE
http://lattes.cnpq.br/7557710261593839
Juliana Ferreira de Souza
Universidade Paulista, Garanhuns-PE
http://lattes.cnpq.br/5282395009514052
Gleide Mariana Veloso de Oliveira
Universidade Paulista, Garanhuns-PE
http://lattes.cnpq.br/5212993575984111
Januzilla Amaral
Enfermeira, Especialista em Gestão em Enfermagem, Docente da Universidade Paulista, Garanhuns- PE
http://lattes.cnpq.br/4203163300676283
Resumo
O Câncer de Colo de Útero (CCU) é considerado um problema de saúde pública e se configura como uma replicação das células de forma desordenada, podendo invadir estruturas e órgãos. Com isso, pode-se ter o desenvolvimento da neoplasia, apresentando-se em graus de intensidade variáveis. Analisar os fatores que interferem na baixa cobertura do rastreio do câncer de colo de útero na atenção básica. Trata-se de uma pesquisa do tipo Revisão Integrativa. A busca foi realizada nas bases de dados Online: SCIELO e BVS. Utilizando de descritores conforme vocabulário DeCS, associando o operador booleano “AND”: Câncer de colo de útero, Atenção Básica, Rastreamento, Cobertura. Considerou-se como critérios de inclusão: Periódicos disponíveis na íntegra publicados nos últimos cinco anos. Critérios de exclusão: Duplicidade nas bases de dados. A relação do conhecimento relatado neste trabalho se deu pela inclusão e análise de 09 artigos, que foi evidenciado que a baixa cobertura para o rastreamento do CCU se dá por causas multifatoriais: medo, vergonha, desinformação, grau de escolaridade, não possuir companheiro, mulheres com idade superior a 50 anos, histórico de uso de álcool e outras drogas e difícil acesso a unidade básica. A partir desses achados é notória a necessidade da criação de estratégias que aproximem mais essas mulheres da atenção básica e que as mesmas realizem o exame ao menos uma vez ao ano, logo, cabe à equipe atrair essa população, estimulando o cuidado compartilhado e havendo a necessidade de um trabalho contínuo e humanitário.
Palavras-chave: Câncer de colo de útero. Atenção Básica. Rastreamento. Cobertura.
Abstract
Cervical Cancer is considered a public health problem and is configured as a disordered replication of cells, which can invade structures and organs. With this, one can have the development of the neoplasm, presenting itself in varying degrees of intensity. To analyze the factors that interfere in the low coverage of cervical cancer screening in primary care. This is an integrative review type research. The search was carried out in the Online databases: SCIELO and VHL. Using descriptors according to DeCS vocabulary, associating the Boolean operator “AND”: Cervical Cancer, Primary Care, Tracking, Coverage. The following inclusion criteria were considered: Journals available in full published in the last five years. Exclusion criteria: Duplicity in the databases. The relationship of knowledge reported in this work was based on the inclusion and analysis of 09 articles, which showed that the low coverage for screening is due to multiple factors: fear, shame, misinformation, level of education, not having a partner, women over age 50 years old, history of alcohol and other drug use and difficult access to a basic unit. Based on these findings, the need to create strategies that bring these women closer to primary care is evident and that they undergo the exam at least once a year, so it is up to the team to attract this population, stimulating shared care and having the need for continuous and humanitarian work.
Keywords: Cervical cancer. Basic Attention. Tracking. Roof.
Introdução
O Câncer de Colo de Útero (CCU) é considerado um problema de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento, devido a sua maior incidência ocorrer em classes economicamente desfavorecidas. Atualmente, é considerado o terceiro segundo mais frequente entre a população feminina, o que o torna prioridade a prevenção e controle do mesmo, através da política de atenção a saúde da mulher (LOPES; RIBEIRO, 2019).
No Brasil o CCU ocupa a terceira posição entre as neoplasias malignas que afetam mulheres, ficando atrás somente do câncer de mama e câncer colorretal, a estimativa de novos casos para os anos consecutivos de 2018-2019 são de 16.370mil (BRASIL, 2018). Já a mortalidade segundo o Instituto Nacional do Câncer ( INCA) aumenta progressivamente após os 40 anos de idade com grande diferença entre as regiões brasileiras.
O grande número de casos pode estar associado ao fato dessa patologia ter desenvolvimento silencioso e de lenta progressão. A maior ocorrência de mulheres com câncer de colo de útero está entre a faixa etária de 30 a 39 anos. O início precoce da vida sexual pode ser classificado como uma das causas para o desenvolvimento desse câncer, além da quantidade de parceiros (AOYAMA et al., 2019).
O CCU se configura como uma replicação das células do colo uterino de forma altamente desordenada, podendo invadir estruturas e órgãos próximos ou mais distantes. Com isso, pode-se ter o desenvolvimento da neoplasia, apresentando-se em graus de intensidade variáveis, desde lesões benignas até carcinomas invasores (AZEVEDO; DALLORTO, 2021).
O principal fator de risco para o surgimento dessa doença é o contato com o Papilomavírus Humano (HPV), que infecta pele, sendo transmitido através das relações sexuais, mas também existirão outros fatores ambientais e genéticos que irão favorecer o aparecimento do câncer (SILVA et al., 2020).
O papilomavírus humano (HPV), membro da família papovavirida, é uma das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) mais frequentes no mundo, composto por cerca de 100 tipos de vírus, sendo classificados de baixo grau os tipos não oncogênicos e de alto grau os tipos oncogênicos (ALMEIDA et al., 2021).
Em 2014, o Ministério da Saúde (MS), por meio do Programa Nacional de Imunização (PNI), iniciou a campanha para vacinação de meninas entre 11 e 13 anos, contra o vírus do HPV (INCA, 2020). A vacina contribuirá para a prevenção do câncer de colo do útero e apesar do programa de rastreamento deste tipo de câncer ter sido implantado em todo o país, ainda existem muitos desafios para se reduzir a incidência e mortalidade pela doença.
O método preconizado para rastreamento é através da coleta de citologia oncótica, que possibilita prevenção e tratamento precoce quando a doença é identificada. Assim, o reconhecimento de fatores que podem facilitar o desenvolvimento do câncer é importante, pois permite orientar e conscientizar a população, bem como a realização do exame, que fornece dados para as decisões clínicas e terapêuticas (SILVA et al., 2018).
O exame citopatológico foi implantado no Brasil em 1940, e é o único meio recomendado para rastreamento, sendo de baixo custo, com facilidade para realização na atenção básica, podendo detectar alterações e, com isso, realizar o tratamento adequado (SANTOS, 2018).
Dessa maneira, a Atenção Básica (AB) tem conferido foco e destaque como um lugar privilegiado ao incluir na sua prática a articulação entre a prevenção e a promoção da saúde, por meio da expansão e qualificação dos serviços prestados, gerando um cenário favorável e preventivo (AZEVEDO et al., 2021).
Assim sendo, é importante que os profissionais da atenção básica identifiquem os fatores que acarretam a diminuição da procura para realização do exame, para, então, realizar ações para mudar tal realidade. Com isso, é de fundamental importância analisar tais fatores, de modo a contribuir para uma assistência adequada (IGLESIAS et al., 2019).
Para isso, meios de rastreamento são considerados fundamentais para que se tenha um controle e rastreamento eficaz, são nesse sentido que o exame é ofertado às mulheres com idade entre 25 e 64 anos que já tiveram atividade sexual, respeitando as demais recomendações para rastreio (GASPARIN et al., 2020).
A priorização desta faixa etária justifica-se por ser a de maior ocorrência das lesões de alto grau, passíveis de serem tratadas efetivamente para não evoluírem para o câncer, mas é importante destacar que a priorização de uma faixa etária não significa a impossibilidade da oferta do exame para as mulheres mais jovens ou mais velhas (BRASIL, 2013).
Diante do exposto, o presente estudo objetiva analisar os fatores que interferem na baixa cobertura do rastreio do câncer de colo de útero na atenção básica.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa do tipo Revisão de Literatura, que consiste em uma metodologia que proporciona a síntese do conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos, na qual orientam a tomada de decisão na prática clínica. Sendo assim, permite agrupar e resumir resultados de pesquisas sobre o tema delimitado, de forma sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento, além de poder incluir estudos experimentais e não experimentais (SOUSA; SILVA; CARVALHO, 2010).
A pergunta elaborada como questão norteadora dessa revisão, foi: “Quais os fatores que dificultam a baixa cobertura no rastreio do câncer de colo de útero na atenção básica?”.
Para realizar a seleção dos estudos, foram utilizados os sistemas de bases de dados importantes no contexto da saúde, e por meio do acesso online, foram utilizadas as seguintes bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Utilizando de descritores conforme vocabulário DeCS (Descritores em Ciências da Saúde): Câncer de colo de útero, Atenção Básica, Rastreamento, Cobertura.
Com base nisso, houve a criação das seguintes estratégias de busca utilizando o operador booleano “AND”: I. “Câncer de colo de útero AND Rastreamento”; II. “Atenção básica AND Cobertura”; III. “Câncer de colo de útero AND Cobertura”.
Os critérios de inclusão determinantes para a seleção dos artigos foram: periódicos disponíveis na íntegra e gratuita no idioma português e espanhol, com recorte temporal dos últimos 05 anos (2018 a 2022), leitura do título, leitura do resumo, leitura do artigo de forma completa, além de manuais e políticas do Ministério da Saúde (MS). Quanto aos critérios de exclusão foram: artigos duplicados, triplicados e/ou em ambas as bases de dados, aqueles que não contemplaram em sua integralidade a questão norteadora.
Na busca por meio dos descritores mencionados, foram localizados 62 artigos. Sendo, 34 do Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e 28 da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). As informações detalhadas foram apresentadas no fluxograma abaixo.
Figura 1: Fluxograma de trabalho para seleção dos artigos.
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2022.
Resultados e Discussão
Os resultados obtidos com a análise dos estudos evidenciaram que 34% das pesquisas são do tipo estudo transversal, 22% do tipo exploratório, descritivo com abordagem qualitativa-quantitativa, 22% revisão integrativa e 22% estudo de campo. A relação do conhecimento relatado neste trabalho se deu pela inclusão e análise de 09 artigos que abordavam o tema de forma ampla.
Com o propósito de obter uma seleção concisa para análise integral, foram aplicados os critérios de seleção, verificação dos trabalhos duplicados, triplicados e/ou presentes em mais de uma base de dados. Baseado no quadro sinóptico dos estudos analisados obteve-se o detalhamento dos estudos por ano de publicação, título, autores e objetivo do estudo.
ANO | TÍTULO | AUTORES | OBJETIVO |
2022 | Fatores referentes à baixa adesão ao exame citopatológico do colo do útero em uma cidade do noroeste paulista. | SALLES, F. D. M; et al. | Compreender os aspectos que englobam a não adesão ao exame citopatológico do colo do útero em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de uma cidade do noroeste paulista. |
2021 | Identificação dos fatores que interferem na baixa cobertura do rastreio do câncer de colo uterino através das representações sociais de usuárias dos serviços públicos. | GARCIA, M; et al. | Identificar os fatores que interferem na baixa cobertura do rastreio do câncer de colo uterino através das representações sociais de usuárias dos serviços públicos, dando enfoque aos principais motivos da não realização do exame citopatológico em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município de Colatina- ES. |
2021 | Fatores que interferem na não adesão de mulheres ao teste de Papanicolau: revisão integrativa. | GOMES. D. S; et al. | Identificar os fatores que interferem na não adesão de mulheres ao Teste de Papanicolau. |
2021 | Rastreio e associações ao câncer cervical. | MELADO, A. S. S. G; et al. | Traçar o perfil clínico-epidemiológico das usuárias do serviço de atenção integral à saúde da mulher da policlínica da Universidade Vila Velha (UVV), a partir dos determinantes da consulta ginecológica, e correlacionar aos achados citológicos e histológicos. |
2021 | Fatores individuais e contextuais associados ao rastreamento do câncer de mama e colo do útero. | TIENSOLI, S. D; et al. | Analisar a associação dos fatores individuais e contextuais com o rastreamento do câncer de mama e colo do útero no Brasil. |
2020 | Monitoramento das ações de controle do câncer cervicouterino e fatores associados. | ANJOS, E. F; et al. | analisar fatores associados ao monitoramento das ações para controle do câncer cervicouterino na Estratégia Saúde da Família, em região de saúde do Nordeste brasileiro. |
2019 | Ações de gestão em saúde na prevenção do câncer de colo uterino: revisão bibliográfica. | SCHMIDT, M. K. W. | Descrever quais são as ações de gestão em saúde na atenção primária que têm contribuído para o aumento da cobertura do exame citopatológico no Brasil. |
2018 | O Câncer do Colo do Útero: Um Rastreamento nos sistemas de informações. | JUNIOR, J. B; et al. | Avaliar os indicadores relacionados ao exame citopatológico do câncer do colo do útero no Município de Icó Ceara, no período de 2011 a 2014. |
2018 | Não realização de citopatológico de colo uterino entre gestantes no extremo sul do Brasil: prevalência e fatores associados. | TERLAN, R. J; CESAR, J. A. | Medir a prevalência e identificar fatores associados a não realização de exame citopatológico de colo uterino entre gestantes que fizeram pelo menos uma consulta de pré-natal, que possuíam 25 anos ou mais de idade e que tiveram filho no município de Rio Grande, RS, ao longo do ano de 2013. |
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2022.
As políticas de prevenção do câncer de colo uterino, nas quais o rastreio está incluído e sustentado como ação crucial no contexto do enfrentamento dessas doenças no país ainda é considerado um grande desafio, pois necessita de uma implementação de um rastreamento organizado e estratégico (TIENSOLI, 2021).
De acordo com Garcia (2021), em sua análise de discurso, a baixa cobertura para o rastreamento do CCU se dá por três fatores: medo da dor durante a coleta e/ou de um resultado indesejável, vergonha em ter que mostrar o corpo para uma pessoa desconhecida e a desinformação acerca da importância da realização do exame.
Os profissionais atuantes diretamente com esse público devem procurar formas de minimizar e tranquilizar a mulher quanto à procura e oferta desse exame, buscando deixar a mesma em uma situação confortável, esclarecendo as dúvidas que forem surgidas e sempre que necessário reforçar a esse público que o exame citopatológico é de extrema relevância, pois além de rastrear o câncer de colo de útero ainda pode identificar infecções que são tratadas.
No estudo de Gomes (2021), ele reforça que os principais motivos para a não realização do exame corroborando numa baixa cobertura, referem-se aos aspectos de baixa escolaridade, não possuir companheiro, mulheres com idade superior a 50 anos, histórico de uso de tabaco, álcool e outras drogas, difícil acesso a unidade básica de saúde, acreditar estar bem de saúde, comportamento negativo de saúde, sofrer violência física ou sexualmente pelo companheiro, falta de conhecimento sobre o exame, nunca ter ido ou ir pouco a consulta de enfermagem/médica/ginecológica.
Visto que é necessário ampliar a cobertura para atingir objetivos que são determinados pelo ministério da saúde através do previne Brasil, é fundamental ter conhecimento acerca dos motivos que estão prejudicando essa baixa adesão ao exame, cabendo à equipe atuante da atenção básica buscar fortalecer o vínculo com as usuárias e propor espaços nos quais estas mulheres se sintam acolhidas e confiantes.
Segundo SCHMIDT (2019), programas de rastreio da população-alvo são de atribuição da atenção primária, e quando realizado tratamento precoce das lesões precursoras podem reduzir em até 80% a mortalidade pelo câncer de colo uterino. Para tanto, a cobertura mínima deve atingir 80% da população vulnerável e seguir os protocolos preconizados de realização do exame citopatológico, o que torna um desafio para a equipe que deve estar sempre realizando uma busca ativa desse público.
Contudo, Anjos et al (2020), relata em seu estudo que altas coberturas registradas na atenção básica e a oferta regular de rastreamento do CCU não são suficientes para a adesão das mulheres aos programas de prevenção, em decorrência das representações culturais, da baixa condição socioeconômica e tabus que continuam sendo expostos.
O mesmo autor afirma ainda, que as formas de divulgação da marcação de exame citopatológico, esclarecimentos sobre a realização do procedimento, apresentação do material que é utilizado e profissionais que formam vínculos com as mulheres são um conjunto de fatores determinantes para uma boa adesão ao rastreamento.
Corroborando com os estudos acima, SALLES (2022), em seu estudo de campo, deixa evidente que existe falta de humanização e autocuidado para as mulheres, na qual a maioria dos profissionais se atentam somente a parte técnica/prática do exame, o autor descreve a ideia da necessidade de ampliação de campanhas que objetivam aumentar a adesão ao exame, bem como criar canais de comunicação e espaços para que elas tirem suas dúvidas e exponham seus medos e angústias. Para isso, é necessário que os profissionais de saúde utilizem estratégias que facilitem a compreensão e a comunicação mais assertiva desmistificando os preconceitos acerca do exame exposto.
Considerações Finais
Diante do que foi mencionado, o câncer de colo uterino é considerado um agravante problema de saúde pública e para um diagnóstico precoce é necessário à realização do exame Papanicolau/preventivo, como é conhecido pela maioria das usuárias. O CCU quando é diagnosticado em sua fase inicial as chances de cura é em quase 100%, por isso é necessário o rastreamento e realização do exame em periodicidades estabelecidas, essa é uma estratégia adotada pelo ministério da saúde ofertado para todas as mulheres que fazem parte desse grupo prioritário.
Dessa forma, de acordo com os estudos que constituíram essa revisão, alguns fatores existirão para uma baixa cobertura na realização de citologia oncótica na atenção básica, como: o grau de escolaridade, déficit de conhecimento sobre a importância do exame, medo, vergonha, realização de uma busca ativa dos profissionais, acolhimento, difícil acesso a unidade e mulheres com idade superior a 50 anos.
A partir desses achados é notória a necessidade da criação de estratégias que aproximem mais essas mulheres da atenção básica e que as mesmas realizem o exame ao menos uma vez ao ano. Logo, cabe à equipe atuante atrair essa população para a unidade, estimulando o cuidado compartilhado para melhoraria da saúde da mulher e havendo a necessidade de um trabalho contínuo e humanitário.
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CAPÍTULO 4
APLICAÇÃO DO MODELO OUTCOME PRESENT STATE TEST EM PACIENTE COM FRATURA DE MEMBRO INFERIOR DIREITO
APPLICATION OF THE OUTCOME PRESENT STATE TEST MODEL IN PATIENT WITH RIGHT LOWER LIMB FRACTURE
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.04
Submetido em: 15/12/2021
Revisado em: 16/01/2022
Publicado em: 15/02/2022
João Rafael da Silva Fonseca
Universidade Federal do Piauí
Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – PI.
http://lattes.cnpq.br/4791314107234385
Raiara Pedrosa Vieira
Universidade Federal do Piauí
Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – PI.
http://lattes.cnpq.br/9117171712764909
Milena Leite Veloso
Universidade Federal do Piauí
Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – PI.
http://lattes.cnpq.br/9174537943610630
Lara Karine Lima Sousa
Universidade Federal do Piauí
Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – PI.
http://lattes.cnpq.br/4216189819457766
Rayla Lucia de Almeida Hipólito
Universidade Federal do Piauí
Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – PI.
http://lattes.cnpq.br/7651396546400754
Francisca Rosana Gonçalves Mota
Universidade Federal do Piauí
Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – PI.
http://lattes.cnpq.br/7586970144147937
Leonilia Sousa Alencar Borges
Universidade Federal do Piauí
Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – PI.
http://lattes.cnpq.br/6118517238142742
Sara Gonçalves de Sousa
Universidade Federal do Piauí
Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – PI.
http://lattes.cnpq.br/4592120995117515
Francisco Gilberto Fernandes Pereira
Universidade Federal do Piauí
Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – PI.
http://lattes.cnpq.br/6018178640473155
Resumo
O processo de enfermagem é o elemento norteador do plano de cuidados a pessoas em tratamento cirúrgico, e portanto, é indispensável utilizar referenciais que sistematizem a assistência. Objetivou-se identificar, por meio do modelo de raciocínio clínico Outcome Present State Test (OPT), os diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem centrais para um paciente com fratura de membro inferior direito em uso de fixador. Trata-se de um estudo de caso realizado em uma unidade de cuidados cirúrgicos. A coleta de dados consistiu na identificação e caracterização do paciente, antecedentes clínicos, anamnese e exame físico. Os diagnósticos, resultados e intervenções foram realizados com o uso de sistemas padronizados de linguagem NANDA-I, Nursing Outcomes Classification (NOC) e Nursing Interventions Classification (NIC). O diagnóstico central foi mobilidade física prejudicada. Os resultados e as intervenções escolhidos foram relacionados ao desempenho da mecânica corporal; equilíbrio; locomoção; mobilidade; movimento coordenado; autocuidado: atividades da vida diária; comportamento de prevenção de quedas; conhecimento: atividade prescrita e movimento articular. Conclui-se que a utilização do modelo OPT auxiliou na identificação das principais necessidades do paciente e norteou o planejamento da assistência com base nas prioridades do cuidado.
Palavras-Chave: Processo de enfermagem. Fraturas ósseas. Cuidados de Enfermagem.
Abstract
The nursing process is the guiding element of the care plan for people undergoing surgical treatment, and therefore, it is essential to use references that systematize care. The objective was to identify, through the Outcome Present State Test (OPT) clinical reasoning model, the central nursing diagnoses, outcomes and interventions for a patient with a right lower limb fracture using a fixator. This is a case study carried out in a surgical care unit. Data collection consisted of patient identification and characterization, clinical history, anamnesis and physical examination. Diagnoses, outcomes and interventions were performed using standardized NANDA-I language systems, Nursing Outcomes Classification (NOC) and Nursing Interventions Classification (NIC). The central diagnosis was impaired physical mobility. The results and interventions chosen were related to the performance of body mechanics; balance; locomotion; mobility; coordinated movement; self-care: activities of daily living; fall prevention behavior; knowledge: prescribed activity and joint movement. It is concluded that the use of the OPT model helped to identify the main needs of the patient and guided the planning of care based on care priorities.
Keywords: Nursing process. Fractures, bone. Nursing care.
Introdução
O Outcome Present State Test Model (OPT) é um modelo de processo de enfermagem de terceira geração que fornece uma estrutura para conceituar e organizar o processo de raciocínio clínico, contrastando as relações entre o problema do paciente e os estados de resultado esperados, visando em sua finalidade fornecer um guia para a solução desses problemas (PESUT; HERMAN, 1999) (KUIPER; PESUT, KAUTZ, 2009).
Ao usar o modelo OPT, a história do cliente serve como base para um problema complexo e incerto, sendo o estímulo para o raciocínio clínico. A história de um cliente é influenciada pela avaliação do enfermeiro, pelo enquadramento da situação e pelo significado que é dado aos sinais, sintomas, pistas e conceitos relacionados com a situação do paciente (KUIPER; PESUT, KAUTZ, 2009).
À medida que o raciocínio clínico é desenvolvido, as relações entre os problemas e as necessidades de cuidados de enfermagem são identificadas através de um mapa de associação entre os diagnósticos de enfermagem, e ao traçar essas associações, são observados como os diagnósticos estão relacionados entre si. Consequentemente, o diagnóstico de enfermagem com mais “conexões” surge como problema prioritário, e este problema central, uma vez identificado, é a base para definir o estado atual do cliente, que é contrastado com um estado de resultado desejado (KUIPER; PESUT, KAUTZ, 2009).
O método OPT vem se tornando uma grande ferramenta no direcionamento do planejamento das ações de assistência de enfermagem e na estimulação do raciocínio clínicos de estudantes e profissionais de enfermagem.
Em um estudo recente (SEO; EOM, 2021) que avaliou o efeito de um programa de simulação de educação em enfermagem em termos de raciocínio clínico, processo de resolução de problemas, autoeficácia e competência clínica usando o modelo Outcome Present State Test (OPT) em estudantes de enfermagem, os resultados apontaram que houve uma melhora significativa no raciocínio clínico, processo de resolução de problemas e autoeficácia no grupo experimental quando em comparação ao grupo controle. Além disso, o grupo experimental apresentou escores significativamente mais altos em competência clínica do que o grupo controle, demonstrando que o programa de simulação de ensino de enfermagem usando o modelo OPT para alunos de graduação é muito eficaz na promoção dessas competências.
Dessa forma, a utilização do método OPT pode direcionar de forma mais efetiva o planejamento da assistência de enfermagem, representando uma estratégia para ser implementada em cenários práticos para que, de fato, os enfermeiros e estudantes possam utilizar o processo de enfermagem como norteador do cuidado ao paciente (GONÇALVES; POMPEO, 2016).
Assim, a finalidade do presente estudo é identificar, por meio do modelo de raciocínio clínico OPT, os diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem centrais para um paciente com fratura de membro inferior direito em uso de fixador.
Metodologia
Estudo de caso clínico realizado em uma enfermaria de internação do setor de cirurgia de uma instituição hospitalar regional do interior do estado do Piauí. O hospital é uma instituição regional pública de médio porte, pactuado com a Universidade Federal do Piauí – UFPI, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, para o desenvolvimento de prática de atividades acadêmicas dos cursos da saúde da instituição, sendo eles: Enfermagem, Medicina e Nutrição.
O paciente foco desse estudo foi selecionado durante as atividades práticas da disciplina “Prática de Enfermagem nas Cirurgias e Emergências” do curso Bacharelado em Enfermagem da instituição de ensino supracitada, e a coleta de dados foi realizada durante os meses de outubro e novembro de 2021.
Os dados coletados consistem nos itens: identificação e caracterização do paciente; dados clínicos (antecedentes pessoais e familiares, diagnóstico médico); anamnese e exame físico direcionado para a avaliação das respostas humanas de pacientes com complicações de fratura de membro inferior em uso de fixador, estruturado nos domínios da NANDA-I (HERDMAN; KAMITSURU, 2018). Foram utilizados a entrevista, observação e exame físico do paciente, bem como registros médicos e de enfermagem.
O processo de raciocínio diagnóstico foi realizado por meio do modelo Outcome Present State Test (OPT), considerando-se as fases: história do paciente (coleta de dados); lógica da pista (avaliação das relações entre os diagnósticos de enfermagem, com base no pensamento sistêmico e de síntese); estado atual (situação real do paciente no momento); estado do resultado (resultados esperados); teste (seleção dos indicadores de resultados); tomada de decisão (escolha das intervenções); e julgamento (avaliação) (PESUT; HERMAN, 1988).
Os diagnósticos de enfermagem foram descritos por meio do sistema padronizado de linguagem da NANDA-I (HERDMAN; KAMITSURU, 2018), os resultados pela Nursing Outcomes Classification (NOC) (MOORHEAD et al., 2016) e as intervenções pela Nursing Intervention Classification (NIC) (BULECHECK et al., 2016), respectivamente. Destaca-se que a coleta de dados e os diagnósticos de enfermagem foram realizados por graduandos em Enfermagem sob supervisão do professor orientador e seguindo os princípios dos sistemas de linguagem padronizados NANDA-I, NIC e NOC. Os resultados, indicadores e intervenções foram realizados pelos graduandos de forma conjunta, sendo posteriormente discutidos com o orientador.
O caso clínico apresentado neste estudo é do Sr. Maurício (nome fictício), internado na unidade de enfermaria cirúrgica para tratamento de processo infeccioso em local de inserção de fixador para fratura de membro inferior.
Maurício, sexo masculino, 58 anos, agricultor, casado, sem histórico de doenças crônicas e sem alergias conhecidas. Deu entrada na emergência da instituição hospitalar, na cidade de Picos-PI no dia 27/10/2021 com queixas de dores e infecção em local de inserção de fixador em MID com formação de bolha. Admitido para internação na enfermaria da instituição no mesmo dia com o diagnóstico de pseudoartrose infectada de MID. Possui fixador externo no MID, aguardando procedimento cirúrgico para retirada. Relata dois procedimentos cirúrgicos anteriores na mesma região, a primeira no dia 29/09/2020 para osteossíntese de MID devido evento de trauma automobilístico e a segunda intervenção no dia 17/04/2021 para nova osteossíntese e inserção de fixador na mesma região devido evento de queda em banheiro levando a nova fratura no membro. Após a segunda intervenção cirúrgica, o paciente relata que o local de inserção do fixador infeccionou criando uma bolha e que qualquer esforço leva a formação de hemorragia no local. Refere dores no calcanhar, que amenizam apenas com uso de analgésicos. Alimenta-se bem, refere sono e repouso insatisfatórios. Após o evento traumático de queda que levou a segunda intervenção cirúrgica, o paciente relata que desde então sente grande medo de cair novamente, e que essa situação tem afetado seu repouso, devido o medo de cair do leito durante o sono. Apresenta AVP com infusão de SF 0.9% no MSE, eliminações intestinais e vesicais fisiológicas, deambulando com auxílio de muleta, curativo na bolha próximo as bases do fixador.
No dia 29/10/2021, as 09:00 hrs, o paciente se encontrava no 3º DIH, aguardando procedimento cirúrgico para abordagem da pseudoartrose infectada de MID, com fixador externo. Evoluindo consciente, orientado, eupneico, normocárdico normocorado, deambulando com auxílio de muletas. Pupilas isocóricas e fotorreativas, dieta VO com aceitação, relata sono e repouso insatisfatórios. Referindo dor e parestesia na região calcânea, MID edemaciado. Seguia em soroterapia em AVP no MSE. Eliminações fisiológicas presentes. Foi realizada limpeza e troca de curativos com técnica asséptica com SF 0,9% e povidine na inserção dos fixadores no MID. SSVV: T: 36,1ºC; PA: 130 x 70 mmHg; FC: 74 bpm; FR: 20 rpm.
Resultados e Discussão
Para o acompanhamento do caso, o profissional enfermeiro, após a coleta de dados, deve elaborar a lógica da pista. Isso possibilita que o enfermeiro identifique o problema de maior relevância naquele momento do paciente, sendo este representado pelo diagnóstico central, ou seja, aquele que se relaciona aos demais diagnósticos de enfermagem.
Desse modo, para resolução do caso do Sr. Maurício, os diagnósticos centrais identificados, por ordem de prioridade, foram: mobilidade física prejudicada; integridade da pele prejudicada; e dor aguda. A figura 1 apresenta a representação dos diagnósticos de enfermagem considerados para o caso clínico, suas conexões e diagnósticos de enfermagem centrais.
Figura 1: Representação dos diagnósticos de enfermagem considerados para o caso clínico, suas conexões e diagnósticos de enfermagem centrais. Picos, Piauí, 2021.
Fonte: Elaborado pelos autores.
O estado atual é a etapa em que o enfermeiro descreve os enunciados diagnósticos, acompanhados dos fatores relacionados ou de riscos e características definidoras.
Nesse sentido, o estado atual do Sr. Maurício é descrito da seguinte forma (HERDMAN; KAMITSURU, 2018):
- Mobilidade física prejudicada (00085), relacionada a controle muscular diminuído, prejuízo musculoesquelético e dor, evidenciado por redução na amplitude dos movimentos e alteração na marcha;
- Risco de perfusão tissular periférica ineficaz (00228), relacionada a trauma e conhecimento insuficiente sobre o processo da doença;
- Medo (00148), relacionado a reação aprendida a uma ameaça, evidenciado por estado de alerta aumentado, foco direcionado para a fonte do medo e sensação de medo;
- Risco de queda (00155), relacionado a equilíbrio prejudicado, evidenciado por dificuldades na marcha e mobilidade prejudicada;
- Distúrbio no padrão de sono (00198), relacionado à barreira ambiental e padrão de sono não restaurados, evidenciado por dificuldade para manter o sono, insatisfação com o sono e não se sentir descansado;
- Deambulação prejudicada (00088), relacionada a prejuízo musculoesquelético, evidenciado por dor e medo de quedas;
- Dor aguda (00132), relacionada a agente físico lesivo, evidenciado por alteração no parâmetro fisiológico, expressão facial de dor, autorrelato da intensidade usando escala padronizada da dor e posição para aliviar a dor;
- Risco de infecção (00004), relacionado a procedimento invasivo e alteração na integridade da pele;
- Integridade da pele prejudicada (00046), relacionada à circulação prejudicada, evidenciado por alteração na integridade da pele, sangramentos e dor aguda.
Mobilidade física prejudicada é o principal diagnóstico central, pois dele parte a maior parte das flechas, indicando que, devido a ele, outros diagnósticos se fazem presentes.
A limitação no movimento independente e voluntário de uma das extremidades está relacionada ao diagnóstico secundário risco de perfusão tissular periférica ineficaz, onde pode haver uma redução da circulação sanguínea para a periferia devido à restrição do movimento no membro, podendo vir a comprometer a saúde do paciente.
De acordo com Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (BRASIL, 2021), a trombose que pode ocorrer após uma cirurgia ortopédica é geralmente localizada nas pernas, provocando entupimento da veia, causando dor e inchaço. Às vezes coágulos podem se soltar, viajando pelo sangue até ‘encalhar’ no pulmão, o que é chamado de embolia pulmonar. Essa condição, que provoca uma súbita falta de ar, pode ser bastante grave e exige atendimento imediato.
Os pacientes submetidos a cirurgias de joelho, quadril e trauma (como fraturas) são os principais grupos de risco. A trombose que pode ocorrer após uma cirurgia ortopédica é geralmente localizada nas pernas, provocando entupimento da veia, causando dor e inchaço (BRASIL, 2021).
Os diagnósticos medo, risco de queda e deambulação prejudicada também são secundários já que ocorrem em consequência à mobilidade física prejudicada do membro afetado. O Sr. Maurício já sofreu uma queda após a primeira cirurgia, onde foi o motivo da sua segunda internação, o medo constante que o episódio venha acontecer novamente está comprometendo a qualidade do sono e o seu bem-estar.
Risco de infeção e dor aguda recebem flechas de integridade da pele prejudicada, indicando, portanto, que se a integridade da pele for reestabelecida os resultados esperados dos diagnósticos secundários serão positivos.
Foram descritos os resultados e, posteriormente, as intervenções apenas para o principal diagnóstico de enfermagem do Sr. Maurício: mobilidade física prejudicada (HERDMAN; KAMITSURU, 2018).
Os resultados identificados foram: desempenho da mecânica corporal (1616); equilíbrio (0202); locomoção (0200); mobilidade (0208); movimento coordenado (0212); autocuidado: atividades da vida diária (AVD) (0300); comportamento de prevenção de quedas (1909); conhecimento: atividade prescrita (1811) e movimento articular (0206) (MOORHEAD et al., 2016).
Enfermeiros devem analisar os resultados dos pacientes antes e depois das intervenções. Isso permite que ele avalie a evolução da condição de saúde de seus pacientes com o passar do tempo.
Em seguida, inicia a fase teste, onde o enfermeiro identifica os indicadores que sustentam os resultados de enfermagem. Mobilidade foi um resultado selecionado para o Sr. Maurício. Há 12 indicadores que avaliam o progresso desse resultado. O enfermeiro deve selecionar os indicadores pertinentes ao seu paciente e classificá-los dentro do nível um a cinco, sendo que um representa o estado, comportamento ou percepção menos desejável e o cinco o mais desejável. Indicadores pertinentes ao quadro clínico do Sr. Maurício são: equilíbrio, coordenação, marcha, movimento das articulações e movimentos realizados com facilidade (Quadro 1).
No resultado desempenho da mecânica corporal (Quadro 2) há 12 indicadores, onde, o uso de postura em pé correta, uso de postura sentada correta, uso de postura deitada correta, manutenção da força muscular e uso da mecânica corporal correta, são pertinentes ao caso clínico.
Quadro 1: Resultado mobilidade e seus indicadores. Picos, Piauí, 2021.
Mobilidade (0208) | |||
Indicadores | Estado atual (29/10/2021) | Estado desejado | |
020801 | Equilíbrio | 3* | 5** (10/11/2021) |
020809 | Coordenação | 3 | 5 (10/11/2021) |
020810 | Marcha | 3 | 5 (10/11/2021) |
020804 | Movimento das articulações | 3 | 5 (06/11/2021) |
020814 | Movimentos realizados com facilidade | 3 | 5 (15/11/2021) |
*3. Moderadamente comprometido; **5. Não comprometido.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Quadro 2: Resultado desempenho da mecânica corporal e seus indicadores. Picos, Piauí, 2021.
Desempenho da mecânica corporal (1616) | |||
Indicadores | Estado atual (29/10/2021) | Estado desejado | |
161601 | Uso de postura em pé correta | 3* | 5** (05/11/2021) |
161602 | Uso de postura sentada correta | 3 | 5 (05/11/2021) |
161603 | Uso de postura deitada correta | 3 | 5 (05/11/2021) |
161613 | Manutenção da força muscular | 3 | 5 (15/11/2021) |
161615 | Uso da mecânica corporal correta | 3 | 5 (15/11/2021) |
*3. Algumas vezes demonstrado; **5. Consistentemente demonstrado.
Fonte: Elaborado pelos autores.
A seguir, destacam-se os demais resultados e seus indicadores para o diagnóstico de mobilidade física prejudicada, de forma descritiva:
- Equilíbrio (0202): mantém o equilíbrio enquanto em pé (020201); mantém o equilíbrio enquanto caminha (020203); mantém o equilíbrio enquanto muda o apoio do seu peso de um pé para o outro (020210).
- Locomoção: caminhar (0200): suporta o próprio peso (020001); caminha com a macha eficaz (020002); caminha em ritmo moderado (020004); adapta a superfícies de diferentes texturas (020016).
- Movimento coordenado (0212): tônus muscular (021202); controle do movimento (021205); estabilidade do movimento (021206); equilíbrio do movimento (021207); movimento na velocidade desejada (021211).
- Autocuidado: atividades da vida diária (AVD) (0300): veste-se (030002); higiene íntima (030003); toma banho (030004); andar (030008).
- Comportamento de prevenção de quedas (1909): solicita assistência (190923); utiliza barras de apoio quando necessário (190915); oferece assistência à mobilidade (190902).
- Conhecimento: atividade prescrita (1811): proposta da atividade prescrita (181102); efeitos esperados da atividade prescrita (181103); estratégias de deambulação segura (181116); estratégia para aumentar gradualmente a atividade prescrita (181107).
- Movimento articular (0206): coluna vertebral (020620); tornozelo direito (020613); joelho direito (020615); quadril direito (020617).
As intervenções e ações de enfermagem podem ser realizadas por meio da Nursing Intervention Classification (NIC), a implementação do cuidado ajudará o paciente a alcançar seus resultados desejados.
As intervenções de enfermagem para mobilidade física prejudicada são: Assistência no Autocuidado: Atividades essenciais da vida diária, controle da dor, controle do ambiente, cuidados com o repouso no leito, promoção do exercício, controle de medicamentos, prevenção contra queda, supervisão da pele e cuidados circulatórios: insuficiência venosa.
Cada intervenção de enfermagem possui diversas atividades de enfermagem, que devem ser escolhidas de acordo com a necessidade do paciente. O quadro 3 apresenta as atividades de enfermagem para a intervenção promoção do exercício.
Quadro 3: Intervenções de Enfermagem promoção do exercício e suas atividades. Picos, Piauí, 2021.
Promoção do exercício: Facilitação da atividade física regular para manter ou avançar para um nível mais alto de condicionamento físico e de saúde. |
Atividades: |
· Determinar a motivação individual para começar/continuar o programa de exercícios. |
· Explorar as barreiras ao exercício. |
· Estimular a pessoa a começar ou a continuar o exercício. |
· Auxiliar o indivíduo a desenvolver um programa de exercício adequado para atender às necessidades. |
· Auxiliar o indivíduo a estabelecer os objetivos a curto e longo prazos para o programa de exercício. |
· Realizar as atividades de exercício com a pessoa, conforme apropriado. |
· Incluir a família/cuidadores no planejamento e a manter o programa de exercício. |
· Informar o indivíduo sobre os benefícios à saúde e os efeitos fisiológicos do exercício. |
· Orientar o indivíduo quanto ao tipo apropriado de exercício para o nível de saúde, em colaboração com o médico e/ou fisiologista do exercício. |
· Orientar o indivíduo quanto à frequência, à duração e a intensidade desejadas do programa de exercício. |
· Orientar o indivíduo quanto às técnicas para evitar lesões durante o exercício. |
· Monitorar a resposta do indivíduo ao programa de exercício. |
Fonte: Elaborado pelos autores.
Após descritas as atividades, o enfermeiro pode adequá-las de acordo com as necessidades do paciente, sendo prescritas, por exemplo, a frequência, a duração, quem é o responsável pela realização e se há necessidade de apoio de outro profissional. No caso do Sr. Maurício a equipe de fisioterapia seria importante para contribuir nos cuidados, considerando–se, sempre, a prática baseada em evidências.
No julgamento, o enfermeiro irá julgar se o paciente se beneficiou dos cuidados prestados e se os resultados esperados foram atingidos. É utilizada a reflexão, sendo feitas observações de acordo com a situação do paciente.
Considerando-se o caso clínico, o enfermeiro deve avaliar como está a coordenação, equilíbrio, marcha, movimento das articulações e se há facilidade nos movimentos realizados pelo Sr. Maurício. Verifica-se se a postura em pé, sentado e deitado está correta, e se a manutenção da força muscular e uso da mecânica corporal está dentro dos parâmetros esperados (constantemente demonstrados).
Considerações Finais
Concluiu-se que a mobilidade física prejudicada foi o diagnóstico de enfermagem central para o paciente com fratura de membro inferior direito em uso de fixador e que através da utilização do modelo OPT foi possível fazer a identificação das prioridades do plano de cuidados, com base nas principais necessidades da paciente, e também auxiliou na escolha de resultados e intervenções direcionadas.
Devido ao tempo limitado das aulas práticas da disciplina, não foi possível o acompanhamento da paciente em longo prazo para verificar a efetividade dos cuidados de enfermagem.
No entanto, o estudo possibilitou estender as características e necessidades de um paciente com fratura de membro inferior com uso de fixador, bem como aprimorar os cuidados a serem prestados em pacientes com a mesma problemática.
A utilização do modelo OPT possibilitou o raciocínio clínico reflexivo do Estudante de enfermagem e enfermeiro, onde foram analisados os problemas de forma simultânea e em seguida identificado o diagnóstico principal, assim, facilitando o processo de tomada de decisão clínica.
Referências
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BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Into lança alerta sobre o risco de trombose. Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (INTO), [s.l.], [2021]. Disponível em: https://www.into.saude.gov.br/area-de-imprensa/noticias/328-into-lanca-alerta-sobre-o-risco-de-trombose. Acesso em: 08 dez. 2021.
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CAPÍTULO 5
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA UTI NEONATAL
NURSING CARE IN THE NEONATAL ICU
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.05
Submetido em: 01/12/2021
Revisado em: 16/12/2021
Publicado em: 15/01/2022
Allyne Maria França Silva Costa
Centro Universitário dos Guararapes
Curso de Enfermagem, Jaboatão dos Guararapes-PE
http://lattes.cnpq.br/7977144873272323
Vanessa Eduarda Morais Sales
Centro Universitário dos Guararapes
Curso de Enfermagem, Jaboatão dos Guararapes-PE
http://lattes.cnpq.br/8358043226405860
Carla Vivianne da Silva Gomes
Centro Universitário dos Guararapes
Curso de Enfermagem, Jaboatão dos Guararapes-PE
http://lattes.cnpq.br/5602053167441244
Débora Alves Nunes
Centro Universitário dos Guararapes
Curso de Enfermagem, Jaboatão dos Guararapes-PE
http://lattes.cnpq.br/2067630605129517
Victor Manoel Pereira da Silva
Centro Universitário dos Guararapes
Curso de Enfermagem, Jaboatão dos Guararapes-PE
http://lattes.cnpq.br/5725320594997874
Hirla Vanessa Soares de Araújo
Centro Universitário dos Guararapes
Curso de Enfermagem, Jaboatão dos Guararapes-PE
http://lattes.cnpq.br/9028246204380732
Rilda Carla Alves de Souza
Centro Universitário dos Guararapes
Curso de Enfermagem, Jaboatão dos Guararapes-PE
http://lattes.cnpq.br/3736482895902284
Resumo
A Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), é caracterizada como uma unidade de alta complexidade, que possui altas tecnologias e equipamentos diversificados. Constitui como um ambiente terapêutico para profissionais capacitados e protocolos específicos direcionados a assistência ao recém-nascido em estado grave. Assim, a Enfermagem possui papel fundamental nesse processo uma vez que destina os seus cuidados assistências ao indivíduo como um todo, desde as necessidades orgânicas, psicológicas, sociais, de modo a prestar uma assistência individualizada mediante ferramentas próprias. Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo descrever os principais cuidados de enfermagem prestados dentro da unidade de terapia intensiva neonatal. Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura. A busca de dados foi realizada nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCLIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), e Banco de Dados em Enfermagem (BDENF). Foram selecionados artigos que se enquadrem na pergunta condutora do estudo: Quais os principais cuidados de enfermagem na UTIN? e que estejam disponíveis na integra, nos idiomas português e inglês e espanhol, que tiverem como ano de publicação o período temporal correspondente aos anos de 2017 a 2021. Foram excluídos artigos duplicados, artigos pagos, obras incompletas e cujo método seja de revisão. Os dados foram apresentados em tabelas de forma descritiva, possibilitando ao leitor a avaliação da aplicabilidade da revisão integrativa.
Palavras-Chave: Assistência de Enfermagem, Unidades de Terapia Intensiva Neonatal; Cuidados de Enfermagem e Neonatologia.
Abstract
The Neonatal Intensive Care Unit (NICU) is characterized as a highly complex unit, which has high technologies and diversified equipment. It is a therapeutic environment for trained professionals and specific protocols aimed at assisting newborns in serious condition. Thus, Nursing has a fundamental role in this process, as it directs its care to the individual as a whole, from the organic, psychological and social needs, in order to provide individualized assistance through its own tools. In this context, this study aims to describe the main nursing care provided within the neonatal intensive care unit. This is an integrative literature review study. The data search was performed in the Scientific Electronic Library Online (SCLIELO), Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS), and Nursing Database (BDENF) databases. Articles that fit the guiding question of the study were selected: What are the main nursing care procedures in the NICU? and that they are available in full, in Portuguese, English and Spanish, whose publication year is the period corresponding to the years 2017 to 2021. Duplicate articles, paid articles, incomplete works and whose method is a review were excluded. Data were presented in descriptive tables, allowing the reader to assess the applicability of the integrative review.
Keywords: Nursing Care, Neonatal Intensive Care Units; Nursing and Neonatology Care.
Introdução
A Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), é caracterizada como uma unidade de alta complexidade, que possui altas tecnologias e equipamentos diversificados. Constitui como um ambiente terapêutico para profissionais capacitados e protocolos específicos direcionados a assistência ao recém-nascido em estado grave (NOVARETTI, 2015).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) mais 15 milhões de bebês nascem antes do tempo por ano no mundo, sendo que mais de um milhão deles morrem dias após o parto nas unidades de terapia intensiva. A prematuridade é a segunda causa de morte de crianças com menos de cinco anos de idade, ficando atrás somente da pneumonia (RIBEIRO et al., 2016).
O Brasil e os Estados Unidos estão entre os dez países com os maiores números de partos prematuros, ocupando o décimo lugar com um total estimado de 279 mil partos prematuros por ano (BARIZON et al., 2014).
Ao longo do tempo, a assistência neonatal passou por diversas transformações. O advento de novas tecnologias representou um universo mais amplo à assistência aos recém-nascidos (RNs). Tais mudanças atingiram também a finalidade do trabalho nas unidades não se desenvolver na perspectiva de procedimentos ao RN, mas também a família e qualidade de vida (BEZERRA et al., 2019).
A hospitalização nesse ambiente implica uma série de fragilidades, não somente a assistência ao paciente, mas a família pelo adoecimento, preocupação, falta notícias, e aos profissionais pela rotina, manejo devido procedimentos, falta muitas vezes de infraestrutura, recursos humanos, sobrecarga de trabalho, entre outros (SILVA et al., 2020).
Assim, a Enfermagem possui papel fundamental nesse processo uma vez que destina os seus cuidados assistências ao indivíduo como um todo, desde as necessidades orgânicas, psicológicas, sociais, de modo a prestar uma assistência individualizada mediante ferramentas próprias (CASATE; CORRÊA, 2010).
O papel da enfermagem, neste local pode ser representado por diversos cuidados, como acomodação do RN, verificação dos sinais vitais, reflexos de luz, umidade, verificação de procedimentos, alimentação adequada, diagnósticos de enfermagem, etc (BRASIL, 2017).
Dessa forma, a assistência de enfermagem dentro da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) requer uma atenção integral para se atender não só as necessidades do Recém-nascido (RN) como também todo constructo a ele associado, como a família, gerenciamento da equipe etc. Esse tipo de assistência rompe com a divisão por tarefas, pois possibilita uma visão mais global das necessidades de cada paciente. Nesse contexto, o desenvolvimento de referencial teórico que reflitam e investiguem de forma aprofundada como esses cuidados de enfermagem são direcionados nesta unidade são imprescindíveis para que novas abordagens e análises sejam feitas.
Assim, baseado na pergunta condutora: Quais os principais cuidados de enfermagem na UTIN? O presente estudo teve como objetivo descrever os principais cuidados de enfermagem prestados dentro da unidade de terapia intensiva neonatal.
Metodologia
Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura. Essa metodologia fundamenta-se na síntese de estudos científicos com o objetivo de elucidar os resultados encontrados que possam servir como base para a prática profissional. Esse método possibilita na discussão a inclusão de diferentes estudos, que podem ser experimentais ou não, como forma de compreender amplamente o tema estudado, sem as demarcações metodológicas que são exigidas nas demais (OLIVEIRA; GALVÃO, 2014).
A busca de dados foi realizada nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), e Banco de Dados em Enfermagem (BDENF). Após consulta na plataforma dos Descritores em Ciências da Saúde (DecS/MeSH), foi identificado as palavras: Unidades de Terapia Intensiva Neonatal AND Enfermagem; Unidades de Terapia Intensiva Neonatal AND Assistência de Enfermagem e Cuidados de Enfermagem AND Neonatologia para filtro dos artigos. A estratégia de busca utilizada se encontra descrita no Quadro 1 a seguir.
Quadro 1: Estratégia de busca utilizada adotando os descritores nos idiomas português, inglês e espanhol.
Descritores em Português | Descritores em Inglês | Descritores em Espanhol |
Unidades de Terapia Intensiva Neonatal AND Enfermagem | Neonatal Intensive Care Units AND Nursing | Unidades de cuidados intensivos neonatales AND enfermeira |
Unidades de Terapia Intensiva Neonatal AND Assistência de Enfermagem | Neonatal Intensive Care Units AND Nursing Care | Unidades de cuidados intensivos neonatales AND cuidados de enfermeira |
Cuidados de Enfermagem AND Neonatologia | Nursing Care AND Neonatology | Atención de Enfermería AND Neonatología |
Foram selecionados artigos que se enquadraram na pergunta condutora do estudo: Quais os principais cuidados de enfermagem na UTIN? E que estivessem disponíveis na íntegra, nos idiomas português e inglês e espanhol, com ano de publicação o período temporal correspondente aos anos de 2017 a 2021.
Foram excluídos artigos duplicados, artigos pagos, obras incompletas e cujo método era de revisão. Para análise e posterior síntese dos dados, foi construído um instrumento de coleta elaborado pelos autores para sintetizar os principais tópicos dos artigos descrevendo-os em autores/ ano de publicação e principais resultados. Os dados foram apresentados em tabelas de forma descritiva, possibilitando ao leitor a avaliação da aplicabilidade da revisão integrativa.
A Figura 1 descreve o fluxograma de seleção dos artigos com base nos critérios de elegibilidade previamente estabelecidos.
Figura 1: Fluxograma de seleção dos artigos utilizado na revisão.
Fonte: COSTA et al., 2021.
Resultados
Dos 12 artigos que compuseram o presente estudo apenas 2 estavam disponíveis somente na língua inglesa e 10 disponíveis em português, publicados entre os anos de 2017 e 2021. A partir da análise dos objetivos dos artigos incluídos, observou-se que: 8 objetivavam analisar as evidências científicas sobre o cuidado de enfermagem dentro da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, 2 estudos em descrever os principais diagnósticos de enfermagem direcionados ao recém-nascido na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e 2 em compreender a percepção dos profissionais de saúde quanto ao cuidado humanizado em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Para uma maior análise e entendimento descritivo o Quadro 2 descreve os artigos utilizados quanto Título, Autores/ Ano de Publicação, Principais Resultados e Síntese da Conclusão.
Quadro 2: Síntese dos artigos de acordo com Título, Autores/ Ano de Publicação, Principais Resultados e Síntese da Conclusão.
TÍTULO | AUTORES/ANO | PRINCIPAIS RESULTADOS |
Humanização da assistência de enfermagem na unidade de terapia intensiva | RIBEIRO ACAS, et al., 2017 | O estudo destaca que os cuidados de enfermagem devem ser direcionados as necessidades de cada paciente, não apenas para desempenhar ações privativas de sua profissão, mas também com o objetivo de assistir com respeito. Inclui também a avaliação das necessidades dos familiares e de toda a equipe de saúde, sua satisfação sobre os cuidados realizados e a dignidade do ser humano. |
Assistência de enfermagem na uti neonatal: Dificuldades enfrentadas pelos enfermeiros e prejuízos causados aos recém-nascidos | SILVA SRP, et al., 2019 | A atuação da equipe de enfermagem dentro da UTIN se caracteriza por cuidados direcionados a prevenção e controle das infecções hospitalares; cuidados na manutenção do cateterismo umbilical; o uso do Cateter Central de Inserção Periférica; Aspiração orotraqueal, Cuidados associados a coleta de sangue e as respostas comportamentais, fisiológicas do RN de risco; Atuação diante da dor no bebê; Prevenção de lesões na pele e as técnicas de alimentação prescritas para prematuro. |
Aplicação da sistematização da assistência de enfermagem em neonato prematuro. | COSTA IMB, et al., 2017 | Os principais cuidados de enfermagem se direcionam à clínica do paciente sendo as principais situações críticas: manejo da prematuridade, sepse, crise convulsiva, hemorragia pulmonar e hemorragia digestiva alta. |
Contribuições da assistência de enfermagem na prevenção de lesões de pele em recém-nascidos na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal | LEITE AC, et al., 2021 | Os cuidados de enfermagem se iniciam desde o momento da admissão do bebê até o momento de sua alta hospitalar, sendo os principais cuidados direcionados a umidade do ambiente, por meio de incubadoras, o posicionamento, o banho, a lubrificação com óleos emolientes, o uso de soluções cutâneas para antissepsia, fixação ou remoção de adesivos para suporte à vida e aparelhos de monitorização, realização de procedimentos invasivos. |
A importância da assistência de enfermagem na unidade de terapia intensiva neonatal. | SILVA ACL, et al., 2020 | A assistência da enfermagem se direciona não somente em cuidados, mas na humanização, e no acolhimento. É uma fase em que toda a família precisa de assistência clínica e psicológica. É importante um atendimento qualificado para os pais e pacientes que passam ou passaram por situação difícil em ter seu filho internado em uma UTI neonatal, sendo a equipe de enfermagem l fundamental a este processo |
A percepção do enfermeiro sobre a qualidade da sistematização da assistência de enfermagem em uma unidade intensiva neonatal. | ROSA VCS, et al., 2021 | É destacado também alguns cuidados técnicos que a equipe de enfermagem atua como manutenção da temperatura, circulação, integridade da pele, alimentação, etc. |
Association of nurse workload with missed nursing care in the neonatal intensive care unit. | TUBBS CHL,. et al., 2019 | O artigo destaca que os cuidados da equipe de enfermagem são fundamentais em detrimento que são eles os responsáveis pelos cuidados não só diretos quando indiretos ao paciente. Cuidados como: Assistência a família; Cuidados por meio de procedimentos invasivos, Nutrição, Monitoramento dos sinais vitais e Aplicação do Processo de Enfermagem são destaques. |
Diagnósticos e cuidados de enfermagem ao recém-nascido prematuro em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal | BATISTA CDM, et al., 2019 | Os principais cuidados de enfermagem são: Monitoramento de sinais vitais; Cuidado durante a alimentação; Cuidados com a pele; Cuidados com a visão; Proteção contra infecção; Cuidado diário da incubadora; Cuidado durante os testes de laboratório; Administração de medicamentos; Cuidados com a família.
|
Diagnóstico e cuidados de enfermagem para evitar a quebra de vínculo na UTI neonatal. | OLIVEIRA PG, et al., 2017 | O autor destaca o uso da sistematização da assistência de enfermagem como base de todo manejo e processos que venham a ser realizados. O vínculo com a família devido a fragilidade do recém-nascido deve ser destaque nos cuidados prestados além daqueles que já são meramente técnicos da assistência.
|
Percepção das puérperas frente à assistência de enfermagem na unidade de terapia intensiva neonatal. | BORGES, JNM, et al., 2020 | Destaca-se no estudo que o laço entre as puérperas, RNs e equipe de enfermagem deve ser cada vez mais fortalecido, tornando o ambiente hostil da UTI neonatal em um ambiente mais tranquilo e acolhedor. |
A atuação do enfermeiro frente a família do recém-nascido na UTIN. | MARTINS FH, et al., 2020 | Os pais adquirem confiança ao cuidar dos RN” e E4 diz que as medidas são eficientes “Porque garantem o vínculo e o atendimento humanizado”. Os profissionais de enfermagem devem ser capacitados para apreender as necessidades individuais de cada recém-nascido, a fim de que os procedimentos e cuidado da rotina sejam feitos de forma singular, atendendo melhor cada RN. Deve-se ter cuidado com a postura, com os sons, as luzes, aos procedimentos realizados, dolorosos ou não, enfim, a tudo que rodeia o neonato. |
Estratégias desenvolvidas pelos enfermeiros para garantir a segurança do paciente na unidade de terapia intensiva neonatal. | NOLETO RC e CAMPOS CF, 2020 | O enfermeiro planeja suas ações dentro de rotinas, critérios, protocolos, com o objetivo de proteção integral do RN durante a hospitalização, e que a segurança dos mesmos é garantida perante o conhecimento dos eventos adversos e a implantação de estratégias para evitar, ou saber agir diante de um evento, mantendo a qualidade e a segurança no cuidado. Destaca-se o papel do enfermeiro na prevenção e controle de infecções relacionadas à assistência, pois estão assistindo diretamente os RN, manipulando, controlando dispositivos, conexões e medicamentos, além de exercerem função de direção e chefia nas Comissões de Controle de Infecções Hospitalares. |
Fonte: COSTA et al., 2021.
Discussão
Após a síntese dos artigos, foi evidenciado que os principais cuidados de enfermagem dentro da UTIN se direcionam a três principais situações: Os cuidados direcionadas a assistência, as ações burocráticas e administrativa e o cuidado interpessoal direcionado a família.
Inicialmente, cabe evidenciar que a hospitalização nesse ambiente implica em uma experiência ao recém-nascido bastante diferente do ambiente uterino, uma vez que, este é o ideal para sua manutenção (MATOS, 2020). Nesse contexto, a exposição intensa a estímulos nociceptivos, como o estresse, dor, ruídos, luz intensa e continua, bem como procedimentos clínicos invasivos são destaques na sua rotina (MORAES, 2017; GIORDANI et al., 2017; RODARTE et al., 2019).
Assim, os cuidados assistenciais de enfermagem se direcionam aos aspectos fisiológicos do RN como a manutenção, monitoramento e prevenção de intercorrências. Dentre os principais cuidados de enfermagem destacados na literatura temos a manutenção do equilíbrio térmico adequado, umidade, luz, som e estímulo cutâneo; observar o quadro clínico; monitorar os sinais e o desenvolvimento do tratamento desses (FRANK et al., 2019; SOARES, 2018; FREITAS et al., 2018).
Para realizar uma assistência de qualidade cabe destacar o conhecimento científico e a habilidade técnica como imprescindíveis para sua realização, tendo em vista que esses pacientes serem bastante manipulado, tanto com relação a procedimentos de rotina quanto aos procedimentos específicos de acordo com as suas necessidades (PEREIRA et al, 2021; TOMAZONI et al., 2017).
Para a família, com destaque aos pais, a UTIN é um ambiente paradoxal entre a esperança e o medo. A esperança dentro de um contexto onde espera-se que este seja um local preparado para atender melhor o seu filho e aumentar as chances de sobrevida e o medo, por saber dos riscos inerentes aos pacientes que vão para tal ambiente (VINOTTI, et al., 2017).
Assim, destaca-se a importância dos profissionais em desenvolver um relacionamento através de uma interação efetiva que compreenda a vivência desses pais, nessa fase de sua vida, oferecendo-lhe um espaço legítimo para que eles expressem seus sentimentos oferecendo elementos concretos e facilitadores para que ocorram as transformações que vão possibilitar a esses pais superarem barreiras e se movimentarem em direção à aproximação e interação com seu filho (ROSA; GIL, 2017; SANTOS et al., 2021).
A união da tecnologia e do cuidado humanizado é descrito por alguns autores como uma estratégia que transforma um lugar de dor e sofrimento num ambiente capaz de inspirar esperança em um futuro no qual a criança e seus pais tenham uma vida digna. Compreender as condições da criança e dos pais não é suficiente, é preciso buscar a superação das adversidades decorrentes do processo de doença e hospitalização (LIMA et al., 2018; NODA et al., 2018).
Com relação as ações administrativas e burocráticas, mas que também fazem parte da assistência de enfermagem nas UTIN cabe destacar a utilização da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) como sendo de fundamental importância, pois a assistência qualificada não deve se limitar a garantir a sobrevida do prematuro, mas também planejar ações e implementá-las conforme as necessidades do cuidado (NONATO, 2018).
A SAE direciona as intervenções conforme as necessidades do paciente, além de facilitar a avaliação dos cuidados de enfermagem. garante a qualidade e a organização da assistência, o que promove maior sobrevida e menor tempo de permanência da criança (LIMA et al., 2017).
Os Diagnósticos de Enfermagem (DE)na UTIN, mais citados na literatura foram os de Risco para pele prejudicada relacionada à incapacidade da mobilidade no leito, Oximetria de pulso, Padrão de sono, Risco para queda, Risco para bronco aspiração e infecção relacionadas a exposição à microrganismo (DIAS; NUNES, 2020).
Dentre as principais ações administrativas de enfermagem nesse setor destaca-se também a supervisão dos procedimentos realizados pelos técnicos e auxiliares de enfermagem, identificação das necessidades do setor, avaliar as prioridades para a assistência de acordo com a situação de cada paciente, gerenciamento de recursos materiais, fluxo de atividades de programação, compra, recepção, armazenamento, distribuição e controle, com a finalidade de garantir um quantitativo de materiais suficientes para uma assistência de qualidade (NASCIMENTO, 2018).
Considerações Finais
Assim, frente a temática, compreende-se que, em sua atuação na UTIN, o enfermeiro é de extrema importância para a elaboração de estratégias que visem uma assistência de qualidade ao recém-nascido, família e toda a equipe de trabalho, visando a prestação de uma assistência humanizada e qualificada dentro desse ambiente. Os principais cuidados destacados nos estudos foram os associados a assistência, a parte administrativa e os cuidados com a família. Situações essas onde a assistência de enfermagem é mais presente e destacada frente as suas responsabilidade e rotina. Cabe destacar, a importância também de referencial teórico para que novas abordagens e reflexões sobre o tema sejam desenvolvidos.
Referências
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CAPÍTULO 6
CARACTERIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA-UTI
CHARACTERIZATION OF THE MAIN NURSING DIAGNOSES IN THE INTENSIVE CARE UNIT-ICU
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.06
Submetido em: 16/11/2021
Revisado em: 16/12/2021
Publicado em: 15/01/2022
Victor Manoel Pereira da Silva
Discente em Enfermagem pelo Centro Universitário dos Guararapes, Jaboatão dos Guararapes-PE
http://lattes.cnpq.br/5725320594997874
Jessika Ellen Cavalcanti Oliveira
Enfermeira pelo Centro Universitário dos Guararapes, Residente em cuidados paliativos pelo Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, Recife-PE
http://lattes.cnpq.br/7325133127878841
Taciana Gomes do Nascimento
Enfermeira pelo Centro Universitário dos Guararapes, Especialista em Nefrologia pela Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças, Recife-PE
https://orcid.org/0000-0002-6965-9634
Isamara Tayanne dos Santos Galvincio de Oliveira
Enfermeira pelo Centro Universitário Facex, Residente em Oncologia pelo Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, Recife-PE
http://lattes.cnpq.br/7325133127878841
Williany Kettly de Souza
Discente em Enfermagem pelo Centro Universitário dos Guararapes, Jaboatão dos Guararapes-PE
http://lattes.cnpq.br/2567407497083853
Vitória Wanderley da Silva
Enfermeira pela Universidade Católica de Pernambuco, Pós-graduanda em Unidade de Terapia Intensiva e Urgência e Emergência, Recife-PE
http://lattes.cnpq.br/0936475354218887
Juliana do Carmo Ribeiro de Oliveira
Enfermeira pelo Centro Universitário Estácio, Recife-PE
http://lattes.cnpq.br/6374103630601495
Karla Maria Linhares Pires da Silva
Enfermeira pelo Centro Universitário Maurício de Nassau, Residente em Hematologia e Hemoterapia pela Universidade de Pernambuco, Recife-PE
http://lattes.cnpq.br/2475538146729126
Henry Johnson Passos de Oliveira
Enfermeiro pelo Centro Universitário Maurício de Nassau, Residente em Saúde Coletiva pelo Instituto Aggeu Magalhães, Recife-PE
http://lattes.cnpq.br/2851265453049949
Resumo
O Diagnóstico de Enfermagem (DE) é um julgamento clínico das respostas do indivíduo, da família ou da comunidade a problemas de saúde reais ou potenciais, sendo assim, indispensável a assistência direcionada ao cliente, principalmente quando utilizado na unidade de terapia intensiva. Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo descrever os principais diagnósticos de enfermagem utilizados dentro da unidade de terapia intensiva com base nos diagnósticos enumerados pelo NANDA International. Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura. A busca de dados foi realizada nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCLIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e (PUBMED). Foram selecionados artigos que se engajassem na pergunta condutora do estudo: Quais os principais diagnósticos de enfermagem utilizados dentro da Unidade de Terapia Intensiva? e que estivessem disponíveis na integra, nos idiomas português e inglês, que tivessem como ano de publicação o período temporal correspondente aos anos de 2017 a 2021. Foram excluídos artigos duplicados, artigos pagos, obras incompletas e cujo método era de revisão. Por meio da revisão foi identificado 4 artigos que se enquadravam nos critérios de elegibilidade da pesquisa, sendo diversos diagnósticos de enfermagem ressaltados como de comum na unidade de terapia intensiva através da realização do processo de enfermagem diariamente, sendo os principais o risco de infecção e risco de comprometimento tissular. Dessa forma, observa-se que através do presente estudo que sistematizar a assistência de enfermagem é fundamental para o desenvolvimento de processos assistenciais que permitam o cuidado aos pacientes.
Palavras-Chave: Unidade de Terapia Intensiva. Diagnóstico de Enfermagem. Processo de Enfermagem.
Abstract
The Nursing Diagnosis (ND) is a clinical judgment of the individual, family or community’s responses to real or potential health problems, and thus, customer-directed care is essential, especially when used in the intensive care unit. In this context, this study aims to describe the main nursing diagnoses used within the intensive care unit based on the diagnoses listed by NANDA International. This is an integrative literature review study. The data search was performed in the Scientific Electronic Library Online (SCLIELO), Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS) and (PUBMED) databases. Articles that engaged in the guiding question of the study were selected: What are the main nursing diagnoses used within the Intensive Care Unit? and that they were available in full, in Portuguese and English, with the period of publication corresponding to the years 2017 to 2021 as the year of publication. Duplicate articles, paid articles, incomplete works and whose method was review were excluded. The review identified 4 articles that met the research eligibility criteria, with several nursing diagnoses highlighted as common in the intensive care unit through the daily nursing process, the main ones being the risk of infection and risk of tissue involvement. Thus, it is observed that, through this study, systematizing nursing care is essential for the development of care processes that allow patient care.
Keywords: Intensive care unit. Nursing Diagnosis. Nursing Process.
Introdução
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um ambiente hospitalar que se destina à prestação de cuidados a pessoa em condições críticas, recuperável e requer um atendimento contínuo, especializado e humano. Assim, a assistência de enfermagem em UTI exige do enfermeiro identificação rápida e acurada das condições de saúde de cada indivíduo, devido à gravidade e instabilidade dos pacientes e complexidade de atenção requerida (GOUVEIA, 2017).
Para tanto, o enfermeiro necessita desenvolver suas ações de forma padronizada e pautada no corpo de conhecimento próprio da profissão. Para a organização das práticas de cuidar, faz-se necessária à implantação e implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), uma ferramenta que organiza o trabalho profissional da equipe de Enfermagem quanto ao método, pessoal e instrumentos, tornando possível a operacionalização do Processo de Enfermagem, enquanto dinâmica de ações sistematizadas e interrelacionadas com a finalidade de prestar assistência de qualidade a uma clientela (pessoa, família ou comunidade) (SALVADOR, 2018).
A SAE engloba elementos inerentes à prática profissional: diagnósticos, ações, intervenções e resultados de enfermagem, propostos inicialmente em seis etapas e com os avanços dos estudos foram reduzidos para cinco etapas (BORDINHÃO; ALMEIDA, 2012). Destaca-se que o histórico de enfermagem (anamnese e exame físico), dispara as demais etapas da SAE (diagnóstico de enfermagem, plano assistencial, prescrição e prognóstico de enfermagem) e, por sua vez, desencadeia a assistência de enfermagem ao indivíduo.
O diagnóstico de enfermagem é um julgamento clínico das respostas do indivíduo, da família ou da comunidade a problemas de saúde reais ou potenciais. A definição dos diagnósticos de enfermagem constitui a base para a seleção das intervenções de enfermagem que propiciam o alcance dos resultados pelos quais o enfermeiro é responsável no cuidado ao cliente (MATA et al., 2012).
Estabelecem-se as necessidades/problemas identificadas a partir de um julgamento clínico sobre as respostas da pessoa a problemas de saúde reais e potenciais direcionado para o planejamento da assistência de Enfermagem com o intuito de atender às necessidades de saúde do paciente pela organização e sistematização de ações necessárias de modo a implementar uma assistência humanizada (MARTINS et al., 2018).
Por se tratar de uma unidade de internação onde a complexidade do quadro clínico dos pacientes exige muitos cuidados e procedimentos técnicos de enfermagem, somando-se a tecnologia ali instalada para auxiliar no atendimento, é imprescindível. Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo descrever os principais diagnósticos de enfermagem utilizados dentro da unidade de terapia intensiva com base nos diagnósticos enumerados pelo NANDA International.
Metodologia
Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura. Esse tipo de estudo possibilita uma ampla abordagem metodológica, permitindo uma compreensão completa do fenômeno analisado. A busca de dados foi realizada nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCLIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e (PUBMED). Após consulta na plataforma dos Descritores em Ciências da Saúde (DecS/MeSH), utilizou-se as palavras: Unidade de Terapia Intensiva, Diagnóstico de Enfermagem e Processo de Enfermagem para filtro dos artigos. Foram selecionados artigos que se engajassem na pergunta condutora do estudo: Quais os principais diagnósticos de enfermagem utilizados dentro da Unidade de Terapia Intensiva? e que estivessem disponíveis na integra, nos idiomas português e inglês, que tivessem como ano de publicação o período temporal correspondente aos anos de 2017 a 2021. Foram excluídos artigos duplicados, artigos pagos, obras incompletas e cujo método era de revisão. Assim, as conclusões são estabelecidas mediante a avaliação crítica de diferentes abordagens metodológicas.
Resultados e Discussão
Primeiramente, é importante destacar que o cuidado sistematizado busca desenvolver uma assistência holística, individualizada e mais qualificada ao paciente, consolidando o comprometimento e a responsabilidade do profissional perante os pacientes, familiares e comunidade (NASCIMENTO, 2018). Nesse sentido, proporciona ações tanto na área assistencial quanto burocrática, o que facilita a organização do trabalho e dos serviços da equipe de enfermagem. O processo de enfermagem é considerado a base da SAE definido como um método por meio do qual a estrutura teórica da enfermagem é aplicada à prática (VIANA et al., 2018).
A assistência de enfermagem em UTI exige do enfermeiro identificação rápida e acurada das condições de saúde de cada indivíduo, devido à gravidade e instabilidade dos pacientes e complexidade de atenção requerida. A atenção à saúde ofertada pela equipe de enfermagem precisa estar organizada para compartilhar saberes e estratégias assistenciais, de modo a promover os melhores resultados ao paciente, juntamente com os demais membros da equipe de saúde (FERREIRA et al., 2016).
Nesse sentido, o processo de enfermagem é uma atividade profissional específica que demanda uma série de ações interrelacionadas fundamentada no conhecimento técnico científico e os valores histórico-culturais do profissional enfermeiro. Atividades inerentes e exclusivas da profissão são consideradas partes do PE como as ações e intervenções de enfermagem (Planejamento e Implementação de Enfermagem), tendo como base o julgamento sobre as necessidades humanas específicas (diagnósticos de Enfermagem), para o alcance de resultados (resultados de Enfermagem) (MACHADO, 2011).
Assim, a etapa de diagnóstico envolve o processo de interpretação e agrupamento de dados, proporcionando a tomada de decisão e eleição de diagnósticos para atender as necessidades do paciente e/ou família em todas as etapas do desenvolvimento humano (BRAGA, 2019).
Com base nos diagnósticos de enfermagem são determinados os resultados que se pretende atingir e as intervenções de enfermagem necessárias para o alcance destes resultados (GRAEFF et al., 2017)
A Taxonomia da North American Nursing Diagnoses Association (NANDA-I, 2015-2017) abrange um modo de classificar e categorizar áreas que preocupam a enfermagem e possui 234 DE, agrupados em 13 domínios e 47 classes, sendo que cada domínio é tido como uma “esfera” de conhecimentos, dividindo-se em classes (LUQUINE et al., 2017).
A configuração deste método é considerada uma ação privativa do enfermeiro, sua implementação proporciona cuidados, assim como conduz o processo decisório nas situações de gerenciamento da equipe de enfermagem e propicia melhorias na qualidade da assistência (SILVA, 2017).
Nesse contexto, por meio da revisão da literatura foi identificado 4 artigos que se enquadravam nos critérios de elegibilidade da pesquisa, sendo diversos diagnósticos de enfermagem ressaltados como de comum na unidade de terapia intensiva- UTI através da realização do processo de enfermagem diariamente
NEVES e ASSUNÇÃO, 2018 descreveram em sua pesquisa que “O diagnóstico de enfermagem mais prevalente na UTI foi o risco de função cardiovascular prejudicado (88%), definido por vulnerabilidade a causas internas ou externas, que podem danificar um ou mais de um órgão vital e o próprio sistema circulatório” (NEVES; ASSUNÇÃO, 2018). Além disso, foi identificado que o risco de infecção, definido por NANDA-I 5 como vulnerabilidade à invasão e multiplicação de organismos patogênicos, pode comprometer a saúde e possui elevada prevalência em pacientes internados no estudo da UTIC.
BISPO et al., 2017 descreveram como principais diagnósticos de enfermagem “A deglutição prejudicada; esvaziamento gástrico retardado; motilidade gastrintestinal diminuída; nível de consciência reduzida; reflexo de tosse diminuída; reflexo faríngeo diminuído; resíduo gástrico aumentado; situação que impedem a elevação da parte superior do corpo; sonda gastrintestinal; e trauma de pescoço mobilidade no leito prejudicada; proteção ineficaz; deambulação prejudicada; integridade da pele danificada, atribuída a 100% dos transplantados cardíacos; nutrição desequilibrada, com menos do que às necessidades corporais a 93,9% dos pacientes; débito cardíaco diminuído a 87,7% deles; dor aguda em 83,7%” (BISPO et al., 2017).
Além disso a “troca de gases prejudicada e padrão respiratório ineficaz atribuídos a 79,6%; além da eliminação urinária prejudicada em 73% dos sujeitos, risco de infecção atribuído a 100% dos pacientes e de constipação a 77,5% foi comum” (BISPO et al., 2017).
A pesquisa feita por RAMOS et al., 2018 identificou que “o diagnóstico mais frequente foi risco de infecção (100%), seguido de risco de integridade da pele prejudicada (95%), risco de desequilíbrio de volume de líquido (90%), risco de alteração da nutrição: menos do que o corpo necessita (89%) e déficit no autocuidado (84%). A média de permanência dos diagnósticos de enfermagem nos pacientes foi de quatro dias, variando entre um e 42 dias. Foram identificadas diferenças significativas para nove (13,6%) diagnósticos de enfermagem identificados segundo a evolução clínica dos pacientes” (RAMOS et al., 2018).
Já CHANCA et al., 2017 apontam como os diagnósticos encontrados na UTI Adulto: “Risco de infecção, Risco de integridade da Pele prejudicada, Integridade Tissular Prejudicada, Risco de aspiração, Proteção Ineficaz, Risco de quedas, Déficit no autocuidado, Mobilidade Prejudicada, Débito cardíaco diminuído, Padrão respiratório ineficaz, Perfusão renal ineficaz, Risco de glicemia instável, Nutrição desequilibrada, Risco de Constipação, Ansiedade, Dor crônica, Confusão aguda e Risco de Solidão” (CHIANCA et al., 2017).
CABRAL et al., 2017 definem que “os títulos de diagnósticos mais prevalentes foram o de risco de infecção (99,0%), risco de integridade da pele (75,0%), risco de aspiração (61,0%), risco de glicemia instável (55,0%) e padrão respiratório ineficaz/desobstrução ineficaz de vias aéreas (52,0%), todos aparecendo em mais da metade da população investigada” (CABRAL et al., 2017).
NASCIMENTO, 2018 descreve que o risco de Infecção pode ser influenciado pelo número de profissionais que lida diretamente com o paciente, a quantidade e o tipo de procedimentos invasivos, a forma de assistência que é dispensada e o tempo de hospitalização. Esse diagnóstico descreve o risco direto do paciente desenvolver um processo infeccioso associado a ações de patógenos (NASCIMENTO, 2018).
Alguns autores observaram em seus estudos sobre DE em UTI, a ocorrência da Integridade da pele prejudicada em 10% e 88,3% dos pacientes internados. A Integridade da pele prejudicada caracteriza-se principalmente pelo rompimento da superfície da pele, seja em decorrência de um trauma ou pelo desenvolvimento de lesões por pressão, devido à imobilidade (GUEDES et al., 2017).
O diagnóstico Troca de gases prejudicada refere-se à alteração na oxigenação ou eliminação do dióxido de carbono através da membrana alvéolo-capilar (HERDMAN; KAMITSURU, 2017). A observação e monitorização do desenvolvimento de edema pulmonar e a hipoxemia, secundários ao desequilíbrio da relação ventilação-perfusão são fundamentais para a garantia e evitabilidade de complicações em pacientes que possuem esse tipo de diagnóstico.
Considerações finais
Dessa forma, observa-se que sistematizar a assistência de enfermagem é fundamental para o desenvolvimento de processos assistenciais que permitam o cuidado aos pacientes, com grande destaque ao diagnóstico de enfermagem visto a sua importância dentro da implementação e avaliação assistencial preconizado pela sistematização da assistência de enfermagem (SAE). Como resposta ao objetivo proposto foram identificados diversos diagnósticos, sendo observado uma grande variabilidade de acordo com a o tipo de cliente e a assistência prestada, contudo cabe destacar os diagnósticos de Risco para desenvolvimento de infecção e Risco de comprometimento tissular evidenciados pela grande maioria Assim, cabe destacar também o desenvolvimento de referencial teórico para uma maior abrangência da temática e estudos mais minuciosos que estudem a questão para que novas abordagens causais sejam desenvolvidas.
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CAPÍTULO 7
CONHECIMENTO DE ESTUDANTES DE ENFERMAGEM A RESPEITO DOS SINAIS VITAIS: UM RELATO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA
NURSING STUDENT KNOWLEDGE REGARDING VITAL SIGNS: A CONTINUING EDUCATION REPORT
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.07
Submetido em: 18/03/2022
Revisado em: 05/04/2022
Publicado em: 15/04/2022
Leticia Gomes de Oliveira
Centro Universitário do Estado do Pará, Belém, PA
https://orcid.org/0000-0002-8830-728X
Taynara da Costa Silva
Faculdade Estácio, Castanhal, PA
https://orcid.org/0000-000319791474
Leandra Nogueira Barbosa
Universidade da Amazônia, Belém, PA.
https://orcid.org/0000-0003-4876-9778
Fernando Conceição de Lima
Universidade do Estado do Pará. Belém, Pará, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-9418-3711
Aline Furtado Borges
Universidade Paulista, Belém, PA
https://orcid.org/0000-0001-6690-8706
Leiane de Oliveira Ribeiro
Universidade Paulista, Belém, PA
https://orcid.org/0000-0002-2327-0236
Maria Carolina Santos Vilhena
Universidade Paulista, Belém, PA
https://orcid.org/0000-0003-1490-2059
Tatiane do Carmo Maia
Universidade Paulista, Belém, PA
https://orcid.org/0000-0002-6128-2262
Joyce Souza da Silva
Universidade Paulista, Belém, PA
https://orcid.org/0000-0003-4300-9462
Resumo
Os sinais vitais são indicadores do estado de saúde e da garantia das funções circulatória, respiratória, neural e endócrina do corpo. A atividade é independente e rotineira da enfermagem, pois não requer aparelhagem específica e o seu produto é utilizado por todos os demais profissionais da equipe de saúde. Buscou-se avaliar o conhecimento teórico e prático de estudantes de enfermagem a respeito dos sinais vitais, antes e depois do curso e enfatizar a importância da educação continuada. Trata-se de um estudo descritivo, quantitativo e observacional, desenvolvido no dia 28 de outubro de 2017. A coleta de dados foi realizada com acadêmicos de enfermagem que participaram do curso livre de sinais vitais, promovido por uma instituição de ensino, localizada em Belém-PA. Participaram 24 estudantes distribuídos entre acadêmicos (6) e técnicos de enfermagem (18). Identificou-se falhas no processo de ensino-aprendizagem dos acadêmicos referente aos valores normais da PA e locais da verificação do pulso tiveram uma avaliação positiva. Após ministrado a aula os quantitativos de respostas mudou, com isso o presente estudo demonstra a importância da utilização cursos, aulas, palestras e interações grupais no qual contribuem com o desenvolvimento dos alunos. Os resultados demonstraram que a aprendizagem sobre sinais vitais teve uma avaliação positiva por parte dos alunos, evidenciando a necessidade de sempre estar se reciclando e se atualizando. Destaca-se também, a necessidade de incrementação, pelas instituições de ensino, a execução da verificação de sinais vitais.
Palavras-Chave: Cuidado de Enfermagem; Educação Continuada; Sinais Vitais.
Abstract
Vital signs are indicators of the state of health and the guarantee of circulatory, respiratory, neural and endocrine functions of the body. The activity is independent and routine of nursing, because it does not require specific equipment and its product is used by all other professionals of the health team. We sought to evaluate the theoretical and practical knowledge of nursing students about vital signs before and after the course and to emphasize the importance of continuing education. This is a descriptive, quantitative and observational study, developed on October 28, 2017. Data collection was performed with nursing students who participated in the vital signs-free course, promoted by an educational institution, located in Belém-PA. Participants were 24 students distributed among academics (6) and nursing technicians (18). It was identified failures in the teaching-learning process of the students regarding the normal bp values and pulse verification sites had a positive evaluation. After teaching the class the quantitative answers changed, with this study demonstrates the importance of using courses, classes, lectures and group interactions in which they contribute to the development of students. The results showed that learning about vital signs had a positive evaluation by the students, evidencing the need to always be recycling and updating. It is also noteworthy the need for incrementation, by educational institutions, the execution of the verification of vital signs.
Keywords: Nursing Care; Continuing Education; Vital Signs.
Introdução
Os sinais vitais (SSVV) são indicadores do estado de saúde e da garantia das funções circulatória, respiratória, neural e endócrina do corpo. Podem servir como instrumentos de análise do estado do paciente e da gravidade da doença e contribuem para que o enfermeiro identifique os diagnósticos de enfermagem, avalie as intervenções implementadas os SSVV são indicadores que merecem atenção especial, devido à grande variação em sua saúde fisiológica, cognitiva e psicossocial (FRAGA et al., 2018; RIGHETTI et al., 2019).
A atividade é independente e rotineira da enfermagem, pois não requer aparelhagem específica e o seu produto é utilizado por todos os demais profissionais da equipe de saúde. Os SSVV incluem a aferição fisiológica da pressão arterial, frequência cardíaca, frequência respiratória, temperatura e dor. Os valores podem ser tecnicamente mensuráveis com o auxílio de esfigmomanômetros, estetoscópio, termômetro e escala numérica de dor (TEXEIRA et al., 2015; MUNIZ et al., 2021).
De acordo com a VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, é caracterizada pelos níveis de pressão sanguínea nas artérias, as medidas de pressão arterial são satisfatórias quando a pressão arterial sistólica se apresenta com valores abaixo de 130 mmHg e a pressão arterial diastólica com valores abaixo de 85 mmHg. A frequência cardíaca é rotineiramente avaliada pelo pulso radial por um período de 60 segundos e a sua normalidade se mostra na faixa de 60-100 batimentos por minuto. A frequência respiratória tem significado semiológico quando superior a 24 incursões respiratórias por minuto. A temperatura corporal apresenta faixa de normalidade entre 36 a 37ºC (OLIVEIRA et al., 2020; SALOTI; MEDEIROS, SANTOS 2020).
A Agência Americana de Pesquisa e Qualidade em Saúde Pública e a Sociedade Americana de Dor, descrevem a dor como o quinto sinal vital que deve sempre ser registrado ao mesmo tempo e no mesmo ambiente clínico em que também são avaliados os outros sinais vitais, quais sejam: temperatura, pulso, respiração e pressão arterial (CASTRO; PEREIRA; BASTOS, 2018).
Atualmente, tem se utilizado vários métodos para mensurar a percepção/sensação de dor. Alguns métodos consideram a dor como uma qualidade simples, única e unidimensional que varia apenas em intensidade, mas outros a consideram como uma experiência multidimensional composta também por fatores afetivo-emocionais (QUEIRÓZ et al., 2015; ABOTT, 2019).
Diante do contexto apresentado, houve a necessidade de se investigar se os estudantes de enfermagem realmente sabem executar todo ensinamento adquirido durante sua formação, uma vez que os alunos após sua formação propagaram essa prática, não apenas como uma rotina organizacional, mas como início de uma melhor elaboração da assistência de enfermagem.
No presente estudo, a educação continuada, é entendida como uma prática desenvolvida junto aos alunos e profissionais a partir de campos de conhecimento que compõem as áreas interdisciplinares da saúde e da educação, visando à atualização e revisão nesse caso enfatizando a importância da correta avaliação dos sinais vitais. Portanto, o objetivo do estudo é avaliar o conhecimento teórico e prático de estudantes de enfermagem a respeito dos sinais vitais, antes e depois do curso e enfatizar a importância da educação continuada, em uma instituição de cursos livres, localizada em Belém, Pará.
Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo, quantitativo e observacional, desenvolvido no dia 28 de outubro de 2017. A coleta de dados foi realizada com acadêmicos de enfermagem que participaram do curso livre de sinais vitais, promovido por uma instituição de ensino, localizada em Belém-PA. A população incluiu alunos que aceitaram participar da pesquisa. Foram 24 estudantes distribuídos entre graduandos de enfermagem e alunos do técnico de enfermagem de ambos os sexos e faixa etária.
Os convidados a participar do estudo foram previamente elucidados quanto à natureza e o objetivo do trabalho. A coleta de dados se deu em dois momentos, antes e depois da aula, no qual foi realizada por meio de um questionário semiestruturado elaborado com base no protocolo de enfermagem: na atenção primária à saúde do conselho regional de enfermagem de Goiás (3). O questionário com nove perguntas buscava avaliar o conhecimento dos estudantes sobre: a) valores e locais de verificação do pulso; b) valores e locais de verificação da temperatura; c) valores e características dos movimentos respiratórios; d) valores e locais de verificação da pressão arterial; e) Você sabe avaliar o sinal da dor?.
Primeiramente, os alunos responderam as questões antes de dar início a aula teórica. Ao término do curso os alunos responderam às mesmas questões novamente de acordo com o conhecimento adquirido e foram comparadas as respostas antes e depois da aula. Posteriormente, foi analisada a execução de prática em sinais vitais após a aula teórica. Os resultados da entrevista e a análise da prática foram armazenados no Programa Microsoft Excel 2007, versão 7.1.0.6. Foi utilizada a infraestrutura da sala para realização das atividades. Os kits de enfermagem foram de competência dos alunos que participaram da aula e o recurso visual (notebook) foi concedido pela instituição para melhor ilustração.
Resultados e Discussão
Foram entrevistados 24 estudantes distribuídos entre acadêmicos (6) e técnicos de enfermagem (18).
Na primeira etapa, antes da aula, os alunos responderam ao questionário e quando perguntados sobre os valores normais e locais do pulso, 50% (12/24) dos alunos responderam corretamente às questões, 33,3% (8/24) erraram 16,7% (4/24) ignoraram, tendo um destaque para as respostas erradas onde os alunos confundiram o valor normal do pulso com o da pressão arterial (PA).
Gráfico 1: Distribuição dos valores normais da PA e locais do pulso na primeira etapa.
Fonte: Próprios autores.
Os resultados permitiram identificar falhas no processo de ensino-aprendizagem dos acadêmicos referente aos valores normais da PA e locais da verificação do pulso tiveram uma avaliação positiva. A suma importância de saber os valores da PA, decerto por ser um procedimento simples e fácil de ser realizado. Entretanto, a medida incorreta pode comprometer a avaliação clínica do paciente.
A medida da PA visa à obtenção de valores confiáveis, que auxiliem na determinação do estado geral de saúde do paciente, além de garantir subsídios para uma possível intervenção, quando necessária (SILVA et al., 2021).
Um procedimento que deve ser realizado pelo profissional de saúde e que está presente como o primeiro modo de medida de prevenção. A aferição da PA nos sinais vitais durante a anamnese pode detectar sinais assintomáticos como elevados níveis pressóricos e podem permitir ao paciente o início de um tratamento precoce, seja por terapia medicamentosa ou mudanças nos hábitos de vida, além de prevenir de riscos ou fatalidades futuras.
Em condições normais, a PA deve ser mantida em uma determinada faixa de variação, permitindo uma adequada perfusão dos órgãos e tecidos (DANTAS; RONCALLI, 2019). Segundo a VII Diretrizes Brasileira de Hipertensão os valores pressóricos em indivíduos >18 sem classificam em; Normal _< 120/80 mmHg, Pré-Hipertensão 120/80 mmHg à 139/89 mmHg, Hipertensão estágio 1 140/90 mmHg à 159/99 mmHg, Hipertensão estágio 2 160/90 mmHg (POTTER et al. 2018).
É de suma importância ter o controle da pressão arterial e saber os valores corretamente. Dessa maneira, é através deste cuidado que podemos evitar inúmeras doenças, tais como: infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência renal (BERTTI; NUNES, 2017).
Sobre os locais de verificação de pulso temos as artérias: Temporal, carótida, apical, braquial, radial, ulnar, femoral, poplítea, tibial posterior e dorsal do pé. Entretanto, em bebês não se pode aferir pulso na artéria carótida, pois pode haver interrupção de fluxo
A respeito dos valores e locais de verificação da temperatura, 45,8% (11/24) dos alunos acertaram as questões, 41,6% (10/24) respondeu errado e 12,5% (3/24) ignoraram.
Gráfico 2: Distribuição dos valores e locais de aferição de temperatura.
Fonte: Próprios autores.
A temperatura do ser humano se mantém constante em torno de 36.8• C e 37.3• C, porém as extremidades podem se encontrar em menor temperatura, além de alguns fatores que podem alterar esse valor como por exemplo; ambiente, clima, estresse, etc. Podendo haver uma hipotermia que é a redução da temperatura corporal, quando esse valor se dá abaixo de 35* C ou uma hipertermia que é a elevação da temperatura corporal passando extremante do ponto de regulação térmica.
Referente aos locais de aferição temos: Oral 37ºC- leitura lenta (cerca de 7 min.) risco de contaminação por fluidos, não indicado para pacientes que não colaboram ou estão inconscientes. Retal: 37,5ºC- maior precisão, método desagradável, risco de exposição a fluidos, risco de lesão, contraindicado para RN e pacientes com doenças renais. Axilar: 36.5ºC – local menos preciso, sudorese pode interferir, longo período de mensuração. Timpânica: 37ºC – aferição rápida, custo elevado, presença de cerume podem interferir na leitura, contraindicado para paciente submetidos a cirurgia auditiva. (POTTER et al. 2018).
Quanto à análise dos valores e movimentos da frequência respiratória, 41,7% (10/24) responderam com precisão, 25% (6/24) erraram e 33,3% (8/24) ignoraram. Sobre os valores e locais de verificação da pressão arterial, 41,6% (10/24) acertaram, 25% (6/24) responderam errado e 33,3% (8/24) ignoraram, conforme demonstrado na tabela 1.
Tabela 1: Análise dos valores e movimentos da frequência respiratória.
Descrição | Acertos | % | Erros | % | Ignorado | % |
Valores e movimentos respiratórios | 10 | 41,7 | 6 | 25 | 8 | 33,3 |
Valores e locais de verificação da pressão arterial | 10 | 41,6 | 6 | 25 | 8 | 33,3 |
Fonte: Próprios autores.
Os participantes do estudo se confundiram o valor normal do pulso com o valor da PA, no entanto as características do pulso como a frequência que a contagem deve ser sempre feita por 60 segundos, sendo que a frequência varia com idade e as condições físicas, além dos ritmos que é dada pela sequência das pulsações e a amplitude. Essas características são diferentes em relação a PA e os valores se tornam diferentes e incomparáveis. Percebemos que, há necessidade de realizar cursos e capacitação em relação ao SSVV (BECKER et al., 2021).
Vale ressaltar o déficit no conhecimento dos locais de aferição da PA, cerca de 95% dos alunos responderam os locais mais utilizados na assistência como artéria braquial, isso foi confirmado na aula prática, durante a instrução de verificação da PA na artéria tibial, onde constatou-se que 100% dos alunos não souberam aferir.
Nesse sentido, é possível notar uma carência de conhecimento em relação aos locais de aferição da PA. Após ministrado a aula os quantitativo de respostas mudou, com isso o presente estudo demonstra a importância da utilização cursos, aulas, palestras e interações grupais no qual contribuem com o desenvolvimento dos alunos com interação, diálogo, debates e práticas interativas que proporcionam ao estudante autonomia e contribuem de forma efetiva para o aprendizado dos estudantes e no desenvolvimento do trabalho em equipe.
Depois de ministrado a aula esse quantitativo mudou, 91,6% (22/24) dos alunos acertaram as questões sobre pulso; 83,3% (20/24) acertaram as perguntas sobre temperatura e frequência respiratória; e 75% (18/24) responderam certo as questões que abordava pressão arterial.
Figura 1: Levantamento das questões aplicadas após a aula ministrada.
Fonte: Próprios autores.
O método de aprendizagem de modo participativo é tido como o envolvimento de sujeitos nas responsabilidades de execução, elaboração e avaliação, que possibilita a formação crítica dos estudantes que serão futuros profissionais de saúde.
O processo ensino-aprendizagem em enfermagem, demonstra exemplos práticos da utilização destes materiais utilizados para verificação dos sinais vitais no processo de formação do Enfermeiro. Apesar que foi observado que após a aula ministrada 91,6% dos alunos aprenderam sobre os sinais vitais, de modo, que antes percebemos a dificuldade que os alunos têm de entender e compreender os sinais vitais, tais dificuldades iriam pactuar nos indicadores indispensáveis das funções desempenhadas pelo nosso corpo e são de extrema importância para orientação de diagnóstico e acompanhamento da evolução de quadros clínicos (DIAS; DE JESUS, 2021; DA SILVA et al., 2021).
A enfermagem é a categoria profissional que mais realiza os procedimentos de sinais vitais. Logo, os profissionais enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem devem ser proficientes na aferição dos sinais vitais, ou seja, é necessário que se formem profissionais qualificados para fazer uso das técnicas corretas na aferição e que se atenham de um vasto conhecimento científico acerca do assunto, de modo a conseguir avaliar o paciente adequadamente e estabelecer um planejamento terapêutico satisfatório e seguro (PEREIRA et al., 2017).
Este estudo embora tenha sido realizado com acadêmicos e técnicos de enfermagem, as fragilidades de conhecimento identificadas sinalizam a necessidade de treinamento e capacitação constante dos alunos. Os procedimentos devem ser realizados de forma padronizada, pautados na melhor evidência científica, mesmo que sejam de rotina e de simples execução.
Considerações Finais
Percebe-se que há um sério problema na formação dos estudantes de enfermagem no que tange ações de competência desse profissional, como a monitorização de sinais vitais. Os resultados demonstraram que a aprendizagem sobre sinais vitais teve uma avaliação positiva por parte dos alunos, evidenciando a necessidade de sempre estar se reciclando e se atualizando. Destaca-se também, a necessidade de incrementação, pelas instituições de ensino, a execução da verificação de sinais vitais nos locais menos citados, por exemplo: artéria femoral, poplítea, tibial e pedosa.
Os sinais vitais, provavelmente, são um dos procedimentos que a enfermagem mais realiza no seu dia a dia. Diante disso, a aferição de sinais vitais constitui em importante indicador de resultado do cuidado seguro, sendo sua efetiva execução influenciada pela utilização dos materiais corretamente e o conhecimento dos valores de cada indicador vital que deve estar em consonância com a constante revisão e atualização do assunto.
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CAPÍTULO 8
EMPODERAMENTO DA MULHER DURANTE O CICLO GRAVÍDICO-PUERPERAL
WOMEN EMPOWERMENT DURING THE PREGNANCY-PUERPERAL CYCLE
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.08
Submetido em: 15/03/2022
Revisado em: 21/05/2022
Publicado em: 30/05/2022
Francisca Andrea Martins Freires
Enfermeira, Especialista em Enfermagem Obstétrica, Centro de Ciências da Saúde
Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza-CE
http://lattes.cnpq.br/5059035751813310
Valdevane Rocha Araújo
Bióloga, Especialista em Fisiologia Humana, Mestre, Doutora e Pós-doutora em Morfofisiologia da Reprodução, Centro de Ciências da Saúde
Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza-CE
http://lattes.cnpq.br/8652126082521493
Resumo
As ações de educação em saúde durante o pré-natal auxiliam no processo de empoderamento da mulher. Desta forma, a presente pesquisa teve o intuito de, através da criação de um grupo de gestantes, apontar, analisar, orientar e preparar as gestantes e seus acompanhantes sobre possíveis problemas existentes no ciclo gravídico-puerperal, contribuindo para o empoderamento materno. Para este fim, foi realizada uma pesquisa descritiva e quantitativa, com 08 gestantes atendidas em uma unidade básica de saúde (UBS) no município de Pindoretama/CE. Os dados foram coletados no mês de outubro de 2018 através de observação e aplicação de dois questionários, um antes e outro após os encontros realizados pelo grupo de gestantes. No primeiro momento, o questionário aplicado permitiu o levantamento dos dados sociodemográficos, bem como as expectativas quanto ao grupo de gestantes; enquanto que, no segundo momento, o questionário favoreceu a coleta de informações acerca da importância do grupo de gestantes para o enfrentamento das dúvidas, medos e desafios do ciclo gravídico-puerperal. A pesquisadora também fez uma coleta de dados através da observação contínua ao longo de todos os encontros. Verificou-se que as mulheres atendidas tinham entre 15 e 34 anos e apresentavam-se com parceiro fixo (87,5%). Todas as entrevistadas eram alfabetizadas e a maioria (87,5%) tinha renda de 1 ou 2 salários-mínimos. Observou-se ainda que, metade das mulheres estavam no terço final da gestação e já haviam apresentado o quadro de infecção urinária, além de todas já terem gestado, pelo menos, 1 vez. A expectativa das participantes para realização dos encontros foi extremamente positiva e de que o grupo iria ajudar muito na aquisição dos conhecimentos. Ao final dos encontros, 100,0% das participantes reafirmaram a contribuição do grupo para esclarecimento de dúvidas e orientações profiláticas importantes para esse período. Além disso, o grupo foi considerado excelente (71,0%) ou ótimo (29,0%). Desta forma, concluiu-se que a atuação do(a) enfermeiro(a) na promoção de educação em saúde, utilizando o grupo de gestantes como ferramenta para realização de ações educativas, contribui para o empoderamento materno durante o ciclo gravídico-puerperal.
Palavras-Chave: maternidade, grupos de gestantes, educação em saúde, enfermagem
Abstract
Health education actions during prenatal care assist in the empowerment process. Thus, the present research aimed to, through the creation of a group of pregnant women, point out, analyze, guide and prepare pregnant women and their partners about possible problems in the pregnancy-puerperal cycle, contributing to maternal empowerment. For this purpose, a descriptive and, quantitative research was carried out with 08 pregnant women attended at a basic health unit (UBS) in the Pindoretama/CE city. Data were collected in October 2018 through observation and application of two questionnaires, one before and another after the meetings from a group of pregnant women. At first, the questionnaire applied allowed the survey of sociodemographic data, as well as expectations regarding the group of pregnant women; while, in the second moment, the questionnaire favored the collection of information about the importance of the group of pregnant women to faceins doubts, fears and challenges of the pregnancy-puerperal cycle. The researcher also collected data through continuous observation throughout all meetings. It was found that the women attended were between 15 and 34 years old and had a steady partner (87.5%). All interviewees were literate and most (87.5%) had an income of 1 or 2 minimum wages. It was also observed that half of the women were in the final third of pregnancy and had already presented a urinary tract infection, in addition to all of them having been pregnant at least once. The participants’ expectations for holding the meetings were extremely positive and that the group would help a lot in acquiring knowledge. At the end of the meetings, 100.0% of the participants reaffirmed the group’s contribution to clarifying doubts and providing important prophylactic guidelines for this period. In addition, the group was considered excellent. Thus, it was concluded that the role of nurses in promoting health education, using the group of pregnant women as a tool to carry out educational actions, contributes to maternal empowerment during the pregnancy-puerperal cycle.
Keywords: maternity, groups of pregnant women, health education, nursing
Introdução
As ações de educação em saúde durante o pré-natal auxiliam no processo de empoderamento materno. Essas ações proporcionam confiança na relação profissional-gestante, reduzem a subordinação e favorecem o protagonismo das mulheres (PROGIANTI, COSTA, 2012; SILVA, NASCIMENTO, COELHO, 2015), além de capacitá-las para o controle sobre suas decisões e ações (LIMA et al., 2019). Nesse contexto, como parte integrante da equipe de saúde, o profissional de enfermagem deve garantir que a gestante tenha acesso a informações importantes e eficientes para um processo de decisão livre e verdadeiro, capaz de favorecer seu empoderamento (SODRÉ, MERIGHI, BONADIO, 2012). Além disso, dentre as atribuições da equipe de saúde, a criação de espaços de educação em saúde sobre o pré-natal não só é de suma importância, como também é uma atividade estimulada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2012).
Durante o ciclo gravídico-puerperal, problemas como despreparo para o parto natural, dificuldades na amamentação, depressão, dentre outros, poderiam ser evitados, caso essas mulheres tivessem acesso a um conhecimento adequado. As mulheres que participam de ações educativas em grupos de gestantes, por exemplo, se mostram mais seguras para o enfrentamento das diversas situações vivenciadas durante o pré-natal, parto e nascimento, uma vez que, nesse tipo de espaço, a participante pode compartilhar suas experiências e tirar suas dúvidas. As ações do grupo de gestantes devem promover o autocuidado, a criação de vínculo e a autonomia, além da troca de informações e da construção de conhecimentos coesos (SOUZA; ROECKER; MARCONI, 2011). Por esta razão, o grupo de gestantes é considerado um modelo de educação em saúde que contribui para construção do conhecimento teórico-prático da mulher durante o ciclo gravídico-puerperal (BRASIL, 2012).
Embora o empoderamento seja um dos focos principais do pré-natal, a participação do acompanhante, também é extremamente importante. Desta forma, auxiliar no fortalecimento do vínculo familiar também é um dos focos do grupo de gestantes. Para o Ministério da Saúde, a participação familiar no processo de gravidez representa um fator positivo e deve sempre ser encorajada com o objetivo de prepará-los para o momento do parto, principalmente (BRASIL, 2006). Durante essa preparação, os participantes aprendem sobre seus direitos e deveres durante o parto vaginal, e sobre a fisiologia do parto e da amamentação, além de conhecerem os riscos do parto cesáreo e os possíveis prejuízos para o bebê. Conhecerão, ainda, a importância da amamentação exclusiva para o bebê e o cuidado com a própria alimentação. Consequente, deve-se encorajá-los para a redução dos partos cesáreo e maior colaboração no trabalho de parto, parto e puerpério, dando-lhes mais segurança e tranquilidade.
Levando em consideração que, na maioria dos casos, as gestantes apresentam um grande despreparo durante o ciclo gravídico-puerperal, e que a participação de um acompanhante deve ser estimulada, a presente pesquisa teve o intuito de, através da criação de um grupo de gestantes, apontar, analisar, orientar e preparar as gestantes e seus acompanhantes sobre possíveis problemas existentes no ciclo gravídico-puerperal, contribuindo para o empoderamento materno. Neste grupo foram esclarecidos os problemas mais frequentes durante o ciclo gravídico-puerperal, além de tipos de parto, seus riscos e benefícios, e, finalmente, as gestantes foram preparadas para possíveis alterações emocionais pré e pós-parto.
Metodologia
Os princípios éticos foram seguidos em todas as fases do estudo, em consonância com o que preconiza a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Ceará (UECE), sob CAAE n. 97072718.5.0000.5534, respeitando as normas que regulamentam a pesquisa com seres humanos do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. Todas as participantes receberam e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), quando maiores de 18 anos ou ambos TCLE e Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE), quando menores de 18 anos. Sendo, neste último caso, o TCLE assinado por responsável.
Trata-se de um estudo descritivo de abordagem quantitativa, que verifica, descreve, e registra diversos aspectos utilizando-se de valores numéricos e posteriormente, a interpretação dos mesmos. A coleta foi realizada através de instrumentos que se unem para compilar informações numéricas a fim de processar dados estatísticos (POLIT; BECK, 2011).
A pesquisa foi realizada em um programa de saúde da família (PSF), localizado no município de Pindoretama/CE, onde a equipe de enfermagem realiza consultas de pré-natal semanalmente. Este PSF presta atendimentos nas áreas de Saúde da Mulher, da Criança, do Adulto e do Idoso, além de procedimentos simples como: curativos, retiradas de pontos, administração de medicações, entrega de medicamentos e vacinas. Vale ressaltar que a pesquisa foi realizada durante o mês de outubro de 2018 e é parte integrante do trabalho de conclusão de curso (TCC) em enfermagem obstétrica do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UECE, defendido em 2019 e intitulado “Empoderamento da mulher no ciclo gravídico-puerperal em grupo de gestantes: um caso no município de Pindoretama”.
A população do estudo foi composta por 08 mulheres gestantes, com idades entre 15 e 34 anos e que realizaram as consultas de pré-natal na unidade básica de saúde (UBS) e participaram dos encontros do grupo de gestantes. Como critérios de exclusão, não participaram da pesquisa, mulheres que não realizaram o pré-natal na unidade de saúde, além daquelas que não participaram de, pelo menos 2, dos 4 encontros do grupo de gestantes.
Para criação do grupo de gestantes, primeiramente foram elaboradas aulas com as principais temáticas referentes ao ciclo gravídico-puerperal, sendo uma para cada encontro. As temáticas foram “Amamentação”, “Tipos de partos”, “Diabetes gestacional” e “Alimentação saudável” e, para todas, também era abordada a importância da rede de apoio, representada pela presença de um acompanhante. Uma vez criado, o grupo se reuniu semanalmente, todas as sextas-feiras, totalizando 4 encontros durante o mês de outubro de 2018. Em cada encontro, a temática era abordada através de aulas expositivas, utilizando projetor multimídia e slides, além de assessórios didáticos, tais como bebê de brinquedo, modelos didáticos de mamas e tipos de mamilo, rosquinha de amamentação com frauda, charutinho, etc. (Fig. 1) para as demonstrações práticas. Além disso, também havia o compartilhamento de experiências das mulheres que haviam tido gestações anteriores.
Figura 1: Assessórios didáticos utilizados para demonstrações práticas durante os encontros do grupo de gestantes assistidas pelo programa saúde da família (PSF), Pindoretama/CE, Brasil, 2018. (A) bebê de brinquedo; (B) modelo didático de mama; (C-F) tipos de mamilo; (G-H) rosquinha de amamentação com frauda; (I) charutinho. Fonte: Acervo próprio, 2022.
Como instrumentos de coleta de dados utilizou-se a observação e o questionário. No primeiro dia de curso, foi aplicado um questionário com questões de múltipla escolha, através das quais foram levantados os dados sociodemográficos, bem como as expectativas quanto ao grupo de gestantes. Durante cada encontro do grupo, a pesquisadora também fez uma coleta de dados através da observação contínua. Finalmente, um segundo questionário com questões abertas e fechadas, sobre a importância do grupo de gestantes para o enfrentamento das dúvidas, medos e desafios do ciclo gravídico-puerperal foi aplicado.
Os dados foram digitalizados utilizando o programa Excel (Microsoft Windows versão 2016) para criação de um banco de dados, sendo realizada estatística descritiva simples. Esse tipo de análise estatística objetiva-se a sintetizar valores de mesma natureza, permitindo uma visão global da variação desses valores. Para organizar e descrever esses dados podem ser utilizados tabelas, gráficos e medidas descritivas (GUEDES et al., 2018).
Resultados e Discussão
Quanto aos dados sociodemográficos das gestantes pesquisadas no referido estudo, observou-se que a população da pesquisa foi constituída por mulheres na faixa etária entre 15 e 25 anos (n=4; 50%) e 26 e 34 anos (n=4; 50%), sendo 37,5% (n=3) delas casadas, 50% (n=4) em união estável e 12,5% (n=1) afirmou ser solteira (Tabela 1). Verificou-se ainda que nenhuma das entrevistadas era analfabeta; por outro lado, já haviam concluído o ensino médio (n=3; 37,5%) ou estavam para concluir (n=2; 25%) ou ainda, haviam concluído o ensino superior (n=1; 12,5%) ou estavam para concluir (n=2; 25%). Quando questionadas sobre a renda familiar, apenas 12,5% (n=1) relatou viver com meio salário-mínimo, enquanto que a maioria delas tinham renda de 1 (n=4; 50%) ou 2 salários (n=3; 37,5%).
Tabela 1: Características sociodemográficas das gestantes atendidas no programa saúde da família (PSF), Pindoretama/CE, Brasil, 2018.
VARIÁVEL | nº | % |
Idade |
|
|
15 a 25 anos | 04 | 50,0 |
26 a 34 anos | 04 | 50,0 |
Estado civil |
|
|
Solteira | 01 | 12,5 |
Casada | 03 | 37,5 |
União estável | 04 | 50,0 |
Escolaridade |
|
|
Analfabeta | 00 | 0,0 |
Ensino fundamental completo | 00 | 0,0 |
Ensino fundamental incompleto | 00 | 0,0 |
Ensino médio completo | 03 | 37,5 |
Ensino médio incompleto | 02 | 25,0 |
Ensino superior completo | 01 | 12,5 |
Ensino superior incompleto | 02 | 25,0 |
Renda familiar |
|
|
Nenhuma | 00 | 0,0 |
Meio salário mínimo | 01 | 12,5 |
1 salário mínimo | 04 | 50,0 |
2 salários mínimos | 03 | 37,5 |
3 salários mínimos | 00 | 0,0 |
Fonte: Elaborada pelas autoras, 2019.
Durante o pré-natal, a utilização de grupos de educação em saúde voltados para as gestantes contribui para a aquisição de conhecimentos teóricos e práticos, bem como para o compartilhamento de experiências sobre o ciclo gravídico-puerperal. Neste sentido, o grau de alfabetização das participantes deste estudo, favorece a compreensão das práticas educativas realizadas. Além disso, o fato de a maioria delas estarem com um companheiro presente nos encontros, auxilia o fortalecimento familiar, uma vez que representa um fator positivo, conforme recomenda o Ministério da Saúde (BRASIL, 2006).
Os espaços para promover educação podem ocorrer tanto durante grupos específicos para gestantes, quanto em salas de espera, atividades em comunidades e escolas ou em outros espaços de trocas de ideia (BRASIL, 2012). O conhecimento adquirido vai auxiliar a gestante a perpassar os problemas vindouros desse ciclo, uma vez que é um momento de grandes mudanças hormonais que podem desencadear, inclusive, transtornos emocionais. Por esta razão, é crucial o contato da gestante com um profissional que a escute e que converse, atendendo suas necessidades e emoções, para efetivar a humanização e o acolhimento (CAMILLO et al., 2016).
O profissional de saúde deve atentar-se para realizar condutas focadas no princípio de humanização, sendo este agregado à integralidade e à equidade, ancoradas às práticas educativas (SOUZA; ROECKER; MARCONI, 2011). Neste contexto, o(a) enfermeiro(a) torna-se protagonista desse cenário de educação em saúde, como ferramenta de mudança e transformação da vivência dessas mulheres, promovendo um atendimento humanizado para garantia de uma gestação, parto e puerpério, mais tranquilos e com menos intercorrências.
A Tabela 2 demonstra os antecedentes clínico-obstétricos das gestantes atendidas durante o pré-natal no PSF em Pindoretama/CE. Observou-se que 50% (n=4) das mulheres estavam no último terço do período gestacional, enquanto que as demais estavam no primeiro (n=2; 25%) ou no segundo (n=2; 25%) trimestres de gestação. Além disso, 100% das gestantes atendidas já haviam gestado, pelo menos, 1 vez. Contudo, apenas 62,5% (n=5) conseguiram manter a gestação a termo, sendo submetidas a parto natural (n=3; 37,5%) ou cesariano (n=2; 25,0%). No tocante as complicações clínico-obstétricas, metade (50%) das gestantes já haviam apresentado o quadro de infecção urinária.
Tabela 2: Caracterização dos antecedentes clínico-obstétricos durante o pré-natal das gestantes atendidas no programa saúde da família (PSF), Pindoretama/CE, Brasil, 2018.
VARIÁVEL | nº | % |
Idade gestacional |
|
|
1º trimestre | 02 | 25,0 |
2º trimestre | 02 | 25,0 |
3º trimestre | 04 | 50,0 |
Antecedentes Obstétricos |
|
|
Gestação | 08 | 100,0 |
Parto natural | 03 | 37,5 |
Parto cesáreo | 02 | 25,0 |
Aborto | 03 | 37,5 |
Antecedentes Clínico-obstétricos |
|
|
Pré-eclâmpsia | 04 | 50,0 |
Eclâmpsia | 00 | 0,0 |
Infecção Urinária | 00 | 0,0 |
Diabetes Gestacional | 00 | 0,0 |
Prematuridade | 00 | 0,0 |
Hipertensão Gestacional | 00 | 0,0 |
Outros | 00 | 0,0 |
Ausentes | 04 | 50,0 |
Fonte: Elaborada pelas autoras, 2019.
No presente estudo evidenciou-se que, pelo menos, metade das gestantes apresentaram quadros de infecção do trato urinário. Esse tipo de antecedente clínico-obstétrico é responsável pelo alto índice de complicações obstétricas em qualquer dos trimestres gestacionais. Dentre as principais complicações obstétricas, as mais comuns são aborto, parto prematuro e baixo peso ao nascer. Assim, o envolvimento de toda a equipe de saúde para a integralidade da assistência à gestante é fundamental. Além disso, uma boa assistência pré-natal pode até não impedir a ocorrência de complicações na gestação e no parto, mas certamente poderá amenizá-las. E por esta razão, o acesso ao cuidado pré-natal, desde o primeiro trimestre da gestação, foi incorporado como indicador de qualidade da atenção básica brasileira (BRASIL, 2016).
Ao serem questionadas se a criação do grupo traria algum benefício para a própria gestante e seu bebê, bem como benefícios no sentido de diminuir os problemas na sua gestação, parto e puerpério, 100,0% (n=8) das mulheres responderam que sim (Fig. 1A). Além disso, a expectativa das participantes foi extremamente positiva, uma vez que a maioria (87,5%) afirmou que a realização dos encontros iria ajudar muito (Fig. 1B). Esclarecemos que, para o segundo questionário, aplicado após a criação do grupo e realização dos encontros, apenas 7 participantes responderam, uma vez que uma das participantes desistiu ao longo do tempo. Neste sentido, as Figuras 1C-D apresentam as respostas das participantes, nas quais 100,0% delas reafirmaram a contribuição do grupo para esclarecimento de suas dúvidas, bem como para orientações para evitar problemas durante esse período (Fig. 1C). Além disso, o grupo foi aprovado por 100,0% (Fig. 1D) das participantes, uma vez que recebeu os conceitos excelente (71,0%) e ótimo (29,0%).
Figura 2: Expectativas (A e B) e contribuições (C e D) do grupo para o empoderamento de gestantes assistidas pelo programa saúde da família (PSF), Pindoretama/CE, Brasil, 2018. Fonte: Elaborada pelas autoras, 2019.
Neste estudo verificou-se que as gestantes tinham a expectativa de que as orientações a serem repassadas durante os encontros do grupo as ajudariam na prevenção de possíveis problemas da gestação, parto e puerpério. Além disso, esperavam que tais orientações as tornariam mais confiantes e seguras e as auxiliariam na lida dessas possíveis complicações. Assim, verifica-se que ações educativas se associam ao cuidado e promoção do empoderamento materno, estimulando um olhar crítico e o desejo de mudança (PROGIANTI; COSTA, 2012; GUERREIRO et al., 2014).
Ao final dos encontros do grupo, a grande maioria das gestantes revelaram que a temática “Amamentação”, abordada em um dos encontros, havia sido extremamente positiva e relevante. Esse tema ganhou grande destaque, possivelmente pelo fato de ser um problema muito comum entre as puérperas, principalmente, nos primeiros dias. O início do puerpério, exige grande esforço físico e psicológico, além de conhecimentos por parte dessa mulher que deve mostrar-se empoderada. Desta forma, o pré-natal é um momento decisivo para aquisição de saberes sobre educação em saúde, sendo os encontros realizados nos grupos de gestantes, uma excelente alternativa para este fim.
Destaca-se ainda que, o ato de amamentar é muito mais do que passar o leite de um organismo para outro. Na verdade, o processo de amamentação estabelece e consolida o vínculo entre mãe e filho. Além disso, é por meio do contato com a pele materna que o bebê se relaciona com o mundo a sua volta, abrindo-se para sua significação enquanto sujeito. Assim, manter a calma e confiar em sua capacidade, caracterizam uma mulher empoderada e auxiliam-na no processo de amamentar. Por esta razão, a criação de grupos de gestantes para encontros frequentes, permitirá a redução dos anseios maternos e, consequentemente, do medo de não ser capaz, ou dos sentimentos de dor e depressão que poderiam resultar no fracasso da amamentação.
Considerações Finais
O presente estudo foi marcado por algumas limitações e uma das mais frequentes foi a assiduidade. Algumas gestantes não conseguiram assistir 100% das palestras por diferentes razões, fosse a (1) necessidade de frequentar o trabalho, a (2) distância entre sua residência e a UBS ou mesmo a própria (3) situação gestacional, ou seja, ocorrências de mal-estar geral decorrentes do ciclo gestatório. E, mesmo diante de todas essas dificuldades, pode-se perceber que os conhecimentos adquiridos por cada gestante, permitiu mais segurança e tranquilidade para enfrentar as adversidades desse ciclo tão complexo e ao mesmo tempo, tão desejado por muitas mulheres. Com base nessas informações, concluiu-se que a atuação do(a) enfermeiro(a) na promoção de educação em saúde, utilizando o grupo de gestantes como ferramenta para realização de ações educativas, contribui para o empoderamento materno durante o ciclo gravídico-puerperal.
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CAPÍTULO 9
OUTCOME PRESENT STATE TEST: APLICABILIDADE NA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A UM PACIENTE COM PANCREATITE NECRO-HEMORRÁGICA
OUTCOME PRESENT STATE TEST: APPLICABILITY IN THE SYSTEMATIZATION OF NURSING CARE FOR A PATIENT WITH NECROHEMORRHAGIC PANCREATITIS.
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.09
Submetido em: 15/12/2021
Revisado em: 10/01/2022
Milena Leite Veloso
Universidade Federal do Piauí, Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – Piauí
http://lattes.cnpq.br/9174537943610630
Lara Karine Lima Sousa
Universidade Federal do Piauí, Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – Piauí
http://lattes.cnpq.br/4216189819457766
Rayla Lucia de Almeida Hipólito
Universidade Federal do Piauí, Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – Piauí
http://lattes.cnpq.br/7651396546400754
João Rafael da Silva Fonseca
Universidade Federal do Piauí, Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – PI.
http://lattes.cnpq.br/4791314107234385
Raiara Pedrosa Vieira
Universidade Federal do Piauí, Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – PI.
http://lattes.cnpq.br/9117171712764909
Francisca Rosana Gonçalves Mota
Universidade Federal do Piauí, Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – PI.
http://lattes.cnpq.br/7586970144147937
Leonilia Sousa Alencar Borges
Universidade Federal do Piauí, Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – PI.
http://lattes.cnpq.br/6118517238142742
Sara Gonçalves de Sousa
Universidade Federal do Piauí, Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – PI.
http://lattes.cnpq.br/4592120995117515
Francisco Gilberto Fernandes Pereira
Universidade Federal do Piauí, Curso de Enfermagem, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos – PI.
http://lattes.cnpq.br/6018178640473155
Resumo
A prática de enfermagem contemporânea deve basear-se na análise complexa das múltiplas condições do paciente, considerando as principais evidências para os julgamentos clínicos. Portanto, objetivou-se identificar, por meio do modelo de raciocínio clínico Outcome Present State Test (OPT), os diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem para paciente internado em unidade clínica-cirúrgica por pancreatite necro-hemorrágica. Trata-se de um estudo de caso realizado em uma unidade de cuidados cirúrgicos. A coleta de dados foi realizada através do instrumento “Anamnese e Exame Físico: Avaliação Diagnóstica de Enfermagem no Adulto”. Os diagnósticos, resultados e intervenções foram selecionados de acordo os sistemas padronizados de linguagem NANDA-I, Nursing Outcomes Classification (NOC) e Nursing Intervention Classification (NIC). Comportamento de saúde propenso a risco foi o diagnóstico central, e o resultados e intervenções focaram-se em crenças de saúde: controle percebido, autocontrole do diabetes, comportamento de aceitação: dieta prescrita, comportamento de ganho de peso, comportamento de adesão e controle de riscos: uso de álcool. O modelo OPT mostrou-se um método útil para a enfermagem ao possibilitar o reconhecimento do diagnóstico central para o paciente em estudo, e a partir disso, auxiliar na identificação das prioridades do plano de cuidados e a seleção de resultados e intervenções direcionadas, além de permitir o desenvolvimento de habilidades de raciocínio clínico e cognitivo.
Palavras-chave: Pancreatite necrosante aguda. Processo de enfermagem. Diagnósticos de enfermagem.
Abstract
Contemporary nursing practice must be based on a complex analysis of multiple patient conditions, considering the main evidence for clinical judgments. Therefore, this case study aimed to identify, through the Outcome Present State Test (OPT) clinical reasoning model, the diagnoses, outcomes and nursing interventions for patients admitted to a clinical-surgical unit for necrohemorrhagic pancreatitis. Data collection was performed using the instrument “Anamnesis and Physical Examination: Diagnostic Assessment of Adult Nursing”. Diagnoses, outcomes and interventions were selected according to the standardized North American Nursingv Diagnosis Association-International (NANDA-I), Nursing Outcomes Classification (NOC) and Nursing Intervention Classification (NIC) language systems. Risk-prone health behavior was the central diagnosis, and outcomes and interventions focused on health beliefs: perceived control, diabetes self-management, acceptance behavior: prescribed diet, weight gain behavior, adherence behavior and control of risks: alcohol use. The OPT model proved to be a useful method for nursing by enabling the recognition of the central diagnosis for the patient under study, and, based on that, helping to identify the priorities of the care plan and the selection of results and targeted interventions, in addition to enable the development of clinical and cognitive reasoning skills.
Keywords: Acute, necrotizing pancreatitis. Nursing process. Nursing diagnosis.
Introdução
A pancreatite aguda (PA) consiste na inflamação aguda do pâncreas e suas principais causas incluem doença biliar, consumo de álcool, hipertrigliceridemia e colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) (BÁLINT et al., 2020). Ainda, há demonstração de risco aumentado em pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2 (XIAO et al., 2020). Em geral, existe associação entre a causa e o curso da doença, pois a frequência de pancreatite necrosante, forma grave da PA, é maior na etiologia alcoólica que na biliar, e quando causada por hipertrigliceridemia associa-se a um número maior de complicações. É provável que PA alcoólica seja mais grave que a biliar ou a PA pós-CPRE (BÁLINT et al., 2020).
A pancreatite necrosante ocorre em até 10% dos pacientes e é a principal causa de mortalidade (THIRUVENGADAM et al., 2021). Ademais, algumas complicações incluem insuficiência cardíaca, pulmonar e renal, além de sepse (GURUSAMY et al., 2016). Para isso, os tratamentos mais utilizados são a retirada cirúrgica do tecido necrótico, lavagem peritoneal e drenagem (GURUSAMY et al., 2016).
Tendo em vista o quadro clínico amplo, apresentação atípica e complicações locais e sistêmicas, o tratamennto exige da enfermagem métodos baseados no raciocínio clínico acerca da história e estado atual do paciente (KARIN et al, 2021). Dessa forma, faz-se imprescindível que o pensamento crítico e o raciocínio clínico estejam presentes nas ações de cuidado. Ambos são frequentemente usados na literatura de enfermagem como sinônimos, mas o pensamento crítico envolve habilidades e atitudes necessárias ao desenvolvimento do raciocínio clínico, e baseia-se nos conhecimentos e interpretação do cenário observado (CERULLO; CRUZ, 2010).
Atualmente, o modelo Outcome Present State Test (OPT), é uma ferramenta que estabelece uma estrutura para o raciocínio clínico de problemas, ressaltando a importância de reorientar o ensino e a aprendizagem do processo de enfermagem com uma abordagem mais panorâmica, fornecendo estrutura ideal para o pensamento focado em resultados. (IBANEZ-ALFONSO et al., 2020).
A prática de enfermagem contemporânea deve basear-se na análise complexa das múltiplas condições do paciente, considerando as principais evidências para os julgamentos clínicos. Nesse sentido, o modelo OPT considera os problemas simultaneamente para que haja discernimento sobre a necessidade central e exige relações concomitantes entre NANDA-I, Nursing Outcomes Classification (NOC) e Nursing Intervention Classification (NIC) (IBANEZ-ALFONSO et al., 2020).
À medida em que são relacionados os problemas de enfermagem e as necessidades de cuidados, associam-se os diagnósticos de enfermagem encontrados. Esse processo revela um problema central, ao qual estão frequentemente vinculados os demais problemas. Uma vez identificado, esse foco principal é a base para definir o estado atual do paciente e aquele que deseja alcançar (KUIPER; PESUT, KAUTZ, 2009).
Dessa forma, o método OPT é uma importante ferramenta que auxilia o raciocínio clínico e incentiva novas habilidades cognitivas, ao passo que promove a transição do paciente de seu estado de saúde atual para o estado de resultado desejado (PESUT; HERMAN, 1999). Diante disso, o estudo teve como objetivo identificar, através do modelo de raciocínio clínico OPT, os diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem centrais para um paciente com pancreatite necro-hemorrágica.
Metodologia
Estudo de caso conduzido em uma Unidade de Internação Cirúrgica de uma instituição hospitalar regional do interior do estado do Piauí, no período de outubro a novembro de 2021, por acadêmicos de enfermagem. O hospital é uma instituição pública de médio porte que atende cerca de 42 municípios da macrorregião, que inclui o Vale do Guaribas, Sambito e Canindé. Além disso, atua de maneira pactuada com a instituição de ensino supracitada, recebendo os discentes para execução das disciplinas práticas, o que possibilitou o desenvolvimento do presente estudo.
O instrumento utilizado foi “Anamnese e Exame Físico: Avaliação Diagnóstica de Enfermagem no Adulto”, que permitiu guiar as etapas da coleta, desde a identificação, seguida das informações sobre a doença e o tratamento, assim como os hábitos do paciente, anamnese e exame físico direcionado (BARROS et al., 2016). Ainda, foi observado o prontuário do paciente em busca de confirmação de informações duvidosas ou que tenham sido esquecidas durante a coleta, pareceres de outras áreas e exames complementares. A coleta foi realizada no dia 29/10/2021, com tempo de aplicação do instrumento de aproximadamente 40 minutos.
Para construção do processo de enfermagem empregou-se o modelo de raciocínio clínico reflexivo Outcome Present State Test (OPT), que comtempla as seguintes fases: história do paciente, lógica da pista, estado atual, estado do resultado, o teste, tomada de decisão e julgamento (PESUT e HERMAN, 1998). Além disso, foram utilizados os sistemas padronizados de linguagem NANDA-I, NOC, NIC, para descrever os diagnósticos de enfermagem, os resultados e as intervenções, respectivamente.
O caso clínico descrito nesse estudo é do senhor João (nome fictício), internado na unidade clínica e cirúrgica para tratamento de pancreatite necro-hemorrágica.
João, sexo masculino, 46 anos, casado, católico, trabalhador rural, natural e procedente da cidade de Geminiano – PI, sem histórico de alergias conhecidas. Admitido para internação prévia na unidade de terapia intensiva (UTI) da instituição com diagnóstico de pancreatite necro-hemorrágica, com histórico de dor epigástrica e na região da fossa ilíaca esquerda e queimação abdominal há três meses, com acentuamento do quadro clínico há aproximadamente 20 dias. Relata etilismo crônico e nega tabagismo. Evolui para internação na enfermaria clínica e cirúrgica para aguardar intervenção cirúrgica, onde permanecia até o momento da coleta para recuperar-se do pós-operatório de laparotomia exploratória.
Os exames clínicos e laboratoriais alterados foram: Endoscopia digestiva alta (EDA), raio x de tórax e tomografia computadorizada de abdome que permitiram a visualização de varizes de trato gástrico, compressão do corpo gástrico e pangastrite enantematosa moderada; discreto derrame pleural na região esquerda e pancreatite necro-hemorrágica em retrocavidade dos epiplons e estendendo-se à região periumbilical esquerda até a fossa ilíaca esquerda, respectivamente.
Ao aferir os sinais vitais foi possível observar: pressão arterial de 113×80 mmHg; temperatura axilar de 36.5°C; frequência cardíaca de 99 bpm e frequência respiratória de 18 rpm. Refere fazer uso de medicações em casa como Metformina e Glibenclamida para o controle da diabetes e antinflamatórios para dor abdominal e plenitude gástrica.
Ao exame físico apresentava-se consciente, orientado em tempo e espaço, com pupilas isocóricas e fotorreagentes. Normotérmico, normocorado e hidratado. Cabeça e pescoço sem alterações aparentes. Normocárdico, bulhas rítmicas, normofonéticas com ausência de sopros. Tórax plano, padrão respiratório eupneico, com expansibilidade pulmonar simétrica, à percussão som claro pulmonar e, à ausculta murmúrios vesiculares sem ruídos adventícios. Abdome plano, indolor à palpação, apresentou som timpânico em todos os quadrantes à percussão e, à ausculta, ruídos hidroaéreos normoativos.
Paciente relata diurese excessiva com desconforto tolerável na região hipogástrica, bexiga levemente distendida a palpação. Evacuações intestinais fisiológicas. Membros inferiores e superiores sem alterações. Acesso venoso periférico salinizado em membro superior direito e sem sinais flogísticos.
Presença de ferida operatória que cicatriza por primeira intenção em região mesogástrica e orifício de drenagem com bolsa coletora na fossa ilíaca esquerda, devido retirada acidental de dreno túbulo laminar, com 20ml de secreção esverdeada.
Encontrava-se em dieta via oral, com aceitação parcial e relata pesar 66kg, mas ao realizar uma segunda visita dias depois constatou-se que houve emagrecimento. Nega alergias e não relata dificuldades para dormir. Segue higienizado e deambula sem auxílio.
Resultados e Discussão
Seguindo as etapas apresentadas pelo modelo usado para o desenvolvimento desse estudo, após a coleta de dados é necessário elaborar a lógica pista. Nessa etapa as informações colhidas são analisadas em busca de identificar o principal problema que o paciente apresenta, e assim determinar o diagnóstico central, aquele que mais se conecta com os demais diagnósticos de enfermagem (SEVILLA, 2014).
Podem existir mais de um diagnóstico central, sendo importante assim evidenciar a ordem de prioridade. Sendo assim, seguindo essa ordem, os diagnósticos centrais elencados para o caso clínico em questão foram: Comportamento de saúde propenso a risco (00188), risco de síndrome de abstinência de substâncias aguda (00259) e risco de glicemia instável (00179) (Figura 1).
Figura 1: Representação dos diagnósticos de enfermagem considerados para o caso clínico, suas conexões e diagnósticos de enfermagem centrais. Picos, Piauí, 2021.
Fonte: Elaborado pelos autores com base em HERDMAN; KAMITSURUS, 2018.
Nessa representação, por ser o paciente o principal foco de atenção, o mesmo encontra-se ao centro e ao redor foram dispostos os diagnósticos encontrados, e as setas serviram para criar uma conexão visual entre eles e possibilitar a visualização dos principais. Os diagnósticos que representam melhor o caso descrito são os que mais enviam setas, pois isso significa que os que recebem são consequências desses primeiros e ao aplicar as intervenções necessárias, os demais que se conectam podem ser solucionados também (GONÇALVES, 2017).
Na etapa seguinte, o estado atual, descrevem-se os fatores relacionados ou de risco, e as características definidoras dos diagnósticos centrais.
Assim, o estado atual do Sr. João é descrito da seguinte forma (HERDMAN; KAMITSURU, 2018):
- Comportamento de saúde propenso a risco (00188) relacionado a percepção negativa da estratégia recomendada de cuidados de saúde, evidenciado por abuso de substâncias.
- Risco de síndrome de abstinência de substâncias aguda (00259) relacionado ao desenvolvimento de dependência do álcool ou de outra substância aditiva e interrupção repentina de uma substância aditiva.
- Risco de glicemia instável (00179) relacionada a falta de adesão ao plano de controle do diabetes, monitoração inadequada da glicemia e perda de peso excessiva.
O diagnóstico principal entre os centrais é o comportamento de saúde propenso a risco, pois como demonstrado na figura anterior, é dele que saem a maioria das setas, indicando que os demais presentes são decorrentes dele.
Ao adotar um comportamento de saúde propenso a risco o paciente desencadeou uma série de agravos a sua saúde, que se apresentam como diagnósticos secundários. Ao fazer uso exacerbado de bebidas alcoólicas ele foi autonegligente com sua saúde se expondo ao risco de glicemia instável, pois a ingestão do álcool por indivíduos diabéticos pode causar hipoglicemia ou hiperglicemia (ANAD, 2019), como também ao risco de síndrome de abstinência de substâncias aguda.
Pancreatite necro-hemorrágica, é uma doença inflamatória do pâncreas, associada à diversas condições, inclusive por ingestão de álcool majoritariamente (REFINETTI e MARTINEZ, 2010), sendo essa a causa da sua internação e da necessidade de intervenção cirúrgica, o que resultou em integridade tissular prejudicada e também em conforto prejudicado. Outro diagnóstico relacionado ao comportamento de risco do paciente é nutrição desequilibrada: menor do que as necessidades corporais, isso porque durante sua estadia na instituição hospitalar ele demonstrou desinteresse pela dieta prescrita.
Esse último também é diagnóstico secundário dos outros dois centrais, visto que, a perda de apetite é um dos sintomas relacionados a abstinência e ao apresentar o risco de glicemia instável, onde o paciente pode apresentar dificuldades em seguir o regime alimentar prescrito para estabilizar seu índice glicêmico, como o caso do paciente estudado, causando assim um desequilíbrio nutricional. Outro aspecto afetado é o psicológico, pois ao ingerir altas quantidades de álcool o indivíduo tende a apresentar sintomas como ansiedade e ao interromper o uso da substância essa condição pode se agravar (OPAS, 2018).
Após definidos os diagnósticos, os mesmos serviram de fonte para analisar a situação atual do paciente e basear a escolha dos resultados que se espera alcançar. Assim, os resultados foram descritos e em sequência as intervenções a serem realizadas, apenas para o diagnóstico central de enfermagem elencado para o caso do Sr. João: comportamento de saúde propenso a risco (HERDMAN; KAMITSURU, 2018).
Os resultados identificados foram: crenças de saúde: controle percebido (1703), autocontrole do diabetes (1619), comportamento de aceitação: dieta prescrita (1622), comportamento de ganho de peso (1626), comportamento de adesão (1600), controle de riscos: uso de álcool (1903) (MOORHEAD et al., 2016).
Posteriormente, inicia-se a fase teste, onde identificam-se os indicadores que sustentam os resultados de enfermagem. Para o Sr. João foi selecionado o resultado comportamento de adesão. Ainda, deve-se julgar quais indicadores são pertinentes ao caso e classificá-los em uma escala de comportamento que vai de um, estado menos desejável, ao cinco, que seria o mais desejável. Para esse resultado há 13 indicadores que demonstram seu avanço, sendo alguns selecionados: pesa riscos/benefícios de comportamentos relacionados à saúde, utiliza informações respeitáveis sobre a saúde para desenvolver estratégias, utiliza estratégias para eliminar comportamento não saudável, utiliza estratégias para otimizar a saúde, utiliza serviços de cuidado à saúde coerentes com a necessidade, realiza automonitorização do estado de saúde (Quadro 1).
Quadro 1: Resultado comportamento de adesão e seus indicadores. Picos, Piauí, 2021.
Comportamento de adesão (1600) | |||
Indicadores | Estado atual (29/10/2021) | Estado desejado | |
160004 | Pesa riscos/benefícios de comportamentos relacionados à saúde | 2 | 5 (30/10/2021) |
160003 | Utiliza informações respeitáveis sobre a saúde para desenvolver estratégias | 3 | 5 (30/10/2021) |
160008 | Utiliza estratégias para eliminar comportamento não saudável | 2 | 5 (31/10/2021) |
160009 | Utiliza estratégias para otimizar a saúde | 2 | 5 (31/10/2021) |
160010 | Utiliza serviços de cuidado à saúde coerentes com a necessidade | 3 | 5
|
160014 | Realiza automonitorização do estado de saúde | 2 | 5 (01/11/2021) |
Fonte: Elaborado pelos autores com base em MOORHEAD et al. 2016.
Legenda: 1. Nunca demonstrado; 2. Raramente demonstrado; 3. Algumas vezes demonstrado; 4. Frequentemente demonstrado; 5. Consistentemente demonstrado.
É importante destacar que a graduação dos indicadores é feita de maneira subjetiva, pois a taxonomia não descreve a diferença entre os níveis de classificação geral dos resultados a serem observados em cada indicador. Consequentemente, serão definidos através da aplicação do conhecimento, experiências e vivências da equipe (GONÇALVES; POMPEO, 2016).
Em continuidade, são descritos os demais resultados e indicadores para o diagnóstico central comportamento de saúde propenso a risco:
- Crenças de saúde: controle percebido (1703): crenças de que as próprias decisões controlam o resultado de saúde (170204), crença de que as próprias ações controlam o resultado de saúde (170205).
- Controle de riscos: uso de álcool (1903): reconhece as consequências relacionadas ao abuso de álcool (190302), compromete-se com as estratégias para o controle do uso de álcool (190307), controla o uso de álcool (190316).
- Autocontrole do diabetes (1619): realiza regime terapêutico prescrito (161909), monitora a glicose sanguínea (161911), segue a dieta recomendada (161920).
- Comportamento de aceitação: dieta prescrita (1622): participa no estabelecimento de metas alimentares alcançáveis com o profissionalde saúde (162201), ingere alimentos de acordo com a dieta prescrita (162205).
- Comportamento de ganho de peso (1626): compromete-se com um plano de alimentação saudável (162606), participa de acompanhamento nutricional (162633).
Após a seleção dos resultados e seus indicadores, segue a tomada de decisão sobre as intervenções de enfermagem a serem implementadas por meio de ações específicas que visam alcançar os resultados desejados. Essa fase do processo será guiada pelas intervenções contidas na Nursing Intervention Classification (NIC) (BULECHECK et al., 2016).
As intervenções de enfermagem encontradas para comportamento de saúde propenso a risco incluem modificação do comportamento, ensino: processo da doença, facilitação da autorresponsabilidade, facilitação da aprendizagem, melhora da disposição para aprender, melhora do enfrentamento, educação em saúde, grupo de apoio e redução da ansiedade.
Para cada uma das intervenções contidas na NIC existem diversas atividades de enfermagem que devem ser realizadas para que a intervenção esteja sendo aplicada de maneira satisfatória, e são selecionadas de acordo com as especificidades do caso. Abaixo estão apresentadas as atividades de enfermagem para a intervenção modificação do comportamento (Quadro 2).
Quadro 2: Intervenções de Enfermagem modificação do comportamento e suas atividades. Picos, Piauí, 2021.
Modificação do comportamento: Promoção de uma mudança de comportamento. |
Atividades: |
· Determinar a motivação do paciente para mudar. |
· Encorajar a substituição de hábitos indesejáveis por desejáveis. |
· Apresentar o paciente a pessoas (ou grupos) que tenham enfrentado com sucesso a mesma experiência. |
· Oferecer reforço positivo para as decisões do paciente tomadas de maneira independente. |
· Encorajar o paciente a examinar seu próprio comportamento. |
· Identificar o comportamento a ser alterado (comportamento alvo), em termos específicos, concretos. |
· Quebrar o comportamento a ser alterado em unidades menores, mensuráveis de comportamento (p.ex., parar de fumar: número de cigarros fumados). |
· Usar períodos específicos de tempo ao medir unidades de comportamento (p. ex., número de cigarros fumados por dia). |
· Desenvolver um programa de mudança de comportamento. |
· Desenvolver um método (p. ex., um gráfico ou tabela) para registrar o comportamento e suas modificações. |
· Encorajar o paciente a participar de monitoramento e registro de comportamentos. |
· Facilitar o envolvimento de outros prestadores de cuidados de saúde no processo de modificação, conforme apropriado. |
· Facilitar o envolvimento da família no processo de modificação, como apropriado. |
· Desenvolver um contrato de tratamento com o paciente para apoiar a implementação do sistema simbólico/pontual. |
· Promover a aprendizagem do comportamento desejado usando técnicas de modelagem. |
· Determinar as mudanças no comportamento, comparando ocorrências de base com ocorrências do comportamento pós-intervenção. |
· Documentar e comunicar o processo de modificação, para equipe de tratamento, conforme necessário. |
· Acompanhar reforço a longo prazo (contato por telefone ou pessoal). |
Fonte: Elaborado pelos autores com base em BULECHECK et al. 2016.
Antes da implementação o enfermeiro deve analisar a realidade do paciente e do serviço e ajustar as atividades a serem realizadas a partir das prescrições de enfermagem. Para isso, irá definir a frequência e a melhor forma de executá-las, quais profissionais e especialidades contribuirão, além de garantir que as atividades sejam compreendidas pelos membros da equipe, paciente e família (GONÇALVES; POMPEO, 2016). Como exemplo, ao considerar as condições apresentadas pelo Sr. João, como varizes gástricas e pangastrite enantematosa moderada, pode-se inferir que deverá seguir em acompanhamento com gastroenterologista.
Ao longo de todo o processo o enfermeiro irá julgar a adequação das intervenções às condições do paciente e as realizações de resultados. Esse julgamento clínico deve englobar alguns elementos, sendo estes: contraste entre um estado presente e desejado, critérios associados a um resultado desejado, consideração simultânea dos efeitos e influência das intervenções de enfermagem, e uma conclusão sobre o alcance do resultado e eficácia da intervenção (KUIPER; PESUT, KAUTZ, 2009).
Tendo em vista o caso estudado, será avaliado se o Sr. João demonstra consistentemente, dentro do tempo estabelecido, pesar riscos/benefícios de comportamentos relacionados à saúde, recorrer à informações respeitáveis sobre a saúde para desenvolver estratégias, utilizar estratégias para eliminar comportamento não saudável, buscar estratégias para otimizar a saúde, frequentar serviços de cuidado à saúde coerentes com a necessidade e realizar automonitorização do estado de saúde.
Considerações Finais
O modelo OPT mostrou-se um método útil para a enfermagem, pois sua aplicação possibilitou concluir que comportamento de saúde propenso a risco é o diagnóstico de enfermagem central para o paciente em estudo, e a partir disso propiciou a identificação das prioridades do plano de cuidados e a seleção de resultados e intervenções direcionadas.
O estudo é limitado devido a duração das aulas práticas da disciplina, que não permitiu o acompanhamento do paciente, para que as os cuidados de enfermagem a serem implementados fossem avaliados. Contudo, os resultados obtidos possibilitaram compreender as condições específicas do paciente com pancreatite necro-hemorrágica, como também os principais resultados e intervenções.
Raciocinar e julgar clinicamente envolvem consciência metacognitiva, pensamento crítico, criativo, sistêmico e reflexivo (KUIPER; PESUT, KAUTZ, 2009). A partir disso, o estudo permite que acadêmicos e enfermeiros ampliem suas habilidades e possibilidades de atuação frente à execução do processo de enfermagem. Ademais, ressalta a necessidade de futuras pesquisas que produzam novas evidências científicas para implementação do modelo OPT na prática clínica e docente.
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CAPÍTULO 10
SALA DE ESPERA COMO ESTRÁTEGIA EDUCATIVA NA ATENÇÃO BÁSICA PARA PREVENÇÃO DO CÂNCER DO COLO DE ÚTERO
WAITING ROOM AS AN EDUCATIONAL STRATEGY IN PRIMARY CARE FOR THE PREVENTION OF CERVICAL CANCER
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.10
Submetido em: 15/02/2022
Revisado em: 15/03/2022
Publicado em: 30/03/2022
Larissa Rayane Alves Simão
Universidade Paulista, Garanhuns-PE
http://lattes.cnpq.br/5907205960035300
Anna Gabriella Silva Noronha
Universidade Paulista, Garanhuns-PE
http://lattes.cnpq.br/7558475891010055
Elisvandra Vasconcelos Sousa Siqueira
Universidade Paulista, Garanhuns-PE
http://lattes.cnpq.br/4801978795056665
Fernanda Barros Alves da Silva
Universidade Paulista, Garanhuns-PE
http://lattes.cnpq.br/4904966820730075
Maria Evanise Monteiro de Souza
Universidade Paulista, Garanhuns-PE
http://lattes.cnpq.br/2277738124520473
José Ivo Ferreira da Silva
Enfermeiro, Docente da Universidade Paulista, Garanhuns-PE
http://lattes.cnpq.br/9460462485895358
Resumo
O câncer do colo uterino é causado através de uma infecção persistente diante de alguns tipos de Papiloma Vírus Humano (HPV), e é a segunda neoplasia maligna mais comum entre as mulheres. Evidenciar o uso da sala de espera como estratégia educativa na prevenção do câncer do colo de útero em usuárias da Atenção Básica (AB). Trata-se de uma pesquisa do tipo Revisão Integrativa. A busca foi realizada nas bases de dados Online: BVS e SCIELO. Utilizando de descritores conforme vocabulário DeCS, associando o operador booleano “AND”: “Câncer de colo de útero”, “Prevenção”, “Atenção Básica”. Considerou-se como critérios de inclusão: Periódicos disponíveis na íntegra e gratuita. Critérios de exclusão: duplicidade nas bases de dados. Com base nos artigos e nos manuais do Ministério da Saúde, a sala de espera pode ser utilizada estrategicamente de várias formas, como: promovendo e ampliando a divulgação de informações através da confecção de cartazes, realizando grupos educativos abordando sobre a importância do exame Papanicolau, a técnica a ser utilizada, os fatores de risco para e as formas de prevenção, garantindo assim, uma melhor adesão da mulher ao exame e formas preventivas. Diante do exposto, foi possível destacar que as informações fornecidas através do profissional de saúde as mulheres usuárias da atenção básica são de suma importância para prevenção do câncer do colo uterino e neste momento, a sala de espera torna-se a maior protagonista, despertando a consciência do autocuidado através da prática educativa.
Palavras-chave: “Câncer de colo de útero”, “Prevenção”, “Atenção Básica”.
Abstract
Cervical cancer is caused by a persistent infection with some types of Human Papilloma Virus (HPV), and is the second most common malignancy among women. To demonstrate the use of the waiting room as an educational strategy in the prevention of cervical cancer in users of Primary Care (PC). This is an integrative review type research. The search was carried out in the Online databases: VHL and SCIELO. Using descriptors according to DeCS vocabulary, associating the Boolean operator “AND”: “Cervical cancer”, “Prevention”, “Primary Care”. The following inclusion criteria were considered: Periodicals available in full and free of charge. Exclusion criteria: duplication in the databases. Based on the articles and manuals of the Ministry of Health, the waiting room can be used strategically in several ways, such as: promoting and expanding the dissemination of information through the making of posters, carrying out educational groups addressing the importance of of the Pap smear, the technique to be used, the risk factors for and the forms of prevention, thus guaranteeing a better adhesion of the woman to the exam and preventive ways. In view of the above, it was possible to highlight that the information provided through the health professional to women users of primary care is of paramount importance for the prevention of cervical cancer and at this moment, the waiting room becomes the main protagonist, raising awareness of self-care through educational practice.
Keywords: “Cervical cancer”; “Prevention”; “Primary care”.
Introdução
O Câncer do Colo Uterino (CCU) também conhecido por câncer cervical é causado por uma infecção persistente diante de alguns tipos de papiloma vírus humano (HPV10), e está associado à infecção persistente por subtipos de vírus HPV, na qual muitas mulheres não se atentam com o surgimento de pequenas verrugas (MARTINS et al., 2020).
O Papiloma Vírus Humano é membro da família Papovavirida, composto por cerca de 100 tipos de vírus. Destes, aproximadamente 50 acometem a mucosa genital. Os genomas do vírus são detectados no núcleo das células infectadas do colo uterino e, muitas vezes, pode-se evidenciar genomas do HPV integrados aos cromossomos na maioria das lesões, visto que, essa integração é o ponto de partida na transformação celular oncogênica (VERAS, 2017).
O CCU é considerado um problema de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento, devido a sua maior incidência ocorrer em classes economicamente desfavorecidas. Trata-se da segunda neoplasia maligna mais comum entre as mulheres, apresentando um desenvolvimento lento, que pode levar anos para ter sua evolução total (SILVA et al, 2017).
No Brasil o CCU ocupa a terceira posição entre as neoplasias malignas que afetam mulheres, ficando atrás somente do câncer de mama e câncer colorretal, a estimativa de novos casos para os anos consecutivos de 2018-2019 são de 16.370mil (BRASIL, 2018). Já a mortalidade segundo o Instituto Nacional do Câncer ( INCA) aumenta progressivamente após os 40 anos de idade com grande diferença entre as regiões brasileiras.
Essa neoplasia tem início na forma de uma lesão precursora, que pode ou não evoluir para um processo invasivo no decorrer de um período de 10 a 20 anos, mas também é preventiva e curável quando diagnosticado precocemente. Esse intervalo de tempo, relativamente longo, permite que ações preventivas sejam realizadas com o objetivo de romper a cadeia epidemiológica da doença (DAMACENA, 2017).
Dessa forma, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2013), o principal meio preventivo é o método de rastreamento, na qual é realizado o exame citopatológico (exame Papanicolaou), conhecido mundialmente como seguro e eficiente, e que deve ser oferecido às mulheres na faixa etária de 25 a 64 anos e que já tiveram atividade sexual.
A priorização desta faixa etária justifica-se por ser a de maior ocorrência das lesões de alto grau, passíveis de serem tratadas efetivamente para não evoluírem para o câncer, mas é importante destacar que a priorização de uma faixa etária não significa a impossibilidade da oferta do exame para as mulheres mais jovens ou mais velhas (BRASIL, 2012).
Em maio de 2004 com o objetivo de fortalecer a prevenção de câncer de colo de útero com ações educativas em saúde e ressaltando a importância de realizar exames de rastreamento, foi lançado pelo Ministério da Saúde (MS) a Política de Atenção Integral a Saúde da Mulher (PAISM).
Dessa maneira, podemos citar a Atenção Básica (AB) que nos últimos anos tem conferido foco e destaque como um lugar privilegiado ao incluir na sua prática a articulação entre a prevenção e a promoção da saúde, por meio da expansão e qualificação da atenção primária, gerando um cenário favorável à reorganização do modo, por exemplo, do cuidado do câncer do colo do útero (MOTTA, 2017).
Ainda conforme o Ministério da Saúde (BRASIL, 2013), essas ações de promoção acontecem na atenção básica justamente por está mais próxima do cotidiano das mulheres e as abordagens educativas devem estar presentes no processo de trabalho das equipes, seja em momentos coletivos como grupos ou em momentos individuais de consulta. É fundamental a disseminação da necessidade dos exames e da sua periodicidade, bem como dos sinais de alerta que podem significar câncer.
A forma de prevenção também pode ser desenvolvida por práticas assistenciais educativa, por meio de mensagens claras, objetivas e de fácil linguagem, de acordo com as necessidades da população. Assim, é essencial que o serviço de atenção primaria tenha conhecimento da sua área de abrangência para identificar as mulheres o conhecimento referente a prevenção do câncer do colo de útero (PAULA et al, 2019).
Com isso, podemos citar a sala de espera como ferramenta estratégica para realização de atividades educativas, pois este se trata de um momento que oportuniza a aprendizagem de novos conhecimentos, a troca de experiências, a identificação de temas pertinentes e a criação de vínculo entre profissionais e usuários (FEITOSA et al., 2019).
Diante do exposto, o presente estudo objetiva evidenciar o uso da sala de espera como estratégia educativa na prevenção do câncer do colo de útero em usuárias da Atenção Básica (AB).
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa do tipo Revisão Integrativa de Literatura, que consiste em uma metodologia que proporciona a síntese do conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos e análise da produção cientifica, na qual orientam a tomada de decisão na prática clínica. Sendo assim, permite agrupar e resumir resultados de pesquisas sobre o tema delimitado, de forma sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema investigado (SOUSA et al, 2017).
A pergunta elaborada como questão norteadora dessa revisão, foi: “De que forma a sala de espera pode ser utilizada como estratégia educativa para prevenção do câncer do colo de útero em usuárias da atenção básica?”.
Para realizar a seleção dos estudos, foram utilizados os sistemas de bases de dados importantes no contexto da saúde. Por meio do acesso online, foram utilizadas as seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) E Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Utilizando de descritores conforme vocabulário DeCS (Descritores em Ciências da Saúde): Câncer de colo de útero, prevenção, Atenção Básica.
Com base nisso, houve a criação das seguintes estratégias de busca utilizando o operador booleano “AND”: I. “Câncer de colo de útero AND Prevenção”; II. “Atenção básica AND Prevenção”; III. “Câncer de colo de útero AND Atenção básica”.
Os critérios de inclusão determinantes para a seleção dos artigos foram: periódicos disponíveis na íntegra e gratuita no idioma português, e recorte temporal de 2017 a 2021, leitura do título, leitura do resumo, leitura do artigo de forma completa, além de manuais e políticas do Ministério da Saúde (MS). Quanto aos critérios de exclusão foram: artigos duplicados, triplicados e/ou em ambas as bases de dados, aqueles que não contemplaram em sua integralidade a questão norteadora, artigos fora do recorte temporal.
A seleção do estudo consistiu em 113 artigos. Sendo, 65 da Biblioteca virtual em Saúde e 48 do Scientific Electronic Library Online (SCIELO). As informações detalhadas foram apresentadas no fluxograma abaixo.
Figura 1. Fluxograma da descrição da busca nas bases de dados utilizando os critérios de seleção.
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2022.
Resultados e Discussão
Os resultados obtidos com a análise dos estudos evidenciaram que 64% das pesquisas são do tipo revisão integrativa, 18% pesquisa de campo e 18% pesquisa descritiva transversal. A relação do conhecimento relatado neste trabalho se deu pela inclusão e análise de 10 artigos que abordavam o tema de forma ampla.
Com o propósito de obter uma seleção concisa para análise integral, foram aplicados os critérios de seleção, verificação dos trabalhos duplicados, triplicados e/ou presentes em mais de uma base de dados. Baseado no quadro sinóptico dos estudos analisados obteve-se o detalhamento dos estudos por ano de publicação, título, autores e objetivo do estudo.
Tabela 1: apresentação das amostras utilizadas para essa revisão.
Ano | Título | Autores | Objetivo |
2020 | A importância do enfermeiro na educação em saúde para prevenção do câncer de colo de útero. | MARTINS, M. L, et al. | Demonstrar os números alarmantes de mulheres com câncer de colo de útero. |
2019 | Detecção precoce e prevenção do câncer de colo uterino: saberes e práticas educativas. | PAULA, T. C, et al. | Apreender os saberes de mulheres sobre a prevenção do câncer de colo uterino por meio do exame de Papanicolau. |
2018 | Estimativa 2018. Incidência do Câncer no Brasil. | BRASIL, INCA | Prover de informações atualizadas e mais abrangentes esses profissionais comprometidos com a saúde da população e a sociedade, o INCA oferece as estimativas de casos novos de incidência de câncer para todos os anos. |
2017 | Prevenção do câncer do colo do útero em unidade básica de saúde: atuação do enfermeiro. | VERAS, D. M. | Descrever a importância da atuação do enfermeiro na prevenção do câncer do colo do útero em mulheres na faixa etária de 25 a 64 anos de idade em unidades básicas de saúde |
2017 | A metodologia de revisão integrativa da literatura em enfermagem. | SOUSA, L. M. M; et al. | Apresentar os conceitos gerais e as etapas para a elaboração de uma revisão integrativa da literatura, com base na mais recente evidência científica. |
2017 | Rastreamento do câncer do colo de útero em Teresina, Piauí: estudo avaliativo dos dados do Sistema de Informação do Câncer do colo de Útero, 2006-2013. | DAMACENA, A. M; LUZ, L. L; MATTOS, I, E. | Avaliar o rastreamento do câncer do colo do útero em Teresina, Piauí, Brasil. |
2017 | Avaliação das ações de prevenção ao câncer de colo de útero na Atenção Básica em saúde no estado do Rio de Janeiro. | MOTTA, A. L. B. | Avaliar as ações de prevenção do câncer de colo de útero na AB em saúde no estado do Rio de Janeiro (RJ), considerando a disponibilidade, adequação e resolutividade. |
2017 | Educação em saúde como estratégia de prevenção do câncer do colo do útero: revisão Integrativa. | SILVA, L. R, et al. | Descrever evidências da produção científica sobre a educação em saúde como estratégia de prevenção do câncer do colo do útero, bem como os aspectos que podem interferir nessa prevenção. |
2017 | Avaliação das ações de prevenção ao câncer de colo de útero na Atenção Básica em saúde no estado do Rio de Janeiro | MOTTA, A. L. B. | Avaliar as ações de prevenção do câncer de colo de útero na AB em saúde no estado do Rio de Janeiro (RJ), considerando a disponibilidade, adequação e resolutividade. |
2013 | Controle dos cânceres do colo do útero e da mama. | BRASIL, M. S. | Contribuir com a organização da Rede de Atenção ao Câncer do Colo do Útero e da Mama no Sistema Único de Saúde (SUS) considerando a Política Nacional de Atenção Básica, a Política Nacional de Humanização e a Política Nacional de Atenção Oncológica. |
2010 | Diretrizes do rastreamento | BRASIL, INCA | Garantir acesso a diagnóstico e tratamento |
2004 | Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes | BRASIL, M. S. | Promover a melhoria das condições de vida e saúde das mulheres brasileiras, mediante a garantia de direitos legalmente constituídos e ampliação do acesso aos meios e serviços de promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde em todo território brasileiro. |
Com base nos artigos publicados nas bases de dados e nos manuais do Ministério da Saúde, que compôs essa revisão integrativa, foi possível compreender que o conhecimento das mulheres sobre o exame preventivo é de grande relevância, ao passo que compõe fator fundamental para avaliar as estratégias adotadas na prevenção do câncer do colo de útero.
Segundo Veras (2017) em sua análise de discussão, a sala de espera potencializa a oferta de diálogos, discussões a respeito de temas emergentes, incentivando a união entre usuários e trabalhadores da saúde. Essas ações conseguem proporcionar maior qualidade no atendimento ofertado.
A utilização desse espaço contribui para uma melhor relação entre o usuário e o serviço de saúde, além de constituir um importante alicerce na melhoria da qualidade do atendimento prestado, garantindo um acolhimento aos clientes que, por resultado, refletem em um serviço mais humanizado, ampliando o conceito de cuidado biológico para um cuidado integral ao usuário.
Martins e colaboradores (2020) reforça com base na literatura, que as ações de educação em saúde quando executadas contribuem na manutenção da saúde e qualidade de vida, estabelecendo estratégias preventivas e de controle, que minimizem os riscos, realizando planos de ação.
O mesmo autor ressalta que existe uma necessidade da criação de um plano de ação, como ponto inicial de partida para a realização de uma sala de espera mais abrangente e próxima da realidade do público-alvo, visto que, as experiências, as temáticas, os recursos e o público se modificam.
Motta (2019) relata que prevenir é atuar antecipadamente, impedindo determinados agravos, como o adoecimento, a cronicidade de uma doença ou a morte. A educação em saúde representa uma estratégia muito importante na formação de comportamentos que promovam ou mantenham uma boa saúde.
Ela é uma prática social que contribui para a formação da consciência crítica das pessoas a respeito de seus problemas de saúde, levando em conta a sua realidade. Estimula também a busca de soluções e a organização de ações individuais e coletivas (DAMACENA, 2017).
Dessa forma, os estudos evidenciaram que a sala de espera pode ser utilizada estrategicamente de várias formas, como: promovendo e ampliando a divulgação de informações através da confecção de cartazes expostos na própria sala de espera, realizando grupos para educação em saúde abordando sobre a importância do exame Papanicolau, a técnica a ser utilizada, os fatores de risco para o desenvolvimento de neoplasia cervical e as formas de prevenção, garantindo assim, uma melhor adesão da mulher ao exame e formas preventivas.
Ainda de acordo com a revisão de literatura desse estudo, cabe aos serviços de saúde orientar as mulheres e envolver a participação de profissionais qualificados nas discussões e esclarecimentos acerca dos diferentes aspectos que estão relacionados à forma de prevenção e realização periódica do exame, com o intuito de reduzir a morbimortalidade na população de risco.
Assim, podemos considerar a sala de espera como uma ferramenta estratégica capaz de viabilizar maior interação entre profissionais de saúde e usuários, sendo esse contexto favorável para que haja construção de relações mais satisfatórias e de vínculos (PAULA et al, 2019). Essa circunstância proporciona o rompimento daquela relação comumente vista por essas duas classes (SILVA et al., 2017).
Considerações Finais
Fundamentada na interpretação trazida nesta revisão integrativa, foi possível destacar que as informações fornecidas através do profissional de saúde as mulheres usuárias da atenção básica são de suma importância para prevenção do câncer do colo uterino e neste momento, a sala de espera torna-se a maior protagonista. Como meio de prevenção primária, as ações educativas foram destacadas e, como prevenção secundária, a realização do exame preventivo do Papanicolaou.
Diante do exposto, o profissional de saúde nesse nível de atenção deve aproveitar da sua autonomia e conduzir-se por uma mudança realmente efetiva mostrando que o trabalho educativo realizado por ele deve despertar a consciência do autocuidado, e promover a compreensão dessas mulheres sobre as causas e as consequências de seu estado de saúde, destacando uma ação consistente, com vistas à sensibilização de elas comparecerem regularmente às unidades de saúde para o rastreamento organizado do câncer do colo do útero. Com isso, a garantia de acesso a essas práticas educativas por parte das equipes da Atenção Básica sem dúvida contribui muito para a resolutividade da atenção.
É perceptível que deve ocorrer a inclusão de uma educação continuada para os profissionais, implantação de gestão eficiente para implantação da política destinada a este público. Tal qual, estratégias como: capacitação dos profissionais referente à Política de Atenção Integral a Saúde da Mulher (PAISM), capacitação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) para orientarem nas visitas domiciliares.
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CAPÍTULO 11
ANÁLISES DE GENES ENVOLVIDOS NA HERANÇA GENÉTICA DA DOENÇA DE ALZHEIMER E SEU DESENVOLVIMENTO
ANALYSIS OF GENES INVOLVED IN THE GENETIC INHERITANCE OF ALZHEIMER’S DISEASE AND ITS DEVELOPMENT
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.11
Submetido em: 21/04/2022
Revisado em: 05/05/2022
Publicado em: 15/05/2022
Tainá Oliveira de Araújo
Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Educação e Saúde, Cuité-PB
http://lattes.cnpq.br/8031037065925876
Amanda Geovana Pereira de Araújo
Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Educação e Saúde, Cuité-PB.
http://lattes.cnpq.br/3946322725458190
Silvânia Narielly Araújo Lima
Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Educação e Saúde, Cuité-PB
http://lattes.cnpq.br/4848390450941924
Anne Wirginne de Lima Rodrigues
Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Educação e Saúde, Cuité-PB
http://lattes.cnpq.br/0355598894423144
Igor Luiz Vieira de Lima Santos
Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Educação e Saúde, Cuité-PB
http://lattes.cnpq.br/6976858979875527
Resumo
O envelhecimento é um processo caracterizado por alterações morfológicas, funcionais, bioquímicas, sociais e psicológicas, ocasionando maior vulnerabilidade e incidência de processos patológicos. A doença de Alzheimer (DA) é um distúrbio neurocognitivo que, atualmente, representa a forma mais comum de demência em idosos, pode ou não limitar e comprometer a capacidade funcional e a qualidade de vida da pessoa. Geralmente causada por influências multifatoriais onde ambiente, fatores genéticos e epigenéticos são seus principais precursores. Este estudo teve como objetivo analisar os genes envolvidos na herança genética da DA e seu desenvolvimento. Trata-se de um estudo tecnológico e exploratório, bem como de revisão bibliográfica com características quantitativas e qualitativas, realizado no primeiro semestre de 2022. O levantamento foi realizado nas bases de dados: SciELO, PubMed, Google acadêmico, além de consulta aos bancos de dados de sequências genômicas e de conhecimento associado ao componente genético da DA. Identificou-se que o Alzheimer é uma patologia de etiologia bastante complexa e variada com muitos genes envolvidos e com altas taxas de incidência e prevalência no Brasil e no mundo, caracterizada por lesão sináptica, seguida de perda neuronal associada à neurodegeneração. Dessa forma, conclui-se que a partir deste estudo é possível ter uma visão mais ampla a respeito do tema, possibilitando um maior conhecimento e a possibilidade da melhoria do bem-estar e da qualidade de vida da pessoa idosa, no diagnóstico e um tratamento mais efetivo, reduzindo a progressão e o grau da doença.
Palavras-Chave: Idoso, Doença de Alzheimer, Genética Humana.
Abstract
Aging is a process characterized by morphological, functional, biochemical, social and psychological changes, causing greater vulnerability and incidence of pathological processes. Alzheimer’s disease (AD) is a neurocognitive disorder that currently represents the most common form of dementia in the elderly, may or may not limit and compromise a person’s functional capacity and quality of life. Usually caused by multifactorial influences where environment, genetic and epigenetic factors are its main precursors. This study aimed to analyze the genes involved in the genetic inheritance of AD and its development. This is a technological and exploratory study, as well as a bibliographic review with quantitative and qualitative characteristics, carried out in the first half of 2022. The survey was carried out in the following databases: SciELO, PubMed, Google academic, in addition to consulting the databases genomic sequence data and knowledge associated with the genetic component of AD. It was identified that Alzheimer’s is a pathology of very complex and varied etiology with many genes involved and with high rates of incidence and prevalence in Brazil and in the world, characterized by synaptic injury, followed by neuronal loss associated with neurodegeneration. In this way, it is concluded that from this study it is possible to have a broader view on the subject, enabling greater knowledge and the possibility of improving the well-being and quality of life of the elderly, in the diagnosis and a more efficient treatment. effective, reducing the progression and degree of the disease.
Keywords: Elderly, Alzheimer Disease, Human Genetics.
Introdução
O Brasil envelhece de forma rápida e intensa. O resultado mais evidente de tal fenômeno é a elevação significativa deste quantitativo populacional no Brasil e no mundo, que é decorrente de avanços científicos, tecnológicos e das ações preventivas que estão ampliando o conhecimento dos idosos, oportunizando a reflexão e o aprimoramento das condições de saúde e, consequentemente, melhor qualidade de vida (URBANO; GOMES, et al., 2020).
O envelhecimento populacional é um processo multidimensional e multideterminado, de caráter universal, progressivo, gradual e dinâmico caracterizado por alterações morfológicas, funcionais, bioquímicas, sociais e psicológicas, no qual essas modificações estão atreladas ao declínio natural de funções fisiológicas, ocasionando maior vulnerabilidade, fragilidade e maior incidência de processos patológicos (DANIEL; FERNANDES; SILVA; SANTO, 2018). Diante disso este grupo etário tem gerado grandes desafios e preocupações para a saúde pública brasileira devido à disposição das condições crônicas que os acompanham, a exemplo das doenças crônicas degenerativas, como a Doença de Alzheimer (DA).
A Doença de Alzheimer é a forma de demência mais comum entre idosos e tem aumentado de forma gradual com o envelhecimento da população. Esta patologia é caracterizada pela presença de placas amiloides e emaranhados neuro fibrilares no cérebro, bem como a diminuição geral do cérebro e do número de neurônios. Trata-se de uma alteração neurológica mais estudada e comentada na atualidade, essa problemática caracteriza-se por declínio progressivo das manifestações cognitivas, ligadas à percepção, aprendizagem, memória, ao raciocínio, funcionamento psicomotor e ao aparecimento de quadros neuropsiquiátricos graves que resultam em uma deficiência progressiva e uma eventual incapacitação. O comprometimento cognitivo é responsável pela perda da autonomia e capacidade decisória, além de afetar o funcionamento ocupacional e social de cada indivíduo (FARFAN et al., 2017; SANTANA et al., 2019).
Os fatores correlacionados ao surgimento da doença são genéticos, epigenéticos e ambientais, caracterizando-a como um distúrbio bastante complexo, heterogêneo e de origem multifatorial. Componentes genéticos já foram associados à DA quando qualquer um desses genes é alterado grandes quantidades do fragmento de uma proteína tóxica chamada de peptídeo beta-amiloide são produzidos no cérebro podendo aglomerar-se e formar placas amiloides. O acúmulo do peptídeo β-amilóide tóxico e placas amiloides pode levar à morte de células nervosas e sintomatologia desse distúrbio. Diante da heterogeneidade genética da doença, há diferentes graus de severidade desta, variando de acordo com as mutações apresentadas, além do seu histórico familiar. Assim, existem inúmeros genes que podem estar relacionados com a etiopatogenia da doença (ARAÚJO et al., 2019).
Em razão das características da DA e a grande influência genética, bem como a relação desses genes com à fisiopatologia da doença, é de suma importância aprofundar os dados a respeito dos genes envolvidos neste tipo de herança e tentar elucidar as vias que compõem o desenvolvimento deste problema. Por se tratar de uma anomalia genética a mesma pode ser identificada por um enfermeiro treinado em estudos genéticos familiares utilizando como ferramenta principal a análise de heredogramas para o aconselhamento genético.
Justifica-se a realização deste estudo por ser um assunto de grande relevância para a ciência por ser uma especificidade com conhecimento científico ainda limitado, pois pouco se conhece sobre os genes encontrados e como eles podem atuar na progressão da doença de Alzheimer. Esse déficit de conhecimentos pode trazer consequências na assistência ao idoso com Alzheimer, bem como para os seus familiares, uma vez que esta patologia é progressiva e irreversível, de aparecimento insidioso e se desenvolve lenta e continuamente por vários anos, além de ser muito evidenciada na atualidade, sendo de extremo interesse para a saúde pública, devido ao alto índice de casos, no Brasil e no mundo, pela sua forma de se manifestar no ser humano e as consequências à integridade física, mental e social.
Dito isto, é de suma importância para a sociedade e academia o estudo sistematizado dos componentes genéticos desse acometimento favorecendo assim a aquisição de conhecimento prévio para otimizar os prognósticos para os indivíduos afetados por este problema. Assim, o estudo tem como objetivo analisar sistematicamente os genes envolvidos nas vias de progressão da doença de Alzheimer utilizando ferramentas de bioinformática.
Metodologia
Trata-se de um estudo tecnológico e exploratório com potencial aplicabilidade biotecnológica, bem como de revisão bibliográfica como ferramenta para a compreensão dos fatores de risco genéticos relacionados a doença de Alzheimer e a assistência de enfermagem, além de aprofundar de forma qualitativa, ampla, sistematizada e ordenada metodologias e resultados de outras pesquisas com o intuito de expandir expectativas referentes ao tema proporcionando uma visão conceitual sobre está problemática. Além disso, a análise das informações obtidas em bancos de dados públicos disponíveis on-line possibilita a descoberta de possíveis e novos genes candidatos, bem como de identificação do funcionamento da progressão do Alzheimer.
Os artigos foram identificados por busca bibliográfica realizada no período de janeiro a fevereiro de 2022 nas seguintes bases de dados: Biblioteca Eletrônica Científica Online (SciELO) e National Library of Medicine (PubMed).
As sequências dos genes identificados para doença de Alzheimer provenientes dos Bancos de Dados GenBank (NCBI – National Center for Biotechnology Information) (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/), das vias bioquímicas (KEGG- Kyoto Enciclopedya of Genes and Genomes) (http://www.genome.jp/kegg/) e STRING: functional protein association networks (https://string-db.org/).
Os critérios para inclusão dos estudos primários selecionados foram: artigos que apresentaram estruturas textuais completas disponibilizados na integra e gratuitamente, nos idiomas inglês e português, tendo base estudos prioritários, mas não exclusivos dos últimos 10 anos, e que apresentassem dados qualitativos condizentes com os objetivos propostos. Foram excluídos da pesquisa artigos de opinião, cartas ao editor e comunicações breve, bem como os trabalhos que não eram condizentes com os objetivos propostos. Na realização das buscas foram utilizadas as seguintes combinações de descritores: “Idoso”, “Doença de Alzheimer”, e “Genética Humana” sendo separados pelo operador “AND”, garantindo a inclusão de todos os artigos que fossem referentes ao tema proposto.
Inicialmente a etapa de busca nas plataformas gerou um resultado de 2.333 artigos encontrados. Em seguida fora procedida a filtragem de acordo com critérios pré-estabelecidos resultando em 2.296 trabalhos. Após isso, foram lidos os títulos e resumos dos artigos encontrados selecionando os que atendiam os padrões envolvendo a temática principal a ser abordada, o que totalizou 21 artigos para serem avaliados de forma mais detalhada.
Desse modo, os artigos foram compilados, sintetizados e organizados de maneira a terem suas principais informações expostas com o objetivo de facilitar a expansão do conteúdo envolvendo o problema percursor. Por fim, essas informações foram agrupadas de maneira sistematizada através do programa Microsoft Office Word.
Resultados e Discussão
O envelhecimento da população global está progredindo em um ritmo cada vez mais rápido. O resultado mais evidente de tal fenômeno é a elevação significativa deste quantitativo populacional no Brasil e no mundo. Em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, define-se idoso como todo aquele indivíduo com sessenta anos ou mais (OMS, 2005a). Nesse sentido, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), realizada no ano de 2017 pelo Instituto Brasileiro de geografia e Estatística (IBGE), existem cerca de 30,3 milhões de pessoas com sessenta anos ou mais de idade, correspondendo a aproximadamente 14,6% da população (BRASIL, 2018).
O envelhecimento humano é um processo progressivo e universal onde ocorrem alterações biológicas, funcionais, psicológicas e sociais que com o passar do tempo tendem a determinar uma acentuada perda de capacidade que o indivíduo possui de se adaptar ao meio ambiente, além de mudanças morfofisiológicas e neurológicas que desafiam os sistemas de saúde e aumentam a predisposição ao surgimento de doenças (DANIEL; FERNANDES; SILVA; SANTO, 2018; ARAÚJO, et al., 2020).
Com este processo de longevidade, podem surgir inúmeras doenças crônicas degenerativas, com potencial de acarretar em transtornos mentais, como demências, transtornos psicóticos, bem como, depressão e ansiedade, em que um dos mais importantes é o declínio no desempenho cognitivo, a demência, que engloba várias patologias que resulta no comprometimento funcional que compromete o bem-estar, qualidade de vida da pessoa idosa e aumenta a morbimortalidade dos portadores (BALLARD et al., 2011; SANTOS et al., 2020).
É sabido que entre as demências, a doença de Alzheimer é uma das doenças neurodegenerativas mais graves e mais comuns do envelhecimento, sendo responsável por um elevado número de incidência e prevalência de demência senil e representa cerca de 60 a 70% dos casos, sendo considerado um grave problema se saúde pública, que tende a se intensificar, devido, sobretudo, ao envelhecimento da população. Segundo dados obtidos pela Word Health Organization (WHO), aproximadamente 50 milhões de pessoas vivem com demência em todo o mundo. Estima-se que o número de pessoas com demência chegará a 82 milhões em 2030 e a 152 milhões em 2050 (SANTANA, et al., 2015; OPAS, 2017; LOURINHO et al., 2019; WHO, 2020).
De acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ), existem no mundo cerca de 35,6 milhões de casos da doença e, no Brasil, o número chega a 1,2 milhão de casos. Ressalta-se que a maior parte das pessoas com a doença ainda não recebeu o diagnóstico médico e o tratamento necessário (ABRAZ, 2020).
A DA é um quadro neurodegenerativo progressivo e fatal que se manifesta através da deterioração cognitiva e da memória de curto prazo. Com isso, tem-se o comprometimento progressivo das atividades de vida diária e uma gama de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais que se agravam com o tempo (BRASIL, 2020).
A doença instala-se quando o processamento de proteínas do sistema nervoso central começa a dar errado. A fisiopatologia da DA é caracterizada por uma série de alterações neuropatológicas. Tais alterações são constituídas pela acumulação e agregação de duas proteínas neurotóxicas no Sistema Nervoso Central: a β-amiloide (Aβ) e tau hiperfosforilada (pTau) que formam emaranhados neurofibrilares intracelulares e estão frequentemente acompanhados de intenso dano microvascular e abundante inflamação nas regiões cerebrais afetadas. Acredita-se que esses depósitos causem atrofia e morte de neurônios envolvidos no processo de memória, aprendizagem e outras funções cognitivas resultantes de processos de excitotoxicidade, colapso na homeostase do cálcio, inflamação e depleção de energia e fatores neuronais (MUCKE, 2009; MILITÃO; BARROS, 2017; GRIMALDI et al., 2018).
As manifestações clínicas iniciais do paciente acometido com a DA são constituídas por alterações como perda de memória recente, dificuldade para encontrar palavras, desorientação no tempo e espaço, dificuldade para tomar decisões, perda de iniciativa e de motivação, sinais de depressão, agressividade, diminuição do interesse em atividades e passatempos (BRASIL, 2020).
Com a progressão da doença, pode-se notar, prejuízo gravíssimo de memória, com incapacidade de registro de dados e muita dificuldade na recuperação de informações antigas como reconhecimento de parentes, amigos, locais conhecidos, incapacidade de viver sozinho, de cozinhar, de cuidar da casa, dependência importante de outras pessoas, necessidade de ajuda com a higiene pessoal e autocuidado, além de alterações do comportamento, alucinações, alterações no padrão do sono, dificuldade para alimentar-se associada a prejuízos na deglutição. Pode haver ainda, incontinência urinária e fecal e intensificação de comportamento inadequado. Há tendência de prejuízo motor, que interfere na capacidade de locomoção, sendo necessário auxílio para caminhar (BRASIL, 2020).
O quadro de evolução é variável, caminhando para estado vegetativo em um período de 10 a 15 anos a partir do início dos sintomas (SOARES; ANDRADE, 2018).
Os fatores correlacionados ao surgimento da doença são ambientais, genéticos e epigenéticos, caracterizando-a como um distúrbio de origem multifatorial. Cada um desses eventos contribui com pequenos efeitos que em conjunto, resultam, no estabelecimento da doença com diferentes graus de severidade. A genética corresponde aproximadamente a 70% de risco de desenvolver a DA e mesmo que básico, é complexo e pouco compreendido. Entretanto, os fatores ambientais e adquiridos como doenças cerebrovasculares, diabetes, hipertensão, dislipidemia e obesidade aumentam o risco de desenvolvimento desta doença (SILVA, et al., 2019).
Sob critérios genéticos, a DA é clinicamente dividida em dois subgrupos de acordo com o seu tempo de início. Os casos da DA de início precoce (familiar) são mais raros, correspondendo a menos de 1% das ocorrências, os sintomas ocorrem antes dos 65 anos, bem como em pacientes portadores de mutações genéticas, assim, mutações nos cromossomos 21 (APP), 14 (presenilina 1) e 1 (presenilina 2) causam a formação de proteínas anormais e caracteriza-se por um declínio rápido das funções cognitivas. Em se tratando, da DA de início tardio (esporádica) ocorre frequentemente com início aos 65-70 anos sem predomínio de agregação familiar e considerada a maior causa de demência em idosos. Assim, as causas desse tipo de DA não são completamente compreendidas, mas provavelmente envolvem a combinação de fatores ambientais, genéticos e de estilo de vida que aumentem o risco da doença (AHMAD et al., 2017; MILITÃO; BARROS, 2017).
Estudos recentes de associação genômica ampla (GWAS) têm associado polimorfismos de nucleotídeos único (SNPs) em genes relacionados a inflamação ao aumento do risco em desenvolver a doença de Alzheimer (CHENG-HATHAWAY et al., 2018). Dessa forma, com as consultas aos bancos de dados de sequências genômicas e de conhecimento associado ao componente genético do Alzheimer, foram constatados inúmeros genes descritos a seguir como influenciadores da DA de início precoce e DA de início tardio potencialmente relevantes para esse acometimento. Á vista disso, torna-se evidente que existe uma heterogeneidade alélica em lócus específicos bem como uma herança poligênica potencialmente influenciadora dessa patologia (HOHMAN et al., 2016).
A identificação dos genes que tem influência no risco de desenvolver a DA é a primeira etapa para compreensão da biologia deste tipo de demência. Painéis genéticos de demências de modo geral já estão disponíveis para análise dos genes atualmente associados a esse tipo de alteração cerebral. São eles: ALS2, ANG, APOE, APP, ARSA, ATL1, ATP7B, ATXN2, BSCL2, C9orf72, CHCHD10, CHMP2B, CP, CSF1R, DCTN1, ERBB4, FIG4, FTL, FUS, GRN, HEXA, HNRNPA1, HSPD1, ITM2B, KIF5A, MAPT, MATR3, NEFH, NOTCH3, NPC1, OPTN, PANK2, PFN1, PRNP, PRPH, PSEN1, PSEN2, REEP1, SETX, SIGMAR1, SLC52A3, SNCA, SOD1, SORL1, SPAST, SPG11, SQSTM1, TARDBP, TBK1, TREM2, TUBA4A, TYROBP, UBE3A, UBQLN2, VAPB, VCP, WASHC5.
Vários genes candidatos têm sido investigados em estudos de associação que podem contribuir para o desenvolvimento da DA. A análise sistemática nos bancos de dados biológicos realizada por esse trabalho identificou os genes influenciadores potencialmente relevantes para a doença de Alzheimer de início tardio e estão relatados na Tabela 1.
Tabela 1: Genes / variantes (SNPs) associadas à doença de Alzheimer de início tardio.
Variante | Gene | Abreviação | Cromossomo | Risco / Proteção |
rs7412 | Apolipoproteína E | APOE | 19q13.32 | Risco |
rs429358 | Apolipoproteína E | APOE | 19q13.32 | Proteção |
rs744373 | Integrador de pontes 1 | BIN1 | 2q14.3 | Risco |
rs11136000 | Clusterin | CLU | 8p21.1 | Proteção |
rs3764650 | Cassete de ligação de ATP, subfamília A (ABC1), membro 7 | ABCA7 | 19p13.3 | Risco |
rs3818361 | Complemento componente (3b / 4b) receptor 1 (grupo sanguíneo Knops) | CR1 | 1q32.2 | Risco |
rs3851179 | Proteína de montagem de clatrina de ligação fosfatidilinositol | PICALM | 11q14.2 | Proteção |
rs610932 | Membrana-abrangendo 4 domínios, subfamília A, membro 6ª | MS4A6A | 11q12.2 | Proteção |
rs3865444 | Molécula CD33 | CD33 | 19q13.41 | Proteção |
rs670139 | Membrana abrangendo 4 domínios, subfamília A, membro 4E | MS4A4E | 11q12.2 | Risco |
rs9349407 | Proteína associada a CD2 | CD2AP | 6p12.3 | Risco |
Fonte: Adaptado de Sun et al., 2017 e Giri; Zhang; Lü, 2016.
Foi observado na tabela 1 os genes, as variantes, abreviações, localização cromossômica e se tais variantes aumentam o risco ou fornecem proteção para os acometidos. Cada uma dessas variantes possui algum efeito biológico específico que só com estudos amplos comparativos sobre cada efeito individualmente é que poderão ser estabelecidas respostas fisiológicas para cada alteração genética observada.
Atualmente, sabe-se que mutações nos genes codificadores para a APP [Amyloid b (A4) precursor protein], apoE (apolipoprotein E), PSEN1 (presenilin 1) e PSEN2 (presenilin 2) são associadas com o estabelecimento e progressão do Alzheimer. Tais genes, localizam-se em diferentes cromossomos e pelo menos alguns deles devem participar de uma via neuropatogênica comum, que resulte no desenvolvimento da doença. Entretanto, inúmeros estudos apontam para papel importante de outros genes, fortalecendo a hipótese de uma natureza poligênica e multifatorial (FRIDMAN et al., 2004).
Um dos componentes genéticos que quando mutado implica na patogênese e progressão da DA é o polimorfismo no gene da Apolipoproteína E (APOE). O gene APOE está localizado no cromossomo 19, na posição 13.2cM, dentro da região genômica previamente associada à doença de Alzheimer de início tardio. Encontra-se ligado a lipoproteínas plasmáticas e centrais que estão relacionadas aos emaranhados de Alzheimer e à proteína β-amiloide em placas senis, além disso, participa da redistribuição dos lipídios que se seguem à neurodegeneração do cérebro. Existem três alelos APOE descritos (ε2, ε3 e ε4, dando origem às isoformas apoE2, apoE3 e apoE4). No encéfalo, a Apolipoproteína E é produzida pelos astrócitos, menos expressivamente pela micróglia, e sob certas condições pelos neurônios. Acredita-se que a presença de um alelo ε4 da ApoE aumente o risco de desenvolver DA tardia em três vezes quando comparado com o risco na população geral, enquanto a presença de duas cópias aumenta o risco em cerca de doze vezes (DE SÁ CAVALCANTI; ENGELHARDT, 2012; SILVA et al., 2019).
É possível perceber no gráfico 1 que o local de maior expressão conhecido da APOE é no fígado. A proteína codificada por este gene é a principal apoliproteína do quilomícron. Liga-se a um receptor específico do fígado e da célula periférica e é essencial para o catabolismo normal dos constituintes das lipoproteínas ricas em triglicerídeos. Conforme descrito anteriormente este gene é mapeado no cromossomo 19 em um cluster com os genes relacionados da apolipoproteína C1 e C2. Mutações nesse gene resultam em disbetalipoproteinemia familiar, ou hiperlipoproteinemia tipo III (HLP III), onde o aumento do colesterol e dos triglicerídeos plasmáticos é consequência do comprometimento da depuração de quilomícrons e remanescentes de VLDL. A expressão tendenciosa no fígado chega a cada dos (RPKM 1021.7), rim (RPKM 648.1) e em outros tecidos em menores taxas.
As principais relações bioquímicas conhecidas da APOE (em vermelho) estão descritas na figura 1 a apolipoproteína E (APOE); Medeia a ligação, internalização e catabolismo de partículas de lipoproteínas. Pode servir ainda como ligante para o receptor de LDL (apo B/E) e para o receptor específico de apo-E (remanescente de quilomícrons) dos tecidos hepáticos; Apolipoproteínas (317 aa).
Gráfico 1: Principais locais de expressão das proteínas APOE (apolipoprotein E), expressa em quantidades de RNAs lidos RPKM/amostra.
Fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/gene/348.
Figura 1: Genes diretamente relacionados com a APOE.
Fonte: https://string-db.org/cgi/network?taskId=bbaRUw10sDU1&sessionId=bZFF47V6gl4L.
Tabela 2. Seus principais parceiros funcionais previstos e suas relações:
GENE | ATUAÇÃO/INTERAÇÃO |
LRP1 | Proteína 1 relacionada com o receptor de lipoproteína de densidade Prolow-density; Receptor endocítico envolvido na endocitose e na fagocitose de células apoptóticas. Necessário para o desenvolvimento embrionário inicial. Envolvido na homeostase lipídica celular. Envolvido na depuração plasmática de remanescentes de quilomícrons e LRPAP1 ativado (alfa 2-macroglobulina), bem como no metabolismo local de complexos entre ativadores de plasminogênio e seus inibidores endógenos. Atua como um receptor de alfa-2-macroglobulina LRPAP1. Atua como receptor TAU/MAPT e controla a endocitose de TAU/MAPT, bem como sua subsequente disseminação. Pode modular eventos celulares, como metabolismo de APP, sinalização intracelular dependente de quinase, sinalização neuronal de cálcio, bem como neurotransmissão. |
LRP8 | Proteína 8 relacionada ao receptor de lipoproteína de baixa densidade; Receptor de superfície celular para ligantes contendo reelina (RELN) e apolipoproteína E (apoE). LRP8 participa na transmissão do sinal Reelin extracelular para processos de sinalização intracelular, ligando-se a DAB1 em sua cauda citoplasmática. Reelin atua através do receptor VLDL (VLDLR) e LRP8 para regular a fosforilação da tirosina DAB1 e a função dos microtúbulos nos neurônios. LRP8 tem maior afinidade para Reelin do que VLDLR. LRP8 é, portanto, um componente chave da via Reelin que governa as camadas neuronais do prosencéfalo durante o desenvolvimento do cérebro embrionário. Liga-se à proteína associada ao receptor residente do retículo endoplasmático (RAP). Liga-se aos dímeros da beta 2-glicoproteína I e pode estar envolvida na supressão da agregação plaquetária na vasculatura. Altamente expresso no segmento inicial do epidídimo, onde afeta a expressão funcional da clusterina e fosfolipídio hidroperóxido glutationa peroxidase (PHGPx), duas proteínas necessárias para a maturação do esperma. Também pode funcionar como um receptor endocítico. Não é necessário para a captação endocítica de SEPP1 no rim que é mediada por LRP2. Juntamente com seu ligante, apolipoproteína E (apoE), pode indiretamente desempenhar um papel na supressão da resposta imune inata, controlando a sobrevivência de células supressoras derivadas de mieloides. |
APOB | Apolipoproteína B-100; A apolipoproteína B é a principal proteína constituinte dos quilomícrons (apo B-48), LDL (apo B-100) e VLDL (apo B-100). Apo B-100 funciona como um sinal de reconhecimento para a ligação celular e internalização de partículas de LDL pelo receptor apoB/E. Ocorre no plasma como duas isoformas principais, apoB-48 e apoB-100: a primeira é sintetizada exclusivamente no intestino e a segunda no fígado. As formas intestinais e hepática de apoB são codificadas por um único gene de um único mRNA muito longo. As duas isoformas compartilham uma sequência N-terminal comum. A proteína apoB-48 mais curta é produzida após a edição do RNA do transcrito apoB-100 no resíduo 2180 (CAA->UAA), resultando na criação de um códon de parada e terminação precoce da tradução. Mutações nesse gene ou em sua região regulatória causam hipobetalipoproteinemia, hipobetalipoproteinemia normotrigliceridêmica e hipercolesterolemia devido a apoB com defeito de ligante, doenças que afetam os níveis plasmáticos de colesterol e apoB. |
APP | Proteína A4 beta-amilóide; N-APP liga-se ao TNFRSF21 desencadeando a ativação de caspase e degeneração de ambos os corpos celulares neuronais (via caspase-3) e axônios (via caspase-6). Ligantes endógenos funcionam como um receptor de superfície celular e desempenham funções fisiológicas na superfície de neurônios relevantes para o crescimento de neuritos, adesão neuronal e axonogênese. A interação entre as moléculas de APP nas células vizinhas promove a sinaptogênese. Esse gene codifica um receptor de superfície celular e uma proteína precursora transmembrana que é clivada por secretases para formar vários peptídeos. Alguns desses peptídeos são secretados e podem se ligar ao complexo acetiltransferase APBB1/TIP60 para promover a ativação transcricional, enquanto outros formam a base proteica das placas amiloides encontradas no cérebro de pacientes com doença de Alzheimer. Além disso, dois dos peptídeos são peptídeos antimicrobianos, tendo demonstrado atividade bactericida e antifúngica. Mutações neste gene têm sido implicadas na doença de Alzheimer autossômica dominante e na amiloidose cerebroarterial (angiopatia amilóide cerebral). Múltiplas variantes de transcrição que codificam várias isoformas diferentes foram encontradas para este gene. |
LDLR | Receptor de lipoproteína de baixa densidade; Liga-se ao LDL, a principal lipoproteína transportadora de colesterol do plasma, e o transporta para as células por endocitose. Para serem internalizados, os complexos receptor-ligante devem primeiro se agrupar em poços revestidos de clatrina; Pertence à família LDLR. A família de genes do receptor de lipoproteína de baixa densidade (LDLR) consiste em proteínas de superfície celular envolvidas na endocitose mediada por receptor de ligantes específicos. A lipoproteína de baixa densidade (LDL) é normalmente ligada à membrana celular e levada para dentro da célula terminando nos lisossomos onde a proteína é degradada e o colesterol é disponibilizado para repressão da enzima microssomal 3-hidroxi-3-metilglutaril coenzima A (HMG CoA ) redutase, a etapa limitante da taxa na síntese do colesterol. Ao mesmo tempo, ocorre uma estimulação recíproca da síntese de éster de colesterol. Mutações neste gene causam o distúrbio autossômico dominante, hipercolesterolemia familiar. O splicing alternativo resulta em várias variantes de transcrição. |
APOA1 | Este gene codifica a apolipoproteína AI, que é o principal componente proteico da lipoproteína de alta densidade (HDL) no plasma. A pré-proproteína codificada é processada proteoliticamente para gerar a proteína madura, que promove o efluxo de colesterol dos tecidos para o fígado para excreção, e é um cofator para a lecitina colesterolaciltransferase (LCAT), uma enzima responsável pela formação da maioria dos ésteres de colesterol no plasma. Como parte do complexo SPAP, ativa a motilidade dos espermatozóides. Esse gene está intimamente ligado a dois outros genes de apolipoproteínas no cromossomo 11. Defeitos nesse gene estão associados a deficiências de HDL, incluindo a doença de Tangier, e a amiloidose sistêmica não neuropática. O splicing alternativo resulta em múltiplas variantes de transcrição, pelo menos uma das quais codifica uma pré-proproteína. |
MAPT | Este gene codifica a proteína tau associada a microtúbulos (MAPT) cujo transcrito sofre splicing alternativo complexo e regulado, dando origem a várias espécies de mRNA. Promove a montagem e estabilidade dos microtúbulos e pode estar envolvido no estabelecimento e manutenção da polaridade neuronal. O terminal C se liga aos microtúbulos axonais enquanto o terminal N se liga aos componentes da membrana plasmática neural, sugerindo que a tau funciona como uma proteína ligante entre ambos. A polaridade axonal é predeterminada pela localização TAU/MAPT (na célula neuronal) no domínio do corpo celular definido pelo centrossoma. As isoformas curtas permitem plasticidade do citoesqueleto enquanto as isoformas mais longas podem preferencialmente desempenhar um papel na sua estabilização. Os transcritos MAPT são expressos diferencialmente no sistema nervoso, dependendo do estágio de maturação neuronal e do tipo de neurônio. Mutações do gene MAPT têm sido associadas a vários distúrbios neurodegenerativos, como doença de Alzheimer, doença de Pick, demência frontotemporal, degeneração córtico-basal e paralisia supranuclear progressiva. |
VLDLR | A família de genes do receptor de lipoproteína de baixa densidade (VLDLR) consiste em proteínas de superfície celular envolvidas na endocitose mediada por receptor de ligantes específicos Receptor de lipoproteína de muito baixa densidade; Liga-se ao VLDL e transporta-o para as células por endocitose. Para serem internalizados, os complexos receptor-ligante devem primeiro se agrupar em poços revestidos de clatrina. A ligação a Reelin induz a fosforilação da tirosina de Dab1 e modulação da fosforilação de Tau (por semelhança). Este gene codifica um receptor de lipoproteína que é membro da família LDLR e desempenha papéis importantes no metabolismo VLDL-triglicerídeos e na via de sinalização da reelina. Mutações neste gene causam hipoplasia cerebelar associada ao VLDLR. O splicing alternativo gera múltiplas variantes de transcrição que codificam isoformas distintas para este gene. |
SORL1 | Este gene codifica uma proteína de mosaico que pertence a pelo menos duas famílias: a família de receptores contendo domínio de classificação de proteína vacuolar 10 (VPS10) e a família de receptores de lipoproteínas de baixa densidade (LDLR). A proteína codificada também contém repetições de fibronectina tipo III e uma repetição de fator de crescimento epidérmico. A pré-proproteína codificada é processada proteoliticamente para gerar o receptor maduro, que provavelmente desempenha papéis na endocitose e na classificação. Mutações neste gene podem estar associadas à doença de Alzheimer. Receptor relacionado com a sortilina; Provavelmente é um receptor endocítico multifuncional, que pode estar implicado na captação de lipoproteínas e de proteases. Liga-se ao LDL, a principal lipoproteína transportadora de colesterol do plasma, e o transporta para as células por endocitose. Liga-se à proteína associada ao receptor (RAP). Poderia desempenhar um papel na interação célula-célula. Envolvido no tráfico de APP do RE para o aparelho de Golgi. Provavelmente atua como um receptor de classificação que protege a APP do tráfico para o endossoma tardio e do processamento em beta-amiloide, reduzindo assim a carga do peptídeo amiloidogênico. |
TREM2 | Este gene codifica uma proteína de membrana que forma um complexo de sinalização do receptor com a proteína de ligação à tirosina quinase da proteína TYRO. A proteína codificada funciona na resposta imune e pode estar envolvida na inflamação crônica, desencadeando a produção de citocinas inflamatórias constitutivas. Defeitos neste gene são uma causa de osteodisplasia lipomembranosa policística com leucoencefalopatia esclerosante (PLOSL). Desencadeando o receptor expresso em células mieloides 2. Forma um complexo de sinalização do receptor com TYROBP e desencadeia a ativação das respostas imunes em macrófagos e células dendríticas. Pode ter um papel em inflamações crônicas e pode estimular a produção de quimiocinas e citocinas constitutivas em vez de inflamatórias. O splicing alternativo resulta em múltiplas variantes de transcrição que codificam diferentes isoformas. |
Fonte: Adaptado do NCBI (https://www.ncbi.nlm.nih.gov), 2022.
Observa-se que a doença de Alzheimer possui alta complexidade, principalmente em relação à genética da doença, devido ao grande número de genes envolvidos e suas interrelações e funcionalidades na geração de um resultado inevitável.
É nesse contexto que se insere a importância deste trabalho para a comunidade científica e a sociedade brasileira na busca por conhecimentos que possam elucidar as diferentes atuações genéticas que favorecem o desenvolvimento e progressão da doença de Alzheimer. Uma melhor compreensão da biologia e as interações ambientais, fornecendo novos caminhos para estratégias de intervenção. Com o mapeamento exposto nesta investigação, será possível a procura efetiva de respostas mais específicas, a fim de proteger, promover e prevenir a saúde dos indivíduos. Além do uso de medicamentos mais direcionados para regular vias enzimáticas comprometidas, controlar os sintomas e retardar o agravamento da degeneração cerebral provocado pela doença.
Contudo, novas abordagens de estudo possuem um futuro promissor, podendo indicar uma vasta população de genes ou alterações moleculares que possam explicar o surgimento da patologia, fortalecendo as bases para a compreensão da DA e para uma assistência de enfermagem mais adequada e o delineamento de novas e mais eficazes abordagens de tratamento ou prevenção da doença.
Considerações Finais
Com o exposto e através da identificação dos estudos conclui-se que a Doença de Alzheimer é a principal causa de demência em idosos, caracterizada por declínio progressivo das manifestações cognitivas, funcionamento psicomotor e ao aparecimento de quadros neuropsiquiátricos graves que resultam em uma deficiência progressiva, uma eventual incapacitação, perda de autonomia, autocuidado e qualidade de vida.
Observou-se no presente estudo que os fatores genéticos têm um papel importante no surgimento e desenvolvimento desta patologia, sendo causados por uma vulnerabilidade biológica hereditária.
Diante disso, este trabalho ofereceu uma visão bem abrangente e complexa dos estudos sobre a genética molecular do Alzheimer, utilizando as ferramentas computacionais disponíveis para análises genéticas por meio da bioinformática. Assim, foram identificados e sistematizados inúmeros genes potencialmente envolvidos nesse acometimento como o APOE, LRP1, LRP8, APOB, APP, LDRL, APOA1, MAPT, VLDRL, SORL1 e TREM2.
Por fim, são necessários estudos futuros para a descoberta de outros fatores influenciadores do problema, facilitando a descoberta da cura e a realização de procedimentos mais específicos. Além do uso de medicamentos mais direcionados para regular vias enzimáticas comprometidas, controlar os sintomas e retardar o agravamento da degeneração cerebral provocado pela doença.
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CAPÍTULO 12
“UMA DAS TAREFAS MAIS ÁRDUAS E IMPORTANTES NO SETOR DE SAÚDE”. A COMUNICAÇÃO DE NOTÍCIAS DIFÍCEIS NO COTIDIANO DE ENFERMEIROS E MÉDICOS QUE ATUAM EM UMA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR DO VALE DO JEQUITINHONHA – MINAS GERAIS, BRASIL.
“ONE OF THE HARDEST AND MOST IMPORTANT SKILLS FOR HEALTHCARE PROFESSIONALS” A QUALITATIVE STUDY OF DOCTORS AND NURSES’ PERSPECTIVES ON BREAKING BAD NEWS AT A JEQUITINHONHA´S VALLEY´S UNIVERSITY TEACHING HOSPITAL
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.12
Submetido em: 04/04/2023
Revisado em: 20/04/2023
Publicado em: 30/04/2023
Aline Neves Pereira.
Prefeitura Municipal de Conceição do Mato Dentro. Minas Gerais, Brasil.
Conceição do Mato Dentro – Minas Gerais.
https://orcid.org/0009-0000-5491-8982
Ana Lanza
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Minas Gerais, Brasil.
Diamantina – Minas Gerais.
https://orcid.org/0000-0001-6872-6818
Brunna Gabrielle Cunha Pereira
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Minas Gerais, Brasil.
Diamantina – Minas Gerais.
https://orcid.org/0000-0003-2445-6830
Paulo Henrique da Cruz Ferreira
Santa Casa de Caridade de Diamantina
Diamantina – Minas Gerais.
https://orcid.org/0000-0003-0851-2601
Daisy de Rezende Figueiredo Fernandes
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Minas Gerais, Brasil.
Diamantina – Minas Gerais.
https://orcid.org/0000-0002-8968-6306
Alexandre Ernesto Silva
Universidade Federal de São João Del Rei. Campus Centro-Oeste Dona Lindu/CCO.
Divinópolis – Minas Gerais.
https://orcid.org/0000-0001-9988-144
Heloísa Helena Barroso.
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Minas Gerais, Brasil. Diamantina – Minas Gerais.
https://orcid.org/0000-0003-4746-8244
Liliane da Consolação de Campos Ribeiro
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Minas Gerais, Brasil. Diamantina – Minas Gerais.
https://orcid.org/0000-0003-1828-8914
Resumo
Introdução: A comunicação de notícias difíceis (CND) segue como tarefa complexa a ser cumprida cotidianamente pelos profissionais de saúde. Objetivos: Nesse contexto, o estudo se propôs identificar práticas e percepções de médicos e enfermeiros acerca deste processo de comunicação. Metodologia: Uma pesquisa qualitativa foi conduzida em um hospital escola do Vale do Jequitinhonha, utilizando o método de análise de conteúdo, de Laurence Bardin para a extração e discussão dos resultados. Resultados: Identificou-se que enfermeiros e médicos definem notícias difíceis como aquelas associadas à morte, doença grave ou sem cura a ser apresentada para o paciente e ou seu familiar. A maioria afirmou desconhecer protocolos para revelação de notícia difíceis, justificando a importância de sua abordagem durante a graduação dos cursos de saúde. E, para além da aquisição de habilidades dessa modalidade de comunicação terapêutica na formação profissional, é essencial trazer esse debate também para as instituições de saúde, com a finalidade de sensibilizar e preparar aqueles profissionais que já atuam nos serviços, objetivando, assim, aprimorar a assistência e o cuidado à saúde, e, não menos importante, minimizar o estresse advindo desta árdua tarefa.
Palavras-Chave: Comunicação em Saúde. Revelação da Verdade. Relações Profissional-Paciente. Pesquisa Qualitativa.
Abstract
Introduction: Breaking bad news remains complex task to be carried out daily by health professionals. Objectives: This study aims to identify physicians and nurses ‘practices and perceptions related to these abilities in a teaching hospital in Vale do Jequitinhonha. Methodology: A qualitative research was conducted and the content analysis of responses utilized. Results: Participants consider death, serious and incurable illness the worst news to be break. Most claimed unfamiliarity with specific protocols, sustaining the relevance of its approach during undergraduation. Conclusions: In addition to acquiring therapeutic communication´s skills during professional training it is essential to take this debate into health institutions, raising awareness and training professionals who already work in health care institutions aiming stress mitigation from this arduous task.
Keywords: Health Communication. Truth Disclosure. Professional-Patient Relation. Qualitative Research.
Introdução
A comunicação em saúde é considerada um importante elemento terapêutico para o cuidado de pacientes e de seus familiares (GALVÃO et al., 2017), abrangendo a identificação de demandas assistenciais e seu acolhimento (ANDRADE et al., 2022). Constitui, de acordo com Queiroz et al., (2021), um meio de interação indispensável para a tomada de decisão entre os profissionais e pacientes (e ou seus familiares/responsáveis/cuidadores), de forma a nortear o tratamento e ou demais condutas implicadas no processo saúde-doença. Não raro, no entanto, a interação entre os profissionais de saúde e os pacientes implica na necessidade de revelar diagnósticos e ou prognósticos de enfermidades graves ou perdas familiares, configurando uma Comunicação de Notícia Difícil (CND).
A CND foi definida por Buckman (2000), como “qualquer informação que envolve uma mudança drástica na perspectiva de futuro de uma pessoa, em um sentido (geralmente) negativo”. Pode se referir, dentre outras situações, à necessidade de um tratamento de curto prazo, comunicação de uma doença crônica, porém curativa, ou um quadro associado à impossibilidade de cura, terminalidade e morte (KRIEGER, 2017), e o Conselho Federal de Medicina (2009) designa essa comunicação inicial ao profissional médico. Contudo, todos os integrantes das equipes de saúde, em instituições hospitalares ou de atenção primária, estão diretamente implicados no processo terapêutico de comunicação, vez que mantêm contato constante com os pacientes e seus familiares, e devem estar preparados para lidar com situações que remetem à CND.
Essa competência comunicacional é fundamental, vez que pode levar a repercussões emocionais importantes – no paciente e em sua rede de apoio – influenciando sobremaneira sua interação e confiança em relação à equipe de saúde (SOMBRA NETO et al., 2017). Além disso, pode minimizar o desconforto emocional e sofrimento gerado no profissional (CINTRA et al., 2022), que ao comunicar uma notícia difícil, deve lidar com seus próprios sentimentos, bem como com a reação do ouvinte (CAMARGO et al., 2019). Parker et al., (2001) apontam que para uma interação comunicativa efetiva é necessário o uso linguagem simples e clara (para que possam compreender o que está sendo comunicado), honestidade e tempo para que possam tirar suas dúvidas. Nesse sentido, o ponto de partida deve ter como base a escuta ativa e empática, habilidade essa que deve fazer parte do cotidiano de todos os profissionais envolvidos na tarefa, para que se conheça mais profundamente as expectativas, os anseios, os medos e as preocupações do paciente (SILVA, 2016).
No entanto, segundo Amorim et (2021) há, no Brasil, uma possível fragilidade na formação de profissionais da saúde em relação à habilidade de comunicar notícias difíceis. E, embora já seja mais discutida a necessidade de se adquirir experiência nesta modalidade de comunicação durante o processo de formação dos profissionais de saúde, os cursos de graduação brasileiros e níveis mais avançados de estudos ainda estão – de certa forma – demasiadamente fundamentados na ciência curativa (VOGEL et al., 2020). Neste cenário, é comum que os futuros profissionais de saúde se tornem preparados para lidar com as doenças, e (ainda) totalmente despreparados para acolher e se comunicar com os pacientes e seus familiares em situações entendidas como mais delicadas, por envolver uma notícia considerada difícil (CARVALHO, 2022).
Frente a esse desafio, esse estudo se propôs a identificar as práticas, as percepções e os desafios referentes à Comunicação de Notícias Difíceis no cotidiano do trabalho em um hospital escola da região Macro Jequitinhonha, sob a perspectiva de profissionais enfermeiros e médicos que atuam na instituição.
Metodologia
A instituição cenário do estudo é habilitada como Hospital Nível II na Rede de Urgência e Emergência, e Nível I de IAM (DIAMANTINA, 2021) e atualmente conta com 155 leitos, sendo referência para toda a clientela da Macro Jequitinhonha (31 municípios, ou cerca de 407.213 habitantes). São realizados atendimentos de média e alta complexidade hospitalar, urgência/ emergência, exames complementares laboratoriais e de imagem, assim como procedimentos cirúrgicos. Atualmente, o hospital conta com 675 colaboradores contratados pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu quadro de funcionários (DIAMANTINA, 2021).
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva. Para sua execução foi elaborado um roteiro semiestruturado, contendo seis questões de múltipla escolha, objetivando a caracterização socioeducacional de seus participantes, e 11 perguntas dissertativas abordando a Comunicação de Notícias Difíceis pelos profissionais enfermeiros e médicos em sua prática cotidiana na saúde. Para isso, foram abordadas as seguintes questões: o que é considerado uma notícia difícil a ser comunicada para os pacientes e ou seus familiares, quais as percepções dos entrevistados acerca dos desafios para a comunicação de notícias difíceis e as principais estratégias utilizadas para sua efetivação na práxis do serviço.
Os questionários foram aplicados entre o mês de janeiro de 2021 e março de 2021. Um colaborador da instituição se prontificou a contatar todos os enfermeiros e médicos, distribuir os formulários impressos, visto que a pandemia da Covid-19 dificultaria a circulação dos pesquisadores para sua realização, e devolvê-los preenchidos.
Foram convidados para participar da pesquisa um total de 77 profissionais – 24 médicos e 53 enfermeiros – que no momento da coleta de dados atendiam aos critérios de inclusão previstos, quais sejam: atuar há mais de um mês na instituição, e com interesse em participar da pesquisa. Foram excluídos aqueles profissionais afastados por férias e ou por greve; e ou licença por motivo específico, e pessoas que pertenciam a outras categorias profissionais.
O questionário teve um tempo para autopreenchimento previsto de dez minutos. Para o seu preenchimento foi solicitado aos participantes que o responderam indicassem sua categoria profissional (letra E para enfermeiros e letra M, para médicos) no documento (em local especificado para este fim). Os pesquisadores complementaram numérica e sequencialmente cada questionário devolvido para a organização dos dados.
O processo de análise dos dados partiu da transcrição na íntegra de todas as entrevistas e compilação das informações obtidas. A análise de conteúdo, proposta por Bardin (2011), foi utilizada na análise, partindo da pré-análise (leitura flutuante das entrevistas para assimilação do material) para uma categorização, que consiste em organizar os dados coletados, para então explorá-los e identificar os pontos relevantes (repetição) de cada questão (agrupadas em categorias) e tratamento dos resultados.
Importante salientar que as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa com seres humanos preconizadas na Resolução 466 (BRASIL, 2012) foram respeitadas, tendo sido aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), CAAE: 294393320.7.0000.5118, de 26/05/2020. Não houve qualquer situação de conflito de interesses.
Resultados e Discussão
Do total de 73 profissionais convidados a participar do estudo, 51 profissionais concordaram em responder ao questionário. Destes, 11 são médicos: sete mulheres e quatro homens. Cinco têm idade menor que 30 anos de idade; quatro entre 30-39 anos e dois entre 40 e 49 anos. Os setores em que atuam são: Clínica Médica, Clínica Neurológica, Centro de Terapia Intensiva (CTI), Pronto Atendimento e setor de Emergência. Quarenta (40) enfermeiros concordaram em participar da pesquisa: 36 mulheres e quatro homens. Treze enfermeiros relataram ter menos de 30 anos de idade, 25 estão na faixa etária entre 30 e 39 anos e dois possuem mais de 40 anos. Os setores de atuação mencionados foram: Comissão Interna Hospitalar de Capacitação e Transplante de Órgãos – CIHDOTT, Gestão de leitos/Núcleo Segurança do Paciente – NSP; Hemodiálise, Clínica Neurológica, Clínica Cirúrgica, Clínica Médica, Clínica Neurológica, Centro Cirúrgico, Setor de Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (SCIRAS), Centro de Terapia Intensiva (CTI), CTI Covid-19 e Pronto Atendimento.
Dentre as principais categorias identificadas na análise das respostas obtidas nos questionários foram identificadas: a CND como informação sobre morte e ou mudanças que trazem consequências negativas na vida das pessoas; CND, morte e cuidados paliativos; CND como desafio recorrente no cotidiano dos profissionais; a necessidade de se adquirir habilidades para a CND durante a formação profissional e; estratégias utilizadas pelos profissionais para comunicar notícias difíceis no cotidiano do serviço.
A primeira questão aludiu à percepção dos participantes sobre o que é uma notícia difícil a ser comunicada aos pacientes e ou familiares. Os profissionais (100% dos entrevistados) afirmaram serem aquelas que não gostariam de ouvir, como um óbito ou uma doença sem possibilidade de cura – e também qualquer notícia que afetasse ou trouxesse uma sensação de mudança negativa na vida do paciente ou familiar, alterando a sua instabilidade ao recebê-la:
“Notícia difícil é aquela que pode gerar um sofrimento para o paciente e familiar, prognósticos ruins, diagnósticos complicados, tratamentos sem resposta, dentre outros”. (M5)
“Comunicar óbito ou que o paciente está com cuidados paliativos; que não há mais o que ser feito” (E11).
A comunicação sobre o “prognóstico reservado” ou “estar em cuidados paliativos” também foi citada como notícia difícil de ser revelada, o que sugere uma ideia de que não se pode fazer algo pelo paciente quando nessas situações: um estigma comum no cotidiano da maior parte das instituições de saúde do país, como se este prognóstico fosse o “o fim da linha”, onde “nada mais pode ser feito” (KIRBY et al., 2020).
Importante trazer para a discussão a questão – apontada por Silva (2016) – de que profissionais de saúde que têm a oportunidade de desenvolver habilidades e competências para lidar com os limites da vida podem reconhecer que existem limites para a cura, mas não para o cuidado. E nesse contexto terapêutico, a comunicação (verbal e não verbal) entre o profissional e o paciente (e ou seus familiares) – inclusive das notícias difíceis de serem reveladas – constitui uma das estratégias de intervenção terapêutica fundamental. A literatura aponta, por exemplo, que a maioria dos pacientes prefere saber o seu diagnóstico, embora a quantidade de informações que desejam receber possa variar (BERKEY et al., 2018), corroborando, assim, com a necessidade de se treinar determinadas habilidades, de forma a “transcender a técnica e facilitar a compreensão da notícia, simplificando as informações em linguagem acessível, livre de jargões e termos técnicos (…)”, construindo de forma autêntica uma relação empática e comprometida com o binômio família-paciente. Araújo e Leitão (2012) afirmam que frequentemente os familiares não entendem o que está acontecendo, não sabem para quem ou o que perguntar, e ou como devem se comportar, o que invoca à reflexão de Cabeça et al (2022) sobre a comunicação como tecnologia de cuidado que reivindica mais envolvimento e respeito com o outro, por meio de relações mais horizontalizadas e escuta sensível e ativa, extrapolando os modos de fazer (menos efetivos) já existentes.
Cabe salientar, entretanto, que poderão ocorrer situações em que essa interação não seja possível, haja visto os desafios impostos pela pandemia da covid-19, principalmente durante os anos de 2020 e 2021. Nesse período histórico, a necessidade do distanciamento social, a restrição de acompanhantes, dentre outras formas de contenção da disseminação do Coronavírus (PRIMO, 2020), foram impostas impedindo uma comunicação mais frequente e presencial entre pacientes, profissionais e familiares. Acerca deste momento específico, um dos entrevistados relatou a dificuldade de comunicar o óbito de um paciente aos seus familiares, sem que estes pudessem ver a pessoa e dela se despedir.
“Situação “covid” que impossibilita visitas, [e] caso [em caso de] óbito [do paciente], [o familiar] não [poder] aproximar do corpo e despedir-se do ente querido”. (E22)
Entre as ações impostas pela inviabilização do contato presencial, os entrevistados relataram lançar mão de vídeos para que os pacientes entrassem em contato com seus familiares, e ou para a equipe se comunicasse com a família, e até mesmo para capacitações dos profissionais ou cuidadores, conforme também identificado por outros atores, como Florêncio et al., (2020). Ademais, a partir de iniciativas similares a esta que foi discutida a importância e promulgada a Lei Nº 14.198, de 02/09/2021, que dispõe sobre vídeo câmeras entre pacientes internados em serviços de saúde impossibilitados de receber visitas e seus familiares, e prevê, no mínimo, uma videocâmara por dia aos pacientes internados, respeitadas as observações médicas sobre o momento adequado (BRASIL, 2021).
Embora a habilidade de comunicação constituir uma das seis competências gerais estabelecidas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos da área da saúde, como enfermagem e medicina (BRASIL, 2001), a maioria dos entrevistados revelou que os ensinamentos voltados para a Comunicação de Notícias Difíceis (e o uso de protocolos) raramente foram abordados durante a graduação. De um total de 51 profissionais, 80% informaram não ter tido contato com o tema durante o seu processo de formação profissional (graduação), sendo estes cinco médicos e trinta e sete enfermeiros.
Seis profissionais médicos alegaram formação prévia em CND, diferentemente do contexto identificado dentre os profissionais enfermeiros, visto que 92,5% destes entrevistados informaram nunca ter tido qualquer preparação para a comunicação de notícias difíceis. Identificou-se, ainda, que alguns desses profissionais (médicos e enfermeiros) buscaram suprir esta lacuna por meio de cursos ofertados durante a pós-graduação ou em capacitações ofertadas por instituições de saúde em que atuam (ou já atuaram).
Treinamento para morte encefálica e (doce) captação de doador (M6).
(…) participei do treinamento oferecido pelo MG transplantes: Comunicação de más notícias, em 2019 (E33).
É importante que as instituições formadoras (de ensino superior e nível técnico na área de saúde) investirem no ensino e abordagem de condutas e habilidades de comunicação de notícias difíceis e, também, de relacionamento interpessoal, vez que, o contato com tal temática ainda na graduação é fundamental, entendendo-a como ferramenta para a assistência à saúde (CABEÇA et al., 2022).
Na graduação não há uma preparação para a prática de comunicar notícias difíceis, acho que a habilidade vem com a prática, mas que poderia ser sim melhorada (E19).
Somos pouco preparados academicamente para estes momentos, apesar de acreditar ser um assunto difícil de se adquirir prática na graduação (M1).
A abordagem dos vários protocolos existentes pode ser interessante – como o P-A-C-I-E-N-T-E, de Pereira et al., (2017); o SPIKES, proposto por Baile et al., (2000), o ABCDE, de Rabow; McPhee (1999). Estes instrumentos apresentam os princípios da comunicação efetiva, como o suporte emocional, o que e quanto às informações a fornecer; forma de comunicar notícias, comunicação verbal e não verbal, dentre outras (BORGES et al., 2012). Para isso, os entrevistados foram unânimes em considerar a necessidade e a importância de atividades voltadas para a sensibilização acerca da comunicação de notícias difíceis no ambiente de trabalho.
(…) comunicar uma má notícia é uma das tarefas mais árduas e importantes no setor de saúde, neste sentido faz-se necessário ao profissional se instrumentalizar com conhecimento e estratégias que lhe auxiliarão na condução da comunicação, pois nunca se sabe como será a reação de quem está recebendo a notícia (E33).
Muito importante, pois isso é uma dificuldade que todos têm (M7).
(…) porque nos qualifica para prestar atendimento a situações que na área da saúde são rotineiras, e muitos profissionais atuam ‟mecanicamente” na comunicação da notícia (E17).
De acordo com Silva et al., (2018), não há uma receita para blindar o profissional dessa árdua tarefa, mas sim prepará-lo de forma a realizá-la da melhor maneira possível. E, apesar de a maioria dos participantes (80% dos entrevistados) relatarem não ter tido formação voltada para, ou realizado qualquer tipo de capacitação sobre o processo e os protocolos de comunicação de notícias difíceis, percebeu-se em suas falas que todos lançam mão de inúmeras estratégias que – sim – viabilizam esse processo de comunicação terapêutica no cotidiano do serviço:
(…) na maioria das vezes procuro um lugar reservado, com menor circulação de pessoas. No mais procuro saber o que a pessoa que está recebendo sabe do quadro/doença. E, após, informo com cautela e percebendo o que a pessoa me transmite ao longo da conversa (E19).
Traço toda a trajetória do pcte [paciente] que o levaram àquela situação (M11).
A abordagem da temática visando à sensibilização de todos os colaboradores envolvidos, direta e indiretamente, na assistência, pode ser um grande passo para o aprimoramento da relação profissional-paciente na Comunicação de Notícias Difíceis. Nesse contexto, o uso de protocolos institucionais, objetivando melhorar a comunicação entre os profissionais que atuam nos diferentes setores, e destes com os pacientes, também pode se provar eficaz. Conforme sugerido por Oliveira e Alves (2021, p. 100), “atividades de educação continuada, para discutir questões com as quais os profissionais possam se deparar e que estejam para além das suas atribuições, como, por exemplo, a questão da morte, vínculos afetivos, dentre outros”, são indispensáveis, objetivando-se, assim, a saúde integral dos pacientes, e também dos profissionais responsáveis pelo seu cuidado.
A Comunicação de uma Notícia Difícil pode ser considerada um dos momentos mais desafiadores para os profissionais de saúde. Este estudo identificou, por exemplo, que muitos profissionais não se sentem preparados para esse momento, revelando sentimentos, como insegurança e tristeza, mas também, de perseverança e adaptação frente a essa necessidade.
Comunicar uma má notícia requer muito mais que habilidade, cada processo é único, não existe uma técnica que sirva para todas as situações. Não acredito ter habilidade, tenho respeito e procuro conhecer todo o processo que irei comunicar. Me posiciono com postura e respeito, mas nunca me sinto preparada em dar uma má notícia (E33).
Considerações Finais
Uma das notícias mais temidas de ser informada pelos profissionais enfermeiros e médicos, constatada pelo estudo, foi a comunicação do óbito do paciente para os seus familiares, lançando luz para a importância da sensibilização e criação de estratégias factíveis de aquisição de habilidades para a Comunicação das Notícias Difíceis ainda durante a formação do profissional de saúde.
Neste contexto, é preciso inclusive discutir uma questão latente, que é a necessidade de se intervir também junto ao corpo docente das instituições de ensino que *são modelos de atuação para os futuros profissionais e, não raro, tiveram pouco ou nenhum contato com o tema durante a sua própria formação, ou com a teoria relacionada à CND aprendendo na prática, sem qualquer auxílio, vez que as Universidades pouco valorizam o ensino da comunicação verbal e não-verbal em seus currículos (MONTEIRO; QUINTANA, 2014).
Para além, os resultados obtidos no estudo apontam para a necessidade de se investir em programas de educação continuada voltados para a promoção e o aperfeiçoamento dessas habilidades de comunicação, e de relacionamento interpessoal, daqueles profissionais que já se encontram no mercado de trabalho, vez que são poucos os profissionais habilitados para a CND. Workshops e treinamentos com simulações realísticas para recepção de novos profissionais, por exemplo, podem se comprovar estratégias efetivas de aprendizagem e sensibilização sobre este tema, além de acolher aqueles profissionais de saúde que não receberam essa formação previamente e que fazem uso diário da comunicação como processo de cuidado. É necessário, ainda, reafirmar a importância de se propor estratégias voltadas para o acolhimento desses profissionais de saúde, no que diz respeito aos temas e vivências da finitude, morte, terminalidade e luto do profissional, dentre outras questões ainda consideradas tabus no cotidiano dos serviços de saúde.
Parcerias com as Universidades, por meio do tripé ensino-pesquisa e extensão, com o envolvimento, por exemplo, das Ligas Acadêmicas (LA’s) nas instituições de saúde podem ser extremamente efetivos. A discussão e oferta de ações voltadas para a aquisição de habilidades para a Comunicação das Notícias Difíceis e de debates acerca de temas que, embora vivenciados no dia a dia pelos profissionais de saúde, raramente são expostos e exteriorizados por estes profissionais, como a finitude, a morte e o luto, são de enorme potencialidade, quando se objetiva práticas mais humanizadas de cuidado e atenção à saúde (CORIOLANO-MARINUS et al., 2014), numa perspectiva de compartilhamento de informações de forma clara e responsável, com empatia e afeto.
Dentre as limitações do estudo, destacam-se a sua realização em apenas uma instituição hospitalar do Vale do Jequitinhonha e o fato de ter sido realizado apenas com duas categorias profissionais (médicos e enfermeiros), vez que indubitavelmente outros profissionais confrontam essa realidade de transmitir a notícia difícil no seu dia a dia, como, por exemplo, os técnicos de enfermagem. Outra limitação diz respeito à não utilização da técnica de observação sistemática, o que poderia auxiliar a verificar como se dá a Comunicação das Notícias Difíceis pelos profissionais na prática do serviço.
No entanto, é preciso, reconhecer que apesar dos relatos apontarem para um desconhecimento técnico acerca dos protocolos de comunicação de notícias difíceis e a ausência de uma formação específica voltada para a CND, muitos profissionais – enfermeiros e médicos – lançam mão de estratégias efetivas – e, inclusive previstas em protocolos (que talvez nunca tiveram contato) – como o sentar junto ao paciente e ou familiar, a forma de questionar sobre o que o paciente/familiar sabe sobre a doença, bem como a importância da escuta ativa, da presença e da compassividade.
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CAPÍTULO 13
A EQUIPE DE ENFERMAGEM DIANTE DA ADOÇÃO DE PRÁTICAS ASSISTENCIAIS SEGURAS
NURSING STAFF IN FACE OF THE ADOPTION OF PRACTICAL ASSISTANCE SAFE
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.13
Submetido em: 13/06/2023
Revisado em: 16/06/2023
Publicado em: 18/06/2023
Tatiana Almeida de Magalhães
Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFGRS- Porto Alegre, Rio Grande do Sul
http://lattes.cnpq.br/9852748179266626
Leda Maria Furtado Leão
Centro Universitário do Norte de Minas – Funorte- Instituto Superior em Ciências da Saúde, ISCS, Montes Claros-MG
http://lattes.cnpq.br/1442867141789824
Luciana Durães Pires
Centro Universitário do Norte de Minas – Funorte- Instituto Superior em Ciências da Saúde, ISCS, Montes Claros-MG
http://lattes.cnpq.br/4308089559689000
Jairo Evangelista Nascimento
Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri- Departamento de Odontologia, Diamantina-MG
http://lattes.cnpq.br/1790405517535671
Érika Fernanda Sales Martuscelli
Centro Universitário FIPMoc – Departamento de Medicina- Montes Claros -MG
http://lattes.cnpq.br/7954364475830847
Hérica Francine Pinto Meneses
Centro Universitário FIPMoc – Departamento de Medicina- Montes Claros -MG
http://lattes.cnpq.br/5205508078354837
Ivana Jacob Ibrahim
Atenção Primária de Saúde- Secretaria Municipal de Montes Claros-MG
http://lattes.cnpq.br/2028963165784812
Agna Soares da Silva Menezes
Centro Universitário Norte de Minas-Funorte-Departamento Enfermagem- Montes Claros-MG
http://lattes.cnpq.br/5589435178845837
Resumo
Introdução: A infecção hospitalar encontra-se presente em toda instituição em que oferece tratamento e assistência à saúde, sendo assim, um grande problema de saúde pública. A equipe de Enfermagem é considerada a maior equipe de trabalho em um ambiente hospitalar, apresentando como foco primordial a assistência do cuidado, se destacando pelo conhecimento científico e prático na oferta do cuidar. Assim, a quebra do elo de transmissão deve começar pela equipe de enfermagem através de medidas educativas preventivas, como a higienização das mãos de forma rigorosa e o uso do Equipamento de Proteção individual. Objetivo: Compreender o conhecimento da equipe de enfermagem sobre a prevenção de infecção no ambiente hospitalar e conhecer as barreiras que o grupo enfrenta para a implementação de ações preventivas. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa de caráter quanti-qualitativa. A população estudada constituiu-se por profissionais da equipe de Enfermagem que atuante no Hospital Municipal Doutor Gil Alves no Município de Bocaiuva- MG. Após a coleta de dados a análise de conteúdo utilizada foi pelo modelo de Bardin. Resultados: Encerrada a coleta de dados, surgiram três categorias: Conhecimento das medidas de prevenção das Infecções Hospitalares; Recebimento de capacitações vindo da instituição hospitalar; Dificuldades na oferta do serviço. Conclusão: O presente estudo demonstrou que a equipe de enfermagem encontra dificuldades para ofertar do seu trabalho. Percebe-se que uma das dificuldades encontradas é a deficiência de treinamentos para aprimoração dos seus conhecimentos, deixando-se claro é necessário investir em capacitações.
Palavras-chave: Infecção hospitalar. Equipe de Enfermagem. Higienização das mãos. Educação Permanente.
Abstract
Introduction: Hospital infection is present in every institution where it offers treatment and health care, thus being a major public health problem. The Nursing team is considered the largest work team in a hospital environment, presenting care assistance as its primary focus, standing out for its scientific and practical knowledge in the provision of care. Thus, breaking the transmission link must start with the nursing team through preventive educational measures, such as rigorous hand hygiene and the use of Personal Protective Equipment. Objective: To understand the knowledge of the nursing team about the prevention of infection in the hospital environment and to know the barriers that the group faces for the implementation of preventive actions. Methodology: This is a quantitative and qualitative research. The studied population consisted of professionals from the nursing team working at the Hospital Municipal Doutor Gil Alves in the city of Bocaiuva-MG. After data collection, the content analysis used was the Bardin model. Results: Once data collection was completed, three categories emerged: Knowledge of measures to prevent Hospital Infections; Receiving training from the hospital institution; Difficulties in offering the service. Conclusion: The present study demonstrated that the nursing team finds it difficult to offer their work. It is noticed that one of the difficulties encountered is the lack of training to improve their knowledge, making it clear that it is necessary to invest in training.
Keywords: Hospital infection. Nursing team. Hand hygiene. Permanent Education.
Introdução
As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) são definidas como as infecções que o paciente adquire no ato da admissão hospitalar, que podem se manifestar no período da internação ou logo após a alta, deste que estejam diretamente relacionadas aos procedimentos assistenciais ou com a internação hospitalar (ANVISA, 2014).
A infecção hospitalar é um problema de saúde pública, em que se aponta como uma das possíveis causas do aumento do tempo de internação, gerando os maiores índices de mortalidade e morbidade, favorecendo como umas das principais ameaças à segurança do paciente, a assistência do cuidar da enfermagem deve ser ofertada de maneira cuidadosa e com qualidade, com o foco de apresentar o mínimo de risco de danos durante a assistência prestada (ANVISA, 2018).
Estudos relatam que a IRAS acometem por volta de 5% a 10% dos pacientes hospitalizados e que o maior elo para tal transmissão são as mãos dos profissionais de saúde, e durante a assistência a mais de um paciente, ocorre a contaminação pelo manuseio entre diversos pontos corporais e também de materiais utilizados como mesas, estetoscópio e até mesmo a própria vestimenta, sendo a principal cadeia de infecção cruzada (COFEN, 1986).
É válido ressaltar que a higienização das mãos é uma ação amplamente reconhecida e de fácil elaboração no combate das infecções cruzadas, além disso, é uma prática que deve ser realizada por todos os profissionais de saúde antes e após qualquer procedimento exercido, utilizando os produtos apropriados, em momentos essenciais e necessários de acordo com o protocolo estabelecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), nos cincos momentos para a higienização das mãos: antes de tocar o paciente; antes de realizar procedimento limpo/asséptico; após riscos de exposição a fluidos corporais; após tocar no paciente e após contato com superfícies próximo ao paciente, com o intuito na segurança do paciente, do profissional de saúde e todos aqueles envolvidos no cuidado com o cliente (DERHUN et al., 2016).
Além da fricção manual de toda superfície, punhos e dedos, utilizando água e sabão, a infecção hospitalar pode ser desencadeada também por microrganismos de um paciente para o outro. A disseminação das bactérias requisita da equipe de enfermagem uma adesão maior na biossegurança e uma educação permanente. Ter o conhecimento diante a tal circunstância favorece para uma visão mais direcionada, o que irá dimensionar para o desenvolvimento do saber atual e o conhecimento técnico científico. Estudos prévios relatam que alguns profissionais de saúde não possuem conhecimento adequado sobre as medidas de bloqueio da proliferação epidemiológica, o que resulta no aumento da transmissão. Assim, fica evidente o que deve ser pautado para o conhecimento da equipe, como comunicação, informação, treinamentos e capacitações (SILVA et al., 2015; MONTEIRO et al., 2017).
A enfermagem é conhecida como a arte do cuidar, o que se diz que os profissionais da enfermagem possuem contato direto com o paciente durante a assistência prestada. O uso de EPI (Equipamento de proteção individual) torna se obrigatório durante todo atendimento/procedimento a ser executado, pois a sua utilidade é direcionada a proteger o profissional de saúde contra agentes biológicos, químico, físicos no ambiente de trabalho, sendo útil também para a prevenção de contaminação de materiais em uso ou produção (PIMENTEL et al., 2015).
As capacitações das equipes de enfermagem são extremamente importantes e garante uma assistência de qualidade e na prevenção da transmissão da infecção cruzada. Quando as equipes recebem treinamentos frequentemente se espera que os profissionais tenham mais conhecimentos enriquecedores sobre como trabalhar na remoção de microrganismos com um simples ato de higienização das mãos, minimizando riscos e danos que podem afetar ainda mais a saúde do paciente, quando se é aplicada na prática, as chances de diminuírem as taxas de interrupções na qualidade de vida por motivos de infecções hospitalares são maiores (MK et al., 2018).
Diante disso, este estudo teve como objetivo em compreender o conhecimento da equipe de enfermagem sobre a prevenção de infecção no ambiente hospitalar e conhecer as barreiras que o grupo enfrenta para implementação de ações preventivas.
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo de caráter descritivo, transversal de abordagem quanti-qualitativa. O cenário do estudo foi uma Instituição Hospitalar Pública, localizado na cidade de Bocaiúva no estado de Minas Gerais. O estabelecimento de saúde supracitado é classificado como hospital de pequeno porte, com disponibilidade de 79 leitos, sendo 64 leitos de internação e 15 leitos de observações no pronto socorro, oferecendo atendimento especializado nas áreas de Pediatria, Obstetrícia, Clínica Médica, Ortopedia e Cirurgia Geral.
O público-alvo da pesquisa foram os profissionais da equipe de enfermagem, sendo compostos por Enfermeiros e Técnicos de Enfermagem atuantes do turno diurno, dos setores como a Clínica Médica, Pediatria, Saúde Mental e Pronto Socorro. Fizeram parte da amostra de profissionais que se encaixavam nos critérios de inclusão e aceitaram participar do estudo. O número de profissionais entrevistados foi constituído por 4 Enfermeiros e 5 Técnicos de Enfermagem, sendo a amostra determinada por saturação de dados. O processo da saturação de dados é utilizado para estabelecer ou fechar o final de uma amostra, sendo interrompidos aqueles relatos que já se tornam repetitivos, não sendo mais considerado relevante prosseguir na coleta (EDITORIAL, 2018).
Utilizou-se como critério de inclusão o profissional da equipe de enfermagem que estava atuando diretamente na assistência aos pacientes, com vínculo empregatício igual ou maior que 1 (um) ano e aqueles que aceitarem a participar da pesquisa. Definido esse critério, pelo contato direto de profissionais e pacientes, onde se encontra o maior elo para fonte de infecção cruzada.
Os critérios de exclusão foram profissionais com vínculo empregatício menor de um ano, aqueles ausentes, de férias, afastado ou de licença médica no momento da coleta. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário sociodemográfico e a entrevista semiestruturada, gravada e transcrita na íntegra, bem como a aplicação de um questionário sociodemográfico.
A coleta de dados foi realizada em setembro do ano de 2019, respeitando o protocolo previsto, em seguida aqueles profissionais que aceitaram participar da pesquisa foram convidados a assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Ressalta-se que a entrevista foi realizada em ambiente reservado e de forma individual.
Aplicou-se três questões norteadoras aos profissionais – “Você possui conhecimentos das medidas de prevenção das infecções hospitalares? Quais são de seu conhecimento?”; “Recebe capacitação periodicamente sobre como trabalhar para prevenir a infecção hospitalar? Há quanto tempo ocorreu a última capacitação?”; “Quais dificuldade você encontra na oferta do serviço? A instituição fornece todos os materiais para se trabalhar na prevenção da infecção?”.
Após a realização das entrevistas, estas foram transcritas e categorizadas a fim de facilitar a análise. Para emergir as questões norteadoras, foram escolhidas as falas mais relevantes, excluindo as falas redundantes. A análise de conteúdo utilizada foi da perspectiva de Bardin, em que trabalha com o conteúdo através da classificação em temas ou categorias que permeiam as circunstâncias justificadoras dos discursos (SILVA e FOSSA et al., 2013).
Para garantir o sigilo dos relatos coletados, sem identificação das falas, utilizou-se a letra E sublinhado para representar a fala dos Enfermeiros e a letra T para representar os Técnicos de Enfermagem.
Resultados
- Perfil sociodemográfico dos participantes
Participaram deste estudo 9 profissionais da equipe de enfermagem, sendo 4 (44%) Enfermeiros e 5 (56%) Técnicos de Enfermagem. A faixa etária dos profissionais correspondeu a 33% (18 a 30 anos), 56% (31 a 40 anos) e 11% (> de 40 anos) de idade. A maioria dos profissionais entrevistados eram do sexo feminino (78%), com relação a escolaridade 44% possuíam ensino superior completo e 56% eram técnicos em enfermagem (referente ao ensino médio). Com relação ao estado civil 56% eram solteiros; 67% possuíam apenas um vínculo empregatício e 33% com 2 vínculo. Identificou-se que 55% dos profissionais tinham experiência profissional acima de 5 anos e 89% possuíam jornada semanal de trabalho de 40 horas/ semanais.
Após o levantamento das características sociodemográficas dos participantes procedeu-se com a análise das falas coletadas mediante as questões norteadoras, das quais emergiram três categorias: Conhecimentos das medidas de prevenção das infecções hospitalares, Recebimento de capacitações vindo da instituição hospitalar, e as Dificuldades da oferta do serviço.
- Categoria 1: Conhecimento das medidas de prevenção das Infecções Hospitalares.
O conhecimento da equipe de Enfermagem sobre a prevenção das infecções hospitalares é um dos pontos chaves para se obter uma resposta de como eles trabalham aplicando essas técnicas na prática. Quando se observa a falta de conhecimento de um profissional, se dá a necessidade de intervenções não somente para incentivá-lo a agir dentro dos protocolos estipulados, mas, para melhorar a sua compreensão nos possíveis impactos garantindo a segurança do paciente (ZHANG et al., 2019).
Nas falas dos profissionais é possível verificar que tanto os Enfermeiros como os Técnicos de Enfermagem, mencionaram a higienização das mãos como a principal estratégia para a prevenção.
“Sim. Lavar as mãos sempre antes e após cada procedimento. Uso adequado dos EPIs, troca dos dispositivos hospitalares sempre conforme a literatura e ou a padronização, bem como a não contaminação dos mesmos. Adequar e corrigir as não conformidades, sempre acondicionar dispositivos respiratórios, quando em algum momento paciente necessitar e assim poder sair do leito e retornar a oxigeno terapia. Comadres, penicos não deixar expostos na clínica e com presença de diurese levar ao setor de Centro de Material e Esterilização (CME). Segregação adequada do lixo.” E1
“Tenho conhecimento sim. Deste de quando fazemos o curso técnico de enfermagem, deste lá, aprendemos quais são os conhecimentos, o que se deve ser feito, e chegando aqui a gente ver que é a realidade tudo a gente aprende lá que são as técnicas como o uso correto das luvas a lavagem das mãos, o manuseio correto de como trabalhar com os acessos venosos, sondas gástricas, sonda entérica, sonda nasogástrica e sondas vesicais, todos esses cateteres a gente tem que ter a técnica porque a gente pode pegar a infecção hospitalar, elevar da gente para o paciente e do paciente para a gente. O que falta mesmo no hospital, a gente sabe de todas as técnicas, o que falta as vezes é o tempo, por exemplo, tem um acesso para puncionar, as vezes já deu as 96 horas só que as vezes não dá tempo naquele dia naquela hora da gente tá puncionando porque tem muitas coisas para fazer, falta de funcionário naquele momento para tá nos ajudando. Aqui também tem o POP que a gente tem acesso, que as enfermeiras elas fazem esses POPs e dão as orientações, mas o que se falta mesmo, o que se pega é a falta de funcionário tendo muito serviço para pouco funcionário.” T1
“Sim. Deste da faculdade, sobre a higienização das mãos, cuidado com a segurança do paciente, uso de EPI necessários, ficar atento a sinais e sintomas de infecção no paciente como exemplo a flebite.” E2
“Sim. Usar luvas, EPI de segurança do trabalho, máscara, avental quando for paciente que tiver em isolamento pois temos que ter uma precaução maior.” T2
“Sim. Aprendi na graduação e tenho aprimoramento na vivência do trabalho, utilizamos várias formas de prevenção de infecção hospitalar, onde todas elas são preconizadas pelo Ministério da Saúde e temos uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar CCIH e também a um Serviço de Controle de Infecção Hospitalar SCIH que são implantadas aqui na unidade atuante, elas nos cobra sempre o zelo da equipe de saúde em relação a prevenção das infecções hospitalares, então a gente segue muitos protocolos, muitas medidas de prevenção aqui no serviço, deste as mais básicas como lavagem das mãos, descarte correto de material perfuro cortante até medidas para isolamentos, precauções de contatos, de gotículas, aerossóis, pacientes suspeitos e pacientes diagnosticados com doenças contagiosas no serviço de saúde.” E3
- Categoria 2: Recebimento de capacitações vindo da instituição hospitalar.
O aprimoramento da equipe de enfermagem deve ser sempre planejado e aplicado as equipes de trabalho sempre que necessário, o serviço de educação continuada é uma das ferramentas mais utilizadas como uma estratégia para a qualificação de equipes profissionais, de fato ela não visa somente um aperfeiçoamento, mas um aprimoramento mais amplo e interdisciplinar com o foco de socializar e preparar a equipe de enfermagem para conhecimentos técnicos científicos (MARQUES et al., 2018).
Nessa categoria a maioria dos profissionais relataram que a última capacitação foi realizada a um tempo estimado de mais de um ano ou que nunca recebeu uma capacitação, e alguns informam que obtiveram recentemente.
“Sim. Há 15 dias, em momento encontramos em treinamento.” E1
“Sim. Há mais de um ano” T1
“Não. Vai fazer três anos que estou aqui e nunca recebi treinamento. As informações mesmo que a gente tem é o que aprendemos no curso, e o que a gente aprende aqui é o que as enfermeiras chegam para a gente e vão falando, mas não assim uma reunião, um treinamento nunca houve.” T2
“Ultimamente não. Depois que entrei aqui nunca recebi treinamento” T3
“Infelizmente não temos.” E2
“Quanto às capacitações, no período que iniciei na instituição até hoje especificamente capacitação de infecção hospitalar por enquanto não tive nenhuma. Eu soube que as vezes ou outra acontece aqui no serviço, mas eu ainda não participei de nenhuma, pelo que eu soube de alguns colegas anualmente tem sim capacitação para a equipe de saúde. O que a gente faz e seguir revisão de POP com a equipe de enfermagem, mas a instituição nunca forneceu.” E3
- Categoria 3: Dificuldades na oferta do serviço.
A equipe de enfermagem ao prestar o seu serviço fica exposta a inúmeros riscos, pois há o contato com materiais biológicos, secreções, gazes contaminadas e materiais perfuro cortantes, com isso a biossegurança possuem singular importância na proteção desses profissionais, pois no ambiente hospitalar se aglomeram pacientes com vários tipos de enfermidade, deste as mais simples até as infectocontagiosas (SOUZA, et al., 2016).
Não somente a biossegurança é válida para se combater as infecções cruzadas no ambiente intra-hospitalar, ter o EPI é direito do trabalhador para se proteger de doenças ocupacionais, mas para que as IRAS sejam controladas com sucesso, o profissional deve melhorar a sua conformidade com a higienização das mãos sempre que necessário, a fricção das mãos com água, sabão e antissépticos afetam positivamente na taxa de conformidades (MK et al., 2018).
“A equipe é sincronizada e compreende toda sua responsabilidade sempre nos encontrou em conversas para melhorar a assistência e corrigir os erros. O hospital nos fornece sim os materiais, por se tratar de um hospital público em alguns momentos temos algumas dificuldades que são corrigidas sempre.” E1
“Dificuldades na falta de recursos para que possa ser feito e cumprido todas as metas e normas para o bom andamento da equipe de controle de infecção. Os materiais são disponíveis a medida da que a necessidade para o consumo.” T1
“Às vezes faltam papel nos quartos, pois precisamos lavar as mãos lá também, mas a gente recorrer as colegas auxiliares de limpeza, mas as vezes demora por falta de funcionário e também ocorre a falta de sabão. Nos isolamentos a gente recorre a farmácia e lá tem a máscara e o capote tudo individual, eles fornecem sim. O que eu acho uma falha e na questão do pronto socorro que não nos informa sobre o risco de pacientes em isolamento e isso falta muito, as vezes o próprio médico não nos avisa sobre a suspeita, pois lá como é porta de entrada a prevenção deve se dar início naquele setor.” T2
“Os materiais necessários temos sim. A gente tem dificuldades com pacientes em isolamentos pois não temos área restrita.” T3
“No momento não encontro dificuldades, pois a instituição oferece todo material necessário para realizar os serviços.” T4
“Na verdade, em vista de outros lugares temos medicações e materiais para trabalhar, o que falta mesmo é valorização no nosso trabalho. Mas ainda falta equipamentos de urgência e emergência, meios de trabalho e locais mais acessíveis.” E2
“As dificuldades são várias, a redução da equipe de enfermagem frente a demanda do serviço em si, além disso tem também a resistência por parte dos profissionais, alguns mais velhos de casa são resistentes a submissão perante a nós como gestores no cumprimento dos POPs e dos protocolos de segurança do paciente, alguns funcionários demonstram essa resistência por acharem que sabem de tudo em relação aos protocolos, que são os experientes que sempre fizeram do mesmo jeito e nunca houve problemas, e que irão continuar fazendo da mesma forma. Então um dos fatores que dificulta o serviço é esse. Outra dificuldade como fala de antes é sobre a redução de equipe diante a demanda, principalmente no setor de urgência e emergência, e nos últimos meses teve aumento significativo nos procedimentos que dão 100% de segurança ao paciente, as vezes são levados de maneira mais leviana pelo tumulto do serviço, então é difícil padronizar. A instituição fornece todos os materiais necessários para a prevenção de infecções, só não fornece a quantidade adequada de materiais de bolso, então cada um usa o seu individualmente.” E3
Discussão
As categorias observadas nesse estudo mostram que os profissionais possuem conhecimentos restritos e isso se manifesta em algumas falas.
Deve-se ressaltar que tantos os Enfermeiros como os Técnicos de Enfermagem citaram como principal prevenção a lavagem das mãos, o que propriamente dito é de suma importância não somente para a equipe de enfermagem, mas para todos os profissionais que possuem contato direto com o paciente. Para a prevenção das IRAS deve ser de conhecimentos de todo profissional da área da saúde, que existem várias condutas para ser trabalhada na proteção anti-infecciosa para evitar-se a proliferação da infecção cruzada, uma delas que se deve aplicar no primeiro contato com o paciente é a Precaução Padrão que se trabalha com medidas básicas de proteção como o uso da lavagem das mãos, o uso de equipamento de proteção individual, o cuidado com descarte de matérias injetáveis e perfuro cortantes e a principal medida que deve ser realizada quando o material de bolso é compartilhado entre profissionais, que a desinfecção de materiais e equipamentos (BOEIRA et al., 2016).
Outra questão importante neste estudo é sobre os treinamentos. O profissional quando se ingressa em uma instituição de trabalho possuem receios, insegurança, dúvidas e até mesmo se sente restrito para fazer algumas atividades. O acolhimento desses profissionais é de grande relevância para a produtividade do seu trabalho, pois nesses momentos o profissional se sente mais seguro para tirar suas dúvidas e de fato minimiza as suas dificuldades. A equipe de enfermagem é umas das maiores equipe dentro de um ambiente hospitalar, a convivência de poder contar com o apoio de sua instituição e sua equipe faz com que o profissional desempenhe a sua função com mais autonomia e segurança, pois sabe-se que terá capacitações para aprimorar ainda mais seus conhecimentos e esclarecer as suas dúvidas (MARQUES et al., 2018). Em relação aos treinamentos nota-se que não existe capacitações com frequência para esses profissionais, como relato de alguns entrevistados, o último treinamento ocorreu há 1 ano atrás, o que de fato não se deve ter um intervalo tão extenso entre um treinamento e outro.
Para ter um bom desenvolvimento no processo de trabalho é necessário que exista o envolvimento da gestão hospitalar, para que o gestor consiga realizar um direcionamento da equipe como o um dos focos de ter uma boa comunicação, em que faça desenvolver o crescimento individual e assim uma união do trabalho em grupo, no objetivo de interagir a equipe e potencializar assim, uma agregação de conhecimentos entre os profissionais e um efetivo conhecimento entre profissional e paciente. Dessa maneira se faz útil a aplicação de treinamentos, liderança na tomada de decisões, simulações para desenvolver habilidades, educações permanentes e empatia entre a equipe de trabalho que atuam na ação do cuidar (FARIAS; SANTOS; GÓIS, 2018).
O ambiente hospitalar é o local de trabalho que mais apresenta riscos ocupacionais ao trabalhador, principalmente quando se faz uso incorreto dos meios de seguranças individuais e coletivas. O profissional atuante nesse ambiente fica exposto a riscos ergonômicos, físico, biológico, químicos, mecânico e risco psicossocial, pois trabalham com a fase do adoecimento, fragilidade, dependência, e assim se evoluindo a fase do óbito. O trabalhador não fica exposto somente pelo contato direto com o paciente, mas também pelos aspectos da organização e do ambiente de trabalho, como a quantidade e qualidade de materiais fornecidos para a execução do trabalho, o que pode ser propicio para o adoecimento dos profissionais. Os trabalhadores da equipe de enfermagem são os que mais destacam ao grupo de profissionais expostos aos riscos biológicos, pois tem contato a fluidos corporais como sangue e secreções, sendo materiais potencialmente contaminados e com isso ficando vulneráveis a adquirir doenças como Hepatite B, Hepatite C e a doença da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (PORTO; MARZIALE et al., 2016).
Durante a entrevista alguns profissionais citaram sobre o Procedimento Operacional Padrão (POP), que é uma das ferramentas utilizadas na gestão de qualidade de todos os serviços de saúde, sendo ele serviços hospitalares ou serviços de atenção primária, em que se deve ser um processo de avaliação contínua. Esse procedimento é um recurso tecnológico importante no processo de liderança dinâmica e na prestação de serviço, e deve-se ter participação e envolvimentos de todos os profissionais, sendo que se encontra ainda mais presente em todas as atividades exercidas pelo enfermeiro. O enfermeiro quando assume diante uma equipe técnica para a elaboração de um procedimento operacionalizado, ele deve não somente ter uma visão de um determinado espaço, mas sim uma visão holística de entendimento ao todo, identificando tantos as potencialidades envolvidas quanto as fragilidades no processo de promoção e cuidado em saúde (WALTER et al., 2016).
Considerações Finais
O presente estudo demonstrou que a equipe de enfermagem encontra algumas dificuldades para ofertar do seu trabalho. Percebe-se nesses resultados que uma das dificuldades encontradas é a deficiência de treinamentos para aprimoração dos seus conhecimentos, deixando claro que alguns profissionais relataram nunca ter recebido capacitações deste a sua entrada na instituição. Assim evidencia-se que é imprescindível as capacitações permanentes, para que ocorra um bom desenvolvimento profissional e a socialização do conhecimento. Observou-se também que os profissionais possuem conhecimentos sobre as medidas de infecção hospitalar, o que deve ser sempre enfatizado sobre a aplicação das medidas de precaução padrão para todos os pacientes, como forma de impedir a proliferação de infecções cruzadas, com a segurança voltada ao paciente e ao profissional.
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CAPÍTULO 14
ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM EM CUIDADOS PALIATIVOS NA ONCOLOGIA: ESTADO DA ARTE NO BRASIL
NURSING PRACTICE IN PALLIATIVE CARE IN ONCOLOGY: STATE OF THE ART IN BRAZIL
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.14
Submetido em: 26/07/2023
Revisado em: 28/07/2023
Publicado em: 02/08/2023
Flávio Borges do Nascimento
Faculdades Integradas de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos, Guarulhos-SP
http://lattes.cnpq.br/2135621760296633
Henrique Cesar Santos Cerri
Faculdades Integradas de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos, Guarulhos-SP
https://lattes.cnpq.br/5488234056064184
Monique Alencar Rezina Perez
Faculdades Integradas de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos, Guarulhos-SP
http://lattes.cnpq.br/5953706664511941
Neli Araujo Santana
Faculdades Integradas de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos, Guarulhos-SP
http://lattes.cnpq.br/7503157116522481
Resumo
O câncer é uma patologia caracterizada pelo crescimento desordenado de células anormais em um órgão ou tecido do corpo humano, causando disfunções orgânicas e desconforto aos pacientes, podendo levar, em estágios avançados, à falência de órgãos vitais e, consequentemente, ao óbito. Essa pesquisa tem como objetivo evidenciar a atuação do enfermeiro nos Cuidados Paliativos em pacientes oncológicos, identificar os principais desafios encontrados pelos enfermeiros que cuidam de pacientes fora da possibilidade terapêutica, detectar o enfrentamento destes enfermeiros ao lidarem com esses pacientes, enfatizar a importância de uma assistência humanizada com olhar holístico e trazer a reflexão para a inclusão do tema proposto como disciplina nos cursos de enfermagem. Para isso, foi definida a epistemologia de pesquisa qualitativa alicerçada na metodologia tipo Estado da Arte, com levantamento e análise de dados realizado em revistas e periódicos da área com periodicidade de investigação determinada no período entre 2012 e 2022. Dessa forma, foi possível observar que poucas pesquisas relacionadas à comunicação de más notícias, hipodermóclise e à inclusão da disciplina de Cuidados Paliativos nos cursos de Enfermagem foram realizadas, evidenciando uma deficiência de informações e desenvolvimento no âmbito dos Cuidados Paliativos no Brasil.
Palavras-Chave: Cuidados Paliativos; Oncologia; Enfermagem; Hipodermóclise; Estado da Arte.
Abstract
Cancer is a condition characterized by the uncontrolled growth of abnormal cells in an organ or tissue of the human body, causing organic dysfunction and discomfort to patients. In advanced stages, it can lead to organ failure and, consequently, death. This research aims to highlight the role of nurses in Palliative Care for oncology patients, identify the main challenges faced by nurses caring for patients beyond therapeutic possibilities, detect how these nurses cope with such patients, emphasize the importance of humanized care with a holistic approach, and prompt reflection on the inclusion of the proposed topic as a discipline in nursing courses. To achieve this, a qualitative research epistemology was defined, grounded in the State-of-the-Art methodology, with data collection and analysis conducted on journals and periodicals in the field, within a specified investigation period between 2012 and 2022. Thus, it was observed that few studies related to communication of bad news, subcutaneous infusion, and the inclusion of Palliative Care as a discipline in nursing courses have been conducted, highlighting a lack of information and development in the field of Palliative Care in Brazil.
Keywords: Palliative Care; Oncology; Nursing; Hypodermoclysis; State-of-the-Art.
Introdução
Câncer, ou neoplasia maligna, são células anormais que crescem desordenadas em algum órgão do corpo e, se nada for feito ou demorar o tratamento, podem causar tanto um crescimento excessivo no local, quanto se espalhar para outros órgãos. Assim, pode causar a morte de uma pessoa, caso esteja espalhado ou causar a falência de um órgão vital, como fígado, pulmão e cérebro. Quando o tumor se espalha para outros órgãos ou outras áreas do mesmo órgão, é chamado de metástase (BRASIL, 2020).
O câncer é um grande problema de saúde mundial, sendo uma das principais causas de morte em países em desenvolvimento, como o Brasil (FIGUEIREDO et al., 2018). Segundo dados da publicação Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil, pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), espera-se a ocorrência de 704 mil novos casos de câncer até 2025.
Quando aparece de forma avançada, pode evoluir à condição de impossibilidade de cura, com presença de sinais e sintomas pouco controláveis, como: dor, vômitos, fadiga, anorexia, ansiedade, depressão, constipação, entre outros. Manifestações similares podem estar relacionadas aos efeitos adversos do tratamento em alguns tipos de câncer, como também à invasão tumoral, causando intenso desconforto ao paciente e grande impacto negativo para a qualidade de vida (FREIRE et al., 2018).
O diagnóstico de câncer repercute de modo significativo na vida da pessoa e de sua família, em especial quando a doença se apresenta em estágio avançado e com metástases, fora de possibilidade de cura. Quando isso acontece, os cuidados são paliativos e, a partir desse ponto, são tomadas as seguintes medidas: identificação, avaliação e o tratamento oportuno de sintomas físicos, psicossociais e espirituais que repercutem na qualidade de vida do paciente (FIGUEIREDO et al., 2018).
O Cuidado Paliativo é o processo voltado para a pessoa que tem o diagnóstico de uma doença incurável, que deve ser visto na sua totalidade, e visa melhorar sua qualidade de vida perante o sofrimento da doença avançada. Essa assistência é prestada ao paciente e seus familiares, por meio de prevenção, alívio da dor e de outros sintomas, e devem abranger seu estado físico, psicossocial e espiritual (ALMEIDA et al., 2020).
O conceito de Cuidados Paliativos está relacionado à médica britânica Cicely Saunders que, em 1967, atuou na fundação do St. Christopher’s Hospice, em Londres, e a partir de então diversos países passaram a implantar serviços destinados aos Cuidados Paliativos (SILVA et al., 2022).
No Brasil, segundo a literatura consultada, não há consenso quanto ao início das ações de atenção paliativa. Os primeiros serviços de Cuidados Paliativos foram implantados no país no final do século XX (SILVA et al., 2022).
Em 1979 a professora Dra. Miriam Martelete, fundou o Serviço de Dor no Hospital das Clínicas, e em 1983 o Serviço de Cuidados Paliativos em Porto Alegre (RS). Posteriormente, o médico fisiatra Dr. Antonio Carlos Camargo de Andrade Filho fundou o Serviço de Dor da Santa Casa em 1983 e, em 1986, o de Cuidados Paliativos (SILVA et al., 2022).
Na Teoria das Relações Interpessoais, compreende-se que a equipe de enfermagem é o ponto de apoio na relação humana experimentada entre uma pessoa enferma que necessita de ajuda e um profissional especializado capaz de reconhecer e responder às suas necessidades. Essa relação torna-se primordial para identificar a individualidade do paciente e torná-lo coparticipativo no tratamento (SILVA et al., 2020).
Comunicar e esclarecer o desenvolvimento do processo da terminalidade da doença é de suma importância, pois a prioridade é fazer com que o paciente consiga viver cada dia com a melhor qualidade possível, e que seus familiares possam enfrentar melhor o luto após a sua morte. A demanda do cuidar deve estar ligada à equipe multidisciplinar. Normalmente, a equipe de enfermagem é a frente do cuidado terapêutico (ALMEIDA et al., 2020).
As pessoas com doenças terminais desenvolvem sintomas físicos, psicológicos, sociais e espirituais como: dor, fadiga, emagrecimento súbito, dispneia, delírio, depressão, entre outros. E, nas últimas 72 horas, o paciente pode apresentar indicadores clínicos clássicos como inapetência (ausência de apetite), confusão mental, cianose, acúmulo de secreção de vias aéreas superiores, olhos ressecados, falta de ar e xerostomia (baixa produção de saliva) (ALMEIDA et al., 2020).
Logo, se vê a importância da avaliação dos sinais e sintomas, a mensuração com a aplicação, pela enfermagem, de algumas escalas, como: Palliative Performance Scale (PPS); Escala de Zubrod (ECOG) que avalia os cinco critérios de desempenho do paciente e os resultados; Escala de Karnofsky que avalia o estado clínico do paciente em relação às atividades por ele realizadas, onde 100% indica que está com atividades normais e 10% que está desfalecido e em estado de morte iminente; e Escala de Edmonton que avalia: dor, cansaço, padrão de sono, náusea, inapetência, dispneia, tristeza, ansiedade e bem-estar, numa escala de 0 a 10, sendo 10 utilizado para indicar a pior sensação possível (ALMEIDA et al., 2020).
Aplicadas em conjunto, essas escalas avaliam a capacidade funcional do paciente para indicação de terapia e curso da doença (ALMEIDA et al., 2020).
Contudo, a discussão das normas sobre as questões que envolvem os cuidados paliativos e as relações da assistência à saúde, são crescentes (NUNES; RODRIGUES, 2012).
O câncer é uma das doenças que mais preocupam os profissionais da saúde na atualidade, tanto pela sua gravidade quanto pela sua incidência, mobilizando grande número de pesquisas, com o objetivo de encontrar melhores tratamentos ou até mesmo a cura.
Entretanto, existem áreas dentro dos Cuidados Paliativos que ainda necessitam de mais estudos, o que pode ser evidenciado, por exemplo, pela falta de uma disciplina acadêmica que trate especificamente sobre o assunto e pelo relato de diversos estudantes que, ao final de suas formações, ainda sentem insegurança e falta de preparo em lidar com esse tipo de paciente.
Assim, essa pesquisa tem como objetivo geral averiguar a atuação do enfermeiro nos cuidados paliativos em pacientes oncológicos e, como objetivos específicos, enfatizar a importância de uma assistência humanizada com olhar holístico e trazer a reflexão para a inclusão do tema proposto como disciplina nos cursos de enfermagem.
Metodologia
Este artigo enquadra-se na perspectiva da pesquisa qualitativa. A expressão “pesquisa qualitativa” assume diferentes significados no campo das ciências sociais. Compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social; trata-se de reduzir a distância entre indicador e indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação (MAANEN, 1979a, p.520).
A presente pesquisa analisa os artigos publicados nos anos de 2012 a 2022, no que se refere aos Cuidados Paliativos na Oncologia.
Estados da arte podem significar uma contribuição importante na constituição do campo teórico de uma área de conhecimento, pois procuram identificar os aportes significativos da construção da teoria e prática, apontar as restrições sobre o campo em que se move a pesquisa, as suas lacunas de disseminação, identificar experiências inovadoras investigadas que apontem alternativas de solução para os problemas da prática e reconhecer as contribuições da pesquisa na constituição de propostas na área focalizada (Romanowski, 2006, p.39).
De acordo com os estudos de Soares (2000, p. 04), em um estado da arte é necessário considerar “categorias que identifiquem, em cada texto, e no conjunto deles as facetas sobre as quais os fenômenos vêm sendo analisados”.
No período de 2012 a 2022 foram publicados nas revistas Enfermagem em Foco, Psychologica, Revista Gaúcha de Enfermagem, Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, Texto & Contexto – Enfermagem, Revista Enfermagem UERJ, Revista Brasileira de Cancerologia, Revista Mineira de Enfermagem, 146 artigos com temas ligados aos Cuidados Paliativos em pacientes oncológicos.
Fundamentação teórica
O conhecimento pode influenciar na maneira com que o indivíduo lida com os desafios. O enfermeiro possui uma grande responsabilidade diante da equipe, pois ele deve ser o multiplicador de novas ideias e condutas no âmbito da assistência, portanto torna-se fundamental a descoberta e renovação de conceitos na qualidade da assistência que será oferecida ao paciente em fase terminal da vida (DE MORAIS et al., 2018).
Os enfermeiros descrevem os Cuidados Paliativos como “fora da possibilidade terapêutica”, onde a equipe multidisciplinar avalia o caso e propõe aos familiares medidas não curativas, ou seja, trata-se de uma assistência diferenciada, onde o objetivo é oferecer qualidade de vida ao paciente independente de quantos dias, meses ou anos ele viverá, oferecendo-lhe medidas de paliação, onde não serão realizados procedimentos invasivos e curativos (DE MORAIS et al., 2018).
A palavra “conforto” é muito utilizada na prática de enfermagem e esse termo conforto é derivado de confortar, que significa auxílio, apoio em uma aflição, em uma situação de dor, de infelicidade; ação ou efeito de confortar, ajudar e consolar. O enfermeiro durante o processo de formação é ensinado e incentivado a promover o bem-estar dos pacientes. Nos Cuidados Paliativos, isso é vivenciado de uma forma mais intensa, pois as principais ferramentas de promoção ao bem-estar do paciente estão relacionadas ao conforto que lhe é oferecido (DE MORAIS et al., 2018).
Deve estar incluída na assistência dos Cuidados Paliativos, uma visão de morte como um processo inevitável, porém, não se pode deixar de proporcionar o máximo de conforto ao enfermo e seus familiares como ser único, que naquele momento passa por aflições e conflitos (DE MORAIS et al., 2018).
Muitos enfermeiros relacionam Cuidados Paliativos à diminuição da dor, sendo que, a relação entre promover conforto e aliviar a dor vem sendo confundida no âmbito de Cuidados Paliativos. Promover o bem-estar não se limita em paliar a dor, ambas têm sua importância e são utilizadas em conjunto como ferramentas na paliação, porém, uma pode influenciar e complementar a outra, ou seja, é de extrema importância que a equipe multidisciplinar conheça e diferencie essas sensações (DE MORAIS et al., 2018).
Os profissionais de enfermagem, embora saibam que a morte faz parte do processo natural da vida, geralmente não são preparados para lidar com ela, esses profissionais enfrentam vários desafios e sentimentos ao prestar assistência ao paciente em fase terminal da vida. Além dos desafios pessoais, eles devem estar aptos a interagir com a família frente à possibilidade da morte. A enfermagem pode e deve atuar no sentido de apoiar o doente e o grupo familiar, possibilitando minimizar os medos e ansiedades, colaborando na participação adequada de ambos nesse processo (DE MORAIS et al., 2018).
Sendo assim, é possível perceber a importância de os profissionais serem preparados para oferecer suporte também aos familiares. Quando uma pessoa recebe um diagnóstico de que a doença está fora de possibilidade de cura, sua família sofre junto com o paciente e o impacto é sempre muito doloroso. Como efeito, cada família se manifesta com reações distintas, como negação, fechamento ao diálogo ou reservam-se. Surgem inúmeros sentimentos e distintas formas de lidar com cada um deles. Consequentemente, alguns profissionais acabam criando seus próprios mecanismos de defesa a fim de manter o equilíbrio emocional (DE MORAIS et al., 2018).
Acredita-se que a forma de encarar esses desafios influencia na qualidade da assistência prestada. Uma das técnicas mais importantes, é manter o equilíbrio e o controle de suas emoções, porém são poucos os profissionais que conseguem exercê-las. Então são criadas estratégias pessoais para que esses sentimentos e sensações não gerem impacto no seu dia a dia. Os profissionais da área da saúde em geral, por convivem com essa realidade diariamente, usam técnicas como o: “Não levar para casa” ou “Procurar não ficar pensando”, que são as maneiras que encontraram para lidar com esse enfrentamento (DE MORAIS et al., 2018).
O controle emocional mediante a algo que te angústia não se torna uma tarefa fácil, porém, na enfermagem isso deve ser posto em prática sempre, pois esses profissionais lidam com a dor e o sofrimento diariamente. Ainda que a morte faça parte do dia a dia desses profissionais, alguns reagem negando a morte, isso pode implicar negativamente na assistência de um paciente terminal e seus familiares (DE MORAIS et al., 2018).
Percebe-se que o preparo e suporte dos profissionais devem ser revistos pelas instituições. No universo dos Cuidados Paliativos, muitos autores referem de diversas formas a importância da paliação no âmbito da assistência, porém, poucos citam sobre o preparo dos futuros e atuais profissionais que estão diretamente ligados a este processo (DE MORAIS et al., 2018).
Em estudo realizado nas Universidades Federais brasileiras que ofertam cursos de bacharelado em enfermagem, foi constatado que, de um total de 59 cursos analisados, apenas 11 possuem alguma disciplina relacionada exclusivamente a Cuidados Paliativos, sendo 10 delas optativas, com carga horária menor ou igual a 60 horas e utilizando materiais que vão apenas até 2018 (RIBEIRO et al., 2019).
Acredita-se que é de extrema relevância a realização de estudos que explorem a experiência e os conhecimentos dos profissionais de enfermagem em Cuidados Paliativos, pois além de diminuir essa lacuna, promoverá auxílio aos profissionais ligados a essa área. O favorecimento de palestras institucionais, troca de experiências, discussões em grupo, reuniões com a equipe multiprofissional para abordar essa temática, é de suma importância, pois assim estariam dando mais alicerce e assessoria aos profissionais da enfermagem, ajudando-os a lidar com seus desafios e emoções frente à Assistência Paliativista (DE MORAIS et al., 2018).
Nos Cuidados Paliativos, o controle dos sintomas é essencial, e um dos sintomas mais recorrentes em pacientes oncológicos, em seu último ano de vida, é a dor, sendo ela uma das principais causas de hospitalização. Assim, procura-se controlá-la o mais rápido possível e, para isso, diversas drogas são utilizadas (SAMPAIO et al., 2019).
Nesse seu estudo, SAMPAIO et al., 2019, constataram que, além do uso de analgésicos comuns, o uso de adjuvantes e o manejo seguro de opioides fortes trazem grande benefício no controle da dor em um espaço de tempo menor. Os analgésicos comuns mais utilizados foram dipirona e paracetamol, os adjuvantes foram gabapentina e pregabalina, e, de opioides fortes, os mais utilizados foram morfina e tramadol.
O estudo desenvolvido por PONTALTI et al., 2017, revela que 53% a 70% dos pacientes precisarão de administração parenteral para o controle eficaz dos sintomas, devido à dificuldade de administração de medicamentos via oral. Esse percentual torna-se maior à medida que o paciente avança para a fase terminal de vida. Tem sido um grande desafio para as equipes de saúde nos Cuidados Paliativos, a disponibilidade de acesso venoso periférico e uma via parenteral para administração de medicamentos, devido à evolução da doença do paciente oncológico.
Quando a via oral se torna indisponível, a via de infusão escolhida para o controle dos sintomas é a subcutânea, para que evite punções repetidas em uma rede venosa frágil ou inacessível. Essa via tem como vantagem ser menos dolorosa, com raros eventos adversos e apresenta a mesma eficácia da endovenosa. Sendo conhecida por hipodermóclise, faz-se importante ampliar o conhecimento e a divulgação das experiências quanto aos seus benefícios (PONTALTI et al., 2017).
A técnica de punção hipodermóclise é realizada pelo enfermeiro e consiste na introdução de um dispositivo de teflon ou metal com calibre 22 a 27, no tecido subcutâneo do paciente, fixado por um curativo transparente para a melhor visualização da pele envolvente, com recomendação de até sete dias de permanência. O enfermeiro escolhe o local de punção de acordo com o volume e tipo de medicação prescrita, certificando-se da espessura do tecido subcutâneo e evitando a escolha de tecido próximo de estomas, infectado, irradiado ou edemaciado (PONTALTI et al., 2017).
Na literatura existem controvérsias quando se trata de hidratação para pacientes em fase pré-morte, porém existe consenso de que a reposição de líquidos deve ser individualizada para cada paciente, com base no exame clínico e avaliação dos benefícios e propriedades terapêuticas, a escolha da área para a punção via hipodermóclise, preferencialmente, é a região abdominal ou torácica devido à capacidade extensional (PONTALTI et al., 2017).
Estudos relatam que no processo terminal de vida ocorre a desidratação fisiológica, tendo como resultado a redução da percepção da dor e a dispneia, porém potencializa os sintomas de sede e xerostomia, nessas situações, a reposição hídrica pode ser realizada tanto com solução salina quanto glicofisiológica, em um volume diário entre 500 e 1.500 ml por sítio de punção. Os fármacos podem ser administrados em bolus, de 2 a 3 ml para evitar endurecimento, dor local e eritema e/ou em infusão contínua. Se houver incompatibilidade da medicação ou a prescrição de volumes for superior a 1.500 ml em 24 horas, será necessária a instalação de um acesso adicional (PONTALTI et al., 2017).
É fundamental ressaltar que a administração de medicamentos por hipodermóclise é uma prática que vem sendo estimulada na assistência e recomendada no manejo de pacientes oncológicos em Cuidados Paliativos. Dentre as vantagens desta via, destaca-se a facilidade de aplicação, maior conforto e menor dor em relação à infusão intravenosa, além de apresentar menos eventos adversos e garantir o controle sintomático decorrente da doença. Essa prática apresentou-se como uma via segura, minimamente invasiva e eficaz no tratamento sintomático dos pacientes com câncer em Cuidados Paliativos (PONTALTI et al., 2017).
Entretanto, a dor não deve ser encarada apenas do ponto de vista físico, mas sim, englobando aspectos emocionais, sociais e espirituais, como descrito por Cicely Saunders em seu conceito de “Dor Total”. A partir disso, o enfermeiro e sua equipe devem estar atentos às necessidades não atendidas do paciente, que podem estar relacionadas tanto a aspectos físicos quanto a aspectos sociais (como por exemplo, famílias disfuncionais, falta de recursos financeiros e comprometimento cognitivo), e planejar e implementar ações individualizadas, buscando trazer conforto (CASTRO et al., 2021).
Ainda levando em conta o conceito de “Dor Total”, é importante considerar a dor do luto, que afeta a todos os relacionados intimamente com o paciente em Cuidados Paliativos, assim, a iminência da morte torna-se um período de crise, podendo levar a situações de desordem familiar e esgotamento psíquico, desencadeando elementos como o luto antecipatório (AREIA et al., 2017).
Para evitar ou amenizar os efeitos acima descritos, a equipe de enfermagem cumpre um papel importante também no suporte à família, principalmente em relação à comunicação, tendo em vista que esconder informações sobre o prognóstico muitas vezes acaba por destruir a esperança do paciente e de sua família quando se veem diante da real gravidade da situação, aumentando a ansiedade e o desespero (AREIA et al., 2017).
Por se tratar de uma doença terminal, deve-se trabalhar o reajustamento de expectativas, deixando de lado a ilusão de uma possível cura e estabelecendo esperanças alternativas, trazendo ao foco situações realistas, que ainda podem ser realizadas nesse período de vida restante, como por exemplo, providenciar o encontro com pessoas importantes, resolver assuntos pendentes e realizar sonhos (AREIA et al., 2017).
Resultados e Discussões
O levantamento realizado neste estudo refere-se a uma pesquisa tipo Estado da Arte, analisando artigos com temas relacionados à atuação da enfermagem nos Cuidados Paliativos aos pacientes oncológicos, publicados ao longo de 10 anos. No quadro 1 é possível observar que os temas abordados vão de encontro ao tema do artigo: atuação da enfermagem em cuidados paliativos na oncologia: estado da arte no Brasil.
Os dados selecionados nas revistas escolhidas para este artigo foram distribuídos e incluídos no quadro 1, possibilitando maior clareza na observação por meio de cada revista.
Quadro 1: Levantamento dos artigos nas respectivas revistas.
Fonte: Próprios autores, 2023.
A análise dos conteúdos publicados resultou nos dados que podem ser apreciados no gráfico 1.
Gráfico 1: Artigos de Cuidados Paliativos publicados durante o período pesquisado.
Fonte: Próprios autores, 2023.
Por meio dessas pesquisas, é possível observar uma preocupação maior com relação às dificuldades da enfermagem e à qualidade de vida em Cuidados Paliativos, temas estes que possuem pelo menos um artigo publicado em cada uma das revistas, com exceção da revista Psychologica, que não possui nenhuma publicação sobre os desafios da enfermagem, o que pode ser justificado por se tratar de uma revista voltada para a saúde mental.
Entretanto, apenas 5 artigos que tratam da Hipodermóclise foram publicados durante o período de pesquisa, 1 na Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, 1 na Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, 1 na Revista Enfermagem UERJ e 2 na Revista Brasileira de Cancerologia.
Foram encontrados 5 artigos sobre a Importância da disciplina Cuidados Paliativos para enfermagem, 1 na Revista Gaúcha de Enfermagem, 1 na Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro e 3 na Revista Brasileira de Cancerologia.
O tema comunicação de más notícias foi encontrado em 10 artigos, 1 na Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, 1 na Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, 1 na Revista Texto e Contexto – Enfermagem, 3 na Revista Enfermagem UERJ e 4 na Revista Brasileira de Cancerologia. Mostrando pouco desenvolvimento de pesquisas relacionadas à conduta que deve ser tomada pelo enfermeiro perante os familiares e pacientes com relação à passagem de informações, sendo esse um dos principais desafios encontrados na área.
Por fim, moderada quantidade de artigos tratando do conceito de Dor Total e teoria do conforto e dos Desafios dos familiares e cuidadores podem ser identificados, demonstrando que mais pesquisas sobre esses temas ainda podem trazer grandes contribuições para a qualidade de vida dos pacientes.
Considerações finais
Essa pesquisa teve como objetivo mostrar a atuação e importância do profissional de enfermagem nos Cuidados Paliativos ao paciente oncológico e, como a formação acadêmica desse profissional juntamente com a utilização de novas técnicas podem melhorar a qualidade de vida desses pacientes.
Por meio dela, percebeu-se os conflitos que os profissionais da enfermagem enfrentam ao prestarem assistência a pacientes fora da possibilidade de cura, suas dificuldades em lidar e comunicar a finitude da vida, muitas vezes optando por negar a morte e, assim, interferindo na assistência aos pacientes e familiares.
Com base no levantamento de dados realizado dentro do período analisado, foi possível observar que há grande preocupação quando se trata da qualidade de vida do paciente e dos desafios enfrentados pela enfermagem, entretanto, o mesmo não ocorre quando o assunto é hipodermóclise e a disciplina de Cuidados Paliativos nos cursos acadêmicos de enfermagem.
Acreditamos que o escopo de pesquisas em aspecto macro sobre a hipodermóclise devem ser realizadas, tendo em vista que esse método é menos invasivo para o controle dos sintomas causados pelo câncer em fase terminal de vida, levando a um maior bem-estar e conforto ao paciente se comparado às técnicas utilizadas atualmente.
Dessa mesma forma, julgamos necessário uma maior investigação quanto à importância da disciplina de Cuidados Paliativos durante a formação acadêmica dos profissionais de enfermagem, pois, baseado nos artigos encontrados, percebemos que a inclusão deste tema nas grades curriculares faz com que esses profissionais estejam melhor preparados ao lidarem com suas sensações e desafios frente a esses pacientes, proporcionando uma assistência mais eficaz. É notória a importância de uma maior abrangência temporal para uma melhor contribuição da evolução do pensamento científico da grande área.
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SOARES, Magda Becker. As pesquisas nas áreas específicas influenciando o curso de formação de professores. Cadernos ANPED, n. 5, set. 1993.
CAPÍTULO 15
O PAPEL DA ENFERMAGEM NA ONCOLOGIA: UMA ANÁLISE DO ESTADO DA ARTE
THE ROLE OF NURSING IN ONCOLOGY: A STATE OF THE ART ANALYSIS
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.15
Submetido em: 26/07/2023
Revisado em: 28/07/2023
Publicado em: 02/08/2023
Aline Bastos Ribeiro
Faculdades de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos, Guarulhos-SP
http://lattes.cnpq.br/0023793432599679
Flavio Borges do Nascimento
Faculdades de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos, Guarulhos-SP
http://lattes.cnpq.br/2135621760296633
Maria Aline Duque Santos
Faculdades de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos, Guarulhos-SP
http://lattes.cnpq.br/1672912639723251
Neli Araújo Santana
Faculdades de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos, Guarulhos-SP
http://lattes.cnpq.br/7503157116522481
Resumo
O estudo sobre o sofrimento psíquico do profissional de enfermagem na oncologia tem como objetivo esclarecer os problemas encarados na profissão como: a insatisfação do trabalho, imprudências, acidentes e doenças ocupacionais. Definimos como pergunta norteadora da pesquisa: Quais fatores influenciam o sofrimento psíquico enfrentado pelos profissionais da enfermagem em uma unidade oncológica? Para isso, foi definida a epistemologia de pesquisa qualitativa alicerçada na metodologia tipo Estado da Arte, com levantamento e análise de dados realizado em revistas e periódicos da área com periodicidade de investigação determinada no período entre 2018 e 2022. Para compor a triagem dos artigos utilizou-se a terminologia estabelecida pelos Descritores em Ciência da Saúde (DECS).
Palavras-Chave: Oncologia, Enfermagem, Sofrimento psíquico, estado da arte.
Abstract
The study on the psychic suffering of nursing professionals in oncology aims to clarify the problems faced in the profession, such as: job dissatisfaction, imprudence, accidents and occupational diseases. We defined as the research’s guiding question: What factors influence the psychic suffering faced by nursing professionals in an oncology unit? For this, the epistemology of qualitative research was defined based on the State of the Art methodology, with data collection and analysis carried out in magazines and periodicals in the area with a determined periodicity of investigation in the period between 2018 and 2022. the terminology established by the Descriptors in Health Sciences (DECS).
Keywords: Oncology, Nursing, Psychological suffering, state of the art.
Introdução
O câncer deriva de um conjunto de mais de 100 tipos de tumores, que reflete no desenvolvimento anormal das células, invadindo órgãos e tecidos. Multiplicando-se rapidamente, essas células podem ser agressivas e se reproduzirem de modo descontrolado, sendo um marco para a formação de tumores malignos, que se espalham para outras regiões do corpo desenvolvendo metástase (ARBOIT et al., 2019).
No Brasil, os casos de cânceres vêm aumentando na última década e estimou-se que nos anos de 2023 a 2025 ocorreram aproximadamente 704 mil novos casos, sendo os mais comuns cânceres de mama, intestino, colo do útero, pulmão e tireoide em mulheres, já em homens esses cânceres tiveram mais incidências nos seguintes órgãos próstata, pulmão, intestino, estômago e cavidade oral (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2022).
Com a incidência muito alta de câncer, foi criado o curso de especialização em enfermagem oncológica tendo o seu início nos Estados Unidos, visando um tratamento confortável e adequado para pacientes cirúrgicos e cuidados paliativos para pacientes terminais. Assim, houve mais envolvimento dos enfermeiros oncológicos, através da atualização de estudos na área mostrando que deveriam ter uma interação multiprofissional para melhorar cada vez mais aqueles cuidados (ARBOIT et al., 2019).
Ao refletir acerca das atribuições do enfermeiro oncológico, a assistência prestada ao paciente visa: avaliação diagnóstico, tratamento, reabilitação, atendimento à família, promoção de atividades educativas, realização da prevenção, interação com a equipe multiprofissional, firmar medidas legislativas e observar os riscos ocupacionais (ARBOIT et al., 2019).
Em virtude da atividade laboral dos profissionais que atuam na área oncológica, são constantemente atingidos por situações que envolvem dor, morte e sofrimento tanto do paciente como da família no acompanhamento desse processo. Além de haver uma grande exigência do próprio trabalho, as organizações requerem muito desses profissionais (FAVERO; GOMES, 2018).
Atualmente o sofrimento no trabalho é um tema muito abordado, pois reflete a diversidade social e a fragilidade a que os trabalhadores estão sujeitos. O sofrimento psíquico dá-se mundialmente causando um grande impacto nas organizações, principalmente nas instituições de saúde, visto que implica nos trabalhadores e na assistência que os mesmos prestam, podendo ocasionar inúmeros erros. Os colaboradores nessa situação de sofrimento psíquico, tendem a diminuir suas atividades, gerando altos custos para as organizações, aumentando a rotatividade, o absenteísmo e ceticismo muito frequente na síndrome de Burnout, caracterizando o estresse ocupacional (SIQUEIRA, 2018).
A equipe de enfermagem são os que mais sofrem e desgastam-se emocionalmente, pois estão constantemente cuidando do paciente e acompanhando seu prognóstico, sendo ele bom ou ruim, e por vivenciar o sofrimento, a dor e a morte daquele que fora cuidado (SIQUEIRA, 2018).
O estudo desenvolvido por ANJOS (2018), relatou que a única probabilidade é o término da vida, esses profissionais que prestaram cuidados sentem-se incapazes e frustrados por haver uma interrupção da vida, ocasionada por doença, caracterizando uma forma que não é natural. Embora passem por isso constantemente, esse processo de morte acaba gerando sentimento de frustração, provocando luto na equipe de enfermagem que prestaram cuidados ao enfermo, sem dúvida mostrando a falta de preparo para lidar com a morte, causando um sofrimento psíquico, mesmo criando um mecanismo de defesa para evitar desgastar-se fisicamente e emocionalmente.
O estudo do sofrimento psíquico entre a equipe de enfermagem oncológica é capaz de ajudar a entender e explicar os problemas encarados pela profissão, como insatisfação do trabalho, acidentes e doenças ocupacionais (SIQUEIRA, 2018). Portanto, por meio desse estudo, os gestores conseguem compreender a efetividade de uma política de gestão com intuito de reduzir e melhorar as condições de trabalhos da equipe de enfermagem, a fim de reduzir o sofrimento psíquico desses profissionais (GONTIJO et al, 2019).
Esta pesquisa surge de uma inquietação sobre a temática, podendo observar-se nos levantamentos de dados um déficit nas pesquisas sobre os fatores que influenciam o sofrimento psíquico enfrentado pelos profissionais da enfermagem em uma unidade oncológica, gerando a necessidade de mostrar a importância e relevância de uma boa política de gestão, assim reduzindo-se o sofrimento desses profissionais.
Para atender ao anseio sobre o tema define-se como objetivo esclarecer os problemas encarados na profissão como: a insatisfação do trabalho, imprudências, acidentes e doenças ocupacionais.
Desta forma, delibera-se como pergunta norteadora da pesquisa: Quais fatores influenciam o sofrimento psíquico enfrentado pelos profissionais da enfermagem em uma unidade oncológica?
Metodologia
O artigo apresentado delimita-se na perspectiva da pesquisa qualitativa. A expressão “pesquisa qualitativa” revela diferentes significados no campo das ciências sociais. Entender um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam retratar e a decifrar os componentes de um sistema complexo de significados. Com a finalidade de traduzir e expor o sentido dos fenômenos do mundo social; trata-se de reduzir a distância entre indicador e indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação (MAANEN, 1979a, p.520).
As pesquisas qualitativas distinguem-se entre si quanto ao método, à forma e aos objetivos. GODOY (1995a, p.62) evidencia a diversidade existente entre os trabalhos qualitativos e indica um conjunto de características essenciais capazes de identificar uma pesquisa desse tipo, como:
(1) o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental;
(2) o caráter descritivo;
(3) o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida como preocupação do investigador;
(4) enfoque indutivo.
A presente pesquisa analisa os artigos publicados nos anos de 2018 a 2022, no que se refere ao Sofrimento Psíquico do Profissional da Enfermagem na Oncologia.
Estados da arte podem significar uma contribuição importante na constituição do campo teórico de uma área de conhecimento, pois procuram identificar os aportes significativos da construção da teoria e prática pedagógica, apontar as restrições sobre o campo em que se move a pesquisa, as suas lacunas de disseminação, identificar experiências inovadoras investigadas que apontem alternativas de solução para os problemas da prática e reconhecer as contribuições da pesquisa na constituição de propostas na área focalizada. (Romanowski, 2006, p.39)
Conforme os estudos de Soares (2000, p. 04), num estado da arte é necessário conceituar “categorias que identifiquem, em cada texto, e no conjunto deles as facetas sobre as quais os fenômenos vêm sendo analisados”.
A epistemologia de pesquisa qualitativa foi definida alicerçada na metodologia tipo Estado da Arte, com levantamento e análise de dados realizado em revistas e periódicos da área com periodicidade de investigação determinada no período entre 2018 e 2022. Para compor a triagem dos artigos utilizou-se a terminologia estabelecida pelos Descritores em Ciência da Saúde (DECS).
Fundamentação Teórica
O câncer é um grave problema de saúde pública no Brasil, acarretando mais de 600 mil novos casos a cada ano, sendo uma doença crônica cercada de estigmas no qual o diagnóstico é interpretado por muitos como uma sentença definitiva. Destacando-se por uma doença que ultrapassa a dimensão pessoal do indivíduo acometido, atingindo outros âmbitos como a do profissional de saúde, particularmente a equipe de enfermagem (OLIVEIRA et al., 2020).
A equipe de enfermagem é essencial nos cuidados dos pacientes oncológicos, envolvendo a interação baseada no respeito e nas necessidades do ser humano, buscando um relacionamento dinâmico, a fim de proporcionar conforto durante o processo. Ao desenvolver suas atividades laborais os profissionais de enfermagem precisam estar preparados para lidar com pessoas que estão com comprometimentos emocionais, psicológicos e sociais, tal como auxiliar nas adaptações e limitações decorrente ao tratamento e da evolução da doença, enfatizando uma assistência de qualidade para o paciente (OLIVEIRA et al., 2020).
Os profissionais de enfermagem atuam com ações de prevenção e controle, tendo como atribuições prestar assistência na avaliação diagnóstica, no tratamento, na reabilitação e no atendimento à família. Os enfermeiros participam dessa assistência desenvolvendo ações educativas, ações com a equipe multiprofissional, apoia as medidas legislativas e identificam os riscos ocupacionais, no amparo ao paciente oncológico e sua família (IANTAS, 2020).
O câncer junto a seu tratamento proporciona distintas modificações na vida do paciente e de sua família. É possível compreender que a equipe de enfermagem visa encontrar as melhores formas de se aproximar do paciente com intervenções para melhorar o vínculo com si mesmo e ajudá-lo a se recolocar na sociedade.
O enfrentamento da primeira proximidade com paciente oncológico e a identificação da equipe de enfermagem no qual fará os cuidados, fortalece o vínculo e demonstra que esse momento pode ser passado de uma forma menos torturante, assim revertendo o impacto inicial de passar por um tratamento tido como severo que aos poucos é substituído pela exceptiva de cura (IANTAS, 2020).
A pesquisa desenvolvida por SILVA; BEZERRA (2020) relatam que o paciente oncológico necessita de uma assistência que tenha uma gestão de qualidade, demandando maior rigor da sistematização da assistência de enfermagem. Com isso, a atuação da equipe de enfermagem deve ser especializada e qualificada, capaz de trazer uma assistência baseada na parte técnica-científica e considerar as particularidades de cada indivíduo.
Os pacientes oncológicos contam com a atenção total dos profissionais de enfermagem. Os familiares ocupam um papel relevante no tratamento desses pacientes, estes necessitam de suporte, de comunicação afetiva e participação da família no tratamento. Portanto, a equipe de enfermagem deve estar atenta ao suporte dispensado ao paciente e a sua família. (SILVA; BEZERRA, 2020).
O setor de oncologia é normalmente cercado de rotinas exaustivas de exames, intervenções e na busca diária de se conseguir a cura ou interromper o crescimento acelerado da doença, onde também a angústia e o medo estão presentes, e se tornam fatores estressantes para pacientes e familiares (SANTOS et al., 2013).
Quando as únicas perspectivas são cuidados terminais e o fim da vida, a equipe de enfermagem envolvidos no tratamento sentem-se impotentes e fracassados, uma vez que a descontinuidade da vida de um paciente vai contra a ordem natural do ciclo da vida (SILVA et al., 2015).
A empatia e a confiança são essenciais para a construção da relação do enfermeiro com a família, também é fundamental para proporcionar conforto durante procedimentos potencialmente dolorosos, razão pela qual a parceria e o cuidado com a família são indispensáveis. O foco principal do cuidado terminal é atender às necessidades do paciente, razão pela qual a parceria e o cuidado com a família são essenciais. (SILVA et al., 2014).
Os estudos de Santos et al. (2013), denotam que, apesar da educação sobre a morte ocorrer na maioria dos cursos de enfermagem, os profissionais ainda encontram dificuldades por falta de preparo. Isso porque a maioria dos docentes de enfermagem não recebe nenhum treinamento sobre a morte durante suas aulas de formação. Isso faz com que muitos acreditem que a morte é um tópico não falado durante suas fases educacionais. Além disso, fica evidente que a morte não é devidamente discutida durante as aulas de formação dos docentes de enfermagem devido à falta de formação sobre o assunto.
Os profissionais de oncologia empregam diversas ferramentas em seu trabalho, enfrentar a morte traz um sentimento de impotência, as pessoas podem ficar frustradas com o fato inerente da morte. O profissional sente que seus serviços ultrapassam seus limites de cuidado, surgindo diferentes opiniões (ALVES, 2012).
Essas condições psicológicas afetam cada profissional individualmente, resultando em dificuldade no gerenciamento das tarefas cotidianas fora do ambiente hospitalar e são criadas por diversos fatores externos como: viagens múltiplas e abrangentes, limitação ou escassez de recursos e instrumentos, o treinamento é percebido pelo profissional com desconforto, obrigação e agonia, sendo realizada de forma mecânica que o faz interrogar sua eficácia, sua vocação e seus valores (BEZERRA et al., 2012).
Resultados e Discussão
A sondagem realizada neste estudo refere-se a uma pesquisa tipo Estado da Arte, analisando artigos com temas relacionados ao sofrimento psíquico da enfermagem em uma unidade oncológica, publicados durante o ano de 2018 a 2022 conforme tabela 1.
Tabela 1: Levantamento dos artigos nas respectivas revistas.
O sofrimento psíquico da enfermagem na oncologia | O estresse ocupacional presente na enfermagem oncológica | Bem-estar do profissional da enfermagem. | Dificuldade e desafios encontrados pela enfermagem ao lidar com pacientes oncológicos | Principais estratégias adotadas pela enfermagem para amenizar o sofrimento psíquico | Importância da capacitação da enfermagem para lidar com pacientes oncológicos | |
Revista Uningá | 1 | 3 | 1 | 1 | 1 | 2 |
Acta de Ciências e Saúde | 1 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 |
Revista latina-americana de enfermagem | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 |
Revista de Ciências Médicas e Biológicas | 0 | 0 | 1 | 2 | 0 | 1 |
Revista de Enfermagem Contemporânea | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 |
Ciências, Cuidado e Saúde | 1 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 |
Revista Gaúcha de Enfermagem | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 |
Acta Paulista de Enfermagem | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 |
Fonte: Próprio autor 2023.
Pode-se observar no gráfico 1 que os temas abordados vão de encontro ao tema do artigo: O papel da enfermagem na oncologia: uma análise do estudo da arte.
A análise desses conteúdos publicados resultou nos dados que podem ser apreciados no gráfico 1.
Gráfico 1: Artigos sobre o sofrimento psíquico publicados entre 2018 a 2022.
Fonte: Próprio autor 2023.
Os dados coletados nas revistas escolhidas para este artigo foram distribuídos e incluídos no quadro 1, assim, pode-se observar com mais clareza por meio de cada revista observada.
Mediante a esses artigos, observa-se que há uma preocupação da parte dos pesquisadores sobre o que ocorre na com os profissionais de enfermagem na oncologia no que diz respeito ao estresse ocupacional presente na enfermagem oncológica, o sofrimento psíquico e a importância da capacitação da enfermagem para lidar com pacientes oncológicos, mas faltam temas que abordam sobre as principais estratégias adotadas pela enfermagem para amenizar o sofrimento psíquico, diante desses fatos.
As principais estratégias adotadas pela enfermagem para amenizar o sofrimento psíquico foi encontrado apenas nas revistas Revista Uningá, expondo que não há muitas publicações direcionadas as estratégias que o profissional faz para controlar ou amenizar esse sofrimento, demonstrando dessa forma que há um vasto campo de investigação que pode contribuir com as pesquisas da área.
O bem-estar do profissional da enfermagem foi identificado em três revistas com 1 publicação em cada revista, juntamente com dificuldade e desafios encontrados pela enfermagem ao lidar com pacientes oncológicos que foi encontrado em duas revistas sendo 2 publicações na mesma revista, demonstrando que há possibilidades de investigação e pesquisas sobre o tema, fato este que contribuiria com a evolução do pensamento científico da grande área.
Considerações Finais
Sabemos que a necessidade de buscar conhecimento sobre sofrimento psíquico do profissional de enfermagem na oncologia é contínuo e necessário para desenvolver uma política de gestão com intuito de reduzir e melhorar as condições de trabalho da equipe de enfermagem, a fim de reduzir o sofrimento psíquico desses profissionais.
A atuação da enfermagem na oncologia é indispensável nos cuidados dos pacientes oncológicos, envolvendo a interação baseada no respeito e nas necessidades do ser humano, buscando um relacionamento dinâmico, a fim de proporcionar conforto durante o processo. Por ter um grande envolvimento nos cuidados desses pacientes a equipe de enfermagem acaba se desgastando e gerando um sofrimento psíquico para si mesmo. Por esse motivo, o objetivo desta pesquisa era sobre os fatores que influenciam o sofrimento psíquico enfrentado pelos profissionais da enfermagem em uma unidade oncológica, por meio de um levantamento tipo estado da arte.
Em vista disso, aferimos que o objetivo proposto foi atendido com êxito, entretanto os dados obtidos proporcionaram consternação. A identificação de uma vasta escassez de pesquisas relacionadas aos Descritores em Ciência da Saúde com foco no sofrimento psíquico desses profissionais. É notória a percepção de que há uma macro necessidade da realização de pesquisas sobre esse tema que fomentem como os esses profissionais podem criar mecanismos que ajudem a amenizar esse sofrimento.
Portanto, o estudo do sofrimento psíquico entre a equipe de enfermagem oncológica é capaz de ajudar a entender e explicar os problemas encarados pela profissão, como insatisfação do trabalho, absenteísmo, acidentes e doenças ocupacionais. Assim demonstram a possibilidade da inserção dos profissionais, com o controle emocional adequado ao amparo dos pacientes oncológicos e a redução do abandono da carreira.
A pesquisa aqui apresentada foi realizada em uma periodicidade pequena. É de extrema importância ampliar essa pesquisa com foco em estudos que envolvam periódicos e revistas locais, regionais e internacionais. Isto posto, é irrefutável a percepção de que a ocorrência de mais estudos sobre os descritores definidos neste artigo pode contribuir com a evolução do pensamento científico da grande área e com o papel da enfermagem na oncologia.
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SOARES, Magda Becker. As pesquisas nas áreas específicas influenciando o curso de formação de professores. Cadernos ANPED, n. 5, set. 1993.
CAPÍTULO 16
A INCUMBÊNCIA DO ENFERMEIRO NA ASSISTÊNCIA À MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
THE ROLE OF NURSES IN ASSISTING WOMEN VICTIMS OF DOMESTIC VIOLENCE
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.16
Submetido em: 26/07/2023
Revisado em: 28/07/2023
Publicado em: 02/08/2023
Flávio Borges do Nascimento
Faculdades Integradas de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos,
Guarulhos-SP
http://lattes.cnpq.br/2135621760296633
Neli Araújo Santana
Faculdade Santa Rita, São Paulo – SP
http://lattes.cnpq.br/7503157116522481
Mayara Nunes Anselmo
Faculdades Integradas de Ciência Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos, Guarulhos-SP
http://lattes.cnpq.br/4265188839201065
Resumo
A importância da atuação do enfermeiro em casos de violência doméstica e familiar contra a mulher é de extrema importância, mediante a isso, estão presentes neste artigo com o objetivo de averiguar e analisar a assistência do enfermeiro às mulheres que sofrem violência doméstica. Para isso, foi definida a epistemologia de pesquisa qualitativa alicerçada na metodologia tipo Estado da Arte, com levantamento e análise de dados realizado em revistas e periódicos da área com periodicidade de investigação determinada no período entre 2019 e 2023. Para prover a seleção dos artigos utilizou-se a terminologia padronizada dos Descritores em Ciência da Saúde (DECS).
Palavras-chave: Incumbência do Enfermeiro, Mulher, Violência doméstica
Abstract
The importance of nursing action in domestic and familiar violence cases against women is of extreme importance. article with the objective of investigating and analyzing the nurse’s assistance to women who suffer domestic violence. For this, the research epistemology was defined as qualitative research based on the State of the Art methodology, with a survey and data analysis of data conducted in journals and periodicals of the area with periodicity of period between 2019 and 2023. To provide the selection of articles standardized terminology of the Health Science Descriptors (DECS).
Keywords: Incumbency of the Nurse, Woman, Domestic Violence
Introdução
Apresenta-se neste artigo, a importância do enfermeiro na assistência a mulher que foi vítima de violência doméstica. Esse tipo de violência geralmente vai muito além dos malefícios que poderá ocasionar na saúde física, emocional, psicológica e reprodutiva dessa mulher, mas inclui também o impacto provocado na vida dos filhos, da família e no seu ciclo social.
A violência doméstica e familiar é a primeira causa de feminicídio no Brasil e no mundo. Apesar de a temática estar sempre presente nas páginas dos jornais, informações importantes não chegam para todas as pessoas. Muitas mulheres ainda sofrem violência doméstica e não sabem como sair dessa situação tão delicada (Ministério da Mulher, 2020).
Certamente, quando ocorre violência que agride a integridade física dessas mulheres, grande parte vai em busca de ajuda e amparo em unidades de saúde e pronto atendimento. Sendo assim, o enfermeiro é o profissional que fará o primeiro contato com essa mulher, e terá que prestar todo suporte necessário a ela, desde sua triagem à unidade, até a sua devida alta.
A identificação da percepção dos enfermeiros a respeito da violência tornará viável sugerir medidas capazes de colaborar na assistência, de modo a garantir maior qualidade de vida às mulheres em situações de violência e prover subsídios para a implantação de intervenções direcionadas às necessidades de prevenção desse grupo populacional, evitando e possibilitando a prevenção dos casos de feminicídios (SILVA, 2020).
Mediante a isso, a pergunta de pesquisa é: Qual o cuidado do enfermeiro na assistência à mulher vítima de violência doméstica? O objetivo deste trabalho é analisar os cuidados que o enfermeiro deverá prestar às mulheres que foram vítimas de violência doméstica e familiar.
Metodologia
O estudo apresentado neste artigo enquadra-se na perspectiva da pesquisa qualitativa. A expressão “pesquisa qualitativa” assume diferentes significados no campo das ciências sociais. Compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social; trata-se de reduzir a distância entre indicador e indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação (MAANEN, 1979a, p.520).
A pesquisa é do tipo Estado da Arte, de valor qualitativo. A presente pesquisa analisa os artigos publicados nos anos de 2019 a 2023, no que se refere ao cuidado do enfermeiro na assistência à mulher vítima de violência doméstica.
Estados da arte podem significar uma contribuição importante na constituição do campo teórico de uma área de conhecimento, pois procuram identificar os aportes significativos da construção da teoria e prática pedagógica, apontar as restrições sobre o campo em que se move a pesquisa, as suas lacunas de disseminação, identificar experiências inovadoras investigadas que apontem alternativas de solução para os problemas da prática e reconhecer as contribuições da pesquisa na constituição de propostas na área focalizada. (Romanowski, 2006, p.39)
De acordo com os estudos de Soares (2000, p. 04), num estado da arte é necessário considerar “categorias que identifiquem, em cada texto, e no conjunto deles as facetas sobre as quais os fenômenos vêm sendo analisados”.
Para prover a escolha dos artigos utilizou-se a terminologia padronizada com base nos descritores; “Papel do enfermeiro” e “violência doméstica contra a mulher”.
O levantamento analisou artigos publicados entre o período de 2019 a 2023 das revistas; Revista Enfermagem Atual, RECIEN: Revista Científica de Enfermagem, RBE: Revista Baiana em Enfermagem, Revista Multidisciplinar em Saúde, ACTA Paulista de Enfermagem, Revista Latino-Americana de Enfermagem, 14 artigos com temas ligados à violência doméstica contra a mulher e a incumbência do enfermeiro.
Fundamentação Teórica
A violência sempre esteve presente na sociedade, desde a antiguidade até nos tempos atuais, e é vista como um dos agravos de maior abrangência mundial, e um dos maiores eventos bioéticos de grande relevância atualmente.
Os dados obtidos da OMS (Organização Mundial da Saúde), denotam que violência é o uso intencional da força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa, um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação (OMS, 2014).
Configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (LEI FEDERAL 11.340/06 Art. 5, p.1).
A violência contra a mulher foi relatada no trabalho desenvolvido por (RODRIGUES, 2015)
A violência contra a mulher não é uma situação recente, sendo reflexo de uma realidade histórica baseada na desigualdade da relação de poder entre os sexos, da subordinação e da inferioridade da mulher frente ao homem (RODRIGUES, 2015, p.2).
A pesquisa de Luz (2015) denota a dependência econômica, emocional e social da mulher.
Com o casamento a mulher passava a depender do marido de muitas formas, sejam economicamente, emocionalmente ou para manter a imagem social, assim admitindo as mais diversas manipulações e violências por parte do companheiro (LUZ, 2015, p.2).
A violência parental no ambiente doméstico por pessoas que deveriam proteger foi tema do estudo de (RODRIGUES, 2015)
A violência sofrida pelas mulheres tem como autores, além dos próprios companheiros, os filhos, os netos, os pais ou padrastos, que transformam o lar, de um ambiente afável, num outro marcado pelo medo e pela angústia e, muitas vezes, com danos físicos, sexuais e psicológicos (RODRIGUES, 2015, p.3).
Entretanto, é importante evidenciar que esse tipo de violência pode ser cometida por outras mulheres também, podendo ser a companheira afetiva, ou mesmo uma mulher que tenha qualquer tipo de laço afetivo ou familiar.
A violência no âmbito doméstico é cruel. O agressor conhece o íntimo da vítima, sabe exatamente como manobrar e manipular a mesma para que acredite ser merecedora das agressões ou que foi um fato isolado e não acontecerá novamente (LUZ, 2015, p.2).
Certamente, muitas mulheres que sofrem com esse tipo de violência, se calam diante desse tipo de atrocidade por medo, por sofrerem chantagem com falsas promessas do agressor, por serem dependentes emocionalmente, financeiramente ou apenas por causa de seus filhos e o impacto que isso poderia causar no seu lar e no ciclo social em que elas fazem parte.
Foi necessário muitas vítimas sofrerem e pagarem com a própria vida para que o Estado percebesse a gravidade da violência doméstica e apresentasse uma atitude positiva para amparar as vítimas, criando a lei 11.340/2006, mais conhecida como Maria da Penha (LUZ, 2015, p.1).
A Lei Federal 11.340/2006 cujo nome ficou conhecida como Lei Maria da Penha, foi sancionada através de uma mulher que por muitos anos foi vítima de seu próprio marido, após sofrer muitas agressões e tentativas de homicídio.
Essa Lei Federal tem medidas e condutas protetivas para todas as mulheres que sofrem ou já sofreram algum tipo de violência desse gênero.
De acordo com o Art. 2, a mencionada Lei Federal refere que:
Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social (LEI FEDERAL 11.340/06 Art. 2, p.1).
Portanto deve-se enfatizar que, a saúde mental e física dessa mulher deve ser preservada por direito, independentemente da faixa etária, etnia, classe social, orientação sexual e nível educacional.
A violência doméstica não somente retrata da violência física propriamente dita, porém o seu aspecto é muito mais amplo, existindo assim vários tipos de violência que essa mulher pode sofrer. Conforme dados da Câmara Municipal de São Paulo (2020), a violência doméstica tem vários gêneros, sendo os principais:
Quadro 1: Tipos de violência física.
· Violência física: qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher. Por exemplo, espancamento, lesões com objetos cortantes, sufocamento, atirar objetos, ferimentos causados por arma de fogo, entre outros |
· Violência psicológica: qualquer conduta que cause danos emocional e diminuição da autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões. Por exemplo: ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição, insultos, chantagens, entre outros. |
· Violência moral: qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Por exemplo: expor a vida íntima, acusar a mulher de traição, desvalorizá-la pela forma de se vestir, rebaixar a mulher por meio de xingamentos, entre outros. |
· Violência sexual: qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força. Por exemplo: estupro, impedir o uso de métodos contraceptivos, obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto, entre outros. |
· Violência patrimonial: qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. Por exemplo: controlar o dinheiro, deixar de pagar a pensão alimentícia, estelionato, causar danos propositais a objetos. |
Fonte: Câmara Municipal de São Paulo (2020)
As formas de violência aqui apresentadas podem acarretar à depressão, estresse pós-traumático e alguns transtornos de ansiedade, dificuldades de sono, transtornos alimentares e tentativas de suicídio (OPAS, 2022).
O serviço de saúde tem um papel fundamental quando falamos sobre violência, pois podemos observar que pessoas nessa condição de sofrimento, vão buscar ajuda nas unidades de saúde mais próxima.
Essa busca geralmente acontece por conta de lesões físicas, como por exemplo; cortes, queimaduras, hematomas, fraturas, entre outros. Aplicando assim um grande aumento nas buscas das unidades de pronto atendimento, e unidades de atenção primária de saúde.
Contudo que foi exposto, para que os profissionais da área de saúde reconheçam a violência e cuidem das vítimas com efetividade, é imprescindível que estejam capacitados para tal (RODRIGUES, 2015).
O enfermeiro deverá ter habilidade técnica necessária, e um bom olhar clínico e crítico para detectar qualquer suspeita, ou confirmação de que realmente essa mulher pode ter sido vítima de violência doméstica. A abordagem à mulher vítima de violência, deve ser realizada da seguinte maneira, pelo ponto de vista de Gomes (2016):
Fazer o acolhimento em lugar reservado e escuta qualificada com tempo de silêncio para reflexão e perguntas dirigidas ou indiretas para esclarecer a situação, a disposição e estrutura psicossocial atual de enfrentamento, respeitando os limites e o tempo da pessoa. Evitar fazer julgamento, culpabilizar, ou tentar acelerar ou influenciar as decisões. Geralmente o maior obstáculo é o medo e falta de respaldo e apoio da vítima para denunciar a agressão de maneira objetiva pelos canais existentes (GOMES, 2016, p.109).
O acolhimento é uma das etapas de grande importância para que essa mulher tenha segurança e confiança no profissional, sendo assim, desta maneira são registrados os dados fundamentais para identificar quais os tipos de violência que ela sofreu e a quanto tempo esse ato vem ocorrendo.
Raramente esse problema é relatado espontaneamente em uma consulta, antes que seja formado algum vínculo entre profissional e paciente. O enfermeiro deve estar atento ao problema e suspeitar com base em indícios da história ou do exame físico (GOMES, 2016, p.109).
O rompimento do silêncio por parte da vítima corresponde a um desafio e uma barreira a ser vencido por muitas (DURÃES et al., 2020).
Porém, devemos respeitar quando ela quiser apenas o silêncio, respeitando também suas decisões e escolhas mediante ao fato ocorrido, encorajando-a, propor a ela um acompanhamento ao psicólogo e incentivá-la a participar de redes de grupos de apoio, redes de assistência e proteção.
Regularmente, a violência é relacionada à “desestruturação familiar” e à “pobreza” ou a características “patológicas” do agressor ou da própria vítima, expondo um entendimento muito superficial dos aspectos históricos, culturais e sociais existentes no contexto (DELMORO, 2022).
Em casos de violência doméstica, o enfermeiro deve trabalhar em conjunto com a equipe multiprofissional, juntamente com psicólogos, médicos e assistente social, para entender o que levou essa mulher a sofrer violência. Saber como está seu estado psicológico, sua condição socioeconômica e situação de moradia.
Pois de acordo com o ponto de vista de Durães, ele enfatiza que diante deste cenário, poucas mulheres se manifestam diante da situação pois elas sentem medo de que o agressor volte a agir de maneira mais violenta, de perderem a guarda dos filhos ou ficarem desamparadas financeiramente (DURÃES et al., 2020).
Evidentemente, todo caso de violência doméstica que seja confirmado ou apenas esteja sob suspeita, deverá ser notificado no sistema SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação).
A partir do ano de 2003 no Brasil a notificação dos casos de violência contra as mulheres se tornou compulsória, desde então, observa-se um aumento gradual da quantidade de notificações, embora, na maioria dos casos, ainda ocorra a subnotificação. Tal notificação é obrigatória e compulsória tanto nos casos suspeitos quanto em relação àqueles já confirmados e para o seu preenchimento é desnecessária a anuência da mulher (SILVA, 2020, p.5).
A notificação apresenta caráter sigiloso e deve ser realizada tanto frente à suspeita, quanto nos casos confirmados (ACOSTA, 2017).
O enfermeiro como cuidador, deve estabelecer uma assistência humanizada para essa paciente, enxergar ela como um ser biopsicossocial e espiritual, atendendo-a na sua integralidade e individualidade.
“As mulheres precisam ser ouvidas e acompanhadas nos serviços de referência até que estejam preparadas para retomarem as suas vidas sem o sentimento de culpa pela exposição ao ato violento” (ACOSTA, 2017, p.3).
Entretanto os profissionais de saúde, principalmente o enfermeiro, devem promover a essa mulher medidas necessárias para que seja garantido que essa mulher volte a sociedade com sua integridade física, psicológica e emocional em bom estado, para desta maneira haver uma qualidade de vida dessa mulher nos seus aspectos individuais.
Resultados e Discussão
O levantamento realizado neste estudo refere-se a uma pesquisa tipo Estado da Arte, verificando artigos com temas relacionados ao cuidado do enfermeiro na assistência à mulher vítima de violência doméstica, publicados durante o período de 2019 a 2023.
Os dados coletados nas revistas escolhidas para este artigo foram distribuídos e incluídos no quadro 2, assim, pode-se observar com mais clareza por meio de cada revista analisada.
Quadro 2: Levantamento dos Artigos com temas relacionados ao cuidado do enfermeiro na assistência à mulher vítima de violência doméstica
Fonte: Próprios Autores 2023.
A análise desses conteúdos publicados procedeu nos dados que podem ser apreciados no gráfico 1.
Gráfico 1: Levantamento dos artigos nas respectivas revistas
Fonte: Próprios Autores 2023.
O tema abordado nos artigos ao que se refere; o cuidado do enfermeiro na assistência à mulher vítima de violência doméstica, foi identificado em cinco revistas com 1 até 4 publicações em cada, totalizando 11 artigos, evidenciando que há possibilidades de investigação e pesquisas sobre o tema, fato este que contribui com a expansão do pensamento científico da área.
Porém, ao analisar os temas relacionados ao desafio do silêncio das vítimas, a qualidade de vida das mulheres que sofreram violência doméstica e as principais causas de violência doméstica, foi publicado apenas 1 único artigo nas seguintes revistas; Revista Enfermagem Atual, Revista Latino-Americana de Enfermagem e RECIEN – Revista Científica de Enfermagem.
Entretanto, podemos evidenciar que não há muitas publicações relacionadas ao olhar profissional sobre os assuntos debatidos, demonstrando dessa forma que há um amplo campo de investigação que pode contribuir com as pesquisas da grande área.
Considerações Finais
Esta pesquisa teve por objetivo identificar a produção literária acerca do papel do enfermeiro diante dos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, atendidas nas unidades de saúde, possibilitando ao leitor uma reflexão sobre o panorama geral da temática.
Identificou-se que, apesar de ser um assunto complexo, o enfermeiro tem o dever de prestar uma assistência humanizada, por meio de protocolos, rotinas técnicas e cuidados básicos, pois ele é o primeiro profissional qualificado que acompanhará essa paciente durante toda sua permanência na unidade de saúde.
Apesar de uma das grandes dificuldades encontradas seja o silêncio das vítimas, o enfermeiro deverá escutar e esclarecer todas as dúvidas da paciente, por tanto, é fundamental estabelecer um vínculo acolhedor e de cordialidade, porém respeitando sempre as decisões dessa mulher mediante ao ato ocorrido.
Compreende-se então que, torna-se fundamental o apoio dessas mulheres através de redes e serviços de apoio e que amparem no enfrentamento a violência, além do apoio da equipe multiprofissional, para que desta maneira essas mulheres tenham meios de se recuperar do trauma ocorrido.
Recomenda-se a partir dessa sucinta pesquisa, a continuidade do estudo de forma aprofundada ao abordar a temática a partir de uma amplitude do período pesquisado. Sugere-se também, um olhar para revistas e relatos de caso publicados em periódicos regionais e locais a partir da divulgação de fóruns de debates sobre o tema, incluindo todo o segmento educacional da área de enfermagem, criando assim, um ambiente propício a desenvolver ações estratégicas para a melhoria do atendimento à mulher.
Referências
ACOSTA, E.D. Aspectos éticos e legais no cuidado de enfermagem às vítimas de violência doméstica. RIO GRANDE DO SUL, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tce/a/DM6Cwh66FZBsYz4xfvCtspm/?lang=pt. Acesso em: 16 ago. 2019.
BRASIL, código civil, Lei Federal n° 11.340, de 07 de agosto de 2006, Dispõe sobre a violência doméstica e familiar contra a mulher, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm, Acesso em: 10 set. 2019
BRASIL, OPAS/OMS, Folha informativa, violência contra as mulheres, BRASIL, 2022, Disponível em: https://www.paho.org/pt/topics/violence-againstwomen#:~:text=Estimativas%20publicadas%20pela%20OMS%20indicam,de%20viol %C3%AAncia%20contra%20a%20mulher. Acesso em: 20 fev. 2023.
CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, Você conhece os tipos de violência contra a mulher, São Paulo, 2020, Disponível em: https:https://www.saopaulo.sp.leg.br/mulheres/voce-conhece-os-tipos-de-violenciacontra-amulher/#:~:text=Essa%20lei%20prev%C3%AA%20cinco%20tipos,%2C%20moral%2 C%20sexual%20e%20patrimonial. Acesso em: 20 fev. 2023.
DELMORO, I.C.L. Violência contra a mulher: Um estudo reflexivo sobre as principais causas, repercussões e atuação da enfermagem. MINAS GERAIS, 2022. Disponível em: https://revistaenfermagematual.com/index.php/revista/article/view/1273/1383. Acesso em: 3 mar. 2023.
DURÃES, B.A et al. A mulher contemporânea e a violência: O desafio do rompimento do silêncio. SÃO PAULO, 2020. Disponível em: https://www.recien.com.br/index.php/Recien/article/view/264/268. Acesso em: 3 mar. 2023.
GOMES, R.O. Cuidados com a mulher vítima de violência doméstica. 1 ed. BELO HORIZONTE: Black book, v. 1, f. 109, 2016.
LUZ, J.P.N. Mulher e História: A luta contra a violência doméstica. SANTA CATARINA, 2008. Disponível em: https://jessicapalomaneckelluz.jusbrasil.com.br/artigos/217241864/mulher-e-historiaa-luta-contra-a-violencia-domestica. Acesso em: 15 ago. 2019.
MINISTÉRIO DA MULHER. Cartilha enfrentando a violência doméstica contra a mulher. Cartilha, BRASÍLIA, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/ptbr/assuntos/noticias/2020-2/maio/cartilha-auxilia-mulheres-no-enfrentamento-aviolencia/Cartilhaenfrentamento_QRCODE1.pdf. Acesso em: 13 mar. 2023
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Relatório de status global sobre prevenção de violência, 2014. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/WHO-NMH-NVI-14.2. Acesso em: 3 mar. 2023.
RODRIGUES, L.L et al. A Contribuição da Lei 11.340/06 (lei Maria da Penha) para o combate da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. FORTALEZA, 2015. Disponível em: http://www.conpedi. Org. br/manaus/arquivos/anais/salvador/renata_pinto_coelho. pdf. Acesso em: 19 set. 2019.
SILVA, V.G. Violência contra as mulheres na prática de enfermeiras da atenção primária à saúde. RIO DE JANEIRO, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ean/a/RXvRBqJz3x4dD3BmntHDCsK/?lang=pt. Acesso em: 16 mar. 2023.
CAPÍTULO 17
SAÚDE MENTAL E A UTILIZAÇÃO DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS COMPLEMENTARES
MENTAL HEALTH AND THE USE OF COMPLEMENTARY INTEGRATIVE PRACTICES
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.17
Submetido em: 20/07/2023
Revisado em: 02/08/2023
Publicado em: 11/08/2023
Nagma Nascimento Prado
Prefeitura Municipal de Uberlândia, Uberlândia-MG
http://lattes.cnpq.br/6098711018161047
Vanessa Dias Gomes do Prado
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia-MG
http://lattes.cnpq.br/2289373417427203
Luana Gonçalves de Oliveira
Prefeitura Municipal de Uberlândia, Uberlândia-MG
http://lattes.cnpq.br/2289373417427203
Gisele Pereira Correia
Hospital e Maternidade Municipal Dr. Odelmo Leão Carneiro, Uberlândia-MG http://lattes.cnpq.br/6849986422153162
Farlene Vieira Silva
Centro de Reabilitação Municipal de Uberlândia, Uberlândia-MG
https://lattes.cnpq.br/3356270125392138
Elma Rodrigues dos Santos Martins
Prefeitura Municipal de Uberlândia, Uberlândia-MG
http://lattes.cnpq.br/8900162215384362
Giselda Lourismar Pereira Correia
Prefeitura Municipal de Uberlândia, Uberlândia-MG
http://lattes.cnpq.br/7065898772425826
Maria Pena Alves Melo
Prefeitura Municipal de Uberlândia, Uberlândia-MG
http://lattes.cnpq.br/0294529422302297
Janaína Alves Pereira
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia-MG
http://lattes.cnpq.br/6177005328919945
Thays Peres Brandão
Prefeitura Municipal de Serra do Salitre, Serra do Salitre, MG
http://lattes.cnpq.br/0857704143417847
Resumo
Uma das maneiras de contribuir com a redução dos psicofármacos utilizados nos transtornos mentais é a adesão de Práticas Integrativas Complementares que prevê um amplo conjunto de sistemas medicinais fundamentados em saberes de base tradicional, que, em nosso território, é visto como não convencional em relação ao saber da biomedicina. O presente artigo tem a finalidade de verificar as práticas integrativas aplicadas no âmbito da saúde mental a nível nacional. Essa pesquisa se refere a uma revisão narrativa de literatura. Para seu desenvolvimento foram utilizadas as bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Portal da Capes e Google acadêmico. Foram incluídos artigos publicados entre os anos de 2018 e 2023. Foi verificado que a prática do Reiki apresentou melhora significativa, em especial nos aspectos relacionados à saúde mental, ansiedade, depressão, dores físicas e luto nos participantes da pesquisa. É importante que essas práticas continuem sendo propagadas e estimuladas por profissionais da área e pelos órgãos públicos responsáveis, de forma que passem a ser encaradas como uma forma de medicina integrativa e eficaz.
Palavras-Chave: saúde mental, terapias complementares, medicina complementar.
Abstract
One of the ways to contribute to the reduction of psychotropic drugs used in mental disorders is the adherence to Complementary Integrative Practices, which provides a wide range of medicinal systems based on traditional knowledge, which, in our territory, is seen as unconventional in relation to biomedical knowledge. This article aims to verify the integrative practices applied in the field of mental health at a national level. This research refers to a narrative literature review. For its development, the Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Portal da Capes and Google academic databases were used. Articles published between 2018 and 2023 were included. It was found that the practice of Reiki showed a significant improvement, especially in aspects related to mental health, anxiety, depression, physical pain and grief in the research participants. It is important that these practices continue to be propagated and encouraged by professionals in the area and by the responsible public bodies, so that they start to be seen as a form of integrative and effective medicine.
Keywords: mental health, complementary therapies, complementary medicine.
Introdução
No Brasil, pode-se ver que a quantidade de doenças crônicas não transmissíveis tem aumentado substancialmente, e dentre essas estão o transtorno mental, representando um terço do total dessas doenças. Em nível global, 4,4% das pessoas sofrem de transtorno depressivo e 3,6% de transtorno de ansiedade o que evidencia uma crescente tendência desses agravos (BONADIMAN et al., 2017; OMS, 2020).
Fato que comprova essa assertiva é o Brasil estar em quarto lugar entre os países da América Latina com maior crescimento anual de suicídios, em números absolutos, é o segundo dessa região das Américas. Os transtornos mentais não são relevantes, apenas pelos efeitos finais como suicídio, mas também pelos efeitos adversos diretos que produzem e os impactos que geram na qualidade de vida e de saúde das populações afetadas. Inclusive, existem evidências de que o adoecimento mental está associado ao aumento na frequência e gravidade de outras doenças crônicas, bem como ao crescimento do absenteísmo no trabalho e ao excesso de incapacidades (BONADIMAN et al., 2017; OMS, 2019; SILVA-JUNIOR; FISCHER, 2015).
Nesse cenário, a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) (2018) revelou que os transtornos de ansiedade também apresentam destaque, ocupando o segundo lugar dentre os transtornos mentais mais incapacitantes na maioria dos países das Américas e os brasileiros ocupam a primeira posição de todos os países sul-americanos representando (7,5%) da população. Fato demonstrado não só a nível das Américas, mas também em caráter mundial, segundo a OMS, o Brasil possui o maior número de pessoas ansiosas – 18,6 milhões, o que representa 9,3% da população (OPAS, 2018).
Esses números indicam que o país vive uma epidemia de transtornos mentais, evidenciando-o como grave problema de saúde pública, e deixando explícito a necessidade de atenção a esses agravos no país (GALHARDI, 2019; OMS, 2019).
Na medida em que os transtornos mentais ganham relevância no quadro geral da saúde da população brasileira, são encontradas importantes barreiras na busca pelo seu enfrentamento, destacando-se as desigualdades sociais, a ausência, insuficiência ou inadequação das políticas de atenção e a invisibilidade dos contextos e condições que produzem esse adoecimento (ARAÚJO; TORRENTÉ, 2023).
Nesse cenário, na busca pelo tratamento desses transtornos, vê-se que os psicofármacos ainda são a primeira opção, tanto dos pacientes quanto dos médicos. Desde a década de 1960 foi possível ver que a medicalização teve um aumento considerável diminuindo o nível de saúde (TABET et al., 2017).
Isso se dá posto que os psicofármacos são medicamentos que atuam no Sistema Nervoso Central, produzindo alterações tanto no comportamento, como na percepção, emoções e pensamentos, podendo levar à dependência. O crescimento do número de prescrições e o possível abuso desses medicamentos, com indicações duvidosas e durante períodos prolongados, desencadeiam problemas relevantes na saúde mental, dado os riscos que esses acarretam em curto e longo prazo (BANDEIRA, 2018).
O aumento considerável na medicalização, muita das vezes ocorre de maneira imprópria e acaba por sustentar os interesses de seus usuários tal como das indústrias de fármacos que dependem de seus consumidores. Por isso, a desmedicalização vem sendo defendida na busca pelo controle da saúde sem utilização de medicamentos sintéticos (SEBASTIÃO; SANTOS; PEDROSO, 2019).
Uma das maneiras de contribuir com esse processo notoriamente seriam tratamentos integrativos confiáveis, o que concederia maior consciência às populações, maior conhecimento e acesso a informações sobre hábitos saudáveis e maneiras de prevenir doenças. Nessa intenção foi instituída a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) que prevê um amplo conjunto de sistemas medicinais fundamentados em saberes de base tradicional, que, em nosso território, é visto como não convencional em relação ao saber da biomedicina (SILVEIRA; ROCHA, 2020).
O presente artigo tem a finalidade de verificar as práticas integrativas aplicadas no âmbito da saúde mental a nível nacional.
Metodologia
Nessa etapa são apresentados os passos para o desenvolvimento da pesquisa, abordando o desenho de pesquisa, os critérios de inclusão e exclusão e os procedimentos metodológicos.
- Tipo de Pesquisa
Esse estudo trata-se de uma revisão narrativa explicativa de literatura. Esse tipo de pesquisa realiza o levantamento bibliográfico buscando atualizações acerca de determinada temática por meio de métodos mais livres. E, para identificar fatores determinantes da ocorrência de determinado fenômeno constitui a pesquisa explicativa (GIL, 2017).
- Critérios de Inclusão e Exclusão
Foram incluídos no estudo artigos publicados no recorte temporal de 2018 a 2023. Foram excluídos artigos de opinião, repetidos nas bases de dados e que não respondiam aos objetivos da pesquisa.
- Procedimentos metodológicos
Para a seleção do material utilizou-se as bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Portal da Capes e Google acadêmico. Compuseram a busca bibliográfica as seguintes palavras-chave: “saúde mental”, “terapias complementares”, “medicina complementar”.
Resultados e Discussão
- A importância das Práticas Integrativas no SUS
As Práticas Integrativas são abordagens compostas de mecanismos naturais, baseados em conhecimentos tradicionais ou alternativos, direcionados a prevenção, promoção e recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes e seguras, que são baseadas em uma integração entre os pilares ser humano, meio ambiente e sociedade, com uma visão ampliada do processo saúde-doença e promoção do cuidado e do autocuidado (BRASIL, 2006, 2020).
As PICS se originam de diferentes culturas e tradições médicas, como a medicina tradicional chinesa, a medicina ayurvédica, a medicina indígena, a medicina antroposófica entre outras. Elas utilizam de forma incorporada abordagens contemporâneas, como a medicina integrativa, a medicina quântica e a medicina vibracional. Dentre as mais conhecidas estão: acupuntura, fitoterapia, homeopatia, reiki, yoga, meditação, aromaterapia e musicoterapia (SCHVEITZER, 2015).
Nessa premissa, em um estudo realizado por Nascimento (2023) foi verificado que a prática do Reiki apresentou melhora significativa, em especial nos aspectos relacionados à saúde mental, ansiedade, depressão, dores físicas e luto nos participantes da pesquisa. O reiki se trata de uma técnica japonesa que utiliza as mãos para canalizar a energia vital do corpo e ajudar a promover o equilíbrio emocional, mental e físico. É utilizado frequentemente no tratamento de ansiedade, estresse e dores crônicas (SILVA et al., 2023).
Já no estudo relacionado por Gómez-Romero et al. (2017) com participantes que trataram com a musicoterapia, descreveram melhoras na coordenação motora e na expressão dos sentimentos, foi possível identificar a facilitação na comunicação, aprendizagem, interação, mobilidade, expressão e auxílio nas necessidades físicas, emocionais, sociais e cognitivas dos participantes.
Dito isso, é importante ressaltar que a meditação envolve a prática de focar a mente em um objeto, pensamento ou atividade, enquanto o yoga combina posturas físicas, terapia e meditação, ambas voltadas para equilibrar o corpo e a mente (SILVA et al., 2023).
Nesse cenário, uma revisão sistemática realizada por Caires e Campagnoli, (2022) foi possível verificar que a utilização das Práticas Integrativas e Complementares se mostraram muito eficazes, com resultados significativos para a qualidade de vida e a promoção de saúde em pacientes idosos que praticavam meditação, yoga, arteterapia e a musicoterapia.
Corroborando, Carvalho e Nóbrega (2018) concluiu em seu trabalho, que a Acupuntura, Auriculoterapia, Meditação, Mindfulness e Yoga apontam resultados positivos em sua utilização, com redução dos sintomas do Transtorno do Espectro Autista, melhora da ansiedade, estresse, depressão e qualidade do sono.
Assim, na esfera de resultados conquistados após a aplicação de terapias integrativas, Oliveira et al., (2021) demonstraram que a auriculoterapia teve efeitos positivos como a diminuição do estresse, ansiedade e depressão dos participantes.
Ademais, é importante ressaltar que muitas dessas práticas podem ser desenvolvidas em grupos, facilitando um espaço de escuta e acolhimento e favorecendo o reconhecimento dessa individualidade nessa coletividade. Somado a isso, o trabalho em grupo favorece o compartilhamento de experiências, a expressão verbal e não verbal, a interação social e a exposição de sentimentos e conteúdos internos (BALLARIN, 2003).
Além disso, propicia diálogos ampliando potencialidades individuais e coletivas, bem como, proporcionando experiências e reflexões, possibilitando a expressão de sentimentos e emoções, estimulando a construção de vínculos e ainda aumentando a autonomia e a motivação (RIBEIRO et al., 2017).
Observou-se que a aplicação das Práticas integrativas, sendo oferecidas pelo Sistema único de Saúde possibilitam o acesso da população a essas técnicas, ampliando as formas de tratamento e cura de inúmeros pacientes, independentemente da idade ou classe social. Nesses breves relatos foi possível identificar a importância das práticas integrativas para tratamentos diversos.
- As Práticas Integrativas Aplicadas Pelo Sus
O debate sobre as PICS começou no final da década de 1970, após a declaração de Alma-Ata para a Atenção Primária à Saúde e foi validado em meados dos anos 1980 com a 8ª Conferência Nacional de Saúde, um espaço onde foi dada visibilidade às demandas e necessidades da população por uma nova cultura de saúde que não seguissem cegamente o modelo hegemônico de ofertar cuidado (DALMOLIN; HEIDEMANN; FREITAG, 2019).
Contudo, foi apenas no ano de 2006, que a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) foi implementada, pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2006) trazendo tais práticas para o meio dos serviços convencionais que já eram ofertados. Essa legislação acrescentou propostas terapêuticas no âmbito do cuidado ampliando o reconhecimento a nível oficial (BARROS et al., 2020).
No Brasil muitas práticas integrativas que dizem respeito aos costumes de cuidado à saúde já vinham sendo utilizadas pela população, mas não eram institucionalizadas em nosso sistema público de saúde. Sendo praticadas em comunidades tradicionais, clínicas particulares, movimentos sociais e entidades não governamentais (MOEBUS; MERHY, 2017).
Hoje, as terapias contempladas pela PNPIC são: Homeopatia, Medicina Antroposófica, Medicina Tradicional Chinesa, Plantas Medicinais e Fitoterapia e Termalismo Social/Crenoterapia, Apiterapia, Aromaterapia, Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Bioenergética, Constelação Familiar, Cromoterapia, Dança circular, Geoterapia, Hipnoterapia, Imposição de mãos, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Ozonioterapia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa, Terapia de florais e Yoga, totalizando em 29 práticas (BRASIL, 2015, 2018).
Desde então, a oferta e o uso das PICS no SUS têm crescido nos últimos anos, tanto na atenção básica como nos serviços de média e alta complexidade. De forma que hoje, o Brasil é considerado uma referência mundial na implementação de PICS, na atenção básica do SUS, por meio da saúde pública. Conforme dados do Ministério da Saúde, existem atualmente 9.350 estabelecimentos de saúde no país ofertando PICS nos seus sistemas de atendimento e é utilizado por cerca de 5% da população brasileira (SILVA et al., 2023).
Assim, visto ao que se refere ao número de atendimentos realizados por ano, foram 1.053.813 atendimentos realizados no ano de 2022, frente a um total de 396.251 em 2018. Totalizando um aumento de 266% nos atendimentos realizados do ano de 2018 até o ano de 2022 (SILVA et al., 2023).
Dessa forma experiências relatadas e vivenciadas por profissionais e usuários demonstraram que a oferta de PICS nos serviços prestados pelo SUS podem possibilitar um cuidado integral em saúde mental devido ao fato de considerarem as particularidades e os desejos dos sujeitos, além de ser de fácil acesso, baixo custo e terem efetividade terapêutica (MURICY et al., 2022).
Considerações Finais
Diante do presente estudo foi possível verificar que é exponencial o crescimento de pessoas com problemas de saúde mental no Brasil, fato que exige do poder público, práticas que atendam com efetividade essa população.
Foi possível averiguar também que intervenções efetivas, seja de promoção, prevenção e ou cuidado no campo da saúde mental, exige uma combinação de práticas, ações, programas, políticas e diretrizes que englobam a diminuição de fatores de risco e de vulnerabilidade, visando o fortalecimento de fatores de proteção, saúde e bem-estar, e o desenvolvimento de intervenções condizentes com a realidade. E a aplicação das PICS se mostraram efetivas, com resultados positivos não só para os tratamentos da saúde mental, como também para a saúde física.
Dito isso, é importante que essas práticas continuem sendo propagadas e estimuladas por profissionais da área e pelos órgãos públicos responsáveis, de forma que passem a ser encaradas como uma forma de medicina integrativa e eficaz.
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CAPÍTULO 18
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DE CÂNCER CERVICAL
NURSING CARE IN CERVICAL CANCER PREVENTION
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.18
Submetido em: 20/10/2023
Revisado em: 28/10/2023
Publicado em: 03/11/2023
Gilson Aquino Cavalcante
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Departamento de Ciências Biomédicas, Faculdade de Ciências da Saúde, Mossoró-RN
http://lattes.cnpq.br/4988416693405041
Fernando Liberalino Fernandes
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Departamento de Ciências Biomédicas, Faculdade de Ciências da Saúde, Mossoró-RN
http://lattes.cnpq.br/7720274427865566
Resumo
O câncer de colo do útero (CCU), também chamado de câncer cervical, representa um desafio de saúde pública no Brasil, afetando significativamente as mulheres, principalmente aquelas com dificuldade de acesso aos cuidados de saúde. Este estudo realizou uma revisão narrativa da literatura para analisar o papel da assistência de enfermagem na prevenção e detecção precoce do CCU. Sete estudos, publicados entre 2018 e 2023, foram analisados, revelando que o acolhimento, a educação em saúde e a realização do exame Papanicolau desempenham papéis cruciais nesse processo. Os enfermeiros, por meio do acolhimento, estabelecem vínculos com as pacientes, esclarecem dúvidas e promovem a conscientização sobre a importância do exame. Além disso, as atividades de educação em saúde capacitam as mulheres a adotar práticas saudáveis e tomar decisões informadas. A realização do exame Papanicolau, conduzida pelos enfermeiros, contribui para a detecção precoce de lesões cervicais, possibilitando tratamento oportuno. Em última análise, este estudo enfatiza o papel multifacetado dos enfermeiros na promoção da saúde feminina e na redução da incidência e mortalidade por CCU, contribuindo para uma sociedade mais saudável e consciente da importância da prevenção do câncer de colo do útero.
Palavras-Chave: Cuidados de Enfermagem. Saúde da Mulher. Neoplasias do Colo do Útero.
Abstract
Cervical cancer (CCU) represents a public health challenge in Brazil, significantly affecting women, particularly those with limited access to healthcare. This study conducted a narrative literature review to analyze the role of nursing care in the prevention and early detection of CCU. Seven studies, published between 2018 and 2023, were examined, revealing that welcoming, health education, and the performance of the Papanicolau exam play crucial roles in this process. Nurses, through welcoming, establish bonds with patients, clarify doubts, and raise awareness of the importance of the exam. Furthermore, health education activities empower women to adopt healthy practices and make informed decisions. The performance of the Papanicolau exam, led by nurses, contributes to the early detection of cervical lesions, enabling timely treatment. Ultimately, this study emphasizes the multifaceted role of nurses in promoting women’s health and reducing the incidence and mortality of CCU, contributing to a healthier and more awareness-driven society regarding the importance of cervical cancer prevention.
Keywords: Nursing Care. Women’s Health. Uterine Cervical Neoplasms.
Introdução
O Câncer de Colo do Útero (CCU) é o quarto tipo mais comum de câncer entre as mulheres, principalmente para aquelas que possuem dificuldades de acesso ao sistema de saúde, sendo considerada por tanto um problema de saúde pública no Brasil (VIEIRA et al., 2022). No Brasil, para cada ano do triênio 2020-2022, 16.590 novos casos de CCU foram diagnosticados, com um risco calculado de 15,43 casos para cada 100 mil mulheres (MACIEL et al., 2021). Em 2019, foram notificados aproximadamente 6 mil casos de óbito por esse tipo de neoplasia.
Nos últimos 5 anos, o Brasil foi considerado o sexto país com maior incidência de CCU no mundo, cerca de 11.733 casos, o sétimo mais prevalente com 33.460 casos e o quinto com maior número de óbitos contabilizando 5.244 mortes por ano (MACIEL et al., 2021). A faixa etária de 20-29 anos têm sido bastante incidentes, aumentando-se ainda mais quando chega na faixa etária de 45 a 49 anos (SANTOS; VARELA, 2015). Dentre os principais fatores de risco para CCU destaca-se: multiplicidade de parceiros; tabagismo; condições socioeconômicas; idade precoce na primeira relação sexual; higiene íntima inadequada; multiparidade, uso de contraceptivos orais e infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) (PAULA; VOLOCHKO; FIGUEIREDO, 2016).
A CCU quando diagnosticada de forma precoce, melhora bastante o prognóstico das mulheres acometidas pela doença (CAVALCANTE et al., 2013). No entanto, muitas mulheres deixam de realizar o exame preventivo por motivos como, falta de conhecimento sobre a importância do exame, questões culturais e religiosas, preconceito e vergonha da exposição do corpo (VIEIRA, et al., 2022). Nesse contexto, a figura do enfermeiro torna-se relevante e fundamental na realização de ações para o controle e detecção precoce do CCU, principalmente na atenção primária à saúde, por meio da consulta de enfermagem (SAWAYA; SMITH-MC-CUNER; KUPPERMANN, 2019).
A consulta de enfermagem, trata-se de um momento na qual o profissional enfermeiro acolhe o paciente realizando uma escuta qualificada e humanizada seguindo os princípios de humanização do Sistema Único de Saúde (SUS) que deve ser baseada no trabalho em equipe e na edificação do relacionamento entre profissionais e usuários (NOGUEIRA et al., 2019). Com base nisso, uma das ações cruciais para detecção precoce do CCU é o exame citopatológico, mais conhecido como Papanicolau, que por sua vez é um método seguro, acessível e eficaz para esse diagnóstico precoce (FERRECCIO, 2019). Estudos mostraram que a realização desse exame, reduz em até 80% a mortalidade de mulheres acometidas pelo CCU (ALVES; ALVES; ASSIS, 2016).
Diante do exposto, sabe-se que mesmo sendo importante a realização do Papanicolau, a assistência de enfermagem não se limita apenas a referida técnica (CARVALHO et al, 2018). Em função disso, torna-se necessário os enfermeiros acolher esses pacientes nas diversas instituições de saúde, principalmente na atenção básica, elaborando técnicas de planejamento, visando quebrar barreiras e tabus a fim de incentivar a realização do citopatológico, facilitando a detecção e o tratamento precoce da CCU para que as pacientes tenham uma boa assistência e uma melhor qualidade de vida (ALMEIDA et al., 2015). Assim, o objetivo deste estudo é descrever as principais ações de assistência de enfermagem para a prevenção e detecção precoce do CCU.
Metodologia
Esta pesquisa foi realizada por meio de uma revisão narrativa de literatura que é um tipo de revisão bibliográfica. A revisão narrativa é apropriada para descrever e discutir o desenvolvimento ou o “estado da arte” de um determinado assunto, sob o ponto de vista teórico ou contextual. Essa categoria de artigos tem um papel fundamental, pois, permiti ao leitor adquirir e atualizar o conhecimento sobre uma temática específica em curto espaço de tempo (COSTA et al, 2015).
A busca foi realizada através das bases de pesquisa, Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências Sociais e da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library (SCIELO) e Base de Dados em Enfermagem (BDENF). Utilizando os seguintes descritores: Assistência de Enfermagem, Saúde da Mulher e Neoplasias do Colo do Útero. Todos esses descritores foram verificados no site Descritores em Ciências da Saúde (DeCS).
A busca dos artigos nas bases de dados realizou-se no período entre junho e julho de 2023 e teve como critérios de inclusão: artigos em português, originais e disponíveis na íntegra, entre os anos de 2018 e 2023, e que atendessem aos objetivos da pesquisa. Os critérios de exclusão desta pesquisa foram: artigos em duplicidade nas bases, que não estivessem disponíveis para download, artigos de revisão, teses e dissertações.
Foram encontrados 60 estudos dos quais após análise dos critérios de inclusão e exclusão foram excluídos 53 artigos, por fim, 07 artigos foram selecionados para compor este manuscrito. Após a seleção dos artigos, todos foram lidos na íntegra e através de fichamentos realizou-se a extração das informações relevantes para o tema abordado. Essas informações serviram de base para análise dos dados, construção e interpretação dos resultados, no intuito de responder aos objetivos dessa pesquisa.
Resultados e Discussão
Após análise das literaturas incluídas no estudo, notou-se que três estudos eram de 2019, dois estudos do ano de 2018 e apenas um estudo publicado em 2019 e um em 2020. Os artigos incluídos foram heterogêneos em relação ao periódico, isto é, todos os artigos foram publicados em periódicos distintos. Em relação a metodologia quatro estudos utilizaram metodologia descritiva e exploratória, dois estudos metodologia retrospectiva e um não descreveu de forma específica. Além disso, a abordagem qualitativa esteve presente em seis estudos e um fez uso da abordagem quantitativa. Por fim, as ações de assistência de enfermagem para prevenção e detecção precoce do CCU limitaram-se ao acolhimento, ações de educação em saúde e em sua totalidade a realização da coleta do exame citopatológico.
Em relação ao acolhimento, trata-se de uma das diretrizes da política nacional de humanização (PNH), criada em 2003 no intuito de que essa tecnologia das relações contribua para a efetivação do vínculo entre profissionais e pacientes, aumentando também o conhecimento sobre as necessidades de saúde da população (ROCHA et al., 2018). Assim, a atuação dos profissionais de saúde, inclusive os da enfermagem, ao acolher as pessoas, utilizando o diálogo e uma comunicação eficaz, apresenta o poder de promover a humanização dos cuidados de enfermagem (ANDRADE et al., 2014). Isso, por sua vez, pode incentivar as mulheres a aderirem ao exame citopatológico, através da troca de informações sobre a importância do procedimento e a diminuição das lacunas de conhecimento existentes (ROCHA et al., 2018).
Foi constatado que as mulheres consideram o acolhimento como uma demonstração de amabilidade no atendimento, por parte do enfermeiro. Elas valorizam a possibilidade de ter suas dúvidas respondidas, de encontrar um ambiente propício para serem ouvidas e de ter suas queixas resolvidas ao longo de todo o processo dentro dos serviços de saúde (GUERRERO et al., 2013). Nesse sentido, o acolhimento é um conceito empregado com frequência por tratar-se de uma tecnologia leve e relacionada à comunicação que associa a gestão e as práticas de cuidados em saúde (ROCHA et al., 2018).
O acolhimento por estabelecer vínculo entre as mulheres e os profissionais da enfermagem ajudam a prevenir e/ou detectar de forma precoce o CCU (SILVA; GITSOS; SANTOS, 2013). Isso ocorre, por meio do exame Papanicolau, pois promove um ambiente educativo para que as mulheres possam ser esclarecidas sobre a finalidade do exame, além da conscientização para a sua valorização e retorno ao atendimento, uma vez que o desconhecimento sobre esse exame é uma das principais limitações para a sua não realização (LIMA; NASCIMENTO; ALCHIERI, 2014).
Assim, reafirma-se a relevância do acolhimento da enfermagem durante as consultas para a prevenção do CCU de forma individual, constituindo um espaço para o diálogo e exposição de dúvidas considerando os aspectos individuais das pacientes (MICHELIN et al., 2015). Logo, o acolhimento das mulheres na consulta ginecológica de enfermagem é percebido como uma ação indispensável para o cuidado integral á saúde da mulher, visto que promove resultados positivos para a adesão as ações de prevenção do CCU (ROCHA et al., 2018).
As ações de educação em saúde, conduzidas pelos enfermeiros, desempenharam um papel essencial na disseminação de informações precisas e atualizadas sobre os fatores de risco associados ao CCU, bem como sobre a importância do exame Papanicolau como estratégia preventiva (DIAS et al., 2021). Através dessas atividades educacionais, as mulheres foram capacitadas para tomar decisões informadas sobre sua saúde e adotar práticas saudáveis de prevenção (FRANCO et al., 2021).
Os enfermeiros desempenham um papel fundamental na promoção da saúde e na prevenção do CCU por meio de ações de educação em saúde (ROCHA et al., 2018). Primeiramente, eles são responsáveis por fornecer informações precisas e atualizadas às mulheres sobre os fatores de risco associados ao câncer cervical, como a infecção pelo vírus HPV e a importância da vacinação para prevenção da doença (DIAS et al., 2021). Além disso, os enfermeiros podem destacar a relevância do uso regular de preservativos durante as relações sexuais para reduzir o risco de transmissão do HPV (ROCHA et al., 2018).
Em segundo lugar, esses profissionais de saúde desempenham um papel crucial na divulgação dos benefícios do exame Papanicolau para a detecção precoce do CCU (DIAS et al., 2021). Os enfermeiros podem explicar detalhadamente como o exame é realizado, sua importância na identificação de alterações celulares pré-cancerosas e como ele pode salvar vidas quando realizado regularmente (FRANCO et al., 2018).
Além disso, os enfermeiros podem organizar campanhas de conscientização nas comunidades, escolas e centros de saúde, com o intuito de alcançar o maior número possível de mulheres (FRANCO et al., 2018). Essas campanhas podem incluir palestras, distribuição de material informativo e a realização de exames preventivos em unidades móveis de saúde, proporcionando maior acessibilidade às mulheres que vivem em áreas remotas ou com dificuldade de acesso aos serviços de saúde (DIAS et al., 2021).
Em seu papel de educadores em saúde, os enfermeiros também podem enfatizar a importância de manter uma rotina de exames ginecológicos e buscar atendimento médico imediatamente em caso de sintomas suspeitos, como sangramento anormal, dor pélvica ou corrimento atípico (MACIEL et al., 2021). Ao empoderar as mulheres com informações e conscientização, os enfermeiros contribuem significativamente para a prevenção e detecção precoce do CCU, reduzindo sua incidência e impacto na saúde feminina (FRANCO et al., 2018).
Por fim, os enfermeiros desempenham um papel de apoio emocional e encorajamento para que as mulheres enfrentem os medos e estigmas associados ao exame Papanicolau, tornando o processo mais acolhedor e menos intimidante (ROCHA et al., 2018). Essa abordagem cuidadosa e sensível pode ser um fator-chave para aumentar a adesão das mulheres aos programas de rastreamento e, consequentemente, melhorar os resultados na prevenção e detecção precoce do CCU (DIAS et al., 2021).
O exame Papanicolau, realizado pelos enfermeiros, mostrou-se uma ferramenta indispensável na detecção precoce de lesões cervicais, possibilitando o tratamento oportuno e eficaz das alterações celulares suspeitas (MONTEIRO et al., 2021). A competência técnica e a abordagem cuidadosa dos enfermeiros durante a realização desse exame foram fundamentais para garantir a precisão dos resultados e o conforto das pacientes (CEOLIN et al., 2021).
Esse exame consiste na coleta de células do colo do útero, que são posteriormente examinadas em laboratório para identificar possíveis alterações celulares que possam indicar a presença de lesões pré-cancerosas ou cancerígenas (TEIXEIRA et al., 2019). Essa detecção precoce permite o tratamento oportuno e eficaz, reduzindo a morbidade e a mortalidade associadas à doença (FRANCO et al., 2019).
Os enfermeiros desempenham um papel fundamental na realização do exame Papanicolau, pois são profissionais de saúde capacitados para executar o procedimento de forma segura, cuidadosa e acolhedora (ROCHA et al., 2018). Eles são treinados para garantir o conforto e a privacidade da paciente durante o exame, proporcionando um ambiente tranquilo e respeitoso que ajuda a reduzir a ansiedade e a tensão associadas ao procedimento (CEOLIN et al., 2018).
Além disso, os enfermeiros têm um papel essencial na educação das mulheres sobre a importância do exame Papanicolau como ferramenta preventiva (DIAS et al., 2021). Eles podem fornecer informações detalhadas sobre o que é o exame, como ele é realizado, em que idade as mulheres devem começar a fazê-lo e com que frequência deve ser repetido (MONTEIRO et al., 2021). Essa orientação é crucial para incentivar a adesão das mulheres ao rastreamento regular, possibilitando a detecção precoce e o tratamento oportuno, se necessário (TEIXEIRA et al., 2019).
Outra contribuição valiosa dos enfermeiros é a identificação de mulheres que estão em maior risco para o CCU (ROCHA et al., 2018). Por meio de uma abordagem de cuidado individualizado, os enfermeiros podem avaliar os fatores de risco de cada paciente e encorajá-las a tomar medidas preventivas adicionais, como a vacinação contra o HPV e a adoção de hábitos de vida saudáveis (DIAS et al., 2021).
Os profissionais de enfermagem também desempenham um papel importante na comunicação de resultados de exames aos pacientes (CEOLIN et al., 2020). Eles podem explicar os resultados de forma clara e compreensível, fornecendo informações sobre os próximos passos a serem seguidos em caso de alterações celulares suspeitas ou positivas para o CCU (DIAS et al., 2021).
Em suma, o enfermeiro é uma peça-chave no processo de prevenção e detecção precoce do CCU, pois desempenha um papel multifacetado, que inclui desde a realização segura do exame Papanicolau até a educação, apoio emocional e acompanhamento adequado das pacientes (ROCHA et al., 2018). Sua atuação contribui significativamente para a redução da incidência e mortalidade por essa doença, promovendo a saúde e o bem-estar das mulheres (MACIEL et al., 2021).
Considerações Finais
Os resultados deste estudo destacam a relevância das intervenções de enfermagem no contexto da prevenção do câncer de colo de útero (CCU). O acolhimento, as atividades de educação em saúde e a realização do exame Papanicolau surgem como elementos-chave para combater essa doença que afeta inúmeras mulheres em todo o mundo. Dessa forma, os achados desta pesquisa reiteram o papel fundamental dos enfermeiros nesse processo. As ações de enfermagem examinadas neste estudo possuem o potencial de ter um impacto positivo na saúde das mulheres, contribuindo para a redução da incidência e mortalidade associadas a essa condição. Esses profissionais desempenham um papel vital na promoção da saúde feminina, capacitando as mulheres com informações e cuidados, com o objetivo de fomentar uma sociedade mais saudável e consciente da importância da prevenção do câncer de colo de útero.
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CAPÍTULO 19
OS PARÂMETROS DOS CASOS DE SÍFILIS ADQUIRIDA NA POPULAÇÃO IDOSA BRASILEIRA
THE PARAMETERS OF ACQUIRED SYPHILIS CASES IN BRAZIL’S ELDERLY POPULATION
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.19
Submetido em: 27/10/2023
Revisado em: 30/10/2023
Publicado em: 03/11/2023
Ana Carolina Lisboa Caldas
Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Belém-PA
https://lattes.cnpq.br/8854192715972846
Cristiane Costa da Cruz
Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Belém-PA
Elber de Souza Billy
Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ) Belém-PA
https://lattes.cnpq.br/0531289062944544
Larissa Ribeiro da Silva
Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ) Belém-PA
https://orcid.org/0000-0001-9227-9982
Jean Cairo da Silva Costa
Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Belém-PA
https://orcid.org/0000-0001-6765-7638
Julliana Carneiro Begot
Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Belém-PA
Maressa dos Santos Castro
Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Belém-PA
http://lattes.cnpq.br/5375640818096954
Rejane Costa do Rêgo
Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Belém-Pará
https//lattes.cnpq.br/4348051301464812
Tayná Corrêa da Costa
Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Belém-Pará
Resumo
Introdução: O envelhecimento da população brasileira, além do aumento da expectativa de vida dos idosos, propiciou a essa faixa etária a ocorrência de agravos de saúde que antes se pensava restritos à população mais jovem, como a sífilis. Objetivo: Frente a isso, esta pesquisa propõe em investigar os casos de sífilis adquirida na população idosa brasileira, por meio de análises na literatura e observar os dados notificados da doença. Método: Foi realizado uma pesquisa através de um estudo bibliográfico de abordagem qualitativa do tipo de revisão integrativa de literatura (RIL). Para construção do estudo, foram feitas coletas nas bases de dados Brasil Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e no Departamento de informática do sistema único de saúde do Brasil (DATASUS), nos períodos de 2019 a 2022. Resultados: Os dados referentes de todos os casos de sífilis adquirida pela população idosa no Brasil, nos períodos de 2018 a 2021 mostraram que a faixa etária de 60-64 anos de idade obteve o maior número de casos com 15.342 notificados. Conclusão: A sífilis está entre as ISTs que mais acomete a população, sendo considerada uma infecção de problema para a saúde pública. Diante desses resultados obtidos, definimos que apesar da redução dos casos notificados da doença, é necessário que intensifique as medidas preventivas e os cuidados dos profissionais com a população idosa, evitando assim disseminação descontrolada desta infecção.
Palavras-chave: Idosos; sexualidade; sífilis; IST´s
Abstract:
Introduction: The aging of the Brazilian population, in addition to the increase in life expectancy of the elderly, has led to the occurrence of health problems that were previously thought to be restricted to the younger population, such as syphilis. Objective: In view of this, this research proposes to investigate the cases of acquired syphilis in the Brazilian elderly population, by analyzing the literature and observing the notified data of the disease.Method: A research was carried out through a bibliographic study of qualitative approach of the type of integrative literature review (RIL).For the construction of the study, collections were made in the databases Brazil Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Virtual Health Library (VHL) and the Department of Informatics of the Single Health System of Brazil (DATASUS), in the periods from 2019 to 2022. Results:The data referring to all cases of syphilis acquired by the elderly population in Brazil, from 2018 to 2021, showed that the 60-64 age group had the highest number of cases with 15,342 reported. Conclusion: Syphilis is among the STIs that most affect the population, and is considered a problem infection for public health. In view of these results, despite the reduction in reported cases of the disease, it is necessary to intensify preventive measures and professional care for the elderly population, thus avoiding the uncontrolled spread of this infection.
Keywords: Elderly; sexuality; syphilis; STIs
Introdução
O envelhecimento da população brasileira, além do aumento da expectativa de vida dos idosos, propiciou a essa faixa etária a ocorrência de agravos de saúde que antes se pensava restritos à população mais jovem, como a sífilis. Tal processo demográfico foi deflagrado pelo aumento da expectativa de vida associado a menor taxa de fecundidade, de tal modo que, até 2025, o Brasil será o 6º país com maior quantidade de idosos. (SANTOS et al., 2022)
Com frequência, ao se pensar em envelhecimento saudável, tem-se a concepção de ausência de doenças, voltando-se unicamente aos aspectos de adoecimento físico do idoso, contudo, esse processo engloba outras questões de atenção. É importante ressaltar que, a saúde do idoso não se limita a aspectos físicos ou à ausência de doenças, mas devem ser considerados fatores como autonomia, independência, cultura e meio social a que estão vinculados. A partir disso, deve-se entender o envelhecimento saudável como o resultado de uma relação multidimensional entre concepção de saúde física, mental, suporte familiar, convívio social, independência nas atividades de vida diária e econômica (SANTOS et al., 2022)
Nesse panorama, muitos avanços levaram à redescoberta da vida sexual na população senil, como o advento de medicamentos para disfunção erétil e da terapia de reposição hormonal; sendo uma população que, até recentemente, era pouco ativa sexualmente, não há campanhas incisivas a respeito de contracepção e proteção contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), dentre as quais está a sífilis (CARVALHO, 2021).
A organização Mundial da Saúde (OMS) estima que todo ano ocorra cerca de 12 milhões de casos no mundo, a grande maioria em países que estão em desenvolvimento. O Brasil tem uma prevalência média de sífilis adquirida que varia entre 1,4% e 2,8%, contendo uma transmissão vertical acerca de 25% (SILVA et al., 2021).
A baixa adesão ao uso de preservativos durante as relações sexuais pode tornar os idosos alvo de infecções sexualmente transmissíveis (IST), entre elas a sífilis. Ademais, outros fatores contribuem para a maior vulnerabilidade de idosos às IST: a imunidade prejudicada, o conhecimento deficiente sobre IST e métodos de prevenção, o preconceito, a vergonha e os mitos gerados acerca do uso de preservativos bem como as barreiras culturais acerca do tema sexualidade (BARROS et al,.2023)
A insuficiência de políticas públicas agregada à resistência à prática de sexo seguro (muito presente nesta população), a ampliação do período sexual ativo e a fragilidade própria do processo de envelhecimento, têm provocado o aumento do número de casos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s) em idosos, dentre estas, a sífilis, objeto do presente estudo (Ferreira et al.,2019).
Frente a isso, esta pesquisa propõe em investigar os casos de sífilis adquirida na população idosa brasileira, por meio de análises na literatura e observar os dados notificados da doença. Com esse propósito objetiva-se: a) analisar nas bases literárias a questão do envelhecimento e as infecções sexualmente transmissíveis (IST); b) identificar os índices de sífilis adquirida em idosos; e c) realizar um levantamento dos dados notificados da doença na terceira idade.
Metodologia
Foi realizado uma pesquisa através de um estudo bibliográfico de abordagem qualitativa do tipo de revisão integrativa de literatura(RIL).Para construção do estudo, foram feitas coletas nas bases de dados Brasil Scientific Electronic Library Online(SCIELO),Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e no Departamento de informática do sistema único de saúde do Brasil(DATASUS), nos períodos de 2019 a 2022.Diante disso, foram escolhidos o suporte de dados com grau de credibilidade e competência das literaturas cientificas.
Foram utilizados os descritores “sífilis”, “idosos” sendo identificados e válidos na base de dados Descritores em ciência e saúde (DECS). Após isso, os descritores foram cruzados com o operador booleano “and” seguindo as ordens sífilis and idosos (1) e idosos and sífilis (2). Totalizando 35 artigos encontrados. Utilizando os métodos de inclusão e exclusão, foram incluídas literaturas gratuitas, pagas, completas, no idioma da língua portuguesa e que possuíam relevância ao tema em estudo. Foram excluídos os artigos incompletos, sem relevância, pagos e fora do período estabelecido, totalizando x artigos utilizados na pesquisa.
Esta pesquisa constituída de informações de banco de dados de domínio público não necessitou de registro e avaliação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (CONEP).
Resultados
Os dados referentes de todos os casos de sífilis adquirida pela população idosa no Brasil, nos períodos de 2018 a 2021 mostraram que a faixa etária de 60-64 anos de idade obteve o maior número de casos com 15.342 notificados. Já na faixa etária 80 e + apresentou o menor índice de casos notificados com 4.134 no total. Foi observando que houve uma redução dos casos de sífilis em idosos nos últimos 5 anos.
Quadro 1: Dados referentes aos casos de sífilis por ano da ocorrência e idade do paciente.
| Idade em anos | ||||
Ano Notificação | 60-64 | 65-69 | 70-79 | 80 e + | Total |
2018 | 5.456 | 3.676 | 3.494 | 1.078 | 13.704 |
2019 | 5.107 | 3.588 | 3.548 | 1.083 | 13.326 |
2020 | 3.200 | 2.218 | 2.200 | 691 | 8.309 |
2021 | 1.579 | 1.101 | 1.112 | 342 | 4.134 |
TOTAL | 15.342 | 10.583 | 10.354 | 3.194 | 39.473 |
Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net – 2023
O exercício da sexualidade na fase de envelhecimento precisa ser compreendido como uma experiência positiva tanto na ótica do profissional de saúde quanto pelo próprio idoso. Muitas vezes, o sexo e a sexualidade ainda são compreendidos pela sociedade como sinônimos, apesar de relacionarem a sexualidade com o afeto e o carinho, geralmente as pessoas acabam entrelaçando e centralizando a sexualidade na relação sexual (VIEIRA et al., 2016).
A sífilis está entre as ISTs que mais acomete a população, sendo considerada uma infecção de problema para a saúde pública. O estudo realizado por Dos Santos Nonato et al. (2020) mostrou que a população menos informada e orientada por profissionais da saúde, como os idosos, estão entre os grupos populacionais com aumento dos índices de infecções por sífilis nos últimos anos. Mahmud et al., (2019) consideram importante informar aos profissionais de saúde a necessidade de considerar a sífilis no diagnóstico de doenças sistêmicas na população idosa, bem como orientar os pacientes em relação às medidas preventivas e instituir o tratamento adequado (NATÁRIO et al., 2021)
Os fatores que reduzem a adesão ao uso do preservativo entre pessoas idosas incluem: perda do fator contraceptivo; dificuldades com o manuseio; homens idosos perdem ereção ou referem piora do desempenho sexual; incapacidade de mulheres idosas em negociar o uso e submissão ao companheiro; estabilidade do relacionamento.
Também é importante citar nos fatores de risco para exposição às ISTs: uso crescente de medicamentos para prolongar a ereção; crescentes exposições a situações de risco, relacionadas ao aumento das taxas de divórcio, viuvez, procura de parceiros sexuais na internet; e aumento do turismo sexual (VIEIRA, 2020).
Quando se fala de saúde da pessoa idosa não se deve restringir ao controle de doenças crônicas não-transmissíveis. Deve-se considerar o conceito de como o equilíbrio entre a saúde física, a saúde mental, a independência financeira, a capacidade funcional e o suporte social. É preferível uma abordagem que previna problemas. A aplicação de teste para o rastreio da vulnerabilidade em prol da vigilância através de todos os membros da equipe de saúde é fundamental (FIGUEIREDO et al., 2021).
É notável a vasta literatura sobre os temas sífilis adquirida e idoso, entretanto, os temas são quase que exclusivamente tratados isoladamente. Esse cenário pode ser entendido pela visão sobre os idosos que a sociedade formou como um ser passível, fragilizado e sem vida sexual ativa. Portanto, estudar o tema é uma forma de quebrar esse paradigma (SOARES et al., 2022).
O idoso tem desfrutado do sexo por mais tempo, isso significa que também é mais exposto às infecções sexuais. Esse indivíduo não deve ser repreendido por essa atividade, menos ainda ser considerado assexuado, o necessário é que sejam tomados cuidados. Dentre as principais ações para prevenir a sífilis em pessoas idosas, destaca-se o rastreio de vulnerabilidade e a educação em saúde. Diante disso, é necessário fomentar pesquisas para entender como está sendo feito esse rastreio na Atenção Básica. Ademais deve-se intensificar as ações de promoção e educação em saúde com idosos, sobretudo abordar a educação sexual (SOARES et al., 2022).
Conclusão
Diante da pesquisa, percebe-se que há poucas literaturas que abordam sobre a sífilis na população idosa. Mesmo com a escassez sobre o assunto, foram coletados os dados de notificação dos casos de sífilis e foi constatado que nos anos de 2018 a 2021 houve uma diminuição da incidência da doença em pessoas com mais de 60 anos.
Além disso, os estudos mostraram também que com o avanço da tecnologia houve um aumento da expectativa de vida dos idosos, fazendo com que eles possuam uma vida sexual mais ativa o que gera uma preocupação maior, quanto as infecções sexualmente transmissíveis (IST’S), como a falta de informação sobre educação e saúde sobre sexualidade, visto que a vulnerabilidade dessa faixa etária com a sífilis vêm sendo relacionada com a não utilização de preservativos.
Diante desses resultados obtidos, definimos que apesar da redução dos casos notificados da doença, é necessário que intensifique as medidas preventivas e os cuidados dos profissionais com a população idosa, evitando assim disseminação descontrolada desta infecção. Para isso, e importante que a equipe profissional de saúde, utilizem instrumentos como a própria comunicação juntamente com as políticas públicas que possa dar um ênfase maior na prevenção da sífilis. Frente a isso é importante que esses estudos e dados epidemiológicos tenham uma visibilidade maior, já que o índice de idosos no Brasil tem crescido nos últimos anos, para que assim as políticas públicas aplicadas pela equipe profissional sejam realizadas com mais vigor.
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CAPÍTULO 20
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS
NURSING CARE FOR PATIENTS WITH MENTAL DISORDERS
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Submetido em: 22/12/2023
Revisado em: 12/01/2024
Publicado em: 20/01/2024
Jocilene da Silva Paiva
Universidade da Integração Internacional Afro-Brasileira – Unilab, Ceará-CE
https://orcid.org/0000-0002-8340-8954
Maria Adriana Martins e Silva
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira,UNILAB, Ceará-CE
https://orcid.org/0000-0002-4024-6203
Marcelo da Silva Firmino
Centro Universitário Estácio do Ceará, Ceará-CE
http://lattes.cnpq.br/697259943534875527
Francisca Silvana Holanda Castro
Instituto Politécnico de Educação Profissional do Ceará, Ceará-CE
https://orcid.org/0009-0001-6538-9999
Francisco Fabio Dias Da Silva
Instituto Politécnico de Educação Profissional do Ceará, Ceará-CE
https://orcid.org/0009-0005-6627-6493
José Roberto Pereira
Instituto Politécnico de Educação Profissional do Ceará, Ceará-CE
https://orcid.org/0009-0004-3793-7865
Ana Clécia Silva Monteiro
Centro Universitário Maurício De Nassau – UNINASSAU, Ceará-CE
https://orcid.org/0009000446854965
Samara dos Reis Nepomuceno
Universidade da Integração Internacional Afro-Brasileira – Unilab, Ceará-CE
https://orcid.org/0000-0001-9665-1446
Ana Cristina Santos Rocha Oliveira
Centro Universitário Alfredo Nasser – UNIFAN, Ceará-CE
https://orcid.org/0000-0002-1298-230X
Amanda Oliveira Gurgel
Estácio do Ceará, Ceará-CE
https://orcid.org/0009-0007-3662-5677
Resumo
Na antiguidade grega, o transtorno mental era definido por “sem razão” ou por algo sobrenatural, segundo Homero e Hesíodo. Espera-se com esse estudo contribuir para a ampliação dos conhecimentos de profissionais e estudantes da área da saúde, bem como para pacientes e familiares, referente a assistência de enfermagem a pacientes com transtornos mentais. Trata-se de uma revisão narrativa da literatura sobre a assistência de enfermagem a pacientes com transtornos mentais, o levantamento bibliográfico foi realizado através da base de dados scientific Electronic (Scielo), e google acadêmico. A busca dos dados ocorreu entre maio e junho de 2023, utilizando-se como palavras chaves “saúde mental, transtornos mentais, assistência de enfermagem, enfermagem”. Os transtornos mentais, são caracterizados, por fatores predisponentes durante a vida diária, que afetam o indivíduo no âmbito social, físico, psicossocial e família, o que se faz necessário estratégias sistematizada pela equipe de enfermagem, com foco no paciente e coletividade, para intervenções individualizadas (TREVISAN; CASTRO, 2021). No presente estudo, os principais achados de fatores para transtornos mentais foram alterações cognitivas, sensação de incapacidade, perda da própria identidade, genética, mudanças de comportamento e personalidade e o esgotamento físico (FRANÇA et al., 2022). Conclui-se por meio desse estudo que a assistência de enfermagem a pacientes com transtornos mentais é fundamental para a promoção e prevenção à saúde, estratégias como o cuidado, capacitação para profissionais, conscientização, palestras, oficinas e ética na qual todos devem prezar pela vida do paciente, prestando um cuidado humanizado e de qualidade contribuem para uma assistência de qualidade.
Palavras-Chave: Enfermagem. Transtornos mentais. Assistência de Enfermagem.
Abstract
In Greek antiquity, mental disorder was defined by “without reason” or by something supernatural, according to Homer and Hesiod. This study is expected to contribute to expanding the knowledge of health professionals and students, as well as patients and families, regarding nursing care for patients with mental disorders. This is a narrative review of the literature on nursing care for patients with mental disorders. The bibliographic survey was carried out using the Scientific Electronic (Scielo) database and Google Scholar. The data search took place between May and June 2023, using the keywords “mental health, mental disorders, nursing care, nursing”. Mental disorders are characterized by predisposing factors during daily life, which affect the individual in the social, physical, psychosocial and family spheres, which requires systematized strategies by the nursing team, focusing on the patient and community, for interventions individualized (TREVISAN; CASTRO, 2021). In the present study, the main findings of factors for mental disorders were cognitive changes, feeling of incapacity, loss of identity, genetics, changes in behavior and personality and physical exhaustion (FRANÇA et al., 2022). It is concluded through this study that nursing care for patients with mental disorders is fundamental for health promotion and prevention, strategies such as care, training for professionals, awareness, lectures, workshops and ethics in which everyone must value life of the patient, providing humanized and quality care contribute to quality assistance.
Keywords: Nursing. Mental disorders. Nursing Assistance.
Introdução
Pacientes com transtornos mentais têm apresentado grandes índices atualmente enfrentados na saúde. Na antiguidade grega, o transtorno mental era definido por “sem razão” e por algo sobrenatural, segundo textos de Homero e Hesíodo (CONCEIÇÃO, 2022). Define-se como transtornos mentais, doenças com manifestações psicológicas associadas a algum comprometimento funcional ligados às disfunções sociais, psicológica, funcional, física, genética ou química (SANTOS; SIQUEIRA, 2017). A assistência da equipe de enfermagem tem grande importância nesse processo, prestando cuidados direto e indireto com esses pacientes, o profissional de enfermagem necessita tá ciente que a saúde mental está associada a saúde geral, assim sendo de grande importância a assistência de enfermagem no dia a dia a pacientes que precisa dos serviços de saúde, conforme (CONCEIÇÃO, 2022).
Atualmente, o número de pessoas que sofrem de transtorno mental, vem crescendo em grandes índices, portanto os indivíduos enfrentam sofrimento mental e neurológico, além de falta de cuidados, vergonha, exclusão e muita frequência de óbito (GOMES et al., 2020). De acordo com Conceição 2022, assistência é feita em unidades de urgência e emergência, UPA 24h, unidades básicas de saúde, hospitais mentais, centros de atenção psicossocial (CAPS), unidade de acolhimento, são responsáveis pelo acolhimento, classificação de risco e cuidados nas situações de urgência. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem diferentes transtornos mentais, que são apresentados por uma combinação de pensamentos, percepção, emoções e comportamentos anormais.
Os principais transtornos mentais são a depressão, o transtorno afetivo bipolar, a esquizofrenia e outras psicoses, incluindo o autismo, isso de acordo com a Organização Panamericana da Saúde, 2022. O profissional de enfermagem é peça fundamental no tratamento de pacientes psiquiátricos, portanto prestam assistência que promove a segurança do paciente, como administração de medicamentos e apoio emocional, além disso o profissional atua na estratégia junto com a equipe terapêutica (Hospital Santa Mônica, ensino e pesquisa, 2023). Os profissionais de enfermagem necessitam estar capacitados para que haja um cuidado adequado para a população local, diante disso, capacitações, ações educativas, encontros mensais, são estratégias que buscam prestar uma assistência mais qualificada por meio de relações adequadas com pacientes, familiares e equipe multidisciplinar para contribuir com a melhora clínica do paciente. (Silva, 2020) Ações preventivas também são de extrema importância para diminuir grandes índices, como educação em saúde, promover palestras em escolas, na comunidade, oficinas e visitas domiciliares (MOURA et al., 2018). O cuidado de Enfermagem assume um papel importante na assistência a pessoas com transtornos mentais, melhorando seu quadro clínico e ajudando a sua inserção na sociedade, atuando também na detecção precoce de agravos à saúde (BORGES et al., 2020).
Atualmente têm se observado um elevado índice de pacientes com transtornos mentais. Desta forma a enfermagem necessita estar preparada e integrada nos cuidados desses pacientes. Diante do estudo, busca identificar as formas de assistência de enfermagem aos pacientes com transtornos mentais e as medidas de prevenção que podem ser implantadas na prática profissional em toda a equipe de enfermagem.
Espera-se com esse estudo contribuir para a ampliação dos conhecimentos de profissionais e estudantes da área da saúde, bem como para pacientes e familiares, referente a assistência de enfermagem a pacientes com transtornos mentais.
Metodologia
Trata-se de uma revisão narrativa da literatura sobre a assistência de enfermagem aos pacientes com transtornos mentais, o levantamento bibliográfico foi realizado através de consultas na base de dados Scientific Electronic (Scielo), e google acadêmico.
A busca dos dados foi realizada nos meses de maio e junho de 2023, utilizando-se como palavras chaves “saúde mental, transtornos mentais, assistência de enfermagem, enfermagem”.
Para critérios de inclusão foram utilizados artigos de 2017 a 2022 em português, disponíveis de forma eletrônica, com temas relacionados à assistência de enfermagem a pacientes com transtornos mentais e cuidados de enfermagem.
Foram excluídos estudos que mesmo tratando se saúde mental não respondiam ao objetivo da pesquisa.
Para conseguir o entendimento do tema foi elaborado a seguinte questão de pesquisa: Como a equipe de enfermagem pode atuar no cuidado qualificado aos pacientes com transtornos mentais no ambiente de trabalho? Que medidas podem ser implantadas para a prevenção do adoecimento mental no âmbito hospitalar?
Resultados e Discussão
Em uma primeira análise realizada através da leitura dos títulos foram selecionados 50 artigos, na segunda análise, após a leitura na integra, apenas 4 artigos respondiam à questão de pesquisa.
Tabela 01: Características dos estudos incluídos na revisão.
TÍTULO DO ARTIGO | OBJETIVO | RESULTADOS | CONCLUSÃO |
Prevalência de transtornos mentais comuns nos trabalhadores dos centros de atenção psicossociais álcool e drogas. | Identificar a prevalência de transtornos mental comum entre os trabalhadores dos centros de atenção psicossocial álcool e drogas | Participaram 42 profissionais, dos quais 81,0% eram do sexo feminino; 31,0% na faixa etária de 40 a 49 anos; 35,7% tinham transtorno mental comum, sendo o item “sentir-se nervoso, tenso ou preocupado” com maior prevalência (54,7%), seguido por “dormir mal e sentir-se triste” (45,2%). | Verifica-se a necessidade de intervenções no cotidiano destes serviços, visando melhorar as condições de trabalho e possibilitar suporte psicossocial aos trabalhadores, visto que o cuidado da população com sofrimento mental, para ser de excelência e qualidade, exige profissionais satisfeitos e que gozem de boa saúde física e mental. |
Assistência de enfermagem na emergência psiquiátrica | Descrever a assistência de enfermagem na emergência psiquiátrica e nos demais serviços que compõem uma rede de saúde mental | Os resultados desse estudo mostraram que o cuidado nas emergências psiquiátricas exige uma equipe habilitada, pois é imprescindível uma ação imediata. | A assistência de enfermagem neste setor precisa estar orientada para a recuperação do paciente portador de transtorno mental. |
Assistência de enfermagem a pessoas com transtornos mental no hospital geral; desafios do cuidado especializado | analisar a percepção e os desafios concebidos pela equipe de enfermagem, no ambiente especializados à pessoa com transtornos mentais, no âmbito hospitalar | O estudo mostra os desafios que os profissionais de enfermagem encontram para assistir os pacientes com transtornos mentais no hospital geral. | observa-se a importância do estabelecimento de vínculo capaz de estimular a confiança entre os profissionais de enfermagem e pacientes, proporcionando a ampliação das práticas psicossociais. |
Percepções da equipe de enfermagem sobre cuidados de crianças e adolescentes internados com transtornos mentais | Descrever as percepções da equipe de enfermagem ante o cuidado de crianças e adolescentes com transtornos mentais internados. | A percepção da equipe de enfermagem em face dos cuidados prestados e ações e cuidados da equipe de enfermagem da criança com transtornos mentais. “Motivos para” expressos na categoria: a recuperação da criança com transtorno mental e o seu retorno para casa. | A possibilidade do estabelecimento da relação face a face entre equipe, família e criança como forma de apreender a situação biográfica e o acervo de conhecimento dos sujeitos envolvidos e, então, entender as suas reais necessidades e demandas promovem um cuidado integral. |
Os transtornos mentais, são caracterizados, por fatores predisponentes durante a vida diária, que afetam o indivíduo no âmbito social, físico, psicossocial e família, o que se faz necessário estratégias sistematizada pela equipe de enfermagem, com foco no paciente e coletividade, para intervenções individualizadas conforme o transtorno identificado (TREVISAN; CASTRO, 2021). No presente estudo, os principais achados de fatores para transtornos mentais foram alterações cognitivas, sensação de incapacidade, perda da própria identidade, genética, mudanças de comportamento e personalidade e o esgotamento físico (FRANÇA et al., 2022). Em um estudo realizado para identificar a prevalência de transtornos mental entre os trabalhadores dos centros de atenção psicossocial álcool e drogas onde participaram 42 profissionais, identificou-se que 81,0% eram do sexo feminino; 31,0% na faixa etária de 40 a 49 anos; 35,7% tinham transtorno mental comum, sendo o item “sentir-se nervoso, tenso ou preocupado” com maior prevalência (54,7%), seguido por “dormir mal e sentir-se triste” (45,2%) (TREVISAN; CASTRO, 2021).
Em um estudo realizado para descrever a assistência de enfermagem na emergência psiquiátrica e demais serviços que compõem uma rede de saúde mental, evidenciou que o cuidado nas emergências psiquiátricas exige uma equipe capacitada (RIBEIRO; REIS, 2020). Portanto, se faz necessário, a atualização de conhecimentos da equipe de enfermagem, acerca da temática saúde mental, visto que a pesquisa científica, vem sendo ampliada, e novas descobertas, ganhando viabilidade, no que tange a orientação e capacitação dos profissionais que fazem parte da assistência direto ao paciente psiquiátrico (RAMOS et al., 2021). Profissionais que atuam na assistência de enfermagem devem ter como principal meio de uma assistência humanizada está focado na promoção da saúde mental, na prevenção da enfermidade, no cuidado com a família e na comunidade (EMMEL, 2022).
Segundo Peters et al, 2020, no que tange, analisar a percepção e os desafios encontrados, pela equipe de enfermagem, no estabelecimento especializado às pessoas com transtornos mentais, no âmbito hospitalar e terapêuticos, são ações que trazem resultado para uma assistência de qualidade e cuidado humanizado ao paciente e coletividade (PETERS et al., 2020). Estudos mostram que os principais desafios para uma assistência de qualidade são a atenção com a saúde psicológica dos próprios profissionais, onde eles precisam ter uma assistência para que não tenham sua saúde prejudicada, qualificação e jornada de trabalho prolongada (MENEZES et al., 2021).
Considerações Finais
Foi criado em maio de 2023 e concluído em junho de 2023, o trabalho desenvolvido durante esse tempo foi abordado o tema Assistência de enfermagem a pacientes com transtornos mentais e teve como objetivo contribuir para a ampliação dos conhecimentos dos profissionais e estudantes da saúde, bem como para pacientes e familiares, referente a assistência à pacientes com transtornos mentais, em evidência dos resultados apresentados, observou-se que a equipe de enfermagem prestam um atendimento direto e indireto a pacientes com transtornos mentais, portanto devem estar qualificados para que possam prestar uma assistência de qualidade e de forma humanizada. De forma geral, conclui-se por meio desse estudo que a assistência de enfermagem a pacientes com transtornos mentais é fundamental para a promoção e prevenção à saúde, podendo como estratégias para o combate a doenças mentais e uma assistência de qualidade, como o cuidado, capacitação para profissionais, conscientização, palestras, oficinas e ética na qual todos devem prezar pela vida do paciente, prestando um cuidado humanizado e de qualidade. Ademais, torna-se necessário, a busca diária de conhecimentos pela equipe de enfermagem visto que, existem deficiência de conteúdos relacionados a temática abordada, por alguns membros da equipe de enfermagem, muitos sentem-se desvalorizados, e possuem o sentimento de medo, quando abordam pacientes psiquiátricos.
Referências
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CAPÍTULO 21
O PAPEL DO ENFERMEIRO PERIOPERATÓRIO NOS CUIDADOS DE TRANSIÇÃO NO PERÍODO PÓS-ANESTÉSICO
THE ROLE OF THE PERIOPERATIVE NURSE IN TRANSITION CARE DURING THE POST-ANESTHESIA PERIOD
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.21
Submetido em: 21/02/2024
Revisado em: 28/02/2024
Publicado em: 02/03/2024
Lara Daniela Matos Cunha
Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Coimbra, Portugal
https://orcid.org/0000-0001-9672-4342
Hugo André Moura Loureiro
Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Coimbra, Portugal
https://orcid.org/0000-0003-3287-8718
Joana Vanessa Ribeiro Bernardo
Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Coimbra, Portugal
https://orcid.org/0000-0003-3614-9061
Ricardo Filipe Moura Loureiro
Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Coimbra, Portugal
https://orcid.org/0000-0001-6135-2278
Resumo
O capítulo discute a complexidade das transições vivenciadas pela pessoa em situação perioperatória, abordando as diferentes dimensões e atributos do cuidar. Baseado na teoria de Meleis, são identificados três constructos fundamentais: a natureza da transição, as condições de transição e os padrões de resposta. Quatro tipos específicos de transições são delineados: desenvolvimentais, situacionais, relacionadas à saúde e organizacionais. Esta reflexão destaca a importância de identificar fatores facilitadores e inibidores das transições, classificados em pessoais, comunitários e sociais. Para avaliar a experiência de transição, são propostos padrões de resposta, abordando indicadores de processo e de resultado. O papel do enfermeiro no período pós-anestésico é enfatizado como crucial na facilitação das transições, envolvendo compreensão sensível do fenómeno, promoção de cuidados individualizados e capacitação da pessoa/família. A enfermagem é apresentada como uma ciência sensível aos aspetos multidimensionais das transições, destacando a importância de desenvolver planos de cuidados que promovam adaptação e capacitação.
Palavras-Chave: cuidado pós-anestésico, enfermagem perioperatória, processos de transição
Abstract
The chapter discusses the complexity of transitions experienced by individuals in the perioperative setting, addressing the different dimensions and attributes of care. Based on Meleis’ theory, three fundamental constructs are identified: the nature of the transition, transition conditions, and response patterns. Four specific types of transitions are delineated: developmental, situational, health-related, and organizational. This reflection highlights the importance of identifying facilitators and inhibitors of transitions, classified as personal, community, and social factors. To assess the transition experience, response patterns are proposed, addressing process and outcome indicators. The role of the nurse in the post-anesthetic period is emphasized as crucial in facilitating transitions, involving sensitive understanding of the phenomenon, promotion of individualized care, and empowerment of the individual/family. Nursing is presented as a science sensitive to the multidimensional aspects of transitions, emphasizing the importance of developing care plans that promote adaptation and empowerment.
Keywords: post-anesthesia care, perioperative nursing, transition processes
Introdução
A transição reveste-se de uma importância central para a enfermagem enquanto ciência, disciplina e arte. Sendo a pessoa o foco do enfermeiro – a qual experiencia processos de transição e manifesta comportamentos relacionados com a saúde (Chick; Meleis, 1986; Meleis, 2012) – ao agir perante estas circunstâncias, desenvolve-se o cuidado transicional e os processos de transição que produzem alterações de saúde-doença (Zagonel, 1999). Estes pressupostos reforçam a importância ontológica da intencionalidade dos cuidados dos enfermeiros no contexto específico perioperatório como essencial para a compreensão e gestão dos cuidados complexos facilitadores da prática. Esta perspectiva convida a repensar os cuidados de enfermagem pós-anestésicos – quase sempre ancorados numa visão tecnicista – nas dimensões experiencial e ética, incorporando a dimensão subjetiva da pessoa e de encontro com o agente de cuidados. No processo saúde-doença-cuidado, verificamos que a lógica instrumental dá sustentação à prática; no entanto, se considerarmos a experiência, isto é, o significado da transição, o vivido existencialmente durante o processo, importa pensar no limite da intervenção, na forma como se estabelece o cuidado e nas associações entre o cuidado e o processo diagnóstico que permitem atuar na intervenção. Trata-se de valorizar saberes que se distinguem da universalidade das ciências e técnicas, através da criação de um espaço relacional que extrapole e sobreponha o saber-fazer científico tecnológico, como um saber preocupado ao assistir com o outro na sua totalidade (Ayres, 2000).
Reflexão sobre o cuidado perioperatório: a transição como experiência transformadora
A interpretação do significado da transição emerge através do processo e para entender a percepção e o significado, é necessário compreender todo o episódio: o itinerário terapêutico e os discursos dos atores envolvidos em cada passo da sequência de eventos (Caprara, 2003). Em virtude desta percepção, a filosofia da corporeidade de Merleau-Ponty (1994) é um dos eixos de enquadramento do processo de cuidar, pois o corpo é o ponto de partida fundamental para qualquer reflexão sobre a pessoa.
“O cliente e a enfermeira, enquanto corporeidades, são percebidos na união do ser e da ação, no compartilhar do saber e no expressar de valores e afetividades. O processo hermenêutico mostra o agir do enfermeiro como corporeidade; no seu atuar assistemático, interativo, comprometido com o mundo e com o outro, considerando os aspectos políticos, filosóficos e educativos na construção do conhecimento, cerne do cuidado. Corporeidade é vista como o modo de ser do homem, é a essência expressa pelo corpo visto-vidente, sentido e que sente, que toca e é tocado no processo de coexistência. Corporeidade é mais que a materialidade do corpo; é o contido em toda a dimensão humana; é o resgate do corpo, o deixar fluir; é viver, escutar, existir, é a história de cada corpo vivente” (Polak, 1996, p.110).
O encontro intersubjetivo que se processa no cuidado individualizado destaca as peculiaridades do universo afetivo, cultural e social de ambos, pessoa e cuidador (Ayres, 2001). Reconhecer esse perfil dialético e as suas raízes possibilita, de certa forma, destacar o subsumido na interação assistencial, resgatando-se a centralidade do cuidado na pessoa (McCormack; McCance, 2010). Cuidar pressupõe assistir e facilitar necessidades evidentes ou potenciais individuais e/ou coletivas (Leininger, 1980). Por conseguinte, é premente (re)conhecer o cuidado de enfermagem pós-anestésico no processo de transição saúde-doença. Chaboyer, Lin, Foster, Retallick, Panuwatwanich ; Richards (2012) defendem que, se os enfermeiros atuam durante a transição e intervêm sobre as necessidades transicionais, devem primariamente compreender a experiência.
Contextualizar os cuidados e analisá-los, contribui para a compreensão da unicidade do enfermeiro como cuidador e constituinte, aspetos fulcrais que vão ao encontro da teoria interpretativa de Geetz (Prochnow, Leite; Erdmann, 2005). As interpretações (símbolos, significado, concepção, forma, texto) transformam-se em conhecimento científico e constituem a visão e o relato da estrutura de um sistema de persistência (Geetz, 1997). Basto (2012) reforça esta questão no sentido da identificação e compreensão dos saberes de enfermagem, utilizados no quotidiano da prestação de cuidados e a identificação do sentido de cuidar em enfermagem, para os próprios enfermeiros, pessoa cuidada e restantes agentes envolvidos. Defende que a conceptualização e a investigação orientada para a prática permitem o desenvolvimento teórico, sendo que este é resultante dos próprios enfermeiros, dos modelos profissionais dominantes e do contexto (Idem).
A representação das práticas de cuidados é baseada nas significações individuais do enfermeiro na sua vertente cognitiva, afetiva e social, segundo um processo de compreensão, observação e interpretação (Bento, 1997). A interpretação da realidade experienciada por cada interveniente nos cuidados é baseada na percepção da mesma, construída no dinamismo de recepção, processamento e interpretação da informação no compromisso da interação humana (Streubert; Carpenter, 2002). Considerando que a realidade da prestação de cuidados em saúde é uma realidade complexa e que apreender enfermagem integra esta complexidade no contexto de cuidados, é importante questionar e refletir sobre a própria prática, promovendo o alinhamento das evidências, as informações colhidas e o conhecimento teórico acumulado a respeito dela (Enunciados Descritivos da Ordem dos Enfermeiros, 2001; Bento, 1997).
Polak (1996, p.24) indagou a complexidade da enfermagem, no sentido de,
“(…) não há processo de troca nas situações de enfermagem? Quem observa e quem é observado? Quem toca e quem é tocado? Será que sou eu apenas, como enfermeira, que sinto o clima que emerge nas situações de cuidado? O processo de cuidar é encontro? Se é encontro, como se instaura a presença? Se é encontro, existe intercomplementaridade, interseção, momentos de aproximação e de distanciamento, quando ocorre o crescimento de ambos.”
Sendo o período pós-anestésico de particular significância de alterações psicoemocionais, é possível que a antecipação deste evento desencadeie comportamentos de ajuste. Segundo Dubos (1974), reage-se fisiologicamente às agressões e a sobrevivência continua dependente da capacidade de autorregulação dos mecanismos corporais, através de respostas orgânicas e das implicações bioquímicas hormonais adaptativas. Porém, considerando a subjetividade e socialização, os processos somáticos e psíquicos resultam da simbologia representativa do estímulo experienciado (Idem). Descartes (1973) concebeu o ato de pensar como sendo a essência humana e uma atividade da alma (espírito, pensamento, razão): o que não era alma era parte extensiva do ser humano, isto é, matéria. As emoções (paixões) eram decorrentes das sensações provocadas na matéria, prenunciando a participação do sistema endócrino nas reações corporais através de um mecanismo complexo. Com base na teoria de Descartes a respeito da fisiologia das emoções, o ato anestésico e cirúrgico engendra um encadeamento de “paixões” que resultam em alterações hormonais, as quais fisiologicamente tem o propósito de preparar a Pessoa para enfrentar uma situação de ameaça. Também Selye (1959) defendia a existência de um padrão de resposta psicobiológica semelhante a estímulos diferentes, que obedeciam a um encadeamento mais ou menos constante e intensidade díspar, configurando o modelo bioquímico do Síndrome de Adaptação Geral (SAG). Ademais, Hill (1991) e Dractu; Lader (1993) enfatizam a importância dos neurotransmissores como moduladores das emoções.
Lazarus; Folkman (1984) sublinham a importância da cognição na mediação da intensidade das respostas aos estímulos, decorrentes das diferentes formas de avaliação feitas pelos indivíduos, a qual será administrada em graus de competência e resolubilidade de acordo com o substrato psíquico individual, a interpretação do problema (categorização), a avaliação cognitiva primária e secundária, desencadeando alterações hormonais específicas. Este processo direciona as reações aos fatores externos e reflete a relação única e mutável que existe entre a Pessoa, os seus valores, as suas percepções, os seus compromissos, pensamentos e o ambiente. Acrescentaram a definição de coping como a estratégia cognitiva e comportamental realizada para dominar, tolerar ou reduzir os desafios externos e internos e o conflito entre eles, bem como a tentativa do indivíduo exercer algum controlo sobre o ambiente onde se insere, relacionando-se forma mais adaptativa (Idem).
Neste contexto, o cenário clínico pós-anestésico (ambiente) é um fator a controlar e manipular através da instrumentalização do processo de cuidados de enfermagem, de forma a tornar consciente a sua influência na recuperação da pessoa submetida a cirurgia/anestesia. Contribui no sentido de controlo e higiene ambiental, o Modelo de Auto-Eco-Organização de Morin (2007), a manipulação ambiental de Nightingale (Selanders, 2010; Ali Pirani, 2016; Nightingale, 1969) e o Modelo de Conservação de Levine (1967). Roy (1980) enfatiza a interação enfermeiro/pessoa, como o instrumento primário na manipulação dos elementos desse sistema ou do ambiente.
No que concerne ao período pós-anestésico, é possível supor que a antecipação deste evento desencadeará emoções que, influenciados pelas diferenças individuais, resultarão em comportamentos peculiares de ajustes que têm por finalidade enfrentar o stress e a ansiedade provocados pelo evento. Estas avaliações cognitivas serão mais efetivas quanto melhor a recolha de dados da realidade, sendo múltiplas as possibilidades da sua obtenção – experiências vindouras, formulação de dúvidas, questionamento, hipóteses e associações de ideias relativas à cirurgia e à anestesia como o medo da morte, da anestesia, da deformação, da dor, as incertezas relacionadas com o prognóstico, tratamento, as preocupações com a família, com o emprego, entre outras. Em função destas considerações, é perceptível a inquietação relacionada com a influência do estado emocional da pessoa e as consequentes variações que se repercutem diretamente nas funções básicas orgânicas. As respostas organísmicas são as respostas do ser como um todo ao processo de adaptação (Levine, 1967).
Entender e reconhecer o conceito de segurança emocional no contexto pós-anestésico torna-se impreterível para o cuidado de enfermagem, pois como considera Castellanos; Jouclas (1990), esta é a necessidade básica mais afetada no doente cirúrgico, constituindo-se um sentido terapêutico da intervenção de enfermagem na influência favorável à adaptação (Levine, 1967). Porém, apesar das várias pesquisas realizadas em torno dessa questão, aparentemente existe um embasamento teórico insuficiente para o enfermeiro reconhecer, interpretar, intervir e dar suporte à compreensão da subjetividade humana. A experiência do momento pós-anestésico é, pois, um momento de crise e um período de desorganização de um sistema aberto, desencadeada por um ou diversos acontecimentos que ultrapassam a capacidade de manutenção da homeostasia do indivíduo (Caplan, 1950). Tendo presente a Teoria da Crise de Caplan (1980), esta crise circunstancial surge em consequência de um evento raro e extraordinário pós-anestésico/cirúrgico, sendo um acontecimento abrupto, imprevisto, catastrófico e intenso (Sá, Werlang; Paranhos 2008).
De facto é preciso ter em conta que os aspetos psicológicos e sociais da doença e da incapacidade física se estendem a todas as facetas do comportamento dos indivíduos, levando a diversas adaptações (Cardoso, 1987). Ademais ao conceito clínico, que entende a doença como um processo biológico do indivíduo, é importante enquadrar o conceito ecológico, que vê a doença como resultado do desequilíbrio na interação entre o hóspede e seu ambiente (Laurell, 1982). A perspectiva de intervenção assenta basicamente na abordagem terapêutica precoce das reações emocionais à situação de transição de saúde-doença. Trata-se de uma crise importante na vida da Pessoa, em que é fundamental o seu reconhecimento pelo Enfermeiro, porquanto faz parte do ambiente como extensão do sistema percentual do ser humano, sendo a enfermagem considerada conservadora da energia pela avaliação e alteração das respostas dadas pela Pessoa ao ambiente (Levine, 1967).
No que se refere à intervenção na crise, Caplan (1950) inclui a ação dos profissionais de saúde, mas menciona que a assistência é fundamentalmente baseada no conhecimento informal inerente à sensibilidade e experiência pessoal em detrimento de modelos de atuação pautados em fundamentos básicos profissionais. Caplan (1950) preconiza a necessidade do entendimento do conhecimento e a compreensão técnica psicoafetiva para perceber, valorizar e gerir os problemas gerados pela crise. Contudo, a sua incorporação deveria ser feita de maneira a não modificar a identidade profissional, preservando os objetivos e finalidades específicas que definem a especialidade em si mesma. Assim, fica a cargo de cada profissão de saúde, encontrar seu modelo formal de intervenção em crise, com ações mais padronizadas e que acrescente mais segurança aos seus representantes.
O Modelo Conceptual de Roy (1980), refere-se à pessoa como sendo um sistema adaptativo composto de dois subsistemas processadores internos – o regulador e o cognator, utilizados pelo indivíduo para se adaptar aos estímulos do ambiente. Compete a esses dispositivos preparar a pessoa para a luta (ataque ou fuga), bem como efetuar a identificação, acumulação e relação dos estímulos aos quais está submetida (Fawcett, 1984; Roy 1980; Mastal; Hammond, 1980). Os mecanismos referidos são ativados quando uma variação no ambiente (externo ou interno) acarreta mudanças no grau de satisfação de qualquer necessidade básica, acionando os comportamentos de luta da pessoa os quais se manifestam através de quatro modos adaptativos (o fisiológico, o autoconceito, o domínio de função e a interdependência) conforme a origem da necessidade afetada (Roy, 1980). Segundo Roy (1980), a reação proveniente da atividade dos mecanismos de luta resultaria numa reação adaptada ou mal adaptada, em consonância com a teoria da crise, a qual refere que a solução de um episódio crítico pode resultar para o indivíduo em padrões adaptativos ou mal adaptativos.
Conforme o terceiro princípio básico para a conservação do indivíduo como um todo (Levine, 1967), a ação do enfermeiro é essencialmente conservadora, procurando manter íntegro os mecanismos de defesa biopsicossociais fundamentais da pessoa. A percepção individual de si mesmo é afetada pela doença, provocando frequentemente uma mudança no ritmo de vida geradora de tensão e ansiedade e sendo uma ameaça ou perigo para os objetivos pessoais. A compreensão e aplicação deste conceito é imprescindível na tomada de decisões e estabelecimento de prioridades nos cuidados de enfermagem, pois é um parâmetro claro e objetivo de que a doença não afeta somente a parte física da Pessoa, urgindo, portanto, um cuidado holístico que o adapte a este evento inesperado. O enfermeiro surge como agente participador, influenciador e preconizador da alteração comportamental com o propósito de apoiar a pessoa na adaptação ao processo saúde-doença (Fagundes, 1983). Para agilizar o processo, é fundamental a interposição de habilidades e conhecimentos no curso destes acontecimentos.
Acreditando-se na possibilidade de atuação do enfermeiro ao nível da intervenção no processo de saúde-doença, é impreterível o reconhecimento instrumental teórico e prático específico para a assistência da pessoa em contexto pós-anestésico, podendo ser suportado pela Teoria das Transições de Afaf Meleis. Esta orientação do pensamento em enfermagem através da teoria supra referida enfatiza-se pelas respostas humanas envolvidas nas transições (Silva, 2007), nas quais os enfermeiros assistem às principais mudanças e às implicações causadas pelas transições, ao mesmo tempo em que são agentes efetivos do cuidado.
Transição radica do latim transitióne que significa o ato ou efeito de passar de um lugar, de um estado ou de um assunto para outro (Meleis, Sawyer, Im, Messias; Schumacher, 2010). Ao longo do ciclo vital, a pessoa experiencia estados e fases de mudança, caraterizadas por instabilidade que são precedidas e sucedidas por momentos de estabilidade (Meleis, 2012). Este reajuste contínuo necessita de ser mediado por processos psicológicos envolvidos na adaptação da mudança ou rutura (Murphy, 1990).
Meleis, Sawyer, Im, Messias; Schumacher (2010) desenvolveram uma teoria de médio alcance (Meleis, 2012) constituindo a transição o foco do seu quadro conceptual. Infere-se a complexidade e multidisciplinaridade das transições, caracterizadas pelo fluxo e o movimento ao longo do tempo e responsáveis por alterações de identidade, papéis, relacionamentos, habilidades e padrões de comportamento, envolvendo um processo de movimento e mudança fundamental nos estilos de vida e que se manifesta em todos os indivíduos (Meleis, Sawyer, Im, Messias; Schumacher, 2000); Im, 2011). Reconhece-se a existência de três constructos basilares: a natureza da transição, as condições de transição e os padrões de resposta. São elencados quatro tipos de transições particulares (Schumacher; Meleis, 2010; Im, 2011; Meleis, 2012):
- de desenvolvimento, que ocorrem ao longo do ciclo vital (adolescência e identidade sexual, envelhecimento e conceito de declínio funcional);
- situacionais, relacionadas com a mudança de papéis nos vários contextos em que a pessoa se insere (parentalidade, cuidar de um progenitor em fim de vida);
- de saúde-doença, que englobam as mudanças súbitas de papel resultantes da alteração de um estado de bem-estar para uma doença aguda ou crónica ou de um estado de cronicidade para um novo bem-estar;
- organizacionais, que ocorrem no contexto ambiental da pessoa e são precipitadas pelas mudanças ao nível do contexto social, político e económico (mudanças de liderança, implementação de novas políticas ou práticas).
Ainda sobre o fenómeno, foram definidas as propriedades para a experiência da transição: conhecimento/consciência, ajustamento/compromisso, mudança e diferença, eventos e acontecimentos críticos e período de experiência (Meleis, Sawyer, Im, Messias; Schumacher, 2000). A propriedade “conhecimento” encontra-se relacionada com a consciencialização da pessoa sobre a experiência que se encontra a vivenciar; é esperado que apresente ou desenvolva conhecimento sobre as alterações que ocorrem e que está a viver. Quando estas mudanças não são evidentes e observáveis, é posto em causa o início do processo de transição. O ajustamento reporta-se ao grau de envolvimento da pessoa nos processos inerentes à transição, sendo este grau influenciado pelo conhecimento que se detém sobre o seu processo de transição. A propriedade “mudança e diferença” salienta a distinção entre os conceitos de transição e mudança, já que uma transição envolve sempre uma mudança, enquanto o inverso não se verifica. É fulcral entender os significados que a pessoa lhe atribui e que podem ser obtidos através da explicitação de algumas das suas dimensões, tais como a natureza, a temporalidade, a perceção da importância ou severidade, as expectativas pessoais, familiares e sociais. A quarta propriedade deve-se ao facto das mudanças experienciadas serem desencadeadas por eventos e acontecimentos críticos, maioritariamente associados a uma consciencialização das mudanças e diferenças ou a um maior nível de ajustamento para lidar com a experiência de transição. O período de experiência, que é caracterizado por movimentações e fluxos ao longo do tempo, deve ser acompanhado pelos enfermeiros, no sentido de se obterem ganhos para a saúde (Meleis, Sawyer, Im, Messias; Schumacher, 2010).
É indispensável identificar os fatores facilitadores e inibidores que irão influenciar o decurso de uma dada experiência e estratificá-los em três tipos: pessoais, comunitários e sociais. Nas condições pessoais podem ser identificadas as significações dos acontecimentos que desencadeiam uma transição, o sentido e intencionalidade atribuída ao processo, as crenças e atitudes culturais, o nível socioeconómico, a experiência de sintomas psicológicos e as expectativas enunciadas. As condições comunitárias assumem os recursos que uma comunidade garante para facilitar (suporte de amigos, pares e familiares, as informações relevantes obtidas junto de profissionais de saúde, os conselhos de fontes fidedignas, os modelos de papéis e as respostas a dúvidas) ou inibir (insuficiência de recursos, falta de planeamento e a inadequação das sessões de educação para a saúde, suporte inadequado, conselhos não solicitados ou negativos, a informação insuficiente ou contraditória, os estereótipos e o confronto com o negativismo por parte dos outros) o decorrer das transições. Nas condições sociais podemos encontrar a marginalização, os estigmas e os papéis socialmente definidos, que se constituem como os principais condicionantes inibidores no contexto social (Meleis, Sawyer, Im, Messias; Schumacher, 2010; Schumacher; Meleis, 2010; Im, 2011).
Para auxiliar a avaliação do enfermeiro na compreensão do fenómeno de transição e valorar a experiência vivida pela pessoa, podem-se elencar determinados padrões de respostas que se codificam em dois tipos de indicadores: processuais e de resultado (Meleis, Sawyer, Im, Messias; Schumacher, 2000; Im, 2011). Os indicadores de processo particularizam a necessidade da pessoa de integração contextual, com a criação de novos significados e perceções e a reformulação das significações em relação ao ambiente que o envolve. Neste sentido, é dado ênfase à qualidade relacional, nomeadamente a estabelecida entre a pessoa em transição e o seu cuidador, da qual advêm as dimensões do autocuidado e do ser cuidado (Meleis, Sawyer, Im, Messias; Schumacher, 2010; Im, 2011). Conquanto Collière (2003) afirma que, ao longo da vida o cuidar e o cuidar-se sucedem-se como um facto inerente à existência humana, Meleis e colaboradores (Meleis, Sawyer, Im, Messias; Schumacher, 2010) alertam para a mobilidade de papéis comportar diferentes significados para as pessoas envolvidas e, neste sentido, estas deverão constituir-se como um dos focos para a prática da enfermagem. É este estado dinâmico que nos remete para a noção de adaptação ao meio envolvente, e, subsequentemente, para o desenvolvimento da confiança e coping, que ocorre quando se experiencia a transição, demonstrando um conhecimento mais aprofundado, e também, uma maior compreensão acerca dos aspetos essenciais e críticos (Meleis, Sawyer, Im, Messias; Schumacher, 2010).
Meleis, Sawyer, Im, Messias; Schumacher (2000) salientam dois tipos de indicadores de resultados: a mestria e as identidades flexíveis e integradoras. O primeiro indicador reporta-se ao desenvolvimento de competências e comportamentos durante o processo de transição, sendo que os níveis de mestria indicar-nos-ão os ganhos em saúde atingidos no decurso da experiência. O indicador relativo às identidades flexíveis e integradoras postula que uma transição saudável deve envolver uma reformulação da identidade da pessoa, da qual resulta a incorporação de novos conhecimentos com o objetivo de alterar os seus próprios comportamentos (Meleis, Sawyer, Im, Messias; Schumacher, 2000; Wilson, 1997 cit. por Davies, 2005). A avaliação dos indicadores de resposta permite a compreensão do processo de transição da pessoa e o seu reflexo nos domínios biopsicosocioculturais (Zagonel, 1999), o que encerra em si um cuidado holístico pela magnitude de aspetos envolvidos (Schumacher; Meleis, 2010; Kralik, Visentin e Van Loon, 2006).
O enfermeiro é, factualmente, o principal agente facilitador das transições experienciadas pela pessoa e família, com tónica interventiva sobre as mudanças e exigências que se refletem no quotidiano das mesmas (Meleis e Trangenstein, 2010; Meleis, Sawyer, Im, Messias; Schumacher, 2000). No entanto, a visão do enfermeiro deve ser considerada extemporânea pois segundo o modelo proposto por Meleis, Sawyer, Im, Messias; Schumacher (2000), a plenitude do entendimento processual surge através de quem experiencia a transição. É, neste ponto, que se evidencia o conceito de corporeidade de Merleau-Ponty (1994) porquanto as ações de enfermagem são dirigidas ao ser humano enquanto corpo e corporeidade, ou seja, ao corpo vivente na sua totalidade e é nessa situação de encontro/interação que acontece o cuidado. As estratégias de enfermagem devem ser sensíveis à compreensão da transição a partir da perspetiva de quem a experiencia, inferindo sobre as necessidades da pessoa/família (Zagonel, 1999), com foco na sua adesão e participação (Hesbeen, 2004).
Torna-se impreterível o estabelecimento de uma relação de ajuda, de aceitação e compreensão das experiências individuais e os significados que confere ao seu percurso, sendo basilar a permissão da expressão e a emersão dos conhecimentos da Pessoa/família cuidada, pois são a fonte privilegiada de informação (Benner, 2001; Collière, 2003). Posto isto, compete ao Enfermeiro empoderar a pessoa/família, através de um processo de aquisição de novas competências relacionadas com a experiência de transição (Meleis, Sawyer, Im, Messias; Schumacher, 2000), sublinhando a ação educativa e orientadora no domínio disciplinar da enfermagem (Benner, 2001).
Por conseguinte, o enfermeiro deve diferenciar a sua prática de cuidado através da apreensão do fenómeno transicional, tornando-se perito na análise da experiência do processo de saúde-doença. É de relevar que teóricos de enfermagem como Peplau, Travelbee, Roy, Rogers, Newman e Orem (cit. por Zagonel, 1999) fornecem estratégias de cuidado, objetivando a manutenção da saúde ou da promoção da saúde, que têm por base o crescimento e desenvolvimento pessoal, o encontro de significado à experiência da doença, a adaptação, a organização unitária emergente, a sua movimentação em contínua e permanente mudança, e, por fim, as modificações na capacidade de autocuidado (Zagonel, 1999). A enfermagem, enquanto ciência e disciplina. deve ser sensível aos múltiplos focos de interesse e intervenção no processo de transição, tendo presente a objetivação da facilitação da experiência individual através da construção de um plano de cuidados que permita a capacitação da pessoa/família (Swanson, 1991). Esta mestria na prática permite igualmente o desenvolvimento conceptual acerca dos recursos instrumentais e do meio envolvente (Schumacher; Meleis, 2010).
Considerações Finais
O capítulo discute a complexidade das transições vivenciadas pela pessoa em situação perioperatória no contexto pós-anestésico, destacando a importância crucial do papel do enfermeiro e reconhecendo a complexidade destes processos à luz da Teoria das Transições de Meleis. O cuidado transicional é colocado como um ponto central, destacando a necessidade de uma abordagem sensível às dimensões experiencial e ética da pessoa. Os questionamentos convidam à reflexão sobre a complexidade do processo de cuidar e sobre o papel do enfermeiro como agente ativo nesse processo, ressaltando a necessidade de uma abordagem relacional e interativa que reconheça e valorize a singularidade de cada momento de cuidado. A enfermagem apresenta-se como uma ciência sensível às múltiplas dimensões das transições, enfatizando-se a importância do desenvolvimento de planos de cuidados que promovam a adaptação e o empoderamento da pessoa/família.
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CAPÍTULO 22
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“THE DARK SIDE OF BEATS: THE RELATIONSHIP BETWEEN EMOTIONAL HEALTH AND CARDIOVASCULAR DISEASE.”
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.22
Submetido em: 04/03/2024
Revisado em: 04/03/2024
Publicado em: 05/03/2024
Eva Natalina Ferreira Costa
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro-UNIRIO, Rio de Janeiro-RJ
https://orcid.org/0000-0003-2673-6967
Ivo da Silva Soares
Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação – IBMR, Rio de Janeiro-RJ
https://orcid.org/0000-0001-7163-3073
Márcia Jaqueline Nunes de Souza
Universidade UNIREDENTOR – Polo Ictus Cordis, Magé-RJ
https://orcid.org/0000-0001-7499-4886
Mônica Alves de Oliveira.
Universidade UNIREDENTOR- Polo Ictus Cordis. São Gonçalo-RJ
https://orcid.org/0000-0002-8609-0603
César Ricardo do Espírito Santo Ferreira
Universidade UNIGRANRIO, Rio de Janeiro-RJ
https://orcid.org0009000599134432
Marcio Lopes de Araújo
Universidade UNIREDENTOR- Polo Ictus Cordis, Rio de Janeiro-RJ
https://orcid.org/0009-0004-3649-7204
Resumo
Objetivou-se discorrer sobre a relação entre ansiedade e as doenças cardiovasculares dentro dos serviços de emergência. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada através de busca nas bases de dados Pubmed Central, Portal de Periódicos da CAPES e Scientific Electronic Library Online, com os descritores: “Ansiedade”, “Doenças Cardiovasculares”, “Doenças do Aparelho Circulatório” e “Serviço Hospitalar de Emergência”, “Anxiety”, “Cardiovascular Diseases”, “Emergencies” e “Emergency Service, Hospital”, associados ao operador booleano AND e OR. Chegou-se a totalidade de 8 estudos para compor a revisão. Indivíduos com transtorno de ansiedade apresentam um maior fator de risco para o desenvolvimento de patologias cardiovasculares, como a insuficiência cardíaca, a doença arterial periférica, o acidente vascular cerebral e o diabetes mellitus tipo 2. Foi possível perceber que a ansiedade e as doenças cardiovasculares estão relacionadas de diversas formas, observando três tipos de relações diferentes entre as duas patologias.
Palavras-chave: Ansiedade; Doenças Cardiovasculares; Doenças do Aparelho Circulatório; Serviço Hospitalar de Emergência; Emergência.
Abstract
Keywords:
Introdução
Ao abordar a saúde emocional, a Organização Mundial da Saúde aponta que o Brasil possui as maiores taxas de transtorno de ansiedade do mundo. A ansiedade é um transtorno mental caracterizado por preocupação excessiva, medo, tensão e sintomas físicos, como palpitações, sudorese, falta de ar e tremores. Embora a ansiedade seja uma patologia mental, ela pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento e agravamento de outras patologias, possuindo uma relação com as Doenças Cardiovasculares (DCV)¹.
A relação entre a ansiedade e as doenças cardiovasculares é complexa e multifatorial. Níveis elevados de ansiedade podem levar ao aumento da pressão arterial, liberação de cortisol, alterações na função das plaquetas e aumento da inflamação no organismo, todos esses fatores podem contribuir para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares².
A ansiedade também pode ter um impacto negativo nos hábitos de vida saudáveis. Pessoas com ansiedade podem ser mais propensas a adotar comportamentos pouco saudáveis, como sedentarismo, alimentação inadequada, consumo excessivo de álcool e tabagismo, que são fatores de risco para doenças cardiovasculares. Por outro lado, algumas pessoas podem desenvolver ansiedade como resultado direto de problemas cardiovasculares. O diagnóstico de uma doença cardiovascular grave, como um ataque cardíaco, pode desencadear ansiedade, medo e preocupação com a saúde e a mortalidade³.
Ou seja, a relação entre ansiedade e as DCV é ampla, incluindo sentimentos de ansiedade decorrentes das mudanças de hábitos para o tratamento da patologia cardiovascular, do medo de ter uma doença crônica e receio pré e pós cirurgia, mas também é necessário apontar outro tipo de relação comumente observada, onde as crises de ansiedade são frequentemente confundidas com as DCV, então o paciente busca uma unidade de emergência por achar que está sofrente um infarto agudo do miocárdio, mas descobre que aqueles sintomas são proveniente de uma crise de ansiedade4.
Diante desse contexto, o estudo justifica-se perante a sua relevância científica e social, por abordar uma temática que envolve duas patologias com alta incidência na população, sendo assim, surge a necessidade de abordar sobre a relação entre essas duas situações e assim, identificar as formas de atuar frente a tais complexidades.
Compreendendo a temática em questão, objetivou-se discorrer sobre a relação entre ansiedade e as doenças cardiovasculares dentro dos serviços de emergência.
Metodologia
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com análise descritiva. Esse tipo de revisão visa sintetizar e analisar criticamente os resultados de estudos anteriores sobre um determinado tema, através da realização de seis etapas: a formulação de uma pergunta norteadora a ser respondida durante o estudo; a definição de critérios de inclusão e exclusão para seleção dos achados; a busca e seleção dos estudos relevantes e a extração dos dados; a análise, síntese e discussão dos resultados; e por fim, a apresentação da revisão5.
Considerando a temática abordada, estabeleceu-se a seguinte pergunta nortedora: “Qual a relação entre as doenças cardiovasculares e a ansiedade nos serviços de emergência?”
Para obtenção dos resultados, realizou-se pesquisas nas bases de dados: Pubmed Central (PMC), Portal de Periódicos da CAPES e Scientific Electronic Library Online (SciELO). A busca nas bases de dados ocorreu por intermédio dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Ansiedade”, “Doenças Cardiovasculares”, “Doenças do Aparelho Circulatório” e “Serviço Hospitalar de Emergência” ou por intermédio dos Medical Subject Headings (MeSH): “Anxiety”, “Cardiovascular Diseases”, “Emergencies” e “Emergency Service, Hospital”, associados ao operador booleano AND e OR, aplicando diferentes cruzamentos e estratégias de busca. Montou-se um quadro (Quadro 1) apresentando essas estratégias de cruzamentos, a base de dados pesquisada e a quantidade de estudos encontrados inicialmente.
Quadro 1. Cruzamentos utilizados nas bases de dados e quantidade de materiais obtidos, 2023.
CRUZAMENTO E ESTRATÉGIA DE BUSCA | BASE DE DADOS | MATERIAIS OBTIDOS COM A BUSCA INICIAL |
(Anxiety) AND (Cardiovascular Diseases)) AND (Emergency Service, Hospital) | PUBMED | 119 |
(Anxiety) AND (Cardiovascular Diseases) AND (Emergencies) | SciELO | 0 |
(Anxiety) AND (Cardiovascular Diseases)) | SciELO | 22 |
(Ansiedade) AND (Doenças Cardiovasculares) OR (Doenças do Aparelho Circulatório) AND (Serviço Hospitalar de Emergência) | CAPES | 108 |
No momento da seleção de quais materiais iriam compor o quadro de resultados, foi estabelecido alguns critérios de elegibilidade a serem considerados, incluindo critérios de inclusão e critérios de exclusão. Dentre os critérios de inclusão, cita-se: estudos disponíveis integralmente de maneira gratuita, publicados no idioma inglês, português ou espanhol e entre os anos de 2018 e 2023.
Em relação aos critérios de exclusão, foram excluídos os materiais pagos, incompletos, inconclusivos, resumos simples de eventos científicos, outras pesquisas bibliográficas, estudos que não abordavam a temática da revisão, duplicados em mais de uma das bases de dados, editoriais, cartas, monografias, teses e dissertações.
Inicialmente, após a busca dos descritores nas bases de dados descrita acima, aplicou-se os filtros iniciais para as primeiras exclusões, depois realizou-se a leitura dos títulos, resumos e palavras-chaves dos documentos encontrados. Posteriormente, seguiu-se para a leitura completa dos materiais selecionados, até obtenção dos resultados a serem inclusos nesse trabalho.
Todo esse processo de busca e seleção até obtenção da quantidade de resultados, foi apresentado em um fluxograma, baseado no protocolo PRISMA, para melhor visualização e compreensão do processo realizado.
Figura 1. Fluxograma de seleção dos achados, 2023.
Fonte: Autoria própria.
Resultados e Discussão
Chegou-se à totalidade de 8 estudos para compor a presente revisão. Esses materiais foram categorizados em um quadro (QUADRO 2), com as informações de autor, ano, objetivo do trabalho, tipo de estudo e principais achados relacionados ao objetivo.
Quadro 2. Descrição dos artigos selecionados segundo autor, ano, objetivo, tipo de estudo e principais achados, 2023.
AUTOR E ANO | OBJETIVO | TIPO DE ESTUDO | PRINCIPAIS ACHADOS |
Açikel
(2019) | Determinar os níveis de depressão e ansiedade em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica (CRM) no pré e pós-operatório. | Estudo clínico prospectivo | Em todos os pacientes de cirurgia de revascularização do miocárdio, os níveis de depressão e ansiedade aumentam durante o período pós-operatório. |
Aragão, Andrade, Neves, Aragão, Aragão e Reis
(2019) | Estimar a frequência de ansiedade e depressão em pacientes de ambos os sexos com doença arterial periférica, internados em hospital terciário. | Estudo descritivo, observacional e transversal | A prevalência de ansiedade nesses pacientes com DAP internados no serviço de cirurgia vascular do hospital terciário foi de 24,4%. Esse tipo de transtorno piora o prognóstico das doenças cardiovasculares. |
Garcia-Batista et al.
(2020) | Verificar os níveis de depressão, ansiedade e raiva em pessoas que sofreram infarto do miocárdio | Estuo de caso-controle | Os fatores psicológicos explicam a morbimortalidade por DCV, tanto no nível primário quanto no secundário. Dentre os fatores de risco psicológicos, depressão, ansiedade e raiva têm sido as variáveis mais estudadas. |
Garcia, Pompeo, Eid, Cesarino, Pinto e Gonçalves
(2018) | Identificar a presença do transtorno da compulsão alimentar em pacientes com doenças cardiovasculares e verificar sua relação com variáveis sociodemográficas, clínicas e presença de sintomas ansiosos e depressivos. | Estudo transversal, correlacional | Lidar com uma doença crônica pode influenciar para o aumento da ansiedade. Resultados importantes emergiram deste estudo, enfatizando a necessidade de implementar programas para melhorar a saúde mental e física dos pacientes em serviços de atenção primária e especializada. |
Knebel e Marin
(2018) | Investigar a percepção de profissionais psicólogos e de pacientes cardiológicos sobre fatores psicossociais associados à doença e possibilidades de manejo clínico psicológico. | Estudo transversal, descritivo-exploratório e qualitativo | Pacientes cardiológicos vivenciam angústia devido as mudanças decorrentes da doença e isso tende a gerar uma ansiedade. Devido a isso, os psicólogos incluíram a ansiedade como um fator psicológico associado a doença cardiovascular. |
Lemos e Agudelo-Vélez
(2018) | Verificar se existe um fator comum entre os sintomas de depressão, ansiedade e raiva-traço em pacientes com cardiopatia isquêmica.
| Estudo descritivo correlacional de coorte transversal | Os sintomas negativos, como os relacionados a ansiedade podem influenciar as doenças cardiovasculares, pois aumentam a atividade do sistema nervoso simpático e do eixo hipotálamos-pituitária-adrenal. |
Santos-Veloso, Melo, Cavalcanti, Bezerra, Chaves-Markman e Lima
(2019) | Estimar as proporções de prevalência de depressão e transtornos de ansiedade entre pacientes de um município do Nordeste brasileiro e associar sua ocorrência com fatores de risco cardiovasculares. | Estudo de coorte transversal | Indivíduos depressivos e ansiosos apresentaram maior frequência de hipertensão, obesidade e hiperlipidemia. A relação e prevalência de doenças cardiovasculares foi maior em pacientes com ansiedade isolada. |
Serpytis et al.
(2018) | Avaliar os níveis de depressão e ansiedade em pacientes com infarto do miocárdio no primeiro mês e avaliar a relação entre os fatores de risco para doença cardiovascular, indicadores demográficos e distúrbios emocionais, bem como determinar se existem diferenças ou semelhanças baseadas no sexo do paciente. | Estudo de campo com abordagem quantitativa | Foi determinado que a hipertensão arterial e o índice de massa corporal não estavam, de forma alguma, associados à ansiedade ou à depressão. |
A ansiedade é uma emoção comumente encontrada em pessoas com DCV. Quando essa ansiedade se torna persistente, tornando-se um transtorno de ansiedade, aponta-se que ela está associada ao surgimento de eventos cardiovasculares6. Confirmando tal afirmativa, alguns profissionais da psicologia elaboraram categorias quanto ao atendimento para o paciente com doença cardiovascular, onde uma dessas categorias foi “fatores psicossociais associados à doença cardiovascular” e especificaram a ansiedade como sendo um desses fatores7.
Verifica-se então que indivíduos com transtorno de ansiedade apresentam um maior fator de risco para o desenvolvimento de patologias cardiovasculares, como a insuficiência cardíaca, a doença arterial periférica, o acidente vascular cerebral (AVC) e o diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Tratando-se especificamente da DM2, a prevalência em pessoas com ansiedade apresenta-se em cerca de 5% superior quando comparado com a população geral8.
A relação entre ansiedade e diabetes é bidirecional. A ansiedade pode levar a flutuações nos níveis de glicose no sangue. O estresse e a ansiedade podem desencadear respostas hormonais e metabólicas que aumentam a produção de hormônios do estresse, como o cortisol, que podem elevar os níveis de açúcar no sangue. Por outro lado, o diabetes em si também pode contribuir para o desenvolvimento de ansiedade. Flutuações nos níveis de glicose no sangue podem afetar o humor e a estabilidade emocional. Além disso, preocupações com as complicações do diabetes, o medo de hipoglicemia ou hiperglicemia e a necessidade de lidar com as restrições impostas pelo tratamento podem aumentar os níveis de ansiedade9.
Um estudo aponta que a ansiedade está comumente relacionada a depressão, ou seja, a maioria das pesquisas estudam as duas juntas. Devido a isso, buscou-se compreender especificamente o transtorno de ansiedade e observou-se que os indivíduos com ansiedade isolada apresentavam um maior risco para o desenvolvimento de evento cardíaco, como a HAS, onde a prevalência em pacientes com depressão foi de 10%, a de ansiedade e depressão juntos foi de 4,5% e a de transtorno de ansiedade foi de 27% para a relação com doenças cardiovasculares8,10.
Ainda dentro dessa temática, outro estudo também relacionou a HAS com o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), discorrendo que as duas patologias foram associadas e que elas possuem uma relação a ser considerada11. Em contraposição a esses achados, outra pesquisa apontou que a hipertensão estava relacionada com o transtorno depressivo, mas que não tinha nenhuma relação com as crises de ansiedade12.
Aponta-se que o TAG piora o prognóstico das doenças cardiovasculares, pois provocam sofrimento mental. Da mesma forma que, a presença da ansiedade pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de alguma patologia relacionada ao sistema cardiovascular, pois um paciente ansioso geralmente apresenta um estilo de vida que não é adequado, com hábitos alimentares que não são saudáveis e a ausência de práticas físicas, que consequentemente, são fatores de risco para as patologias cardiovasculares11.
Existe ainda, outro tipo de relação entre a ansiedade e as doenças do sistema cardiovascular. Os autores apontam que muitas das pessoas acometidas por crises de ansiedade tendem a confundir a sintomatologia com outras patologias, como o infarto agudo do miocárdio, pois os sintomas são parecidos: taquicardia (aumento da frequência cardíaca), dormência ou formigamento e dor aguda na região do tórax. Então, o indivíduo busca o serviço de emergência por achar ser um infarto e acaba descobrindo que se trata de uma crise de ansiedade13-14.
Os altos índices de ansiedade também foram relacionados com as doenças cardiovasculares frente a necessidade de procedimento cirúrgico, onde a ansiedade foi maior durante o pós-operatório de cirurgias cardíacas. Os sintomas apresentados eram principalmente leves, com cerca de 46% dos pacientes e mais de 24% possuíam sintomas de ansiedade grave15. O autor15 também afirma que a ansiedade tende a ser maior no período pré-operatório devido ao tempo de espera, mas que no caso da sua pesquisa, o intervalo de espera foi curto, então a ansiedade foi maior após a cirurgia.
Sobre essa temática, um estudo refere que a ansiedade é comum antes de um procedimento cirúrgico e pode ser experimentado de várias maneiras, como preocupação, medo, tensão e inquietação. É importante reconhecer que a ansiedade pré-operatória é normal, mas em alguns casos, ela pode se tornar excessiva e interferir no bem-estar emocional e no processo de recuperação16.
Devido a tais problemáticas, evidencia-se a importância de criar, estimular e implementar programas voltados para a qualidade da saúde mental da população, para evitar o aparecimento de patologias mentais, como o Transtorno de Ansiedade. Ou seja, para lidar com a relação entre doenças cardiovasculares e ansiedade, é fundamental adotar uma abordagem integrada, incluindo o cuidado adequado da saúde cardiovascular e o gerenciamento da saúde mental17.
Considerações Finais
Foi possível perceber que a ansiedade e as doenças cardiovasculares estão relacionadas de diversas formas. Primeiro, o surgimento da ansiedade como consequência de ter uma doença crônica, preocupações com as complicações da patologia cardíaca, tratamentos complexos e necessidade de cirurgia, ou seja, é quando ocorre o desenvolvimento do transtorno de ansiedade como resultado das patologias do sistema cardiovascular
A segunda relação ocorre com a ansiedade sendo um fator prejudicial para as doenças cardiovasculares, pois os níveis elevados de ansiedade levam a liberação do hormônio do estresse, alteram as funções plaquetárias e consequentemente afetam o organismo, fator que tende a piorar o estado de saúde dos indivíduos. A ansiedade também é um fator prejudicial quanto aos hábitos de vida e tratamentos não medicamentosos, pois pessoas ansiosas tendem a não buscar hábitos saudáveis, ou seja, é quando a ansiedade piora a doença cardiovascular.
Por fim, a terceira relação identificada entre essas duas patologias ocorre quando o paciente confunde a sintomatologia das duas. Por apresentarem sintomas parecidos, o indivíduo apresenta uma crise de ansiedade, mas busca o serviço de emergência por achar que os sintomas são provenientes de um infarto.
Quanto as limitações, verificou-se a existência de poucos estudos que abordassem a terceira relação, sendo que, é uma situação comumente vivenciada por profissionais que atuam em serviços de urgência e emergência. Espera-se então que essa pesquisa possa contribuir como forma de estímulo para o desenvolvimento de novos estudos dentro dessa área.
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CAPÍTULO 23
ARCAS “ARTE DE RECORDAR E CELEBRAR ACONTECIMENTOS SIGNIFICATIVOS”: INTERVENÇÃO BASEADA NA TERAPIA DE REMINISCÊNCIA
ARCAS “ART OF REMEMBERING AND CELEBRATING SIGNIFICANT EVENTS”: INTERVENTION BASED ON REMINISCENCE THERAPY
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.23
Submetido em: 29/02/2024
Revisado em: 01/03/2024
Publicado em: 05/03/2024
Nancy Baptista Lopes
Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica,
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC-ULS), Coimbra, Portugal
https://orcid.org/0009-0007-8938-3421
Carlos António Laranjeira
Doutor em Ciências de Enfermagem
Professor Coordenador na Escola Superior de Saúde/ Center for Innovative
Care and Health Technology (ciTechCare), Politécnico de Leiria, Leiria, Portugal
https://orcid.org/0092359624562345782348
Resumo
A institucionalização da pessoa idosa envolve processos de elevada carga emocional, ocasionadas não só pelo desenraizamento do seu ambiente natural, mas também, pelas suas vulnerabilidades físicas e psicológicas. Este processo pode afetar a sua saúde mental, predispondo as pessoas idosas a fenómenos de solidão e depressão, que comprometem muitas vezes o seu bem-estar e consequentes níveis de saúde. Objetivo: Avaliar o impacto de uma intervenção especializada em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, baseada na Terapia de Reminiscência (TR), nos níveis de solidão, depressão e bem-estar psicológico de idosos institucionalizados numa Estrutura Residencial Para Pessoas Idosas (ERPI). Método: Estudo de natureza quantitativa, pré-experimental, com grupo único e avaliação pré e pós-intervenção. A colheita de dados decorreu através de um questionário sociodemográfico e de saúde, e da aplicação dos seguintes instrumentos: a) Escala da Solidão UCLA-16; b) Escala Geriátrica de Depressão – GDS-15; e, c) Escala de Ânimo do Centro Geriátrico de Philadelphia de Lawton. Resultados: Da análise dos dados obtidos, após a intervenção houve uma diminuiu dos níveis de depressão e solidão e um aumento dos níveis de bem-estar. Porém, apenas houve diferenças estatisticamente significativas (p=0,042) em relação à solidão. Conclusão: Este programa corrobora a importância de desenvolver programas na promoção da saúde mental e prevenção de complicações em idosos institucionalizados numa ERPI. Ressalva-se a necessidade de investir em estudos futuros de natureza experimental, com amostras de maior dimensão para aferir os ganhos em saúde.
Palavras-Chave: Idoso. Institucionalização. Terapia de Reminiscência. Solidão. Depressão. Bem-estar psicológico.
Abstract
The institutionalization of older people entails highly emotionally charged processes, caused not only by being uprooted from their environment, but also by their physical and psychological vulnerabilities. This process can affect their mental health, predisposing older people to loneliness and depression, which often compromise their well-being and consequent health levels. Objective: To evaluate the impact of a specialized intervention in Mental Health and Psychiatric Nursing, based on Reminiscence Therapy (RT), on the indicators of loneliness, depression, and psychological well-being in institutionalized elderly people in a Residential Structure for Older People (ERPI). Method: A quantitative, pre-experimental study with a single group and pre- and post-intervention evaluation. Data was collected through a sociodemographic and health questionnaire, and the application of the following instruments: a) UCLA-16 Loneliness Scale; b) Geriatric Depression Scale – GDS-15; and c) Lawton Geriatric Center of Philadelphia Mood Scale. Results: From the data analysis, after the intervention, there was a decrease in levels of depression and loneliness and an increase in levels of well-being. However, there were only statistically significant differences (p=0.042) concerning loneliness. Conclusion: This program corroborates the importance of developing programs to promote mental health and prevent complications in elderly people institutionalized in an ERPI. The need to invest in future studies of an experimental nature, with larger samples to assess health gains, is highlighted.
Keywords: Older people. Institutionalization. Reminiscence therapy. Loneliness. Depression. Psychological well-being.
Introdução
O número de pessoas idosas a nível mundial encontra-se em franco crescimento, constituindo-se Portugal como o quarto país mais envelhecido do mundo e de acordo com projeções internacionais, vigorará na lista dos países mundialmente mais envelhecidos pelo menos até 2050, estimando-se que atingirá os 300 idosos por cada 100 jovens em 2080 (LOPES et al., 2023).
O envelhecimento e a velhice constituem acontecimentos inexoráveis da natureza humana, que em muitos casos conduzem ao isolamento devido à inexistência de redes familiares ou de suporte; à precariedade das condições económicas e de habitação; ao baixo nível de escolaridade; à viuvez; vulnerabilidade física e psíquica; e, por fim, à dependência e problemas de saúde crónicos, com destaque para os processos de declínio cognitivo (MEDEIROS et al., 2020).
A família que antes era a principal responsável pelo cuidado dos idosos, hoje transfere estes cuidados para instituições específicas, com destaque para: a) a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI); e, b) a Rede de Serviços e Equipamentos Sociais (RSES) onde se incluem as ERPI, os Centros de Dia e os Serviço de Apoio Domiciliário para Idosos (SAD) (MINISTÉRIO DO TRABALHO, SOLIDARIEDADE E SEGURANÇA SOCIAL [MTSSS], 2021). Estas instituições, apesar de desempenharem um papel vital para a organização e funcionamento de uma sociedade envelhecida, enfrentam dificuldades económicas e de estigma público, dado configurarem estereótipos de “abandono” e de “morte” para os idosos.
As ERPI são instituições com um papel fundamental, na gestão das condições de saúde e prestação de cuidados pessoais especializados a idosos (GARDINER et al., 2020) estando bem posicionadas para a satisfação das necessidades físicas e de segurança. Todavia, menos dotadas para satisfazer as suas necessidades psicossociais mais complexas, em particular o envolvimento social, a prevenção da solidão e depressão (CHING-TENG et al., 2018; GARDINER et al., 2020). De sublinhar que os idosos institucionalizados podem apresentar maiores índices de depressão, ansiedade, isolamento social e solidão (CHING-TENG et al., 2019; GARDINER et al., 2020; BALCI et al., 2022).
Como estratégias de intervenção para a gestão destas manifestações, incluem-se as intervenções de cariz multimodal que incluem de forma integrada estratégias farmacológicas e/ou não farmacológicas (BALCI et al., 2022). Não obstante, importa salientar que as estratégias farmacológicas, nomeadamente o uso de medicamentos psicotrópicos podem originar efeitos adversos, tais como como: insónia, quedas, hiponatremia, depressão, fraturas e epilepsia. Por conseguinte, é importante dar-se primazia, sempre que possível, aos tratamentos não farmacológicos, tais como a educação para a saúde, aconselhamento e psicoterapias (BALCI et al., 2022). Outra das intervenções não farmacológicas com elevado potencial é a Terapia da Reminiscência (TR). Trata-se de uma intervenção psicoterapêutica que consiste na recordação de eventos, sentimentos e pensamentos do passado, contribuindo para a redução dos problemas emocionais, como ansiedade, depressão e solidão da pessoa idosa institucionalizada. Foram ainda identificados benefícios na qualidade de vida e bem-estar psicológico dos idosos (LI et al., 2023; BALCI et al., 2022; KOUSHA et al., 2020;). Esta terapia aplica-se a nível individual ou grupal e pode ser adaptada a diferentes níveis de cognição, habilidades dos idosos e realidades contextuais, tendo como propósito a prevenção de complicações negativas associadas ao envelhecimento, e/ou intervenção quando os processos patológicos estão já instalados (LI et al., 2023; GIL, 2020; GIL et al., 2018; GONÇALVES et al., 2008).
A implementação de intervenções baseadas na TR pode influenciar de forma positiva o bem-estar geral dos idosos, ou seja, pode melhorar a saúde cognitiva (a capacidade de pensar, aprender e recordar com clareza), reforçando a memória e concomitantemente pode ser útil em complementaridade a outros tratamentos, sendo recomendado o seu uso em idosos institucionalizados (KOUSHA et al., 2020).
A TR pode ser classificada em três categorias: 1) a reminiscência simples; 2) a revisão de vida; e, 3) a terapia de revisão de vida (LOPES et al., 2016). A reminiscência simples que consiste em recordar e partilhar memórias e histórias selecionadas pelas pessoas (narrativa autobiográfica não-estruturada), com o objetivo de melhorar o bem-estar, a autoestima e a interação social das pessoas num curto período de tempo. A revisão da vida carateriza-se por uma intervenção estruturada e sistematizada, centrando-se no ciclo vital da pessoa, promovendo a avaliação e integração de memórias positivas e negativas. É aplicada em pessoas que estão à procura de um propósito de vida ou que apresentam dificuldades em gerir transições ou adversidades nas suas vidas. Este tipo de TR visa otimizar aspetos da saúde mental, como a autoaceitação, mestria e o propósito de vida, estimulando as funções de reminiscência de construção da identidade e da resolução de problemas (WESTERHOF et al., 2010). Por último, a terapia de revisão da vida caracteriza-se por associar a revisão da vida com a clarificação dos fatores causais de doença mental. É uma intervenção psicoterapêutica mais formal e aprofundada direcionada para pessoas com doença mental grave (WESTERHOF et al., 2010). Muitas vezes, aplicam-se paralelamente outras técnicas, tais como a terapia cognitiva, a terapia baseada na resolução de problemas e/ou a narrativa.
Dado que em Portugal, são ainda escassos os programas de TR com pessoas idosas institucionalizadas, este estudo objetivou avaliar o impacto de uma intervenção especializada de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica (ESMP), baseada na TR de revisão de vida, nos indicadores depressão, solidão e bem-estar psicológico de um grupo de idosos institucionalizados numa ERPI.
Metodologia
- Design e participantes
O estudo é de natureza quantitativa, pré-experimental, com grupo único e avaliação pré e pós-intervenção. A amostra é de base institucional, constituindo-se por todas as pessoas idosas (≥ 65 anos) residentes numa ERPI da zona centro. Foram excluídos os idosos com défice cognitivo moderado a grave, de acordo o Mini Mental State Examination (MMSE) (MORGADO et al., 2009), ou que recusassem participar no programa ARCAS. A seleção da amostra foi intencional e seletiva tendo sido integrados cinco idosos institucionalizados numa ERPI da região centro de Portugal.
- Intervenção
As sessões de intervenção do programa ARCAS, foram sustentadas no Programa de Terapia de Reminiscência de STINSON (2009) e GIL et al. (2019). Recorreu-se à estimulação cognitiva com base na TR de revisão da vida mediante a estimulação das memórias autobiográficas de valência emocional positiva, com o objetivo de promover a identificação e a vivência de experiências relacionadas com o bem-estar eudemónico, como: a autonomia, o domínio do ambiente, o crescimento pessoal, o propósito na vida, as relações positivas com os outros e a autoaceitação.
O programa foi estruturado em oito sessões grupais de 60-90 minutos cada, tendo por base os princípios do guia orientador de boas práticas de intervenção psicoterapêutica de enfermagem proposto por SAMPAIO et al. (2023). Duas sessões de avaliação (0 e 8) (pré e pós-intervenção) e seis sessões de intervenção psicoterapêutica. As primeiras sessões (1, 2, 3) abordam a evocação de memórias relativas a uma etapa de vida específica: infância, adolescência e idade adulta e as últimas sessões (4, 5, 6) concentram-se na avaliação do conteúdo do percurso de vida de cada idoso, especificamente relacionamentos/eventos positivos, coping e superação de desafios, e, por fim, o propósito de vida. A periodicidade das sessões foi semanal, tendo decorrido entre setembro e novembro de 2023.
A implementação do programa decorreu em formato presencial. Em cada sessão, foram realizadas questões baseadas na TR de revisão da vida mediante a estimulação de memórias autobiográficas positivas (com a intenção do idoso, recuperar essas mesmas memórias, em vez de simplesmente contar os acontecimentos de forma espontânea ou intemporal) e de praticar a recordação autobiográfica de memórias (recorrendo técnicas cognitivo-comportamentais: narrativa, reconstrução de pensamentos automáticos negativos, técnica de resolução de problemas e mindfulness).
- Instrumentos
O instrumento de colheita de dados inclui quatro partes:
1) Questionário sociodemográfico e de saúde para caracterização da amostra;
- b) Escala da Solidão UCLA-16 (POCINHO et al., 2010) constituída por 16 itens de resposta do tipo likert (0= nunca a 4=frequentemente), e que permite avaliar sentimentos subjetivos de solidão geriátrica ou isolamento social. Na versão portuguesa do instrumento, uma pontuação global ≥32 é indicativa de sentimentos negativos de solidão (POCINHO et al., 2010).
3) Escala Geriátrica de Depressão – GDS-15, originalmente elaborada por Sheikh & Yesavage (1986) e validada para a população portuguesa por APÓSTOLO (2012). Determina a presença de sintomas depressivos durante a última semana, avaliando aspetos cognitivos e comportamentais tipicamente observados nos idosos com depressão (COSTA et al., 2022). A pontuação total dos itens é obtida da soma da pontuação nos 15 itens, variando entre 0 e 15 pontos. De acordo com APÓSTOLO (2012), pontuações de 0 – 5 correspondem a estados Normais e/ou sem Sintomatologia Depressiva; pontuações de 6 – 9 correspondem a Sintomatologia de Depressão Leve; e pontuações > 9 correspondem a Sintomatologia de Depressão.
4) Escala de Ânimo do Centro Geriátrico de Philadelphia de Lawton foi desenvolvida por Lawton (1975). O estado de ânimo é considerado como um conceito multidimensional de Bem-Estar Psicológico. PAÚL (2005) salienta, que o estado psicológico do idoso ao ser avaliado pelo respetivo ânimo/satisfação de vida, pode considerar-se como um indicador preciso do seu bem-estar. Esta escala foi validada para população idosa portuguesa por PAÚL (1992) e contém 14 itens que avaliam três aspetos do bem-estar psicológico dos idosos: Solidão-Insatisfação, Atitudes Face ao Próprio Envelhecimento e Agitação. O resultado total para cada participante é obtido pela soma das respostas, sendo que scores mais elevados indicam ânimo mais elevado, ou seja, maior satisfação com a vida, atitudes mais positivas inerentes ao envelhecimento, menor solidão/insatisfação e menor agitação.
- Procedimentos ético-formais
Foi preservada a confidencialidade e a privacidade dos participantes. Os dados obtidos e as informações encontram-se na posse exclusive do investigador, sendo usadas apenas no contexto de estudo. Foi obtido junto de cada participante o consentimento informado, escrito. Obteve-se parecer favorável (CE/IPLEIRIA/37/2023) emitido pela Comissão de Ética do Politécnico de Leiria para implementação do programa.
- Tratamento dos dados
A análise dos dados teve como recurso o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 28. Na primeira etapa, foi realizada a análise estatística descritiva, apresentado-se o resumo do conjunto de dados, visando a caracterização e/ou descrição da amostra e das variáveis em estudo. E na segunda etapa, contemplou-se a estatística inferencial, através de testes não-paramétricos, dada a falta de normalidade na distribuição das variáveis (MARÔCO, 2021).
Resultados e Discussão
A amostra em estudo é composta por cinco idosos institucionalizados numa ERPI. O grupo-alvo foi maioritariamente composto por participantes do sexo feminino (n=3), viúvos (n=3) e com uma média de idades de 82,2±11,77 anos (intervalo 65-93 anos). Quanto ao nível de escolaridade, a maioria (n=3) possui o 1º ciclo, sendo que um idoso possui o 2º ciclo, e outro não tem escolaridade.
No que concerne a presença de doença física e/ou psiquiátrica diagnosticada pode-se constatar que a maioria (n=4) tem doença física e apenas um idoso apresenta doença psiquiátrica. Relativamente aos motivos da institucionalização, três idosos ingressaram na ERPI por questões familiares e os restantes por questões de saúde. Quanto ao tempo de institucionalização, os participantes apresentam um tempo médio de 23,60 meses (intervalo 1-60 meses). No respeita à regularidade das visitas por parte de familiares ou pessoas próximas, os idosos referem ter visitas quatro vezes por mês (uma por semana). Apenas um idoso referiu não ter visitas. A sintomatologia depressiva dos idosos foi avaliada através da escala de Depressão Geriátrica (GDS-15), em dois momentos: pré e pós-intervenção. Os valores médios na linha baseline (7,80±4,09) são muito superiores aos verificados no pós-intervenção (5,80±2,49), constatando-se assim, uma melhoria na sintomatologia depressiva no pós-intervenção (Quadro 1).
Quadro 1 – Estatística descritiva referente a sintomatologia depressiva dos idosos no pré e pós-intervenção e efeito da intervenção nas variáveis em estudo (Teste de Wilcoxon).
| DP | Md | Mínimo | Máximo | Z | p | |
GDS Pré-intervenção | 7,80 | 4,09 | 9 | 2 | 13 | -0,674 | 0,500 |
GDS Pós-intervenção | 5,80 | 2,49 | 4 | 4 | 9 |
Fonte: Elaboração própria.
A tabela 1, permite constatar que na primeira avaliação, 60% dos idosos tinha sintomatologia depressiva moderada/grave e apenas 20% sem alterações (normal). Por outro lado, no pós-intervenção, apenas 20% tinham sintomatologia moderada e 60% sem alterações (normal).
Tabela 1 – Distribuição dos idosos segundo a sintomatologia depressiva no pré e pós- intervenção
Depressão (GDS) | Pré-intervenção | Pós-intervenção | ||
Nº | % | Nº | % | |
Normal (0-4) | 1 | 20,0 | 3 | 60,0 |
Ligeira (5-8) | 1 | 20,0 | 1 | 20,0 |
Moderada (9-11) | 2 | 40,0 | 1 | 20,0 |
Grave (12-15) | 1 | 20,0 | – | 0,0 |
Total | 5 | 100,0 | 5 | 100,0 |
Fonte: Elaboração própria.
Relativamente à perceção da solidão, constatou-se que os idosos percecionam menor solidão após a intervenção o que corrobora a evidência disponível (SAHU et al. 2019) (Quadro 2).
Quadro 2 – Estatística descritiva referente a solidão dos idosos no pré e pós-intervenção e efeito da intervenção nas variáveis em estudo (Teste de Wilcoxon)
| DP | Md | Mínimo | Máximo | Z | p | |
UCLA-16 Pré-intervenção | 38,80 | 9,01 | 35 | 31 | 49 | -2,032 | 0,042 |
UCLA-16 Pós-intervenção | 33,00 | 8,46 | 30 | 25 | 47 |
Fonte: Elaboração própria.
Na tabela 2, constata-se cerca de 60% dos idosos no pré-intervenção percecionavam sentimentos de solidão, por outro lado, após a intervenção essa percentagem desceu para 40%.
Tabela 2 – Distribuição dos idosos segundo sentimentos solidão no pré e pós-intervenção
Solidão (UCLA-16) | Pré-intervenção | Pós-intervenção | ||
Nº | % | Nº | % | |
Normal (< 32) | 2 | 40,0 | 3 | 60,0 |
Solidão (≥32) | 3 | 60,0 | 2 | 40,0 |
Total | 5 | 100,0 | 5 | 100,0 |
Fonte: Elaboração própria.
Face ao bem-estar percecionado pelos idosos, no global da escala, podemos observar na avaliação pós-intervenção que os idosos percecionam um aumento dos níveis de bem-estar face aos níveis baseline (Quadro 3). Esta tendência mantém-se em todas as dimensões, exceto na agitação que diminui. Estes resultados permitem afirmar que os idosos, após o programa de intervenção, evidenciam melhores índices de bem-estar e consequentemente uma melhor qualidade de vida (LI et al., 2023; TAM et al., 2021). O impacto tem ainda reflexos na aceitação do próprio envelhecimento que diz respeito ao percurso vivencial de cada indivíduo, incluindo o do momento atual, numa comparação entre o passado e o presente (atitudes); na evolução do humor, expressas no comportamento ansioso (agitação); e, por fim, no que se refere aos sentimentos e emoções negativas (solidão/insatisfação).
Quadro 3 – Distribuição dos idosos segundo a perceção de bem-estar no pré e pós- intervenção e efeito da intervenção nas variáveis em estudo (Teste de Wilcoxon)
Bem-estar | Pré-intervenção | Pós-intervenção | Z | p | ||||||
DP | Min. | Máx. | DP | Min. | Máx. | |||||
Solidão/Insatisfação | 1,60 | 1,34 | 0 | 3 | 2,20 | 0,84 | 1 | 3 | -0,756 | 0,450 |
Atitudes envelhecimento | 1,60 | 0,89 | 1 | 3 | 2,00 | 1,00 | 1 | 3 | -0,816 | 0,414 |
Agitação | 2,00 | 1,00 | 1 | 3 | 1,80 | 1,30 | 1 | 4 | -0,447 | 0,655 |
Global | 5,20 | 2,78 | 2 | 9 | 7,80 | 2,68 | 6 | 12 | -1,753 | 0,080 |
Fonte: Elaboração própria.
Na sua globalidade, os dados obtidos revelaram uma melhoria nos níveis de sintomatologia depressiva, solidão e bem-estar dos idosos residentes numa ERPI, os quais traduzem ganhos em saúde mental associados à implementação do programa ARCAS (SHROPSHIRE, 2020). Com a implementação do programa constatou-se que as alterações do foro mental identificadas nos idosos institucionalizados numa ERPI, foram semelhantes às referenciadas na literatura consultada (FU et al., 2020; LI et al., 2023; BALCI et al., 2022; ELIAS et al., 2015; TAM et al., 2021).
Apesar de não ser possível generalizar os resultados dado o tamanho amostral foi encorajador verificar que o programa ARCAS baseado na TR de revisão de vida teve um impacto positivo na solidão, corroborando resultados idênticos em estudos que utilizaram a Escala de Solidão da UCLA e que relataram que a solidão diminuiu após a TR (LIU et al., 2021). Apesar de não ter sido identificadas resultados estatisticamente significativos nas variáveis depressão e bem-estar, ocorreu um incremento positivo destas duas variáveis pós-intervenção. Assim, a TR é uma intervenção promissora, com impacto no alívio os sintomas de depressão, aumento do bem-estar psicológico e redução do sentimento de solidão pelas pessoas idosas (LIU et al., 2021).
Considerações Finais
A pessoa idosa, ao chegar a uma instituição, vem acompanha de uma história de vida, a qual geralmente, é secundarizada pelo processo de institucionalização, levando-a a experienciar processos de isolamento, solidão, depressão e ansiedade (GARDINER et al., 2020). Torna-se assim, evidente a capacitação da equipa multidisciplinar para incluir nos seus programas de formação, estratégias de promoção da literacia em saúde mental e incentivo à criação de ambientes físicos e sociais protetores e potenciadores da integração e da participação das pessoas idosas na ERPI, que visem minimizar o impacto da institucionalização e suas complicações, promovendo o bem-estar da pessoa e família. Esta premissa está alinhada com o Plano de Ação de Envelhecimento Ativo e Saudável sustentado na Estratégia Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável 2017-2025 (COSTA et al., 2017).
Na esteira deste pensamento, o investimento na intervenção precoce ao nível da promoção da saúde mental da pessoa idosa institucionalizada, com recurso a intervenções não farmacológicas, é cada vez mais importante (BALCI et al., 2022). Deste modo, é premente desenvolver cuidados especializados na área de ESMP, que auxiliem e preparem a pessoa idosa, para as transições inerentes ao seu processo de envelhecimento e situações de saúde/doença, nomeadamente, em contextos de institucionalização, visando a sua máxima independência, manutenção da saúde e proteção da sua dignidade (GOMES, 2019; NUNES et al., 2021).
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CAPÍTULO 24
PROMOÇÃO DA COMPETÊNCIA EMOCIONAL NOS ENFERMEIROS QUE CUIDAM DE PESSOAS EM FIM DE VIDA: INTERVENÇÃO ESPECIALIZADA EM ENFERMAGEM DE SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA
PROMOTING THE EMOTIONAL COMPETENCE IN NURSES WHO CARE FOR PEOPLE AT THE END OF LIFE: SPECIALIZED INTERVENTION IN MENTAL HEALTH AND PSYCHIATRIC NURSING
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.24
Submetido em: 19/08/2024
Revisado em: 04/09/2024
Publicado em: 10/09/2024
Adriana Argüelles
Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica,
Unidade Local de saúde de Lezíria, Hospital de Santarém, Santarém, Portugal
https://orcid.org/0009-0008-6961-2650
Carlos António Laranjeira
Doutor em Ciências de Enfermagem,
Professor Coordenador na Escola Superior de Saúde/ Center for Innovative Care and Health Technology (ciTechCare), Politécnico de Leiria, Leiria, Portugal
https://orcid.org/0000-0003-1080-9535
Resumo
O enfermeiro é o profissional que mais próximo se encontra da morte e do sofrimento humano, como tal é importante que este reflita sobre a influência que essa proximidade tem no seu estado emocional, com o objetivo de proteger, melhorar e preservar a dignidade humana, o qual só poderá ser demonstrado e praticado sob uma relação interpessoal. Objetivo: capacitar um grupo de enfermeiros, para a promoção de competência emocional face ao doente em fim de vida, através de uma intervenção especializada em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica. Método: estudo de natureza quantitativa, pré-experimental, com um grupo único e avaliação pré e pós intervenção. A colheita de dados decorreu através de um questionário sociodemográfico, e da aplicação dos seguintes instrumentos: Escala Veiga de Competência emocional-Reduzida, Escala de Avaliação do Perfil de Atitudes acerca da Morte, Escala de Coping com a Morte. Resultados: Após a intervenção, observou-se um aumento no score global da competência emocional, assim como uma mudança no perfil de atitudes acerca da morte. Porém, apenas houve diferenças estatisticamente significativas em relação à escala de coping com a morte, no fator “coping com a própria morte” (Z=1,963; p< 0,05). Conclusão: Este programa corrobora a importância de desenvolver programas de capacitação para a competência emocional dos enfermeiros na prestação de cuidados à pessoa em fim de vida, uma vez que ao ser capaz de estabelecer uma relação honesta consigo mesmo e compreender as suas atitudes\coping face a morte, consegue uma melhor avaliação do cuidado prestado.
Palavras-chave: enfermeiros, competência emocional, fim de vida, saúde mental, intervenção especializada
Abstract
The nurse is the professional who is closest to death and human suffering, as such it is important that they reflect on the influence that this proximity has on their emotional state, with the aim of protecting, improving and preserving human dignity, the which can only be demonstrated and practiced under an interpersonal relationship. Objective: to train a group of nurses to promote emotional competence towards patients at the end of life, through a specialized intervention in Mental and Psychiatric Health Nursing. Method: Quantitative, pre-experimental study, with a single group and pre- and post-intervention evaluation. Data collection took place through a sociodemographic questionnaire, and the application of the following instruments: Veiga Scale of Emotional Competence-Reduced, Scale for Assessment of the Profile of Attitudes towards Death, Scale for Coping with Death. Results: After the intervention, an increase in the global score of emotional competence was observed, as well as a change in the profile of attitudes towards death. However, there were only statistically significant differences in relation to the coping with death scale in the factor “coping with one’s own death” (Z=1,963; p< 0,05). Conclusion: This program corroborates the importance of developing training programs for nurses’ emotional competence when providing care to people at the end of life, since being able to establish an honest relationship with themselves and understand their attitudes\coping face death, achieves a better assessment of the care provided.
Keywords: nurses, emotional competence, end of life, mental health, specialized intervention
Introdução
A vivência da morte, enquanto parte integrante do ciclo de vida do ser humano, tem vindo a sofrer mudanças ao longo do tempo. Se no período medieval e idade média a morte era vista como um assunto “doméstico”, onde morrer cercado pelos entes queridos e comunidade era considerada uma boa morte (SILVA, 2019). Com o avanço do pensamento racional, e o iluminismo este paradigma sofreu alterações a partir do séc. XIX. A morte deixou de ser partilhada em família e em contexto doméstico e passou a ser vivenciada nos hospitais, o que levou à dessocialização dos processos de morte e de morrer (SILVA, 2019; PAIS et al., 2020).
A evolução científica dos séc. XVI e XVIII, transformou o corpo em objeto de análise. A ideia de que o ser humano podia dominar a natureza pela ciência estendeu-se à estratégia da medicina em controlar a morte e, portanto, prolongar a vida (SILVA, 2019). Com efeito, a medicina tenta afastar-se de elementos intrínsecos à natureza humana: a consciência da fragilidade e a certeza da morte. Embora a morte seja uma presença constante no quotidiano hospitalar, há um conluio em torno do silêncio (LEMUS-RISCANEVO, CARREÑO-MORENO; ARIAS-ROJAS, 2019) Daqui decorrem diversas consequências: a) a solidão do doente no seu processo de morrer; b) a solidão da equipa de cuidados diante dos seus próprios medos e angústias; c) o isolamento da família; e, d) um comprometimento do processo de ritualização da morte, elevando o risco de luto prolongado (LEDERMAN, 2024).
Os enfermeiros confrontam-se com o sofrimento e a inevitabilidade da morte, pelo que todas as intervenções de enfermagem têm obrigatoriamente um caracter ativo de conforto. Por outro lado, aos cuidados à pessoa doente, não se podem dissociar da família ou de quem cuida, assumindo-os como parte integrante dos cuidados. A evidência disponível refere que os sentimentos dominantes dos profissionais quando cuidam de pessoas em fim de vida envolvem o medo, a angústia, a tristeza, a frustração, o fracasso e a ansiedade (CYBULSKA et al., 2022). Diversos estudos têm abordado as atitudes dos profissionais face à morte, bem como essas atitudes determinam as suas tomadas de decisão, assim como a sua atuação e comportamento face à pessoa em fim de vida (CARDOSO et al., 2021).
Desta forma, devido ao impacto que a morte origina no profissional, a resiliência torna-se uma das principais competências para lidar com a ansiedade em torno do cuidado à pessoa em fim de vida. Torna-se por isso necessário compreender as atitudes do profissional face a morte, permitindo uma melhor avaliação da competência emocional (CE) neste cuidar (CYBULSKA et al., 2022). A aprendizagem e desenvolvimento emocional assumem-se, assim, como um vetor importante na vida do ser humano, ajudando-o a vivenciar o dia-a-dia com ênfase na capacidade intelectual e no estabelecimento de relações interpessoais significativas para a harmonia interior de cada ser.
Estudos recentes têm demonstrado a relevância e pertinência do desenvolvimento de programas na área da promoção da CE, uma vez que as consequências relacionadas com a morte podem originar danos no profissional, modificando o seu bem-estar e interferindo negativamente na sua vida pessoal e profissional (PAIS et al., 2020; KOSTKA; BORODZICZ; KREMINSKA, 2021). Paralelamente, a evidência sugere que os enfermeiros apresentam escassa formação relacionada com a gestão das emoções perante a morte das pessoas que cuidam, e que essa capacidade pouco consolidada interfere na qualidade dos cuidados prestados através da minimização ou não diagnóstico do sofrimento da pessoa e família, o que se reflete em cuidados rotineiros e tecnicistas (PAIS et al., 2020). Assim, a CE é considerada como um importante alicerce no desempenho profissional uma vez que as emoções são responsáveis pela adaptação às exigências ambientais e influenciam os processos cognitivos (perceção, pensamento, tomada de decisão, linguagem, crenças, motivação, aprendizagem, memória, comportamentos, atitudes e intenções) (PAIS et al., 2020), demonstrando desta forma o seu impacto direto na qualidade dos cuidados prestados à pessoa em fim de vida.
Tendo em consideração o descrito, podemos fundamentar a relevância da CE, com especial enfoque nas vivências do enfermeiro perante a morte e o processo de morrer (CARDOSO et al., 2021). Considerando a Enfermagem como uma ciência relacional, experiencial e transpessoal, na qual a pessoa é encarada como um Ser, a quem é devido a oportunidade de escolher livremente, em interação mútua com o que a rodeia, foram introduzidos os contributos do modelo do relacionamento interpessoal de Hildegard Peplau e a Teoria de Fim de Vida Tranquilo de Cornelia Ruland e Shirley Moore (HANSEN, 2018).
A competência emocional (CE), define-se na literatura como um conjunto de capacidades que visam identificar e compreender tanto as emoções pessoais como as dos outros (DRIGAS; PAPOUTSI, 2018; ALSUFYANI; BAKER; ALSUFYANI, 2020; ALGHAMDI et al., 2021). O desenvolvimento do conhecimento acerca das emoções facilita a tomada de decisão, auxilia na gestão das emoções e na relação com a pessoa cuidada, assim como promove a resolução de problemas e gestão de conflitos (LAMPREIA-RAPOSO et al., 2023).
A CE assume eco no agir profissional, dado que potencia o desenvolvimento emotivo-intelectual do enfermeiro (estabilidade e segurança emocionais), e promove a literacia emocional dos doentes, criando assim relações repletas de compaixão entre quem cuida e quem está sendo cuidado (SUIKKALA et al.,2021). Considerando que o contexto de fim de vida é repleto de sentimentos, sensações e emoções difíceis de gerir pelos profissionais de saúde, torna-se fundamental capacitar para a CE na prestação de cuidados nesta fase do ciclo vital. Desta forma, torna-se necessário investir no desenvolvimento emocional das equipas, reconhecendo a sua relevância na qualidade dos cuidados prestados.
Assim, o presente estudo teve como objetivo capacitar um grupo de enfermeiros, para a promoção de competência emocional face ao doente em fim de vida, através de uma intervenção especializada em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica.
Metodologia
- Design e participantes
Estudo de natureza quantitativa, pré-experimental, com um grupo único e avaliação pré e pós-intervenção. A amostra é de base institucional, constituindo-se pelos enfermeiros a exercer atividade assistencial num serviço de especialidades médicas de um hospital do centro de Portugal. Foram excluídos os enfermeiros que estivessem de baixa ou férias no período de implementação do projeto ou que fossem os enfermeiros em funções de gestão em exclusividade.
- Intervenção
O programa formativo foi composto por sete sessões presenciais, de natureza grupal, com aproximação aos princípios da intervenção psicoeducacional. A periodicidade do programa foi semanal, e seguiu a sequência cognitivo-comportamental no planeamento das estratégias promotoras da CE.
A componente educativa visou: a) capacitar para relevância da comunicação verbal e não-verbal; b) alertar para as medidas preventivas e antecipatórias dos comportamentos agressivos; c) reforçar para a importância do autocontrolo e da assertividade; d) enfatizar a empatia como pilar dos cuidados humanizados; e) informar sobre os diversos tipos de luto, dando destaque ao luto profissional; e, por fim, f) informar sobre as estratégias promotoras de autocuidado e bem-estar. A componente de suporte usou uma metodologia experiencial através do uso das narrativas e da regulação emocional associadas à prestação de cuidados à pessoa em fim de vida.
Foram desenvolvidas duas sessões (0 e 7) para a avaliação pré e pós-intervenção, e cinco sessões nucleares, estruturadas de acordo com as capacidades inerentes à CE. O desenvolvimento da CE é fundamental para os profissionais de saúde uma vez que estes se encontram frequentemente expostos a uma carga emocional significativa capaz de provocar exaustão emocional prolongada, e que origina consequências adversas tanto para a saúde mental dos profissionais como para a qualidade dos cuidados prestados (CONVERSANO et al., 2020). A literatura demonstra que as técnicas de mindfulness são eficazes no desenvolvimento da CE, uma vez que fomentam a capacidade de vivenciar o momento presente, aceitando-o sem julgamento (CONVERSANO et al., 2020; JIMÉNEZ-PICÓN et al., 2021). O aumento da autoconsciência resulta numa perceção mais lúcida de si próprio, capacitando a pessoa com estratégias de coping adaptativas. O mindfulness atua em três sistemas, sendo eles: a atenção; a regulação emocional; e, a autoconsciência. Neste sentido, o desenvolvimento da CE influencia positivamente o bem-estar dos profissionais de saúde, através do aumento da resiliência, empatia e autocompaixão, bem como na redução do stresse, e no aumento da satisfação laboral (CONVERSANO et al., 2020; JIMÉNEZ-PICÓN et al., 2021; SULOSAARI; UNAL; CINAR, 2022).
- Instrumentos
O instrumento de colheira de dados inclui quatro partes:
- Questionário sociodemográfico para caracterização da amostra;
- Escala Veiga de Competência emocional – Reduzida [EVCE-Reduzida] (VEIGA-BRANCO, 2021): composta por 33 itens divididos em cinco subescalas, sendo que cada subescala corresponde a uma competência emocional (autoconsciência, gestão de emoções, automotivação, empatia e gestão de relacionamentos). Os itens são avaliados segundo uma escala tipo likert de 1 a 7 pontos e são considerados três níveis de competência emocional: baixo entre 1 e 3,49; moderado entre 3,50 a 5,45, elevado entre 5,46 e 7. A escala apresenta uma boa consistência interna com um alfa de cronbach global de 0,86 (VEIGA-BRANCO, 2021).
- Escala de Avaliação do Perfil de Atitudes acerca da Morte (EAPAM) (LOUREIRO, 2010): composta por 32 itens que se subdividem em cinco dimensões/atitudes acerca da morte, sendo elas: o medo (itens 1,2,7,18,20,21,32), o evitamento (itens 3,10,12,19,26), a aceitação neutral/neutralidade (itens 6,14,17,24,30), a aceitação como aproximação (itens 4,8,13,15,16,22,25,27,28,31), e, por fim, aceitação como escape (itens 5,9,11,23,29). Trata-se de um instrumento de autorrelato numa estrutura tipo likert com sete possibilidades de resposta (1=discordo totalmente a 7=concordo completamente). Para cada dimensão, uma pontuação média da escala pode ser calculada dividindo a pontuação total da escala pelo número de itens que formam cada subescala. O score total da escala varia entre 32 e 224. A escala apresenta uma boa consistência interna, com um alfa de cronbach de 0,84 para a dimensão medo, 0,87 para dimensão evitamento, 0,64 para a dimensão aceitação/neutralidade, 0,91 para a dimensão aproximação, e, por fim, 0,82 para a dimensão aceitação por escape (LOUREIRO, 2010).
- Escala de Coping com a Morte (ECM) (CAMARNEIRO; GOMES, 2015): composta por 26 itens que abordam diversos aspetos do lidar com a morte, avaliados através de uma escala de respostas do tipo likert (1= discordo totalmente a 7= concordo totalmente). Organiza-se em dois fatores, sendo o primeiro relativo ao “coping com a própria morte” e que aborda a expressão, conhecimento e compreensão das emoções; e, o segundo relativo ao “coping com a morte dos outros” o qual se relaciona com o aumento das competências para comunicar com, e/ou ajudar os doentes terminais e respetivos familiares. A pontuação varia entre 26 e 182. Fala-se de baixa capacidade de coping quando a pontuação da escala é inferior a 33, boa capacidade de coping quando a pontuação é superior a 66, e de coping neutro, quando a pontuação é entre 33 e 66. Relativamente às características psicométricas, o instrumento demonstrou ter uma consistência interna adequada (CAMARNEIRO; GOMES, 2015).
- Procedimentos ético-formais
O protocolo referente ao projeto recebeu parecer favorável da comissão de ética da instituição envolvida (CE16\08\2023), tendo sido assegurada a privacidade e confidencialidade dos dados, assim como o direito de os participantes abandonarem a investigação sem qualquer penalização.
- Tratamento de dados
Para análise dos dados recorreu-se ao software SPSS (versão 28.0) com recurso a estatísticas descritivas número (n), percentagem (%), média (M), desvio padrão (Dp), mínimo (Min) e máximo (Max). Na primeira etapa foi realizada a análise estatística descritiva com o resumo do conjunto de dados, com o objetivo de caracterizar a amostra e as suas variáveis e na segunda etapa para averiguar as diferenças nas variáveis, aplicou-se o teste de Wilcoxon (teste não paramétrico para amostras emparelhadas) por se verificar normalidade na distribuição das variáveis de interesses.
Resultados e Discussão
A amostra foi composta por 11 profissionais. Da breve caracterização da amostra verifica-se que a maioria dos inquiridos era do sexo feminino (90%) com idades compreendidas entre os 26 e os 50 anos, com uma média de 36±7,98 anos de idade. Quanto à afiliação religiosa, 54,5% (n=6) dos participantes é católico. Cerca de 72% (n=5) dos participantes são licenciados, 18,1% (n=2) são detentores do título de especialista em Enfermagem de Reabilitação e 9,1% (n=1) tem o título de mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica. De realçar que maioria dos participantes exercem funções em média a 11±6,37 anos. Apenas 36,3% (n=4) têm formação específica em cuidados paliativos.
Verificou-se da avaliação inicial que a equipa apresentava um perfil de competência emocional moderado (score médio global de 4,96), sendo que capacidade empática (5,27) e a autoconsciência (5,20) são as capacidades com um nível mais elevado de percepção. Por outro lado, a automotivação (5,05), a gestão de emoções (4,72) e a gestão de relacionamentos (4,58) são as capacidades com níveis baixos (Tabela 1).
Tabela 1: Estatística descritiva da EVCE-Reduzida (pré-intervenção).
EVCE-Reduzida | Mínimo | Máximo | Mediana | Média (score médio) | Desvio padrão | |
Capacidades | Autoconsciência | 30 | 50 | 45,00 | 41,64 (5,20) | 7,31 |
Gestão de emoções | 24 | 45 | 34,00 | 33,09 (4,72) | 6,07 | |
Automotivação | 29 | 48 | 34,00 | 35,36 (5,05) | 5,52 | |
Empatia | 20 | 35 | 26,00 | 26,36 (5,27) | 4,41 | |
Gestão de relacionamentos | 24 | 34 | 27,00 | 27,45 (4,58) | 3,39 | |
Total | 127 | 212 | 166,00 | 163,9 (4,96) | 26,70 |
Fonte: Elaboração própria.
Paralelamente, foi possível verificar que o grupo-alvo revelou valores médios favoráveis de coping face á morte (M=131,73, Dp=20,62). Tendo em consideração que o instrumento avalia tanto o “coping com a própria morte” como o “coping com a morte dos outros”, foi possível observar que a equipa apresenta boa capacidade de coping com a morte dos outros (ou seja, possui competências para comunicar com, e/ou ajudar os doentes terminais e os seus familiares) e menor capacidade de “coping com a própria morte” (que aborda a expressão, conhecimento e compreensão das próprias emoções) (Tabela 2).
Tabela 2: Estatística descritiva da ECM (pré-intervenção).
ECM | Mínimo | Máximo | Média | Mediana | Desvio padrão |
Coping com a morte dos outros (12 itens) | 57 | 82 | 67,82 | 66,00 | 6,385 |
Coping com a própria morte (14 itens) | 40 | 83 | 63,91 | 62,00 | 14,24 |
Total | 97 | 165 | 131,73 | 128,00 | 20,62 |
Fonte: Elaboração própria.
Por fim, relativamente às cinco dimensões\atitudes acerca da morte, a equipa apresenta valores mais elevados na atitude de aceitação neutral (M=5,55), ou seja, existe a aceitação da morte como um fato da vida e o objetivo é tirar o melhor proveito da vida, implicando, por isso, uma atitude de indiferença ou ambivalência face à morte. Em seguida a atitude com scores mais elevados corresponde à aceitação por aproximação (M=3,96), seguida do medo (M=3,82), aceitação como escape (M=3,05), e, por fim, o evitamento (M= 2,69) que foi a dimensão menos pontuada (Tabela 3).
Tabela 3: Estatística descritiva da EAPAM (pré-intervenção).
EAPAM | Mínimo | Máximo | Média (score médio) | Mediana | Desvio padrão |
Medo | 8 | 44 | 26,73 (3,82) | 27,00 | 11,71 |
Evitamento | 6 | 27 | 13,45 (2,69) | 12,00 | 7,93 |
Aceitação neutral/ Neutralidade | 23 | 34 | 27,73 (5,55) | 28,00 | 3,66 |
Aceitação por aproximação | 13 | 53 | 39,64 (3,96) | 40,00 | 10,63 |
Aceitação por Escape | 9 | 34 | 15,27 (3,05) | 12,00 | 7,21 |
Total | 59 | 192 | 122,82 (3,83) | 119 | 41,15 |
Fonte: Elaboração própria.
Com a implementação do programa, os dados obtidos revelaram uma melhoria nos níveis de “coping com a própria morte”, com uma média global de 73,38 (Dp=4,207), verificando-se diferenças estatisticamente significativas entre o momento pré e pós-intervenção (Z=1,963; p< 0,05), indicando uma melhoria nos níveis de gestão das suas emoções perante a morte, na introspeção e no processo de expressividade das emoções perante a própria morte. Resultados semelhantes foram obtidos nos estudos de PAIS et al. (2020) e WU et al. (2023).
Foi ainda possível constatar um aumento no score global da EVCE-reduzida (M=170,01; Dp=20,88; score médio=5,10), verificando-se um ligeiro aumento nas capacidades: autoconsciência (M=45,88; Dp=4,64; score=5,73), empatia (M=28,13; Dp=3,44; score=5,62). Por outro lado, a gestão de relacionamentos (M=27,59; Dp=3,85; score=4,58), a capacidade de automotivação (M=35,25; Dp=5,83; score=5,03) e a gestão de emoções (M=33,25; Dp=3,15; score=4,75) mantiveram-se estáveis face à avaliação baseline.
No que concerne à EAPAM verificou-se um aumento na atitude aceitação por aproximação (M=44,00; Dp=12,22; score médio=4,40), e um ligeiro aumento na atitude aceitação por neutralidade (M=30,13; Dp=3,40; score médio=6,00). Contrariamente, houve uma diminuição na atitude medo (M=24,63; Dp=9,61; score médio=3,50), na atitude de evitamento (M=11,25; Dp=4,49; score médio=2,25) e na atitude de aceitação por escape (M=14,25; Dp=4,50; score médio=2,85), comparativamente aos valores pré-intervenção. Estes dados indicam que existe uma integração da morte como um acontecimento natural e parte integrante da vida. Por outro lado, a adequada gestão do medo perante a morte e a atitude de não-evitamento contribuem para cuidados mais compassivos, e por isso mais centrados na pessoa em fim de vida. Resultados semelhantes foram encontrados nos estudos de GÖRIS et al. (2017), BECKER et al. (2017), PAIS et al., (2020) e WU et al. (2023).
Estes resultados permitem confirmar a importância dos programas formativos na na regulação socioemocional, uma vez que incidem na mobilização de recursos intra e interpessoais, bem como na expressividade das emoções perante a própria morte e a morte dos outros, possibilitando o desenvolvimento de níveis de introspeção mais profundos. Tal como defendido por GÖRIS et al. (2017), LIMONERO et al. (2018), e WU et al. (2023), é através da educação contínua que os profissionais adquirem ferramentas que lhes permitem lidar com o sofrimento humano e assim desenvolver a competência emocional.
Considerações Finais
A vivência de situações de tensão e sofrimento, como é o caso da prestação de cuidados em contexto de fim de vida, exige que o enfermeiro saiba gerir os estados emocionais que lhe estão associados, de forma a adequar o seu comportamento e, consequentemente, o autocontrolo que necessita para a desejada regulação emocional face à vivência. Neste sentido, torna-se fundamental o reconhecimento dos recursos internos que facilitem a auto regulação emocional, de modo a desenvolver a capacidade de refletir sobre as diversas tonalidades emocionais vivenciadas, tendo como principal foco gerar emoções positivas.
Como o cuidar de enfermagem procura ser compassivo e empático (DUGUÉ, SIROST; DOSSEVILLE, 2021), este requer profissionais emocionalmente competentes, o que justifica a implementação de programas que promovam o seu desenvolvimento, e, que contribuam para a melhoria das práticas clínicas em fim de vida (ORDU, ARABACI; ARSLAN, 2020; TURJUMAN; ALILYYANI, 2023).
Referências
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CAPÍTULO 25
COMPETÊNCIA EMOCIONAL DOS ENFERMEIROS E A CULTURA DE SEGURANÇA DOS CUIDADOS – PRÁTICA ESPECIALIZADA EM ENFERMAGEM DE SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA
EMOTIONAL COMPETENCE OF NURSES AND THE PATIENT SAFETY CARE – SPECIALIZED PRACTICE IN MENTAL HEALTH AND PSYCHIATRIC NURSING
DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500444650.25
Submetido em: 20/08/2024
Revisado em: 04/09/2024
Publicado em: 10/09/2024
Solange da Silva Carreira
Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica,
Unidade Local de Saúde – Região de Leiria, Leiria, Portugal
https://orcid.org/0009-0004-7652-6292
Carlos Laranjeira
Doutor em Ciências de Enfermagem
Professor Coordenador na Escola Superior de Saúde/ Center for Innovative Care and Health Technology (ciTechCare), Politécnico de Leiria, Leiria, Portugal
https://orcid.org/0000-0003-1080-9535
Resumo
São vários os fatores a considerar quando se aborda a cultura de segurança dos cuidados ao doente. A capacidade de o enfermeiro compreender e gerir as próprias emoções é um aspeto individual que impacta na segurança dos cuidados, uma vez que as decisões tomadas diariamente integram também a componente emocional. Objetivo: Capacitar um grupo de enfermeiros de um serviço médico para a promoção da competência emocional e cultura de segurança, através da prática especializada em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica. Método: Estudo pré-experimental, de grupo único, com avaliação pré e pós-intervenção. Os dados foram colhidos através de um questionário com dados sociodemográficos e profissionais dos participantes, avaliação da percepção individual de saúde e aplicação da Escala Veiga de Competência Emocional, na versão reduzida de 33 itens, e da versão portuguesa do Safety Attitudes Questionnaire – Short Form 2006. Resultados: Apesar de algumas melhorias de score por comparação de médias das capacidades da competência emocional e das dimensões da percepção de cultura de segurança, entre os momentos pré e pós-intervenção, não foram identificadas diferenças estatisticamente significativas. Conclusões: O presente programa corrobora a importância de programas promotores de saúde mental nos enfermeiros, nomeadamente relativos à competência emocional, pelo impacto observado no bem-estar individual e coletivo. Devem desenvolver-se programas integrados na rotina dos profissionais, como forma de se obterem resultados positivos a longo prazo.
Palavras-Chave: Inteligência Emocional, Enfermagem, Saúde Mental, Cultura de Segurança.
Abstract
There are several factors to consider when addressing the culture of safe patient care. The ability of nurses to understand and manage their own emotions is an individual aspect that has an impact on the safety of care, since the decisions they make daily also include an emotional component. Objective: To train a group of nurses from an Internal Medicine Service to promote emotional competence and a culture of safety, through a specialized practice in mental health and psychiatric nursing. Method: Pre-experimental, single-group study, with pre- and post-intervention evaluation. Data was collected through a questionnaire on sociodemographic and professional data, assessment of individual health perception and application of the Veiga Scale of Emotional Competence, in the reduced version of 33 items, and the Portuguese version of the Safety Attitudes Questionnaire – Short Form 2006. Results: Despite some score improvements by comparing the means of the emotional competence skills and the dimensions of the perception of safety culture, between the pre- and post-intervention moments, no statistically significant differences were identified. Conclusions: This program highlights the importance of having initiatives that promote mental health among nurses, particularly those focused on emotional competence, due to the observed impact on both individual and collective well-being. Programs must be developed integrated into the routine of professionals, as a way of obtaining positive long-term outcomes.
Keywords: Emotional Intelligence, Nursing, Mental Health, Safety Culture.
Introdução
Na sua prática diária, o enfermeiro depara-se com situações diversas que exigem tomada de decisão, flexibilidade e resolução de problemas. Embora se possa equacionar que a tomada de decisão seja um processo exclusivamente racional, tal facto não é verdadeiro. Goleman (2018) sublinha a impossível dicotomia entre a racionalidade e a emoção, significa que a emoção alimenta e informa as operações da mente racional, e esta por sua vez clarifica ou bloqueia a energia produzida pelas emoções.
Marques e Coelho (2020, citando Veiga-branco, 2004) referem que as competências do enfermeiro não se restringem meramente à realização das suas funções, passando também pelo modo como as percepcionam, tendo por base os sentimentos e emoções envolvidas nos processos de cuidado. De facto, os enfermeiros ao exercerem funções em ambientes emocionalmente exigentes, desafiam as capacidades de reconhecerem e gerirem as suas próprias emoções, pelo que o desenvolvimento da competência emocional é fundamental (MACEDO et al., 2019).
Os desafios enfrentados durante a recente pandemia, reafirmou a importância dos enfermeiros desenvolverem a inteligência emocional, uma vez que a sua ausência cria uma maior dificuldade em lidar com a pressão do trabalho, com consequente impacto negativo no seu desempenho (TURJUMAN; ALILYYANI, 2023).
A inteligência emocional inclui uma série de capacidades pessoais, emocionais e sociais que auxiliam o indivíduo a lidar com as exigências do seu ambiente de forma positiva. Estas capacidades permitem ao indivíduo ser autoconsciente das suas emoções, criar relações positivas, soluções flexíveis, realistas e eficazes em situações difíceis, e, ainda, lidar com os problemas diários (ORDU; ARABACI; ARSLAN, 2022).
Assim, o conceito de competência emocional, deriva do conceito de inteligência emocional e traduz-se na capacidade de expressar e gerir os sentimentos, controlar os impulsos e na gestão do estresse e a ansiedade (GOLEMAN, 2018). Com efeito, a competência emocional organiza-se segundo cinco capacidades específicas, que apresentam diferentes objetivos, pois averiguam diferentes dimensões do ser humano: Autoconsciência; Gestão das Emoções; Automotivação; Empatia e Gestão de Relacionamentos em Grupos.
Todos os anos, um elevado número de doentes sofre lesões ou morre devido a cuidados de saúde inseguros, problema este que ocorre nos diferentes níveis de cuidados. De acordo com o Plano de Ação Global para a Segurança do Doente 2021-2030, os cuidados de saúde inseguros são um grande desafio global de saúde pública e uma das principais causas de morte e incapacidade mundial, sendo esses danos, na sua maioria, evitáveis (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2021).
Em média, nos países de elevado rendimento e ao nível hospitalar, 1 em cada 10 doentes é vítima de eventos adversos. Nos países de médio e baixo rendimento, estima-se que os eventos adversos ocorram em 1 em cada 4 doentes, com 134 milhões de eventos adversos a ocorrerem por ano, devido a cuidados hospitalares inseguros, o que leva a cerca de 2,6 milhões de mortes. A nível global, 60% das mortes nestes países devem-se a cuidados inseguros ou de baixa qualidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2021).
A pertinência da segurança do doente compreende-se ao se verificar que o sistema de saúde enfrenta desafios como a falta de recursos humanos, a carga de trabalho excessiva dos profissionais de saúde, o aumento crescente da complexidade dos casos clínicos, e a utilização de novas tecnologias. Apesar disso, os serviços de saúde devem reunir esforços no sentido de garantir a segurança do doente (IVANA; MARIJANA; GRGUROVIĆ, 2023). Neste sentido, a avaliação da cultura de segurança permite identificar áreas de melhoria, acompanhar a evolução da cultura de segurança ao longo do tempo e analisar as melhores práticas internas e externas, com o propósito de fomentar a qualidade da assistência em saúde e realizar processos de mudança (BRÁS et al., 2023).
Nos últimos dez anos, as organizações de saúde têm investido em programas e sistemas de informação com o objetivo de melhorar a segurança do doente, sendo menos evidente o investimento em recursos organizacionais para promover medidas de proteção do bem-estar das equipas (LU et al., 2022). É necessário promover a educação sobre a importância da inteligência emocional na prática clínica, pois os enfermeiros que demonstram inteligência emocional têm maior capacidade de assegurar os padrões de qualidade impostos pelas instituições (SERRANO; PUTT, 2020). Os enfermeiros assumem um papel basilar na prestação de cuidados, não só pelo maior contato com o doente e família, como também na estruturação dos cuidados de saúde, influenciando fortemente os outcomes em termos de morbimortalidade e satisfação dos utilizadores. A adequada compreensão das organizações de saúde, permite identificar as áreas clínicas e não-clínicas que precisam de maior atenção para reduzir os riscos e eventos adversos na prestação de cuidados (SHASHAMO et al., 2023).
Uma revisão sistemática encontrou associações positivas entre a capacitação dos enfermeiros e a qualidade dos resultados obtidos, com destaque para a segurança do doente, efetividade do trabalho e centralidade no doente (KARIMI et al., 2021). Outros estudos reiteram o efeito positivo da associação entre a inteligência emocional dos enfermeiros, a adesão dos doentes aos cuidados e a qualidade assistencial (KARIMI et al., 2021). Paralelamente, ser emocionalmente competente permite ao enfermeiro compreender o impacto das suas emoções, de as gerir e de antecipar as reações dos doentes, criando condições favoráveis para desenvolver uma relação terapêutica efetiva (ROCHA; PINTO; CARVALHO, 2021).
O presente estudo visa capacitar um grupo de enfermeiros de um serviço médico para a promoção da competência emocional e cultura de segurança, através da prática especializada em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica.
Metodologia
- Design e participantes
Trata-se de um estudo pré-experimental, com avaliação pré e pós-intervenção, de grupo único. A amostra em estudo é constituída por 11 enfermeiros de um serviço médico de um hospital da Unidade Local de Saúde da Região de Leiria (Portugal). Excluíram-se os enfermeiros com funções de chefia, estarem ausentes do serviço por motivos de férias, doença ou outro ou recusarem participar no programa. A seleção da amostra ocorreu através da técnica de amostragem por conveniência.
- Intervenção
O programa formativo de base psicoeducacional foi constituído por 7 sessões grupais, em que cada sessão teve uma duração média de 90 minutos. Duas das sessões (sessão 0 e 6) eram referentes à pré e pós-intervenção. As restantes cinco sessões centraram-se nas cinco capacidades da competência emocional (VEIGA-BRANCO, 2021) e em conceitos chave de cultura de segurança, tendo em conta o Plano Nacional para a Segurança dos Doentes 2021-2026 (DIREÇÃO GERAL DA SAÚDE, 2022).
As sessões decorreram no formato presencial, tendo sido utilizadas estratégias cognitivas e comportamentais tais como o roleplay, técnicas de mindfulness, case based learning, promoção da esperança, prática da gratidão e uso da janela de johari. Para facilitar a assimilação dos conteúdos teóricos e tornar a aprendizagem um processo ativo, foi utilizado um sistema de votação mobile.
- Instrumentos
O instrumento para a recolha de dados é constituído por quatro partes:
- Questionário sociodemográfico para caracterizar a amostra;
- Percepção individual de saúde (global, física e mental) através de escala do tipo likert (1= Muito Má, 2=Má, 3=Razoável, 4=Boa; e 5=Muito Boa);
- Escala Veiga de Competência Emocional, na sua versão reduzida de 33 itens (EVCE – r33) (VEIGA-BRANCO, 2021). A escala é constituída por 33 itens organizados em cinco subescalas, em que cada uma delas representa uma das cinco capacidades da competência emocional: autoconsciência, gestão de emoções, automotivação, empatia e gestão de emoções em grupos. É aplicada uma escala do tipo likert (1 = nunca a 7 – sempre). O perfil global de competência emocional pode ser definido com três níveis: o nível baixo entre 1 e 3,49; o nível moderado entre 3,50 e 5,45, e o nível elevado entre 5,46 e 7 (ALMEIDA, 2021).
- Safety Attitudes Questionnaire (SAQ) – Short Form (SARAIVA; ALMEIDA, 2018), na versão portuguesa, originalmente desenvolvido por Bryan Sexton, Eric Thomas e Bob Helmreich em 2006. Este instrumento visa medir o clima de segurança sob a perspectiva dos prestadores de cuidados de saúde, sendo constituído 36 itens que constituem a primeira parte do instrumento. A segunda parte diz respeito aos dados dos profissionais (género, função, área de atuação e tempo de atuação no serviço).
O SAQ é constituído por seis dimensões que englobam fatores organizacionais, fatores do ambiente de trabalho e fatores da equipa (SARAIVA; ALMEIDA, 2018). A resposta a cada um dos itens é dada através de uma escala do tipo likert de cinco pontos: (A= discordo totalmente a E= concordo totalmente). A pontuação final varia de 0 a 100 pontos, onde 0 representa a pior percepção e 100 a melhor percepção do clima de segurança (ALMEIDA, 2018).
- Procedimentos ético-formais
Respeitaram-se todos os princípios éticos, nomeadamente a confidencialidade dos dados e respetivo anonimato, sendo que os dados obtidos foram apenas utilizados no contexto do projeto. Foi igualmente solicitado o consentimento informado, livre e esclarecido dos participantes. Obteve-se o parecer favorável (Ref.ª 57/2023) da Comissão de Ética da Unidade Local de Saúde da Região de Leiria
- Tratamento dos dados
Os dados foram analisados com recurso ao Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 29.0.1.0. Numa primeira fase, foi elaborada a análise estatística descritiva, com a apresentação dos dados que caracterizam a amostra e as variáveis em estudo. De seguida, por ausência de distribuição normal das variáveis, foi aplicado o teste não paramétrico de Wilcoxon para análise inferencial de dados.
Resultados
A amostra em estudo foi constituída por 11 enfermeiros de um serviço internamento medico da Unidade Local de Saúde da Região de Leiria. A maioria dos enfermeiros é do sexo feminino (n=8, o correspondente a 72,7% da amostra) e a amostra tem uma média de idade de 32,5±9,83 anos. A maioria dos enfermeiros (n = 6) refere ter mais de 10 anos de experiência profissional. Dos 11 enfermeiros, apenas 2 enfermeiros detêm o título profissional de enfermeiro especialista (em Enfermagem de Reabilitação e Enfermagem Médico-Cirúrgica). Sobre a perceção individual de saúde, a grande parte da amostra (n = 9 correspondente a 81,8%) diz ter uma perceção de saúde global boa. A maioria (n = 6 correspondente a 54,5% da amostra), refere ter uma perceção de saúde mental boa a muito boa e a mesma percentagem da amostra afirma ter uma perceção de saúde física razoável.
Com a aplicação da EVCE – r33 (VEIGA-BRANCO, 2021), no momento pré intervenção, verifica-se que o score médio de competência emocional foi de 4,59 (Dp=0,38). Estes dados revelam níveis moderados de competência emocional. De referir que após a realização do programa não houve diferenças estatisticamente significativas (Quadro 1).
Quadro 1 – Estatística descritiva referente ao nível de competência emocional no pré e pós-intervenção e efeito da intervenção (Teste de Wilcoxon).
| X̅ | DP | Md | Min. | Máx. | Z | p |
EVCE – r33 Pré-intervenção | 4,59 | 0,38 | 4,64 | 3,97 | 5,21 | 0,68 | 0,498 |
EVCE – r33 Pós-intervenção | 4,60 | 0,47 | 4,85 | 3,73 | 4,97 |
Fonte: Elaboração própria.
Sobre as subescalas da EVCE-r33, no momento pré-intervenção, a empatia foi a capacidade da competência emocional mais desenvolvida com um score médio de 5,22 (Dp=0,65) e a Gestão de Emoções em Grupos foi a capacidade menos desenvolvida com média de 4,09 (Dp = 0,62). Após a implementação do programa, verifica-se uma melhoria dos valores médios da Autoconsciência e da Gestão de Emoções em Grupos. Por outro lado, houve uma diminuição nos valores médios da Automotivação, da Gestão de Emoções e Empatia. Com a aplicação do teste de Wilcoxon, não se verificam diferenças estatisticamente significativas entre os momentos pré e pós-intervenção (Quadro 2).
Quadro 2 – Estatística descritiva referente às capacidades da competência emocional no pré e pós-intervenção e efeito da intervenção (Teste de Wilcoxon).
Competência Emocional | Pré Intervenção | Pós Intervenção | Z | p | ||||||||
X̅ | Md | DP | Min. | Máx. | X̅ | Md | DP | Min. | Máx. | |||
Autoconsciência | 4,78 | 5,00 | 0,75 | 3,50 | 5,75 | 5,09 | 5,13 | 0,79 | 4,13 | 6,50 | -0,32 | 0,752 |
Gestão de Emoções | 4,32 | 4,29 | 0,83 | 3,14 | 6,00 | 4,27 | 4,57 | 0,81 | 3,29 | 5,43 | -0,17 | 0,866 |
Automotivação | 4,62 | 4,57 | 0,76 | 3,00 | 6,00 | 4,41 | 4,42 | 0,77 | 3,14 | 5,57 | -1,89 | 0,058 |
Empatia | 5,22 | 5,20 | 0,65 | 4,40 | 6,80 | 4,80 | 5,40 | 1,84 | 1,20 | 6,60 | 0,00 | 1,000 |
Gestão de emoções em grupos | 4,09 | 4,17 | 0,62 | 3,17 | 5,00 | 4,38 | 4,50 | 0,89 | 2,50 | 5,00 | 1,44 | 0,149 |
Fonte: Elaboração própria.
No momento pré-intervenção, verifica-se que o nível médio de SAQ é de 54,43, (Dp=15,78). Estes dados indicam uma perceção negativa de cultura de segurança. Após a implementação do programa, observou-se um ligeiro agravamento da percepção da cultura de segurança, com um valor médio de 49,24 (Dp=20,11). De realçar que não foram identificadas diferenças estatisticamente significativas entre os momentos pré e pós-intervenção (Quadro 3).
Quadro 3 – Estatística descritiva referente à percepção da cultura de segurança no pré e pós intervenção e efeito da intervenção (Teste de Wilcoxon).
| X̅ | DP | Md | Mín. | Máx. | Z | p |
SAQ Pré-intervenção | 54,43 | 15,78 | 51,79 | 35,18 | 78,51 | -0,54 | 0,593 |
SAQ Pós-intervenção | 49,24 | 20,11 | 39,20 | 33,80 | 76,15 |
Fonte: Elaboração própria.
No que respeita ao SAQ (pré-intervenção), as dimensões mais prejudicadas foram as “Condições de Trabalho” e a “Percepção face à Gestão” com os valores médios mais baixos. As dimensões com melhor percepção de clima de segurança foram a “Satisfação no Trabalho” e o “Reconhecimento do Estresse”. Após a reaplicação do instrumento, há melhoria dos valores médios do “Clima de Segurança” e “Condições de Trabalho”. Por outro lado, há um agravamento dos valores médios da “Percepção da Gestão”, do “Clima de Trabalho em Equipa” e “Satisfação no Trabalho”. Com a aplicação do teste de Wilcoxon, no que respeita ao instrumento SAQ, não se verificaram diferenças estatisticamente significativas (Quadro 4).
Quadro 4 – Estatística descritiva referente às dimensões da perceção da cultura de segurança no pré e pós intervenção e efeito da intervenção (Teste de Wilcoxon).
SAQ | Pré Intervenção | Pós Intervenção | Z | p | ||||||||
X̅ | Md | DP | Min. | Máx. | X̅ | Md | DP | Min. | Máx. | |||
Perceção da Gestão | 34,85 | 31,82 | 22,44 | 6,82 | 70,45 | 33,44 | 25,00 | 29,07 | 4,55 | 75,00 | 0,00 | 1,000 |
Clima de trabalho em equipa | 53,41 | 50,00 | 20,48 | 16,67 | 87,50 | 52,38 | 54,17 | 23,43 | 25,00 | 79,17 | -0,34 | 0,734 |
Clima de Segurança | 51,79 | 48,21 | 15,36 | 32,14 | 75,00 | 52,04 | 42,86 | 26,15 | 21,43 | 82,14 | 0,67 | 0,500 |
Satisfação no trabalho | 61,36 | 60,00 | 26,37 | 15,00 | 100,00 | 50,00 | 50,00 | 37,64 | 5,00 | 100,00 | 0,85 | 0,397 |
Reconhecimento do stresse | 89,77 | 100,00 | 22,75 | 25,00 | 100,00 | 89,79 | 93,75 | 12,35 | 68,75 | 100,00 | 0,18 | 0,854 |
Condições de trabalho | 40,15 | 33,33 | 28,09 | 16,67 | 83,33 | 41,67 | 45,83 | 28,87 | 0,00 | 75,00 | -0,63 | 0,527 |
Fonte: Elaboração própria.
Discussão
Apesar de não se terem verificado alterações estatisticamente significativas na variável competência emocional, é relevante continuar a investir na implementação de programas centrados na sua promoção. Recomenda-se, por isso, a implementação de programas temporalmente alargados e a integração de estratégias de regulação emocional nas rotinas diárias de trabalho, de maneira a melhorar a qualidade da intervenção (SHIRI; NIKUNLAAKSO; LAITINEN,2023). A autoconsciência (avaliação pós-intervenção) foi a capacidade que mais fortemente contribui para a competência emocional da amostra. Este resultado está alinhado aos estudos de Marques e Coelho (2020) e de Moreira, Laranjeira e Gomes (2022). Segundo Goleman (2018) a autoconsciência envolve a introspecção psicológica, no reconhecimento da relação entre pensamentos, sentimentos e reações comportamentais. Este facto pode ajudar a justificar o agravamento dos scores relativos às capacidades de empatia, automotivação e gestão de emoções, uma vez que o aumento da autoconsciência se traduz num maior entendimento de si próprio, e, consequentemente, numa percepção mais apurada das complexidades que medeiam estes processos.
À semelhança dos estudos de Rodrigues (2017), Marques e Coelho (2020) e Moreira, Laranjeira e Gomes (2022), a autoconsciência, a empatia e a automotivação são as capacidades da competência emocional que estão mais desenvolvidas. Pelo contrário, a gestão de emoções/gestão de emoções em grupos são as que estão menos desenvolvidas. Apesar de na avaliação pós-intervenção ter havido uma melhoria na capacidade de gestão de emoções em grupos, é importante que futuros programas continuem a promover esta capacidade, isto porque os ambientes da prática de cuidados são cada vez mais desgastantes.
No que diz respeito aos dados obtidos no SAQ (pós-intervenção), a percepção do clima de segurança na amostra mantém-se negativa (x̅ =49,24), indicando fragilidades sobre o cuidado dirigido aos doentes (LIRA et al., 2020). Este resultado é semelhante ao obtido nos estudos de Rahmani et al. (2022) e de Lira et al. (2020), e que reafirmam a necessidade de melhorar as atitudes e a percepção da cultura de segurança entre os enfermeiros (RAHMANI et al., 2022). Neste sentido, uma baixa percepção de clima de segurança pode estar associada a maiores complicações e à ocorrência de eventos adversos (LIRA et al., 2020).
Sobre as dimensões da percepção do clima de segurança (pós-intervenção), o “reconhecimento do estresse” foi a dimensão mais desenvolvida na amostra, tal como no estudo de Rahmani et al. (2022), seguida do “clima de trabalho em equipa”, “clima de segurança”, “satisfação no trabalho”, “condições de trabalho” e, por fim, a “percepção da gestão” (LIRA et al., 2020). Após a intervenção, houve uma melhoria ligeira nas dimensões “percepção de clima de segurança” e “condições de trabalho”, face aos valores baseline.
A “percepção da gestão” foi a dimensão com pior percepção por parte dos participantes, por estar associada às ações da administração (hospitalar e do serviço) sobre questões de segurança, tais como: percepção do apoio dado aos esforços da equipa, modo como a equipa é tratada pelos gestores e adequação dos rácios enfermeiro-doente (SARAIVA; ALMEIDA, 2018). Este achado reforça que a melhoria do clima de segurança envolve não apenas a qualidade dos cuidados prestados, mas também a promoção da comunicação interprofissional com a envolvência de todos nas tomadas de decisão (LIRA et al., 2020). Com efeito, para que os enfermeiros sejam emocionalmente competentes, estes devem ser capazes de comunicar genuinamente sentimentos e gerir emoções como a desilusão e a irritabilidade (CASTELINO; MENDONCA, 2021). Desta forma, conhecem-se as necessidades dos diferentes intervenientes, criando-se condições para melhorar a percepção da equipa em relação à gestão.
Considerações Finais
O desenvolvimento deste programa vem reafirmar a importância do bem-estar emocional do enfermeiro, com impacto não só na sua esfera pessoal, como profissional, relacionando-se, estreitamente, com a cultura de segurança dos cuidados. Falar em cultura de segurança engloba aspetos não só respeitantes à interação do enfermeiro com o doente/família, como também aos relacionamentos harmoniosos na equipa de cuidados, suportados numa comunicação eficaz e na manutenção de um ambiente de trabalho salutogênico.
O desenvolvimento deste programa de melhoria da qualidade dos cuidados e a oportunidade de contribuir para a capacitação em torno da competência emocional e da cultura de segurança foi, em si, uma oportunidade de sensibilizar a amostra para esta temática, dando espaço para que futuros estudos sejam realizados. Na esteira desta asserção, é faraónico que as instituições de saúde se mantenham sensíveis às necessidades em saúde mental dos enfermeiros, como de outros grupos profissionais (incluindo gestores) em diferentes contextos da prática de cuidados.
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Trabalho bem feito.
Obrigada, Cleyton, Esta tematica é muito presente em minha prática clínica e por este motivos nos reunimos para discutirmos sobre este assunto e escrevemos este belo trabalho. Gratidão pelo feedback